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3.1 Base Conceitual

3.1.4 Mudanças tecnológicas

É fundamental saber porquê ocorre a mudança tecnológica e os motivos para as empresas inovarem. A razão apresentada por Schumpeter é que elas estão em busca de

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lucros, ou seja, um novo dispositivo tecnológico sempre trará alguma vantagem para a empresa inovadora. De acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no caso de um processo que eleve a produtividade, a empresa obtém uma vantagem de custo sobre seus concorrentes e é esta vantagem que lhe permite obter uma maior margem nos preços de venda ou usar uma combinação de preço mais baixo e margem mais elevada em relação aos seus concorrentes, para conquistar participação de mercado e obter mais lucros (OCDE, 1996).

No caso de inovação de produto, a empresa obtém uma posição monopolista devido a uma patente ou ao tempo que os concorrentes levam para imitá-la e que permite que ela estabeleça um preço mais elevado do que seria possível em um mercado competitivo, obtendo lucro. Também é reforçada a importância do posicionamento competitivo, pois uma empresa pode ter uma abordagem reativa e inovar para evitar perder participação de mercado para um concorrente inovador. Outra possibilidade é adotar uma abordagem preventiva, buscando uma posição estratégica no mercado em relação a seus competidores, desenvolvendo e tentando impor, por exemplo, padrões técnicos mais altos para os seus produtos.

As questões de mudanças técnicas apresentam um caráter complexo. Novas tecnologias competem com as tecnologias estabelecidas e, em muitos casos, as substituem. Esses processos de difusão tecnológica são freqüentemente prolongados e envolvem, na maioria das vezes, o aprimoramento incremental, tanto das novas tecnologias, como das já estabelecidas e, em ambientes de incerteza, novas empresas substituem as existentes que tenham menos capacidade de ajustar-se. A mudança técnica gera uma redistribuição de recursos, inclusive de mão-de-obra, entre setores e empresas e, em alguns casos, pode também envolver vantagem mútua e apoio entre concorrentes ou entre fornecedores, produtores e clientes.

Dosi (1984) afirma que a análise do ambiente econômico sob condições de mudança técnica revela como a apropriação privada dos benefícios do progresso técnico representa o principal incentivo à inovação e uma das estratégias básicas do comportamento inovador das empresas. Também existem alguns conhecimentos tecnológicos que exibem as características de um bem público, já que os custos de torná- los disponíveis a muitos usuários são baixos em comparação com os custos de seu

desenvolvimento e que, uma vez disseminados, não se pode negar novos acessos aos usuários. Para OCDE (1996), esta característica é a fonte de dois problemas principais enfrentados pelos inovadores de empresas privadas:

- a disseminação dos benefícios da inovação, pelo fato do retorno social da inovação ser geralmente mais alto do que o retorno financeiro para a empresa, isto é, clientes e concorrentes se beneficiam das inovações de uma empresa;

- o segundo é que o conhecimento não pode ser apropriado e, em tal caso, a empresa não pode capturar todos os benefícios gerados por sua inovação, o que reduz o incentivo para investimento em atividades inovadoras.

Assim, onde o conhecimento tecnológico tiver características de bem público, haverá um problema nos aspectos importantes de um mercado que, caso não acontecesse, poderia motivar as empresas a inovar. Nesse contexto, tornam-se importantes os indicadores de dados estatísticos que se referentes ao custo da inovação e às taxas de retorno privado e social das atividades de inovação. Quando o conhecimento tecnológico apresenta características de bem público, as políticas de ciência e tecnologia são realizadas como meio de compensar uma menor participação de mercado e a possibilidade de ocorrência de custos de risco e transações.

As principais políticas utilizadas têm sido o financiamento direto de pesquisas, especialmente a básica, pelos governos que são os provedores de bens públicos e as patentes, por meio dos direitos de propriedade.

Uma outra abordagem, a do gap tecnológico, reconhece que embora o processo tecnológico possa ter algumas características de bem público ele está fortemente presente nas estruturas organizacionais e que a transferência de tecnologia constitui um processo bastante complexo e não se dá de forma automática. Além disso, fatores condicionantes locais, também de natureza institucional entre os quais se destaca a disponibilidade de capital humano determinam a capacidade de absorção tecnológica e a velocidade com que é realizada (SILVA e MARINHO, 2009).

Além disso, cada vez mais se verifica que o conhecimento tecnológico apresenta outras características, como a acumulação, que resulta em retornos crescentes e influência

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sobre as dinâmicas de mercado. Isso resultou nos desenvolvimentos mais recentes da Economia Evolucionária e da Nova Teoria do Crescimento.

De acordo com OCDE (1996), a abordagem evolucionária enfatiza a importância da diversidade tecnológica e das formas em que a variedade se traduz em oportunidades. Elas influenciam a capacidade de inovação das empresas e as trajetórias em que as empresas inovam. Os dados estatísticos precisam ser altamente desagregados, baseados em competências e capacidades no nível das empresas, inserção dessas empresas em redes e seu desenvolvimento tecnológico.

A preocupação da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em obter indicadores mais precisos de inovação resultou no Manual de Oslo, que focaliza as mudanças ao nível da empresa, principalmente em termos de inovação em produtos (bens e serviços). No que se refere à medição dos gastos para inovação em produtos e processos na empresa, o Manual de Oslo não se limita aos efetuados em pesquisa e desenvolvimento (P&D), reconhecendo diversas outras categorias como a aquisição de know-how, a capacitação relacionada a atividades de inovação em tecnologias de produto e processo e os gastos de comercialização de produtos novos ou aperfeiçoados do ponto de vista tecnológico.

Existe também a necessidade de informações para mapear as especificidades dos sistemas em vários níveis e para indicar os tipos, níveis e eficácia das interações entre empresas, particularmente através da adoção de inovações e relações com outras instituições nacionais ou internacionais.

A visão da inovação de forma sistêmica ressalta a importância da transferência e difusão de idéias, habilidades, conhecimentos e informações. Os canais e redes por meio dos quais essas informações são disseminadas estão inseridos em um contexto social, político e cultural e são fortemente direcionados e restritos pela estrutura institucional.

Na abordagem dos Sistemas Nacionais de Inovação são estudadas as empresas inovadoras no contexto das instituições externas como políticas governamentais, concorrentes, fornecedores, clientes, sistemas de valores e práticas culturais que afetam sua operação. A abordagem sistêmica da inovação desloca o foco das políticas, levando-as a enfatizar a interação entre as instituições, observando os processos interativos na criação de conhecimento e na difusão e aplicação do conhecimento.

Segundo Lastres e Cassiolato (2005), tal abordagem supõe que a inovação consiste em um fenômeno sistêmico, cumulativo e interativo e que a capacidade de inovação é resultado de um conjunto de fatores sociais, políticos, institucionais e culturais específicos aos ambientes em que se inserem os agentes econômicos. Assim, diferentes trajetórias de desenvolvimento contribuem para a configuração de sistemas de inovação com características muito diversas, possibilitando a conceituação de sistemas setoriais, nacionais, regionais e locais de inovação. Isto levou a uma melhor apreciação da importância das condições, regulamentos e políticas dentro das quais opera o mercado e, por conseqüência, ao papel fundamental dos governos na monitoração e na melhoria da estrutura geral.

Reconhece-se, por exemplo, que as questões de falhas sistêmicas devem ser consideradas juntamente com as questões de falhas de mercado. Um estudo da OCDE (1996) concluiu que entre os muitos fatores que influenciam o comportamento das empresas, está a variedade de políticas governamentais que afeta cada uma delas, fazendo- se necessária uma abordagem sistêmica na orientação das políticas. Os motivos são os seguintes:

- não há uma solução política simples para problemas tão complexos quanto aqueles provocados pelas relações entre a tecnologia e o emprego em uma economia baseada no conhecimento;

- uma estratégia política eficiente terá de combinar várias ações macroeconômicas e estruturais;

- a coerência do pacote de políticas é uma condição para o sucesso, e ela depende tanto da validade da estrutura política, quanto da qualidade do processo de formulação de políticas.