5 PERCURSO METODOLÓGICO
5.1 Etapas da pesquisa
5.1.1 Pesquisa exploratória
5.1.1.1 Mapeamento de aplicativos existentes
O mapeamento exploratório de aplicativos existentes buscou construir uma visão geral sobre as ferramentas já disponibilizadas aos cidadãos brasileiros e uma primeira aproximação de suas características e funcionalidades, de forma a identificar elementos que pudessem ser analisados nas etapas seguintes da pesquisa.
Para viabilizar a realização do mapeamento, delimitou-se a busca por aplicativos disponibilizados por órgãos públicos da esfera federal. A pesquisa realizada para a contextualização do objeto de estudo já havia indicado a existência do Guia de Aplicativos do Governo Federal, que reúne a maior parte dos aplicativos desenvolvidos por órgãos públicos federais.
Além disso, os aplicativos disponíveis no Guia relacionam-se a diversos propósitos e áreas de atuação do Estado, levando à constituição de uma amostra relevante em aspectos quantitativos e qualitativos ligados a diferentes dimensões de exercício da cidadania.
O mapeamento identificou quantos e quais eram os aplicativos, que totalizavam 97 até o dia 31 de dezembro de 2015, e buscou informações que permitissem um aprofundamento sobre o objeto. Dessa maneira, foram verificadas as seguintes informações:
a) tema ao qual o aplicativo se relaciona: categorização temática atribuída pelo próprio guia;
b) órgão responsável: indica o órgão responsável pela produção, que não necessariamente é o desenvolvedor do aplicativo, que pode ter sido uma empresa contratada;
c) faixa de download: indica o número de downloads do aplicativo com base em dados da Play Store (sistema Android), uma vez que a App Store (sistema IOS) não disponibiliza essa informação;
d) desenvolvedor: indica o órgão, empresa ou pessoa que executou a produção do aplicativo;
e) número de avaliações: indica quantos usuários atribuíram nota ao aplicativo;
g) compatibilidade: indica a compatibilidade dos aplicativos com sistemas operacionais de dispositivos móveis (IOS, Android e outros);
h) propósito: indica se os aplicativos tem o propósito de disponibilizar informações, serviços ou jogos sérios;
i) forma de desenvolvimento: indica se o aplicativo foi desenvolvido de forma institucional ou por meio do concurso InovApps;
j) data de publicação: data em que o aplicativo foi disponibilizado no guia; k) descrição: breve resumo dos propósitos e funcionalidades do aplicativo; l) possibilidade de envio de informações: indica se o aplicativo permite o
envio de informações aos órgãos responsáveis;
m) outras informações: indica outros dados relevantes que não se encaixam nos itens anteriores, como por exemplo o uso de tecnologias de geolocalização e de realidade aumentada.
Em relação ao propósito dos aplicativos, cabe esclarecer que foram considerados de prestação de serviços aqueles que oferecessem, por meio da própria ferramenta, a possibilidade de alterar o status de alguma demanda inicial do usuário. Por exemplo, a realização de transações bancárias, emissão de carnês, envio de formulários, reclamações e denúncias. Os aplicativos que apenas orientavam o usuário sobre como e onde acessar serviços públicos, registrar demandas e denúncias, bem como os aplicativos de notícias, orientações, cartilhas e publicações eletrônicas foram classificados como de acesso a informação.
Já para os jogos sérios, foi adotada a definição disponível no Edital de 2014 do concurso InovApps, que define esses aplicativos como aqueles que “desenvolvidos a partir dos processos usuais de game design, têm como objetivo principal a transmissão de conteúdos de cunho educacional e informativo visando a aplicação em contextos externos ao jogo” (BRASIL, 2014).
Além de possibilitar a construção de um quadro geral sobre os aplicativos disponíveis, o mapeamento exploratório contribuiu para o aperfeiçoamento das etapas seguintes do percurso metodológico, uma vez que permitiu conhecer detalhes dos aplicativos e novas nuances que poderiam agregar informações relevantes à análise.
Após o mapeamento, com base nas informações obtidas e no conhecimento dos propósitos de cada aplicativo, foi possível categorizá-los, de acordo com a classificação proposta pela OCDE (2011). O quadro abaixo identifica as categorias utilizadas e suas principais características.
Quadro 4 – Categorias de aplicativos conforme classificação OCDE (2011)
Categoria de aplicativo Características Exemplos de
informações/serviços disponibilizados
Informacionais ou educacionais Permite a distribuição de informações e orientações de interesse público aos cidadãos. Informações estáticas e de interesse geral.
Ocorre pouca interação entre governo e cidadão. Disponibilização de notícias sobre a atuação governamental; informações institucionais (histórico, competências, horários de funcionamento); alertas sobre situações de emergência; conteúdos de leis e normativos;
campanhas de saúde pública e conteúdos educacionais. Interativos Oferecem algum nível de
personalização da informação e de diálogo entre governo e cidadãos. Aplicações permitem o envio de demandas, obtenção de formulários e requisição de serviços específicos. Serviços ou informações podem ter como base dados específicos do usuário, como
geolocalização ou
preferências pré-definidas. Transacionais Possibilidade de efetuar
transações completas com o estado de forma eletrônica, no horário e do local que for conveniente ao usuário.
Pagamento de taxas e impostos; compra de bilhetes para transporte público; realização de operações bancárias. Preenchimento e envio de declarações.
Governança e engajamento cívico Disponibiliza ferramentas para que o cidadão participe na formulação e melhoria de políticas públicas
Ferramentas para envio de opiniões sobre políticas públicas.
5.1.1.2 Mapeamento de políticas relacionadas
O mapeamento de políticas que pudessem de alguma forma estar relacionadas à utilização de aplicativos móveis compreendeu a reunião de um quadro geral de regulamentos, normativos e leis relacionadas ao tema.
Embora não tenham sido identificadas diretrizes específicas para os aplicativos móveis no Brasil, da mesma maneira que no campo teórico o m-gov é compreendido como parte integrante do e-gov (KUSCHU, 2007, ONU, 2014; OCDE, 2011), entende-se que as políticas e diretrizes voltadas ao governo eletrônico, aplicam-se também ao m-gov (ONU, 2014).
Porém, embora exista uma vinculação teórica às políticas de e-gov, conduzidas pelo Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão (MP); de forma prática, o Guia de Aplicativos está inserido no projeto Identidade Padrão de Comunicação Digital, desenvolvido pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom/PR). E parte dos aplicativos do guia, produzidos pelo concurso InovApps, está inserida na Política Nacional de Conteúdos Digitais Criativos, à cargo do Ministério da Ciência, Tecnologia, Comunicações e Inovações (MCTIC), resultado da fusão ocorrida na reforma ministerial de 2016 entre o Ministério das Comunicações (MC) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Dessa forma, o mapeamento abrangeu não apenas documentos relacionados às políticas de e-gov, mas também aqueles que estivessem ligados ao guia de aplicativos e às ferramentas disponibilizadas nele.
Além disso, considerou-se outras políticas que não se relacionassem diretamente às ferramentas, mas pudessem influenciar as diferentes dimensões da cidadania.
A dimensão do pertencimento, por exemplo, está ligada a ações do Estado para garantir o acesso às redes e dispositivos móveis, o que demonstrou a necessidade de considerar as políticas brasileiras de inclusão digital.
Considerando essas necessidades, o mapeamento buscou identificar leis, normativos e regulamentos relacionados ao objeto de estudo e especificar as seguintes informações:
a) Tipo de documento;
b) Política a qual se relaciona; c) Origem;
d) Finalidades;
e) Relação com o governo móvel;
f) Dimensão da cidadania a qual se relaciona.
As informações do mapeamento forneceram subsídios para as fases seguintes da pesquisa, que consistiram na análise do ambiente político e institucional e do ambiente operacional dos aplicativos.