• Nenhum resultado encontrado

6 APLICATIVOS MÓVEIS E CIDADANIA NO BRASIL

6.7 Limites e possibilidades

A utilização de aplicativos móveis de interesse público no Brasil como ferramentas para o exercício de direitos e deveres ou para o exercício da participação política ainda é limitada tanto em relação à quantidade de aplicativos destinados a esse propósito quanto no direcionamento das funcionalidades dessas ferramentas para ofertar soluções práticas aos cidadãos.

Os dados identificados pela pesquisa em relação à quantidade de usuários dos aplicativos mostrou um possível interesse dos usuários pelas ferramentas que ofereçam a possibilidade de obter serviços públicos ou informações personalizadas junto ao Estado. Entretanto são poucos os apps que trazem essas possibilidades ao cidadão.

O cruzamento dos dados obtidos pela análise dos aplicativos mostrou que há diferença nos propósitos e recursos interativos entre aqueles vinculados à Política Nacional de Conteúdos Digitais Criativos e aqueles que não estão diretamente vinculados a nenhuma política.

Enquanto os propósitos e recursos interativos dos aplicativos produzidos pelo InovApps pareciam estar realmente direcionados às diretrizes específicas de inovação e criatividade estabelecidas pelo edital do concurso; os aplicativos produzidos de forma institucional não demonstram, em termos quantitativos, aderência às diretrizes gerais do governo eletrônico de promover a cidadania por meio da oferta de serviços público ou da participação social. O mesmo ocorre em relação aos princípios gerais da Identidade Padrão de Comunicação Digital para a promoção de interação e transparência ativa.

Embora os dados obtidos pela pesquisa não possam permitir uma afirmação categórica de que esses aplicativos sejam efetivamente moldados pelas políticas a que se relacionam, obtém-se uma indicação de que pode ser útil a formulação de diretrizes específicas que orientem a produção dessas ferramentas às necessidades do cidadão.

Essas diretrizes não devem considerar apenas a possibilidade de ampliar a oferta dessas ferramentas, mas também de utilizar as funcionalidades desses aplicativos, como por exemplo sua capacidade de se integrar às câmeras, microfones e ferramentas locativas dos dispositivos; para customizar essas aplicações às necessidades dos usuários. Assim, considerando essa inter-relação entre o ambiente político e operacional em que essas ferramentas se encontram, o quadro a seguir relaciona os

principais limites e possibilidades identificados na pesquisa para cada dimensão da cidadania.

Quadro 8 - Limites e possibilidades para o uso de aplicativos móveis na cidadania brasileira

Dimensão da cidadania

Possibilidades Limites

Pertencimento - Telefones celulares já são os dispositivos mais utilizados para acessar a internet no país; - aumento na penetração dos

smartphones no país.

- Desarticulação das políticas e atores envolvidos;

- exclusão digital;

- falta de estratégia consistente para a redução de custos de aparelhos e de acesso às redes móveis;

- não previsão de ações para a alfabetização digital.

Direitos e deveres - Consistência técnica dos aplicativos; - alto número de usuários de

aplicativos de prestação de serviços, em comparação com os demais; - adequação de linguagem dos conteúdos aos públicos de interesse; - potencial de utilização de

ferramentas locativas para acessar informações no contexto físico do usuário.

- Desarticulação de políticas e atores envolvidos;

- baixo número de aplicativos para o acesso a serviços públicos;

-pouco direcionamento das

funcionalidades interativas para oferecer serviços ou possibilidades de diálogo entre governo e cidadão;

- baixo número de usuários dos aplicativos em geral;

- ausência de diretrizes específicas para direcionar a oferta de aplicativos centrados em necessidades do cidadão.

Participação - Consistência técnica dos aplicativos; - potencial de utilização de

ferramentas locativas para o envio de denúncias e reclamações.

- Desarticulação de políticas e atores envolvidos;

- baixo número de aplicativos que permitam o envio de opiniões sobre políticas públicas;

- baixo número de aplicativos que permitam o envio de denúncias; - baixa institucionalização de processos para o tratamento das informações recebidas por meio dos aplicativos. Fonte: Elaborado pelo autor (2016)

Percebe-se que enquanto a maior parte das possibilidades encontra-se no aproveitamento de potencialidades tecnológicas do ambiente operacional, a maior parte dos limites é impactada pelo ambiente político institucional.

Integrar esses dois aspectos é um passo necessário para a cidadania eletrônica brasileira, por meio de uma percepção dos gestores sobre essa necessidade e da melhoria dos mecanismos de governança.

Essa não é uma tarefa fácil ou rápida. Mas enquanto isso não ocorre, há outras possibilidades de utilização de aplicativos móveis para a promoção da cidadania que não fizeram parte do percurso metodológico, mas que foram identificadas pela pesquisa.

A primeira delas seria uma utilização de aplicativos populares para o interesse público, como foi o caso identificado na utilização do WhatsApp, que já conta com mais de 100 milhões de usuários no Brasil e que passou a ser utilizado por tribunais de contas, polícias e outras instituições para o recebimento de denúncias, reclamações e envio de informações.

Outra possibilidade são os hackatons, concursos e desafios para a produção de aplicativos cívicos. Em especial por essa forma de desenvolvimento ser direcionada, a exemplo do InovApps, por editais que trazem diretrizes e requisitos específicos para as ferramentas.

O hackaton promovido pelo Ministério da Justiça, por exemplo, teve como tema a participação no combate à corrupção. Os desenvolvedores deveriam inscrever softwares que trouxessem soluções específicas para a participação e o controle social sobre transferências (BRASIL, 2016). O edital trazia ainda outras especificações, como a tradução dos dados de convênios e transferências para uma linguagem acessível ao cidadão e possibilidade de seleção, por parte do usuário, de informações que impactassem seu cotidiano (BRASIL, 2016).

As três melhores propostas foram premiadas com R$ 10.000,00 e as equipes responsáveis reuniram-se no Ministério da Justiça com gestores públicos que puderam auxiliar as equipes desenvolvedoras sobre a utilização dos dados de convênios e transferências. A proposta em primeira colocação recebeu mais R$ 30.000,00 para desenvolvimento do aplicativo As diferentonas, destinado a auxiliar na fiscalização de obras realizadas com recursos públicos.

O Desafio de Aplicativos Cívicos do TCU, promovido também em 2016, trouxe como critérios de avaliação a utilidade pública e a geração de informações úteis ao controle social e ao controle externo, entre outros requisitos (BRASIL, 2016).

Esses aplicativos são produzidos com base em dados abertos disponibilizados pelas instituições organizadoras dos concursos.

A abertura de dados na Administração Pública Federal é um processo que ainda está em desenvolvimento e que se relaciona à Política de Dados Abertos, conduzida pelo Ministério do Planejamento. Sua evolução pode contribuir para que novos

aplicativos cívicos sejam desenvolvidos independentemente da realização de concursos pelo Estado.

Essa possibilidade agrega mais uma política a ser considerada no contexto da utilização de aplicativos móveis para a promoção da cidadania e reforça a necessidade de aprimoramento dos mecanismos de governança do e-gov brasileiro.