• Nenhum resultado encontrado

2 CONTEXTO DO OBJETO: A COMUNICAÇÃO UBÍQUA

2.2 Governos na era da ubiquidade: do e-gov ao m-gov

2.2.2 Governo eletrônico brasileiro

2.2.2.1 Governo móvel no Brasil

O governo móvel é compreendido como as aplicações de governo eletrônico realizadas por meio de plataformas móveis. Os registros sobre os primeiros usos dessas ferramentas pela administração pública brasileira são escassos, tanto na esfera federal quanto na estadual ou municipal, o que dificulta a construção de um histórico preciso dessas ações no país.

As ações identificadas mostram que o desenvolvimento do m-gov brasileiro teve seu início no Brasil na década de 2000 e que tal qual em outros países do mundo, as primeiras ferramentas utilizadas foram o envio de SMS para a interação entre governo e cidadão. A partir de então, o desenvolvimento do m-gov brasileiro tem acompanhado a expansão da cobertura de tecnologias de voz e dados no país.

De acordo com Diniz e Gregório (2007) o estado do Paraná foi o pioneiro na utilização dessa tecnologia. Desde 2002, os cidadãos paranaenses podem utilizar mensagens de texto enviadas por telefones móveis para checar junto ao Departamento de Trânsito (Detran), informações sobre a regularidade de veículos, situação de multas e Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Além disso, é possível receber mensagens da Secretaria do Trabalho sobre a existência de vagas para profissionais desempregados, entre outros serviços. O estado do Piauí também permite a consulta sobre veículos, contas de água e luz. No Mato Grosso do Sul, o governo estadual iniciou em 2003 um projeto de integração das polícias e utiliza a telefonia celular para auxiliar as equipes que estão nas ruas a conferir dados sobre pessoas ou veículos suspeitos, além de facilitar a solicitação de reforços junto a centrais (DINIZ; GREGÓRIO, 2007).

Na esfera federal, a utilização de SMS ganhou espaço a partir de 2010 como ferramenta para auxiliar na divulgação de informações de utilidade pública. O surto de gripe H1N1 que atingiu o país nesse ano estimulou o Ministério da Saúde a fazer uso das mensagens de texto para alertar a população sobre o calendário de vacinação contra a gripe.

No ano seguinte, as mensagens começaram a ser utilizadas para orientar e engajar a população no combate à dengue. Desde então, o ministério tem utilizado o SMS de forma frequente em campanhas de utilidade pública.

O recebimento de mensagens de texto também é um serviço disponibilizado por outros órgãos públicos, como o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), que envia o saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para usuários; a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil que permitem o recebimento de alertas sobre transações bancárias.

Recentemente a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) anunciou o lançamento, em parceria com a Defesa Civil, de um serviço nacional de alerta de catástrofes naturais por SMS. O serviço com início previsto para o segundo semestre de 2017, permitirá que usuários se cadastrem para receber, sem custo, mensagens de alerta sobre o risco de eventos como vendavais, enxurradas, deslizamentos e alagamentos.

A partir de 2008, a chegada dos primeiros smartphones ao Brasil e a expansão das redes de internet móvel ao longo dos anos seguintes, trouxeram à administração pública a possibilidade de utilização dos aplicativos móveis para a interação entre governo e cidadão.

Um exemplo é o aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp, lançado em 2009 e que rapidamente se tornou popular no Brasil, onde já conta com cerca de 100 milhões de usuários (WHATSAPP, 2016).

Em diversos estados brasileiros, órgãos públicos têm utilizado o aplicativo para interagir com o cidadão. No Distrito Federal, a Polícia Civil recebe denúncias por meio de textos, fotos e vídeos. O canal também é disponibilizado pelo Metrô-DF para o registro de manifestações, reclamações e pedidos de acesso à informação. Os tribunais de contas dos estados de São Paulo e de Santa Catarina também já recebem reclamações e denúncias por meio do WhatsApp. Da mesma forma, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro utiliza o aplicativo para o recebimento de denúncias.

Seguindo a tendência mundial indicada pela ONU (2014), os órgãos públicos brasileiros também têm investido de forma crescente no desenvolvimento de aplicativos móveis de interesse público.

Em 2016, por exemplo, foi disponibilizada uma série de aplicativos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para auxiliar no processo eleitoral. Foram criados aplicativos, por exemplo, para guiar os eleitores na identificação de locais de votação e

postos de justificativa; enviar denúncias sobre irregularidades nas campanhas eleitorais e acompanhar os resultados da apuração dos votos em tempo real.

Outros órgãos como a Receita Federal, Ministério da Saúde, Infraero, Ministério da Justiça, Banco Central, Câmara dos Deputados, Senado Federal e Superior Tribunal de Justiça também tem disponibilizado aplicativos para os cidadãos brasileiros.

Para facilitar a localização dessas ferramentas pelos cidadãos, o governo brasileiro, ao exemplo do que é feito em outros países, criou em 2013, uma página na internet para reunir os apps móveis de interesse público, o Guia de Aplicativos do Governo Federal.

Até dezembro de 2016, constavam 120 aplicativos no Guia48, destinados à prestação de informações e serviços ou jogos sérios, em temas como defesa e segurança, infraestrutura, cidadania e justiça, educação, saúde, meio ambiente e cultura.

O guia é composto tanto por aplicativos governamentais, produzidos de forma institucional por meio de estruturas de TI dos órgãos responsáveis ou por empresas contratadas; quanto por aplicativos cívicos, produzidos por desenvolvedores independentes.

No caso do Guia, os aplicativos cívicos disponibilizados são produzidos por meio do concurso InovApps, desenvolvido pelo antigo Ministério das Comunicações (MC) dentro da Política Nacional de Conteúdos Digitais Criativos. Essa política tem o objetivo de fomentar o desenvolvimento das cadeias e arranjos produtivos locais das áreas de cinema, televisão, computadores, smartphones, tablets, jogos eletrônicos e outras mídias eletrônicas (BRASIL, 2014).

O concurso teve sua primeira edição em 2014 e a segunda em 2015 e premiou projetos de aplicativos de interesse público com incentivo financeiro para sua produção. Quando prontos, os aplicativos vencedores devem ser disponibilizados gratuitamente para uso dos cidadãos no Guia de Aplicativos do Governo Federal.

Embora não constem no Guia, outros aplicativos cívicos vêm sendo desenvolvidos no país por meio de concursos e também de hackatons,49 maratonas de reúnem hackers, desenvolvedores e programadores por determinados dias para a criação de novos aplicativos ou outros produtos digitais.

48 A publicação no Guia depende de que o órgão responsável por sua produção solicite a sua inclusão. Nem

todos os aplicativos produzidos pela esfera federal encontram-se publicados no guia. Alguns podem ser acessados diretamente pelos sites dos órgãos responsáveis ou pelas lojas virtuais de aplicativos em

smartphones, sem constarem no catálogo de aplicativos.

A Câmara dos Deputados tem apostado desde 2013 na promoção desses eventos. Em 2013, a maratona teve o objetivo de criar uma rede de colaboração entre parlamento e sociedade, com a criação de aplicativos relacionados à participação popular e ao processo legislativo. A edição de 2014 buscou promover a criação de aplicativos relacionados a gênero e cidadania, com ferramentas que pudessem contribuir para reduzir a violência contra a mulher e fortalecer as políticas relacionadas.

Em 2016, o Ministério da Justiça realizou o Hackaton Participação no Combate à Corrupção, que promoveu o desenvolvimento de aplicativos relacionados à participação e ao controle social sobre transferências.

De forma semelhante, também em 2016, o Tribunal de Contas da União (TCU) promoveu o Desafio de Aplicativos Cívicos: Controle Social Digital 2016, destinado a fomentar a produção de apps que apoiem o exercício do controle social.

Cívicos ou governamentais, os aplicativos móveis de interesse público surgem como ferramentas que, em um contexto de acesso crescente aos dispositivos e redes móveis, possuem potencial de auxiliar no exercício da cidadania.

Mas considerar essa relação pressupõe anteriormente, um entendimento sobre o que é cidadania, e mais ainda, o que significa ser cidadão no Brasil no atual contexto histórico e tecnológico.