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3. OS IMPOSTOS E RECEITAS PÚBLICAS NO SISTEMA FISCAL

3.5. IMPOSTO DO SELO

3.5.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

O Imposto do Selo surge no período colonial, tendo o seu regime jurídico sofrido inúmeras alterações. Foi aprovado, inicialmente, pelo Diploma Legislativo n.º 3841/68, de 06 de agosto, o qual viria a ser alterado pelo Decreto n.º 7/89, de 15 de agosto, e pelo Decreto Executivo n.º 85/99, de 11 de junho. Mais tarde, foi aprovada a Tabela Anexa ao Regulamento do Imposto do Selo através do Decreto n.º 71/04, de 09 de julho. No âmbito da reforma tributária de 2011, foi aprovado o novo Código do Imposto do Selo (CIS) pelo Decreto Legislativo Presidencial n.º6/11, de 30 de dezembro, com o intuito de garantir a efetiva aplicação. Como se vê, este imposto foi sujeito a profundas alterações, tendo como objetivo simplificá-lo e modernizá-lo. No entanto, em 2014, o legislador sentiu necessidade de rever e clarificar o CIS, tendo aprovado o Decreto Legislativo Presidencial n.º3/14, de 21 de outubro, que revogou o anterior Decreto Legislativo Presidencial n.º6/11, de 30 de dezembro. Segundo o seu Preâmbulo, considera-se que “…a experiência de implementação das alterações legislativas operadas demonstraram algumas incompreensões e distorções em sede do Código do Imposto de Selo, em especial no que respeita à incidência, a taxas, à identificação do sujeito passivo e entidade sobre a qual recai o encargo do imposto, é necessário proceder a uma revisão do CIS, visando a clarificação de alguns regimes nele previstos, bem como tornar mais justas, simples e utilizáveis as normas deste imposto”.

96 MACHADO, Jónatas Eduardo M., COSTA, Paulo Nogueira, e MACAIA, Osvaldo, Direito Fiscal Angolano: Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, 2015, pág.303 e 304.

3.5.1.1. INCIDÊNCIA

Segundo o artigo 1.º do CIS, todos os atos, contratos, documentos, títulos, operações e outros factos ocorri-dos em território nacional estão sujeitos a Imposto do Selo, nos termos previstos na Tabela Anexa a este código ou em leis especiais. No entanto, existem alguns factos e operações ocorridas no estrangeiro que são tributados, como dispõe o artigo 4.º, n.º2 do CIS, a saber:

a) documentos, atos ou contratos emitidos ou celebrados fora do território nacional, caso sejam

apre-sentados em Angola para quaisquer efeitos legais;

b) as operações de crédito realizadas e as garantias prestadas no estrangeiro a quaisquer entidades do-miciliadas em Angola;

c) os juros, comissões e outras contraprestações cobrados no estrangeiro por instituições de crédito ou sociedades financeiras sedeadas no estrangeiro ou por filiais ou sucursais no estrangeiro de institui-ções de crédito ou sociedades financeiras angolanas a quaisquer entidades domiciliadas em Angola; d) os seguros efetuados no estrangeiro cujo risco esteja localizado em Angola.

O novo regime estabelece, no artigo 2.º do CIS, uma clara distinção entre os sujeitos passivos do imposto e as entidades que são obrigadas a entregar este imposto ao Estado. Assim, são responsáveis pela liquidação e pagamento do imposto: os notários e conservadores, as entidades concedentes de crédito e de garantias, insti-tuições de crédito e sociedades financeiras, entidades mutuárias, os locadores no âmbito de contratos de loca-ção financeira ou operacional, arrendatários e subarrendatários nos arrendamentos e as empresas seguradoras.

3.5.1.2. ENCARGO DO IMPOSTO

Em relação aos titulares do interesse económico que devem suportar o encargo do imposto, estão explanados no artigo 3.º do CIS, clarificando quem deve considerar-se como tal, nas diversas operações sujeitas a este imposto.

3.5.1.3. CONSTITUIÇÃO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

A constituição da obrigação tributária está definida no artigo 5.º do CIS, que define as diversas realidades sujeitas a imposto, qual o momento a partir do qual o imposto se considera devido e, bem assim, quanto à determinação do valor tributável, designadamente para os casos em que o valor se encontra representado em espécie.

3.5.1.4. ISENÇÕES

No artigo 6.º, n.º1,2 e 3 do CIS estão elencadas as respetivas isenções deste imposto. De referir que são isen-tos de Imposto do Selo, quando este constitua seu encargo, o Estado e quaisquer dos seus serviços (exceto as empresas públicas) e, ainda, as instituições públicas de previdência e segurança social, associações de

utili-dade pública reconhecida nos termos da lei, bem como as instituições religiosas legalmente constituídas (ex-ceto quando atuem no âmbito do desenvolvimento de atividades económicas de natureza empresarial). Segundo o artigo 7.º, sempre que haja situações em que se preveja uma isenção, esta deve ser averbada no documento ou título, mediante indicação da disposição legal que a prevê.

3.5.1.5. VALOR TRIBUTÁVEL E TAXAS

O valor tributável do imposto do selo é o que resulta da tabela anexa ao diploma. Nos contratos de valor indeterminado, a sua determinação é efetuada pelas partes de acordo com os critérios neles estipulados, ou, na sua falta, segundo juízos de equidade.O valor tributável dos negócios jurídicos sobre bens imóveis previs-to na Tabela é determinado através das tabelas de avaliação dos bens imóveis do Imposprevis-to Predial Urbano, como se vê no artigo 8.º, n.º 1,2 e 3 do CIS.

As taxas do imposto do selo encontram-se previstas na Tabela Anexa e estão expressas em valor percentual

ou expressas em percentagens ad valorem (kwanzas), sendo aplicadas no momento em que o imposto é

devi-do de acordevi-do com o artigo 12.º, n.º1 devi-do CIS. De salientar que, o n.º2 devi-do artigo 12.º prevê o princípio da não acumulação, sendo assim, apenas pode ser aplicada uma taxa a cada facto ou operação. No entanto, se houver relativamente ao mesmo facto ou operação mais de uma taxa prevista, aplicar-se-á a maior. (art.12.º, n.º3, do CIS).

3.5.1.6. LIQUIDAÇÃO E PAGAMENTO

A liquidação do imposto do selo efetua-se pelos correspondentes sujeitos passivos, por meio de verba e paga-se por meio da respetiva guia (art.13.º, nº1 e 2, do CIS).

O imposto devido pelas operações aduaneiras é liquidado pelo Serviço Nacional das Alfândegas e depositado na Conta Única do Tesouro (art.13.º, n.º4, do CIS).

As entidades residentes em Angola que contratem entidades não residentes passam a liquidar e entregar o imposto devido, nas situações em que competiria aos não-residentes o dever de liquidar o imposto (art.13.º, n.º6, do CIS).

Nos contratos em que o Estado ou os demais organismos públicos, com exceção das empresas públicas, se-jam parte, a liquidação do imposto é efetuada no momento do pagamento da prestação (art.13.º, n.º7, do CIS).

Em relação ao pagamento do Imposto do Selo, segundo o artigo 15.º, nº 2 e 3, é efetuado mediante a apresen-tação do Documento de Liquidação de Impostos (DLI), discriminando, em anexo, o imposto cobrado nos termos de cada uma das verbas da tabela, devendo as entidades escriturar, em conformidade com a sua con-tabilidade e os respetivos livros de registo, a fim de serem conferidos pelos Serviços de Fiscalização. O pa-gamento deverá ocorrer até ao final do mês seguinte àquele em que a obrigação tributária se tenha constituí-do.

3.5.1.7. GARANTIAS E OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS

No que concerne às garantias dos contribuintes, existe a possibilidade de estes obterem a compensação e anulação do Imposto do Selo indevidamente pago e, supletivamente, a restituição do mesmo, em caso de erro de que resulte a entrega de imposto superior ao devido (art.18.º do CIS).

Os sujeitos passivos de IS passam a dever apresentar anualmente uma declaração discriminativa do imposto liquidado durante o ano até ao último dia mês de março do ano seguinte ao da realização dos atos, contratos e operações sujeitas a imposto (art.19.º, n.º1, do CIS).

Os contribuintes que se encontrem obrigados a dispor de contabilidade nos termos do Plano Geral de Conta-bilidade devem organizá-la de forma a possibilitar o conhecimento claro e inequívoco dos elementos necessá-rios à verificação do Imposto de Selo liquidado, bem como a permitir o seu controlo (art.20.º, n.º1, do CIS). Deste modo, deverão ser objeto de registo as operações e os atos realizados sujeitos a Imposto do Selo, sendo que o referido registo do valor deverá ser efetuado da seguinte forma: das operações sujeitas a IS (nos termos do CIS); das operações isentas de IS (nos termos do CIS); do imposto liquidado segundo a verba respetiva da Tabela anexa ao CIS; do imposto compensado (art.20.º, n.º3, do CIS).