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TRIBUTAÇÃO DA ATIVIDADE PETROLÍFERA

3. OS IMPOSTOS E RECEITAS PÚBLICAS NO SISTEMA FISCAL

3.8. REGIME FISCAL APLICÁVEL À ATIVIDADE PETROLÍFERA

3.8.3. TRIBUTAÇÃO DA ATIVIDADE PETROLÍFERA

O regime fiscal angolano do setor petrolífero é reconhecidamente complexo, sendo um dos fatores apontados dessa complexidade, no que toca à tributação da atividade petrolífera, a coexistência de regimes diferencia-dos para vários diferencia-dos blocos de exploração. A existência de múltiplos regimes fiscais, cuja vigência pode ser garantida ad eternum por cláusulas de estabilidade (stability provisions), acaba por conduzir a que, na ordem jurídica, se vislumbrem vários estratos fiscais, consoante a época em que o investimento no setor petrolífero foi realizado, aumentando o risco de um tratamento especial diferenciado de alguns contribuintes.127

Esta diversidade de regimes fiscais, então criados, conduziu à necessidade de se procurar uniformizar esses regimes aplicáveis às diferentes modalidades de associação para a E&P de petróleo, respetivamente nos PSC e nos contratos de concessão negociados no período anterior à independência.128

Uma das principais inovações fiscais viria a ser a aprovação de uma Lei sobre a Tributação das Atividades Petrolíferas, que veio reforçar o princípio da legalidade tributária, consagrando algumas opções que já vi-nham constando dos decretos de concessão, o que contribuiu para uma maior transparência.129

Atualmente, Angola tem uma tributação específica para as atividades petrolíferas, nos termos da Lei n.º13/2004, de 24 de dezembro, a Lei sobre a Tributação das Atividades Petrolíferas (LTAP). Esta Lei esta-belece os aspetos fundamentais reguladores do setor fiscal petrolífero, em que vigora um sistema económico-fiscal de tipo misto, como se admite expressamente no seu preâmbulo: “a uniformização dos regimes fiscais aplicáveis às atividades petrolíferas constante da presente lei não deixa de atender às especificidades das principais modalidades associativas nas operações petrolíferas, designadamente nos contratos de partilha de produção e nos contratos de associação em participação, no respeitante, nomeadamente à taxa do impos-to sobre o rendimenimpos-to do petróleo, à determinação da matéria coletável, bem como na isenção do imposimpos-to sobre a produção de petróleo e do imposto de transação do petróleo nos contratos de partilha de produção.”

Atualmente existe em Angola um modelo estável para as atividades petrolíferas, que tem hoje no seu cerne o PSC e a Concessionária Nacional, Sonangol.

O regime especial de tributação para as atividades petrolíferas aplica-se a todas as entidades, nacionais ou estrangeiras, que exerçam atividades de pesquisa, desenvolvimento, produção, armazenagem, venda, expor-tação, tratamento e transporte de petróleo bruto e gás natural, bem como, quaisquer outros derivados proveni-entes das operações petrolíferas. (arts.1.º e 3.º da LTAP).

Nos termos do n.º2 do artigo 4.º da Lei n.º13/2004, 24 de dezembro, as mesmas entidades responsáveis pelo exercício de todas as atividades complementares ou acessórias das atividades petrolíferas encontram-se sujei-tas a outros impostos, taxas, direitos e demais imposições aduaneiras nos termos das regras gerais de tributa-ção, exceto quando deles estejam expressamente isentos.

O apuramento da matéria coletável e a liquidação dos encargos tributários fazem-se de forma completamente autónoma em relação a cada concessão petrolífera, com exceção para as despesas de pesquisa no âmbito da tributação dos contratos de partilha de produção, previstas na alínea b) do n.º2 do artigo 23.º da LTAP. (art.5.º, n.º1 e 2, da LTAP).

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SANCHES, J.L. Saldanha e GAMA, João Taborda da, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra, 2010, pág.408. 128 Segundo o Preâmbulo da Lei n.º13/2004, de 24 de dezembro, 7.º parágrafo.

Estão isentas de qualquer imposto, taxa, contribuição de natureza tributária, prémio ou encargo, as ações representativas do capital social de sociedades às quais se aplique o regime de tributação das atividades pe-trolíferas ou sobre os dividendos por si distribuídos, bem como a transferência de lucros para fora de Angola, de acordo com o artigo 11.º, n.º2, da LTAP.

Como vimos, presentemente, vigoram dois regimes de tributação das atividades petrolíferas, conforme dispõ-em os artigos 81.º e 84.º da LTAP: para as concessões negociadas antes de 1 de janeiro de 2005, aplica-se a Lei antiga, ou seja, aplica-se o regime fiscal previsto nos respetivos contratos; para as concessões negociadas depois de 1 de janeiro de 2005, o Decreto de Concessão não inclui regime fiscal e remete diretamente para a Lei n.º13/2004, de 24 de dezembro.

Segundo o n.º1 do artigo 4.º da LTAP em vigor, prevê -se a aplicação de três impostos:

3.8.3.1. IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DO PETRÓLEO

O Imposto sobre o Rendimento do Petróleo incide sobre o rendimento tributável apurado nos termos da lei e auferido no exercício das atividades de pesquisa, desenvolvimento, produção, armazenagem, venda, exporta-ção, tratamento e transporte de petróleo, no exercício da atividade de comércio por grosso de outros produtos provenientes das operações referidas e, ainda, no exercício de atividades ocasionais ou meramente acessórias das operações mencionadas. (alínea a), b) e c), do n.º1 do artigo 18.º da LTAP).

Por outro lado, este imposto não incide sobre os recebimentos da Concessionária Nacional, prémios, bónus e excesso sobre o preço limite auferidos por esta, nos termos contratualmente estabelecidos.130

O rendimento tributável reporta-se ao lucro apurado no final de cada exercício, relativamente a cada área de concessão petrolífera. (art.19.º, n.º1, da LTAP).

Com efeito, nos termos da redação das alíneas a) e b) do n.º1 do artigo 19.º da LTAP, o método de apuramen-to do rendimenapuramen-to tributável calcula-se, nas tradicionais concessões petrolíferas relativamente às associações em participação ou contratos de serviço com risco, pelo clássico processo, que corresponde à diferença entre todos os proveitos ou ganhos realizados e os custos ou perdas imputáveis ao mesmo exercício. Nos contratos de partilha de produção, a matéria coletável calcula-se segundo um método próprio. Os custos são recuperá-veis (cost oil) desde que não excedam o limite fixado no contrato de partilha de produção. O petróleo lucro (profit oil) é então partilhado entre a Concessionária Nacional e as empresas associadas, em função de crité-rios também eles fixados contratualmente. Apenas a quota do petróleo-lucro das empresas associadas consti-tui a matéria coletável para efeitos de Imposto sobre o Rendimento do Petróleo.131

São considerados custos ou perdas dedutíveis para efeitos fiscais, designadamente os seguintes: encargos com atividades básicas, acessórias ou complementares: despesas com pessoal e certo tipo de custos de mate-riais; despesas de transporte dos matemate-riais; custos com serviços de assistência técnica; encargos de natureza administrativa; aprovisionamentos necessários para a execução das operações petrolíferas; e juros e outros

130 A Sonangol está obrigada a entregar ao Estado as receitas provenientes dos recebimentos provenientes a título de Concessionária Nacional, podendo reter até 10% dessas receitas, para fazer face às despesas com a supervisão e controlo das suas associadas e das operações petrolíferas, conforme o disposto no art.54.º da LTAP. Importa referir, que nos termos do art.56.º da LTAP, todas as receitas da Sonangol, à exceção de casos expressamente previstos na lei, todas as receitas da Concessionária Nacional estão sujeitas aos encargos tributários.

encargos relativos a empréstimos e financiamentos efetivamente pagos, quando contraídos com instituições financeiras angolanas. (art.21.º da LTAP).

De outra forma, não se consideram dedutíveis, os seguintes custos ou perdas: as comissões pagas a interme-diários; indemnizações por multas ou penalidades; despesas incorridas em processos de arbitragem; juros e outros encargos de empréstimos e financiamentos que não os expressamente referidos como sendo dedutí-veis; e fundos, provisões e reservas (salvo se autorizados pelo Governo). (art.22.º da LTAP).

Relativamente ao apuramento dos custos fiscais para a determinação da matéria coletável, o mesmo faz-se através das regras específicas no artigo 23.º da LTAP e variam consoante o tipo de contratoe o tipo de custos em que se inserem, tais como: despesas de pesquisa, despesas de desenvolvimento, despesas de produção e despesas de administração e serviços.

A taxa do Imposto sobre o Rendimento Petrolífero, aplicável aos rendimentos, varia consoante o tipo de contrato em causa. No caso de contratos de partilha de produção, aplica-se uma taxa de 50%. Nos restantes contratos ou concessões, a taxa aplicável será de 65,75%. (art.41.º, n.º1 e 2, da LTAP).

A matéria coletável é fixada por uma Comissão de Fixação da Matéria Coletável com base na declaração entregue pelo contribuinte e nos documentos que a acompanham, podendo esta Comissão fazer retificações ao rendimento bruto anual e às deduções ao rendimento apresentadas. (arts.29.º e 30.º da LTAP).

3.8.3.2. IMPOSTO SOBRE A PRODUÇÃO DO PETRÓLEO

O petróleo produzido ao abrigo dos contratos de partilha de produção não está sujeito ao Imposto sobre a Produção do Petróleo. (art.12.º, n.º4, da LTAP).

Na prática, este imposto apenas é aplicado às concessões mais antigas, sendo de destacar, pela importância que ainda hoje tem na produção, o Bloco 0 de Cabinda, e à eventual exploração de novas concessões através de qualquer modelo que não seja o de contrato de partilha de produção. Em relação a tais concessões mais antigas, são particularmente relevantes os instrumentos jurídicos e contratuais específicos dessas conces-sões.132

O Imposto sobre a Produção do Petróleo tem como característica fundamental ser uma receita ad rem, ou seja, que incide sobre a quantidade de petróleo bruto e gás natural medida à boca do poço. Todavia o legisla-dor angolano permite a dedução das quantidades consumidas in natura nas operações petrolíferas, que, por sua vez, só podem ser aceites após parecer favorável da Sonangol. (art.12.º, n.º1 e 2, da LTAP).

A taxa do Imposto sobre a Produção de Petróleo é de 20%, podendo ser reduzida até 10%, nos seguintes casos: na exploração de petróleo em jazigos marginais; na exploração de petróleo em áreas marítimas com coluna de água superior a 750 metros; e na exploração de petróleo em áreas terrestres de difícil acesso previ-amente definidas pelo Governo. No entanto, esta redução de taxa compete ao Governo, a pedido devidprevi-amente fundamentado da Concessionária Nacional. (art.14.º, n.º1,2 e 3, da LTAP).

3.8.3.3. IMPOSTO SOBRE A TRANSAÇÃO DO PETRÓLEO

O Imposto de Transação do Petróleo incide sobre o rendimento tributável calculado nos mesmos termos que o Imposto sobre o Rendimento do Petróleo. Porém, este imposto também não é aplicável às entidades associ-adas através de contratos de partilha de produção. (art.44.º da LTAP).

No âmbito deste imposto, o legislador angolano, para além da dedutibilidade de encargos previstos no artigo 21.º da LTAP, prevê os prémios de produção sobre volumes de petróleo e gás líquido, que correspondem à possibilidade de dedução de uma percentagem de matéria-prima extraída na determinação da matéria coletá-vel (acordada consoante o contrato de concessão/exploração) e o prémio de investimento, que corresponde à possibilidade de dedução de uma percentagem do investimento (consoante o contrato de conces-são/exploração). (art.45.º, nº1 e 2, da LTAP).

Nos termos do artigo 48.º da LTAP, a taxa de Imposto sobre a Transação do Petróleo é de 70%.

3.8.3.4. TAXA DE SUPERFÍCIE

Estamos perante uma taxa clássica (chamada contribuição especial pelo artigo 103.º da Constituição) pela utilização de um bem de domínio público, ou seja, um pagamento previsto por lei, devido pela ocupação de um recurso que pertence exclusivamente ao Estado.133

A Taxa de Superfície incide sobre a área de concessão ou sobre as áreas de desenvolvimento, caso o contrato celebrado nos termos da LAP preveja a sua existência. (art.50.º da LTAP).

A taxa de superfície corresponde, em moeda nacional, ao valor equivalente a USD 300.000, por km2 e é devida pelas associadas da Concessionária Nacional. (art.52.º da LTAP).

3.8.3.5. CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO DE QUADROS ANGOLANOS

A Contribuição para a Formação de Quadros Angolanos encontra-se prevista na LTAP e é regulada no De-creto-Lei n.º17/2009, de 26 de junho.

Esta contribuição aplica-se a todas as empresas de direito estrangeiro e às empresas de direito angolano, cujo capital social seja maioritariamente detido por pessoas ou entidades estrangeiras e que exerçam em território nacional atividades de prospeção, pesquisa, avaliação, desenvolvimento e produção de petróleo, bem como as empresas de refinação e tratamento de petróleo, de armazenagem, transporte, distribuição e comercialização de produtos petrolíferos. (art.3.º do Decreto-Lei n.º 17/09, de 26 de Junho)134.

As empresas referidas ficam, assim, obrigadas a preencher o seu quadro de pessoal, em todas as categorias e funções, com cidadãos angolanos. (art.4.º do Decreto-Lei n.º 17/09, de 26 de Junho).

A Lei sobre a Tributação das Atividades Petrolíferas prevê, segundo o preceituado do nº1 do art.º57, que as associadas da Concessionária Nacional estejam obrigadas ao pagamento ao Estado de uma Contribuição para

133 SANCHES, J.L. Saldanha e GAMA, João Taborda da, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra, 2010, pág.438

134 O Decreto-Lei n.º 17/09 de 26 de Junho, tem por objeto fixar o montante da contribuição devida pelas entidades referidas no artigo 3.º, bem como definir as regras e os procedimentos a serem observados no recrutamento, integração, formação, desenvolvimento de pessoal angolano e na contratação de pessoal estrangeiro para a execução das operações petrolíferas previstas na Lei n.º 10/04, de 12 de Novembro, e para as atividades de refinação e tratamento de petróleo, de armazenagem, transporte, distribuição e comercialização de

a Formação de Quadros Angolanos. Assim sendo, as associadas da Concessionária Nacional estão obrigadas a consagrar, em cada ano, uma verba em moeda internacionalmente convertível para constituir o fundo de formação e desenvolvimento dos recursos humanos angolanos do setor petrolífero, sob gestão do Ministério dos Petróleos. (art.12.º, n.º1, do Decreto-Lei n.º 17/09, de 26 de junho).

Neste sentido, esta contribuição deve ser calculada com base nos seguintes critérios do n.º2 do artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 17/09, de 26 de junho:

a) Empresa detentora de uma licença de prospeção: USD 100.000,00;

b) Empresa em período de pesquisa: USD 300.000,00;

c) Empresa em período de produção: USD 0,15 cêntimos por barril produzido durante o ano;

d) Empresa que exerça a atividade de refinação e tratamento de petróleo: USD 0,15 cêntimos por barril

de petróleo bruto processado durante o ano;

e) Empresa ou entidade que exerça atividade de armazenagem, de transporte, de distribuição e

comer-cialização de produtos petrolíferos: contribuição correspondente a 0,5% da receita relativa ao volu-me de negócios realizados anualvolu-mente;

f) Empresa ou entidade de prestação de serviços: contribuição correspondente a 0,5% do valor dos contratos realizados durante o ano.

3.8.3.6. LIQUIDAÇÃO E PAGAMENTO

O procedimento tributário relativo às atividades petrolíferas é duplamente reforçado, por um lado, em razão dos deveres de cooperação dos contribuintes e, por outro, pelo controlo fiscal feito pela Administração Fis-cal.135

Nos termos do artigo 58.º da LTAP, os contribuintes estão obrigados a apresentar uma declaração sobre a previsão de pagamentos para o ano seguinte, em novembro de cada ano, a qual deve ser revista e confirmada trimestralmente. (art.58.º, n.º1 e 6, da LTAP).

Neste sentido, é feita a liquidação provisória do Imposto sobre a Produção do Petróleo, do Imposto sobre o Rendimento do Petróleo e do Imposto sobre a Transação do Petróleo, sendo esta da responsabilidade dos contribuintes e baseada na previsão referida. Tal liquidação é feita mensalmente, devendo o pagamento ser efetuado no prazo fixado para essa mesma liquidação provisória. (art.59.º, n.º2 e art.62.º, n.º1, da LTAP). Além da liquidação provisória, está prevista na LTAP, a liquidação definitiva, devendo os contribuintes apre-sentar a respetiva declaração fiscal durante o mês de março de cada ano (art.26.º da LTAP). A liquidação definitiva ocorre no mês seguinte ao da apresentação da declaração fiscal, devendo o pagamento ser efetuado até 30 dias contados a partir da data de notificação da liquidação definitiva. (art.59.º, n.º3 e art.62.º, n.º2, da LTAP).