• Nenhum resultado encontrado

2. O SISTEMA FISCAL ANGOLANO

2.1. BREVE CARATERIZAÇÃO DO SISTEMA FISCAL ANGOLANO

2.1.8. AS GARANTIAS DOS CONTRIBUINTES

As regras e os princípios gerais do sistema fiscal estão previstos no Código Geral Tributário (CGT). A 1 de

janeiro de 2015, entrou em vigor o novo CGT32, que revogou o de 1968, que se encontrava claramente

desa-tualizado, pelo que se sentia a necessidade de reajustar aquele código à realidade do país, que tem sofrido significativas alterações. Este instrumento normativo revela-se de elevada importância, atendendo a que contém, desenvolve e aprofunda as bases do sistema fiscal delineadas na CRA, as garantias dos contribuintes e das obrigações fiscais, a relação jurídica fiscal e atribui à administração tributária não só uma maior opera-cionalidade, mas também uma maior eficácia no desempenho das suas tarefas.

As Garantias dos Contribuintes são um corolário do Estado de Direito democrático de direitos fundamentais.

30

SANCHES, J.L. Saldanha, Manual de Direito fiscal, Coimbra, Coimbra Editora, 2007, pág. 227.

31 SANCHES, J.L. Saldanha e GAMA, João Taborda da, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra, 2010, pág. 181. 32 Publicada a Lei n.º21/14, de 22 de outubro de 2014, que aprovou o novo Código Geral Tributário.

Várias são as garantias gerais previstas no sistema tributário angolano, que se encontram contempladas no artigo 23.º do CGT e que visam assegurar uma proteção plena e efetiva dos direitos e interesses dos contribu-intes perante a AT no âmbito do procedimento e processo tributário.

A lei prevê na alínea a) do n.º1 do artigo 23.º do CGT, conjugado com o artigo 102.º da CRA, o Direito de Resistência Fiscal, nos seguintes termos: “Não pagar impostos que não tenham sido estabelecidos de acordo com a Constituição”. O Direito de Resistência Fiscal concede aos contribuintes uma arma para defesa dos seus direitos contra as ilegalidades da AT, de modo, a não pagarem impostos inconstitucionais, retroativos ou cuja liquidação e cobrança seja ilegal.

Por outro lado, nos termos da alínea b) do n.º1 do artigo 23.º do CGT, garante a proibição de dupla tributação jurídica, ou seja, o contribuinte não poderá ser tributado mais do que uma vez pela mesma matéria coletável e através do mesmo imposto, relativamente ao mesmo período de tributação.

Em matéria de defesa dos direitos dos contribuintes, foram consagrados, nomeadamente, os seguintes direi-tos:

- O direito á fundamentação e notificação da liquidação e demais atos que alterem a posição jurídica do con-tribuinte. (alínea l) do n.º1 do art.23.ºdo CGT). O dever de fundamentação das decisões da AT é uma verda-deira e primordial garantia do contribuinte, aliás, um direito-garantia. É um dever que subsiste, sempre que se verifique uma decisão desfavorável para o contribuinte ou em que se não verificou uma liquidação feita de acordo com os elementos contidos na sua declaração, na medida em que impõe à AT uma obrigação de pon-derar e justificar as suas próprias ações na intromissão na esfera privada da vida do contribuinte33;

- O direito à audição antes da decisão final do procedimento tributário quando a decisão definitiva deste lhe for previsivelmente desfavorável. (alínea m) do n.º1 do art.23.º do CGT). A audição do contribuinte é outra garantia, que confere a possibilidade dos sujeitos passivos serem ouvidos, antes de uma tomada de decisão total ou parcialmente desfavorável ao contribuinte, este poder ser ouvido pela AT. Permite uma maior prote-ção e defesa das suas próprias declarações, na medida em que, estes podem esclarecer simples incorreções ou incongruências que estão ao seu alcance e que se mostram suficientemente graves e discrepantes para justifi-carem o descrédito das suas declarações;

- Os direitos, nos termos previstos na Lei, à prestação de informações, à consulta de documentos, à extração de certidões e ao acesso aos processos individuais devidamente organizados e conservados pela AT. (alínea n) do n.º1 do art.23.º do CGT);

- A confidencialidade dos atos relativos à sua situação tributária nos termos previstos no presente Código. (alínea o) do n.º1 do art.23.º do CGT);

- O direito a juros indemnizatórios por pagamento indevido do tributo em virtude do erro imputável à AT na liquidação ou cobrança ou atraso no reembolso dos tributos a que tenha direito. (alínea p) do n.º1 do art.23.º do CGT);

- O direito a juros de mora em caso de atraso injustificado no cumprimento das decisões judiciais. (alínea q) do n.º1 do art.23.º do CGT);

- O direito à informação vinculativa sobre a sua real situação tributária e sobre factos tributários não concre-tizados. (alínea r) do n.º1 do art.23.º do CGT);

- O direito à informação genérica sobre o conteúdo dos seus deveres acessórios e o meio mais cómodo e seguro de lhes dar cumprimento. (alínea s) do n.º1 do art.23.º do CGT).

A nível das garantias tributárias, e de modo a garantir a tutela jurisdicional efetiva dos direitos e interesses legalmente protegidos dos contribuintes, foram criados vários meios de defesa no âmbito do procedimento e do processo tributário, destinados a impedir a prática de ações e omissões suscetíveis de lesar os direitos dos contribuintes e evitar situações de injustiça fiscal, e bem assim, assegurar a certeza e a segurança da relação jurídica entre os contribuintes e a AT.

No âmbito do procedimento administrativo tributário (via graciosa),a lei prevê o direito de reclamação ad-ministrativa graciosa dos atos de fixação da matéria coletável e de liquidação (al. c) do n.º1 do art.º23, 127.º e seguintes do CGT). Não obstante isso, o contribuinte tem o direito de interpor recurso hierárquico,dirigido ao mais elevado superior hierárquico do autor do ato ou à entidade em quem ele tenha delegado essa compe-tência e quando em causa estejam outros atos praticados pela AT que sejam lesivos de direitos e interesses legalmente protegidos do contribuinte (al. d) do n.º1 do art.º23, 133.º e seguintes do CGT).

No quadro do processo tributário (via contenciosa),a lei consagra, desde logo, o direito de impugnação judi-cial dos atos tributários (designadamente dos atos de liquidação, dos demais atos da AT, praticados no exer-cício das suas funções, que sejam lesivos de direitos ou interesses legalmente protegidos dos particulares, em matéria tributaria e dos atos de fixação de valores patrimoniais que sirvam de base à liquidação dos tributos sobre o património (al. e) e f) do n.º1 do art.º23 do CGT, e 54.º e seguintes do CPT).

Ao contribuinte é também reconhecido o direito de obter junto dos tribunais, o reconhecimento dos seus direitos ou interesses legítimos em matéria tributária, bem como, a condenação da AT à realização das pres-tações materiais a que tiver direito, que resultem diretamente da lei e que não dependam da prática de ato administrativo impugnável (al. g) e h) do n.º1 do art.º23 do CGT, art.º 89 e 90 do CPT).

O contribuinte pode também exercer o direito de ação em virtude do incumprimento das obrigações assumi-das pela AT em contratos fiscais e o direito de ação com vista à concretização da responsabilidade civil ex-tracontratual da AT. (al. i) e j) do n.º1 do art.º23 do CGT, 91.º, 92.º e 93.º todos do CPT).

Os contribuintes ou titulares de interesse legalmente protegido podem reagir contra a recusa injustificada da AT em lhes prestar informações que tenham sido requeridas, em facultar-lhes o acesso aos processos que lhes digam respeito ou a passar certidões, requerendo ao tribunal a intimação da AT para a prática do ato preten-dido (art.º 94 e seguintes do CPT).

Constitui ainda instrumento ao dispor dos contribuintes, para defesa dos seus direitos ou interesses legalmen-te prolegalmen-tegidos, a impugnação das providências caulegalmen-telares adotadas no inlegalmen-teresse da AT (art.º 98 e seguinlegalmen-tes do CPT).

A impugnação é também o meio processual idóneo para o contribuinte reagir contra multas aplicadas em processos de transgressão fiscal (art.º 103 e seguintes do CPT).

No âmbito do processo de execução fiscal, a lei consagra os direitos de oposição, de reclamação e de recurso. Importa ainda referir que, da utilização dos instrumentos que a lei coloca ao dispor dos cidadãos para garantia dos seus direitos em matéria tributária, designadamente os direitos de reclamar ou impugnar o apuramento da matéria coletável ou da liquidação relativamente a qualquer tributo, independentemente da sua natureza, não

pode resultar qualquer sanção ou agravamento automáticos à matéria coletável ou à coleta, com o fundamen-to de a decisão final ser desfavorável ao interessado. (n.º2 do art.º23 do CGT).

3. OS IMPOSTOS E RECEITAS PÚBLICAS NO SISTEMA FISCAL