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IMPOSTO SOBRE APLICAÇÃO DE CAPITAIS

3. OS IMPOSTOS E RECEITAS PÚBLICAS NO SISTEMA FISCAL

3.3. IMPOSTO SOBRE APLICAÇÃO DE CAPITAIS

3.3.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

O Código do Imposto sobre a Aplicação de Capitais surge pelo Diploma Legislativo n.º36/72, de 1 de maio, tendo sido alterado pela Lei n.º14/92, de 3 de julho. No seguimento da reforma tributária em curso, foi apro-vado o atual Código do Imposto sobre Aplicação de Capitais (CIAC), pelo Decreto Legislativo Presidencial, n.º5/11, de 30 de dezembro, tendo sido posteriormente revisto e republicado pelo Decreto Legislativo Presi-dencial n.º2/14, de 20 de outubro.

Considerando o atual contexto económico e financeiro do mercado angolano em constante crescimento e com a inevitável criação de um mercado de capitais, cujo auge atingirá com a entrada em funcionamento da Bolsa

75 Para mais desenvolvimentos, veja-se em MARQUES, Luís et al. (2014), O Estatuto dos Grandes Contribuintes: Angola. Ernst & Young, Edição, pág. 61-74.

76 MARQUES, Luís et al. (2014), O Estatuto dos Grandes Contribuintes: Angola. Ernst & Young, Edição, pág.78.

77 Para efeitos do EGC, considera que existe relações especiais entre duas entidades quando uma tem poder de exercer, direta ou indire-tamente, uma influência significativa nas decisões de gestão da outra. Essa influência significativa pode ser verificada segundo determi-nados critérios a titulo meramente exemplificativo, e encontram-se elencados no disposto do art.11.º do EGC.

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Os Grandes Contribuintes cujos proveitos anuais verificados na data de encerramento de contas do exercício sejam superiores a sete mil milhões de Kwanzas, devem proceder à elaboração de um dossier de preços de transferência em que caraterizem as relações e preços

de Valores de Luanda (BVL), foi primordial modernizar o imposto sobre aplicação de capitais (IAC), bem como necessário tornar o sistema fiscal justo e eficiente para potenciar as receitas a arrecadar.

Contudo, ao contrário do que tem acontecido com os restantes impostos inseridos no sistema fiscal angolano, o IAC não sofreu uma total reformulação, pretendeu-se apenas que fosse mais eficiente, certo e claro na tri-butação dos rendimentos resultantes da aplicação de capitais.

3.2.1.1. INCIDÊNCIA

O IAC é um imposto direto, que incide sobre os rendimentos provenientes da simples aplicação de capitais e é devido pelos titulares dos respetivos rendimentos, sem prejuízo da sua exigência a outras entidades, nos casos expressamente previstos no CIAC (arts.1.º e 2.º do CIAC). Estes rendimentos estão elencados em duas secções, A e B.

Na secção A, estão compreendidos os seguintes rendimentos:

- Os juros de capitais mutuados, em dinheiro ou géneros, qualquer que seja a forma por que o mútuo se apre-sente;

- Os rendimentos provenientes dos contratos de abertura de crédito;

- Os rendimentos originados pelo diferimento no tempo de uma prestação ou pela mora no pagamento, ainda que auferidos a título de indemnização ou de cláusula penal, estipuladas nos contratos. (art.3.º do CIAC). Por seu turno, na secção B incluem-se, os seguintes rendimentos, nos termos do artigo 9.º, n.º1, do CIAC: - Os lucros atribuídos aos sócios ou acionistas das sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, bem como o repatriamento dos lucros imputáveis a estabelecimento estável de não residentes em Angola;

- As importâncias ou quaisquer outros valores atribuídos aos sócios das sociedades cooperativas, desde que constituam remunerações de capital;

- Os juros, os prémios de amortização ou outras formas de remuneração das obrigações, títulos de participa-ção ou outros títulos análogos emitidos por qualquer sociedade;

- Os juros de suprimentos ou de outros abonos feitos pelos sócios ou acionistas às respetivas sociedades; - Saldos de juros apurados em conta corrente;

- A emissão de ações com reserva de preferência na subscrição; - Royalties;

- Os juros de depósitos a ordem e dos depósitos a prazo constituídos junto das instituições financeiras; - Os juros, os prémios de amortização e as outras formas de remuneração dos Bilhetes de Tesouro, das Obr i-gações do Tesouro e dos Títulos do Banco Central;

- O saldo positivo, apurado em cada ano, entre mais-valias e menos-valias decorrente da alienação de partici-pações sociais ou outros instrumentos, desde que não tenham sido obtidas no âmbito da atividade comercial do sujeito passivo;

- Os prémios de jogo de fortuna ou azar, rifas, lotarias ou apostas, qualquer que seja a sua proveniência;

Uma das grandes alterações introduzidas, a que foi sujeito o IAC, encontra-se identificada na norma de inci-dência constante da alínea a), in fine do n.º1 do artigo 9.º, relativamente ao repatriamento de lucros imputá-veis a estabelecimentos estáimputá-veis de não residentes em Angola.

A mesma teve como objetivo central clarificar a sujeição ao imposto sobre a aplicação de capitais dos lucros repatriados pelas sucursais da empresa-mãe. Os contribuintes entendiam que o repatriamento de lucros efetu-ados para a empresa-mãe não constituía, em bom rigor, distribuição de lucros ou dividendos aos sócios ou acionistas, uma vez que a sucursal e a empresa-mãe constituem uma única e mesma entidade. A Administra-ção Tributária não se opunha perante a força dos argumentos deste entendimento, mas entendia que esses rendimentos (lucros repatriados) deviam ser tributados com base na norma de incidência residual (catch all provision) prevista atualmente na alínea p) do n.º1 do artigo 9.º do CIAC, por se tratar de simples aplicação de capitais. Neste sentido, cumpre-nos sublinhar que a alteração desta norma vem simplesmente legitimar a posição defendida pela Administração Tributária.79

Assim, a transferência de lucros de um estabelecimento estável situado em Angola para a sua casa-mãe, resi-dente no estrangeiro, passa a ser tributada em sede de IAC, como se de uma verdadeira distribuição de lucros se tratasse, à taxa de 10%.

3.2.1.2. SUJEIÇÃO AO IMPOSTO

Para que os rendimentos da secção A fiquem sujeitos a IAC, é necessário que sejam gerados em Angola ou atribuídos a pessoas singulares ou coletivas, nacionais ou estrangeiras, que ali tenham residência, sede, dire-ção efetiva ou estabelecimento estável ao qual os rendimentos sejam imputáveis (art.7.º do CIAC). No que diz respeito aos rendimentos da secção B, para que fiquem sujeitos a IAC, é necessário que se verifique uma das seguintes situações:

a) Os rendimentos sejam pagos por uma pessoa singular ou coletiva com domicílio, sede ou direção efetiva em território angolano;

b) Os rendimentos sejam postos à disposição através de um estabelecimento estável em território

ango-lano;

c) Os rendimentos sejam recebidos por pessoas singulares ou coletivas com domicílio, sede ou direção

efetiva em território angolano;

d) Os rendimentos sejam atribuídos a um estabelecimento estável em território angolano. (art.11.º do

CIAC).

3.2.1.3. ISENÇÕES

Relativamente a isenções, da secção A estão isentos os seguintes rendimentos: os juros das vendas a crédito dos comerciantes, relativos a produtos ou serviços do seu comércio ou indústria, bem como do juro ou qual-quer compensação da mora no pagamento do respetivo preço; dos juros dos empréstimos sobre apólices de seguros de vida, feitos por sociedades de seguros (art.12.º, n.º1, do CIAC). Estão ainda isentos de IAC, os rendimentos provenientes das instituições financeiras e das cooperativas, quando estejam sujeitos a imposto industrial, ainda que dele, isentos (art.12.º, n.º2, do CIAC).

Nos termos do artigo 13.º, estão explanadas as isenções da secção B, tais como: dividendos distribuídos por uma entidade com sede/direção efetiva em Angola a uma pessoa coletiva ou equiparada com sede em Angola que detenha uma participação não inferior a 25% por um período superior a um ano anterior à distribuição dos lucros (participation exemption) 80 ; os juros de instrumentos que se destinem a fomentar a poupança e que sejam devida e previamente aprovados pelo Ministro das Finanças sob parecer da Direção Nacional dos Impostos, ouvido o Banco Nacional de Angola(com limite máximo de 500.000,00Kz por pessoa); estão ainda isentos, os juros das contas-poupanças habitação criadas pelas instituições financeiras com o objetivo de fomentar a poupança com vista à aquisição de habitação própria e permanente.

3.2.1.4. TAXAS

A taxa de imposto para os rendimentos previstos para a secção A é de 15%.

Para os rendimentos previstos para a secção B, a taxa de imposto varia consoante o tipo de rendimentos: de 5%, no caso de rendimentos obtidos de juros dos bilhetes e obrigações do tesouro e de juros dos títulos do banco central, se a maturidade for igual ou superior a 3 anos; de 10%, no caso da generalidade dos rendimen-tos compreendidos na Secção B; e de 15%, no caso dos juros e saldo de juros apurados em conta-corrente, indemnizações pela suspensão da atividade, prémios de jogo de fortuna ou azar, qualquer que seja a sua pro-veniência, e quaisquer outros rendimentos da aplicação de capitais não compreendidos na Secção A. (art.27.º do CIAC).

3.2.1.5. LIQUIDAÇÃO

Para determinar a matéria coletável, tanto para os rendimentos da secção A como para os da secção B, é necessário que as pessoas que estejam obrigadas à liquidação do IAC, nos termos do presente CIAC, apresen-tem uma declaração de todos os rendimentos recebidos, pagos ou postos à disposição dos seus titulares, até ao final do mês de janeiro do ano seguinte àquele em que o recebimento, pagamento ou colocação à disposi-ção ocorram. (arts.15.º e 19.º do CIAC).

Relativamente aos rendimentos da secção A, a sua liquidação é feita pelos titulares dos respetivos rendimen-tos (autoliquidação), só se o titular do rendimento não possuir em Angola, residência, sede, direção efetiva ou estabelecimento estável, ou se o rendimento for devido por pessoas coletivas ou singulares com contabilidade organizada, a favor de pessoas singulares. Nestes casos, o imposto será liquidado pelas entidades devedoras do rendimento. (art.28.º do CIAC).

No que concerne aos rendimentos da secção B, na maioria dos casos, a liquidação é efetuada pelas entidades a quem incumbe o pagamento dos rendimentos, que procedem à retenção na fonte do imposto, salvo se tais entidades não tiverem em Angola, residência, sede, direção efetiva ou estabelecimento estável a que os pa-gamentos sejam imputáveis. Neste caso, cabe ao beneficiário do rendimento a liquidação do imposto. (art.29.º, n.º1 e 2, do CIAC).

80Participation Exemption, foi uma norma criada, com o objetivo de criar um ambiente tributário propício ao investimento. Esta norma consiste essencialmente na eliminação da dupla tributação pela distribuição de lucros. Ou seja, a intenção é a de, tributar os lucros da sociedade que os gera em sede de Imposto industrial e de isentar a incidência de IAC aquando da respetiva distribuição pelos detentores do capital social. Veja-se em MACHADO, Jónatas Eduardo M., COSTA, Paulo Nogueira, e MACAIA, Osvaldo, “Manual do Direito Fiscal: segundo a Reforma 2014” pág. 290.

3.2.1.6. PAGAMENTO

No que toca aos rendimentos da secção A, o pagamento do IAC deve ser feito até ao último dia do mês se-guinte àquele a que respeita o imposto. (art.32.º do CIAC).

Relativamente ao pagamento do imposto da secção B, a regra é a retenção na fonte e faz-se na repartição fiscal da área do domicílio ou, na falta desta, na do principal estabelecimento da entidade que a ela deva proceder ou da situação do estabelecimento estável, até ao fim do mês seguinte àquele em que se verifique nos casos previstos no artigo 33.º, n.º2 do CIAC. Contudo, nos casos em que não haja retenção na fonte do imposto, efetua-se no prazo previsto para os rendimentos da secção A. (art.33.º, n.º1, do CIAC).

Por fim, quanto ao modo de pagamento do IAC, este faz-se através do preenchimento e entrega na dependên-cia bancária ou entidade legalmente indicada para o efeito, do Documento de Arrecadação de Receita (DAR) e dos meios de pagamento adequados, nos termos do Código Geral Tributário. (art.34.º, n.º 1, do CIAC).