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3.1 Base Conceitual

3.1.2 Trajetórias tecnológicas

As inovações tecnológicas são consideradas fundamentais por Dosi (1982) ao definir o conceito de trajetória tecnológica como um caminho de evolução tecnológica permitido por um paradigma, restrita principalmente pelas percepções de oportunidades e pelo mercado e que determina as melhorias com possibilidades de serem rentáveis. A trajetória abrange as mudanças marginais e contínuas, ocorridas na expansão de uma tecnologia particular a partir de um ponto de descontinuidade. As possibilidades de solução são organizadas na forma de programas de pesquisa tecnológica.

Esses programas de pesquisa procuram reduzir o desequilíbrio entre as dimensões técnica e econômica das tecnologias em investigação. O avanço ao longo de uma trajetória tecnológica significa o aperfeiçoamento dos atributos técnicos e econômicos desejáveis de

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um produto, equipamento, ferramenta ou dispositivo, reduzindo as opções excludentes entre esses dois atributos. Observa-se que o conceito de trajetórias tecnológicas surge da idéia de paradigmas tecnológicos, que são definidos por Dosi (1988) como modelos ou padrões de solução de problemas tecnológicos específicos, baseados em princípios científicos e tecnologias materiais selecionadas e que definem os problemas a serem enfrentados, incorporando prescrições sobre as mudanças técnicas que devem ser pesquisadas e também descartadas.

O padrão normal de resolução de problemas colocados por um paradigma é definido por Dosi (1982) como uma trajetória tecnológica, que consiste nos conhecimentos e técnicas voltadas à solução de trade offs, que contêm variáveis consideradas relevantes pelo paradigma. Outra definição de trajetória tecnológica é dada por Utterback (1996), como o caminho que permite a obtenção de progressos tecnológicos, quando se opta por um conceito técnico que centraliza as ações no início dos estudos. As decisões sobre o produto, restritas por opções técnicas anteriores e pela evolução das opções dos clientes, influenciam as várias trajetórias.

De acordo com Freeman (1991a), as possibilidades técnicas são geradas em um ambiente social em que interagem necessidades humanas, fatores econômicos e as dinâmicas do sistema científico-tecnológico. Esse ambiente social pode incentivar ou inibir a difusão de técnicas, selecionando-as em diversos níveis através da definição do que é cientificamente concebível, tecnicamente viável, economicamente lucrativo e socialmente aceitável. Segundo Dosi (1982), são instrumentos de seleção de tecnologias as forças econômicas e fatores institucionais e sociais, como políticas públicas de apoio financeiro à P&D em determinadas áreas.

O direcionamento do desenvolvimento técnico é determinado por mecanismos que, segundo Freeman (1991a), limitam as escolhas tecnológicas possíveis ao definir características de técnicas consideradas viáveis. Rendimentos crescentes decorrem da própria adoção da opção tecnológica, que cria condições favoráveis ao seu desenvolvimento, como treinamento de recursos humanos e construção de infra-estrutura, o que pode retardar o desenvolvimento tecnológico em certos padrões. Reforçando esse fenômeno, o inter-relacionamento entre as técnicas torna o desenvolvimento de diversas tecnologias interdependentes, em sistemas tecnológicos onde a articulação dos

componentes define as características das tecnologias, aumentando a dificuldade de alterar um componente.

De acordo com Dosi (1988), a exploração de tecnologias particulares e o desenvolvimento de métodos particulares de resolução de problemas aumentam as capacidades de empresas nessas direções específicas, aumentando os incentivos para seguir nessa direção. Essas formas tecnológicas, de retornos crescentes e dinâmicos, tendem a inibir os processos de mudança técnica em trajetórias particulares, levando ao reforço mútuo (feedback positivo) entre um padrão de aprendizado e um padrão de alocação de recursos em atividades inovativas, em que o aprendizado já ocorreu no passado.

Para Arthur (1989), as tecnologias consideradas modernas e complexas freqüentemente trazem retornos crescentes de adoção, pois a difusão de uma tecnologia aumenta a experiência na solução de seus problemas. Quando duas ou mais tecnologias competem por um mercado, fatores como o sucesso no teste de protótipos e incentivos políticos podem conferir a uma das tecnologias vantagens iniciais na adoção, dando-lhe uma parcela de mercado suficiente para sustentar sua melhoria contínua.

De acordo com Cecchi (2001), a redução de custos trazida pela experiência em uma trajetória tecnológica cria economias de aprendizagem, similares às economias de escala. As economias também influenciam a escolha do consumidor habitual de um produto, que tende a otimizar sua utilização. Também são determinantes da paralisação de certas trajetórias, cuja retomada, especialmente em setores de infra-estrutura, exigem políticas públicas e privadas, de incentivo ao aprendizado em trajetórias que envolvem conhecimentos científicos e tecnológicos diferentes.

Existe um elevado grau de irreversibilidade inerente à instalação e ampliação de infra-estruturas, que pode conduzir toda a economia de um país ou de uma região, a uma única trajetória tecnológica. Apenas um agente externo, auxiliado por inovações tecnológicas, terá condições de abrir novas opções que dêem origem a trajetórias distintas (CHECCHI, 2001).

Partindo da definição de Schumpeter para inovação tecnológica, podem ser citadas duas trajetórias principais:

- uma empresa pode inovar investindo em máquinas e equipamentos para novos processos, que são comprados de um fornecedor ou vendendo um novo produto, que

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também é obtido de outra empresa. Nesse caso, essa inovação não requer esforço intelectual relevante, inventivo ou criativo;

- uma empresa também pode inovar comercializando novos produtos e implementando novas máquinas e equipamentos de processo, que ela desenvolveu por meio de suas próprias atividades inventivas.

As duas trajetórias principais de inovação, definidas por Schumpeter (1988), originaram dois conceitos importantes: o da adoção ou inovação como difusão, relacionado à aquisição de novos produtos ou processos de fontes externas à empresa e o esforço inventivo, no qual atividades criativas para desenvolver novos ou melhorar produtos, processos ou serviços são realizados pela própria empresa. No entanto, ressalta-se que as duas principais trajetórias para inovação não são capazes de agregar todas as possibilidades. As empresas podem também inovar por meio da combinação de adoção com esforço inventivo. Isso ocorre, por exemplo, quando a empresa realiza algum esforço inventivo para adaptar novas tecnologias de processos a fim de atender as necessidades de seu próprio processo de produção.

Deve-se destacar que a difusão de idéias, conhecimento e informação, também possuem importância na geração de inovação. Dessa forma, as duas trajetórias para inovação devem ser entendidas como tipos ideais não mutuamente excludentes, sendo a inovação normalmente caracterizada pela combinação das duas trajetórias.