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6 PANORAMA NACIONAL DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO SEGMENTO

6.3. Grau de novidade da inovação

A dificuldade das empresas de MIA para o desenvolvimento de produtos novos para o mercado nacional e mundial é compreensível pela necessidade de maior capacitação das empresas e pela reduzida penetração da maioria das empresas nacionais nos mercados internacionais. A orientação exportadora, pouco presente nas empresas nacionais de MIA, é um fator bastante significativo para o desenvolvimento de capacitações internas favoráveis à inovação.

A inovação possibilita à empresa que a desenvolve dominar não somente a tecnologia de fabricação, mas também a de operação e manutenção. Mesmo que o conhecimento desenvolvido no projeto de inovação não chegue ao mercado, a empresa passa a adquirir uma capacitação tecnológica superior, que poderá ser utilizada em outros projetos.

Os projetos desenvolvidos por empresas que inovam para o mercado nacional têm um grau de novidade maior e, provavelmente, custos e riscos maiores, que se tornam ainda mais aumentados, quando a inovação ocorre a nível mundial. Por essa razão, as empresas procuraram diferenciar seus produtos, fabricando similares.

Nas inovações em processo, essas constatações foram ainda mais acentuadas. A explicação para a ausência de inovações em processos mais radicais pode estar associada à principal finalidade das inovações em processo, a redução de custos, geralmente atendida por ocasião do aprimoramento dos processos existentes, dispensando, portanto, uma inovação mais radical.

Na realidade, esse tipo de inovação torna-se essencial apenas nos casos em que tais inovações conduzem a processos radicalmente novos, situação praticada por um número reduzido de empresas brasileiras de MIA.

As principais estratégias para inovações em processo são investimentos voltados para aquisição de máquinas e equipamentos, crescimento da produtividade por meio da reestruturação da produção, aumento da qualidade do produto e redução de custos.

Esses fatos também possuem estreita relação com a idéia de que a introdução de produtos ou processos novos para as empresas e para o mercado, corresponde a um tipo de inovação mais próxima da idéia original de inovação schumpteriana, que está associada

principalmente a produtos ou processos novos para o mercado mundial. A realidade inovativa proposta por Schumpeter não está presente na maioria das empresas de MIA brasileiras.

A dificuldade para a ocorrência nas empresas nacionais de inovações para o mercado motivou um trabalho da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (ANPEI), que apresentou uma proposta de incentivos às empresas, por meio de um mecanismo que premia as inovações que forem de fato implantadas no mercado. O direito ao incentivo tributário seria gerado no ato da comercialização, no mercado do novo produto ou processo. O incentivo proposto alcançaria 23,5% das empresas que inovaram em produto e 11% das que inovaram em processo (ANPEI, 2004).

No ano de 2009, em continuidade a esta política de incentivos, a ANPEI apresentou ao Ministério da Ciência e Tecnologia outra proposta de trabalho, baseada na criação de fóruns permanentes de incentivo à inovação, com a participação de representantes do meio empresarial e órgãos responsáveis pelas políticas públicas de fomento ao empreendedorismo e inovação, tais como o MCT, BNDES, FINEP, dentre outros.

Esses fóruns teriam a função de dinamizar as legislações, regulamentações e políticas públicas relacionadas à Pesquisa e Desenvolvimento de forma a tornar a conjuntura mais favorável à adoção de inovação pela indústria, por meio de processos simplificados e desburocratizados, o que inclui o acompanhamento, cumprimento de prazos das partes e a definição de indicadores e metas quantitativas e qualitativas para mensurar o retorno dos investimentos em P&D.

Muitas empresas adotam a estratégia de inovar em produto e em processo de forma conjunta, ao invés de inovar apenas em processo. Quando se inova somente em processo, o objetivo é melhorar a produtividade e aumentar a competitividade. Portanto, a existência de empresas que inovam conjuntamente em produto e em processo indica que a diferenciação de produto passou a ser considerada como fator de competitividade.

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6.4. Responsável pela inovação

Os principais responsáveis pela inovação em produto foram as próprias empresas de MIA. Isso pode ser explicado porque a inovação tecnológica de produto mostra o diferencial da empresa em relação a seus concorrentes, o que de certa forma induz a própria empresa a realizar esse tipo de atividade inovativa.

Nesse caso, as empresas não demonstram uma abertura para buscar o desenvolvimento de parcerias com outras empresas ou instituições e, além disso, consideram como cooperação o que na realidade é uma troca comercial e eventuais informações recebidas de seus clientes e fornecedores. Esse é um procedimento característico de empresas que melhoram seus produtos e processos por meio do aprendizado pela utilização, onde os parceiros não possuem um papel ativo no processo de desenvolvimento de inovações tecnológicas.

Em contrapartida, a responsabilidade pelo desenvolvimento de inovações em processo das empresas de MIA foi transferida para outras empresas ou institutos, indicando a falta de capacitação dessas empresas para o desenvolvimento desse tipo de inovação. Essa limitação em relação às competências tecnológicas mostra que, em seu estágio inicial para se tornarem competitivas e alcançarem um patamar mínimo que as permita competir no mercado, as empresas de MIA necessitam primeiramente adquirir conhecimento para desenvolver e, além disso, acumular sua própria capacitação tecnológica. Posteriormente, devem ser avaliadas e qualificadas as implicações dessa acumulação, para que isso possa auxiliar o aprimoramento de sua performance tecnológica.

Também pode-se considerar que os elevados custos e a dificuldade para a apropriabilidade, também representam barreiras à cooperação para inovação, tanto para produto, quanto processo.

6.5. Métodos de proteção

Os principais métodos de proteção utilizados pelas empresas foram por escrito, principalmente patentes e marcas. Geralmente, o número de depósitos de pedidos de patentes apresenta alta correlação com os esforços em P&D, de modo que os números

deste indicador são representativos para o esforço de inovação das empresas em produtos e em processos.

No entanto, as estatísticas relacionadas ao depósito de patentes podem ser substancialmente enviesadas devido à internacionalização da P&D de empresas multinacionais, pois o país de localização da matriz que deposita a patente, pode não coincidir com o local em que o conhecimento foi criado.

De forma geral, para se elevar a competitividade por meio de inovações, deve-se considerar o incentivo à ampliação do setor de P&D, o fortalecimento do controle da qualidade dos bens e serviços produzidos no país e a redução da vulnerabilidade do sistema de propriedade intelectual.

A questão da apropriabilidade e da vulnerabilidade deve levar em conta o fato das empresas inovadoras terem a incerteza tecnológica como um de seus atributos estratégicos, o que pode levar ao desestímulo para investimentos em inovações tecnológicas. A principal razão para isso é que a inovação tecnológica, vista como um produto ou processo é apenas parcialmente apropriada pelo responsável por seu desenvolvimento, mesmo que exista um sistema eficiente de patenteamento.

As taxas de propensão ao patenteamento e seu papel no estímulo à realização de P&D variam entre segmentos industriais. No segmento de MIA, as patentes são relevantes para sustentar os elevados investimentos em P&D necessários à inovação, enquanto em indústrias nas quais essa apropriação é mais difícil e onerosa, a importância das patentes torna-se limitada.

Em determinadas situações, o intervalo de tempo necessário para que a imitação ocorra pode ser longo o suficiente para garantir o retorno financeiro do desenvolvedor, já nos casos em que o produto ou processo desenvolvido é facilmente imitável, a inovação exigiria proteção. Assim, pode-se deduzir que quanto maior a velocidade de disseminação do conhecimento, maior a proteção necessária para assegurar o retorno a empresa inovadora.

Quando da cooperação entre um instituto de pesquisa ou universidade resultar um produto ou processo que possua valor econômico ou que possa resultar em uma exploração econômica através da transferência de tecnologia para setores externos aos envolvidos na parceria, a questão da proteção aos direitos do produto ou processo torna-se

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imprescindível. Como as empresas de MIA cooperam muito pouco com as universidades e institutos de pesquisa, o número de patentes geradas por essa parceria é também reduzido.

A geração do conhecimento é uma pré-condição para se requerer a patente, mas obter ganhos a partir das inovações tecnológicas desenvolvidas envolve um conjunto de outros investimentos dos quais as universidades e institutos de pesquisa geralmente não participam.