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Deve-se destacar que nos setores industriais existem distintas combinações de características tecnológicas e mecanismos de seleção e aprendizado. Essa diferenciação pode apresentar distintos padrões de difusão e gerar diferenças no interior e entre indústrias. Esses padrões são discutidos por meio da taxonomia de Pavitt (1984) e da categorização proposta por Marsilli (2000).

3.2.1. Taxonomia de Pavitt

A existência de diferenças em termos de padrões de geração e difusão tecnológica possibilita a divisão dos setores em cinco categorias, as quais estão associadas a diferentes modos que auxiliam a sustentar a competitividade ao longo do tempo. Na taxonomia de Pavitt (1984) e Bell e Pavitt (1993), são distinguidos os seguintes setores:

- dominados por fornecedores: as inovações são predominantemente de processo, incorporadas nos equipamentos e insumos e, por isso, geradas fora do próprio setor, normalmente por meio da difusão de bens de capital e intermediários mais avançados. São exemplos as indústrias têxtil, de vestuário, editorial e gráfica, de couro, de madeira, de alimentos, etc.;

- intensivos em escala: as inovações, tanto de produto, como de processo, envolvem o domínio de sistemas complexos e a fabricação de produtos complexos, proporcionando economias de escala de vários tipos, altos gastos em P&D e freqüente integração vertical. São encontrados nas indústrias de material de transporte, de bens eletrônicos duráveis, metalúrgica, alimentar, de vidro e de cimento;

- fornecedores especializados: as inovações, normalmente de produtos, como insumos para outros setores, envolvem contato estreito das empresas, na maioria das vezes pequenas, com os usuários e domínio específico de tecnologia de projeto e construção de equipamentos. São exemplos as atividades de engenharia mecânica e de instrumentação. Nesta classificação se enquadra o segmento de MIA;

- intensivos em ciência: o processo de inovação está diretamente ligado a um paradigma tecnológico viabilizado por um paradigma científico e, por isso, apresenta significativas oportunidades tecnológicas, necessidade de altos investimentos em P&D e difusão predominante por seleção. São exemplos a indústria eletrônica, algumas empresas da área química e de base biotecnológica;

- intensivos em informação: as inovações são incrementais e baseadas na experiência. O acúmulo tecnológico pelas empresas compreende projeto, estrutura, operação e melhorias de sistemas complexos para armazenar e processar informações. As grandes empresas e indústrias de serviços, como bancos e varejo, têm se tornado grandes centros de acúmulo de informação tecnológica.

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Os padrões de inovação e difusão nesses setores ocorrem de diferentes formas. Nos setores dominados por fornecedores, há baixa apropriabilidade da inovação. A difusão ocorre predominantemente por meio do aprendizado e não por seleção e é impactada principalmente pela interação entre essas indústrias, dominadas pelos fornecedores e os respectivos fornecedores especializados. A difusão de novas tecnologias leva à sua crescente rentabilidade, devido aos custos decrescentes do aprendizado ou por economias de escala. Por outro lado, os setores intensivos em ciência são baseados em direitos de propriedade e oportunidades tecnológicas, em que as possibilidades cientificamente determinadas são economicamente exploradas com base em investimentos significativos e direcionados em P&D, por meio dos quais opera o mecanismo de aprendizado típico.

As indústrias intensivas em escala combinam, em diferentes graus, elementos dos dois extremos apresentados anteriormente. Se o aprendizado pela utilização de máquinas, equipamentos e processos é importante, existem vantagens tecnológicas originadas do aproveitamento de economias de escala e de efeitos interativos na produção. Existem também vantagens na utilização de grupos de inovações, que são internalizadas por integração vertical e horizontal, além da utilização de métodos de aprendizado tanto formais como P&D quanto informais. Para Possas (1989), a difusão de inovações é, portanto, baseada tanto no processo de seleção, como no de aprendizado.

O setor intensivo em informação é semelhante aos setores baseado em ciência e intensivo em escala, na medida em que os principais métodos para a proteção contra a imitação consistem em projetar e operacionalizar o conhecimento, além dos direitos de propriedade. Nesse caso, os mecanismos de acesso à inovação e, conseqüentemente, para a transferência tecnológica, ocorrem com a compra de equipamentos e softwares e a engenharia reversa.

3.2.2. Tipologia de regimes tecnológicos de Marsilli

Para Marsili (2000), a existência de setores com distintas combinações tecnológicas e diferentes mecanismos de seleção e aprendizado apontados por Pavitt (1984), configura os regimes tecnológicos. Esses regimes podem ser influenciados pelo nível de oportunidade tecnológica, barreiras de entrada tecnológica, cumulatividade da inovação, diversidades inter-empresas na proporção e direção de inovações, intensidade e direções da

diversificação da base do conhecimento, relevância de várias fontes externas de conhecimento, ligações com pesquisa acadêmica e natureza da inovação como, por exemplo, produtos e processos. Essas diferenciações conduzem à criação da seguinte tipologia de regimes tecnológicos:

- intensivos em ciência: são caracterizados por altos níveis de oportunidade tecnológica, elevadas barreiras tecnológicas de entrada e alta acumulação de inovação. As atividades inovativas estão relacionadas, principalmente, à inovação de produto e se beneficiam da contribuição direta de avanços científicos e da pesquisa acadêmica. São exemplos as indústrias farmacêuticas e eletroeletrônicas;

- intensivos em processos: caracterizados por um nível médio de oportunidade tecnológica, elevadas barreiras tecnológicas de entrada, especialmente as relacionadas a vantagens de escala em inovação e grande busca pela inovação. A inovação é caracterizada fundamentalmente por processos e, apesar dos usuários e outras empresas representarem as principais fontes externas de conhecimento, se beneficiam de contribuições importantes de avanços científicos e da pesquisa acadêmica. São exemplos as indústrias química e de petróleo;

- sistema complexo de conhecimento: apresentam níveis médio-alto de oportunidade tecnológica, barreiras de entrada em escala e conhecimento e busca pela inovação. O fator que diferencia este regime dos outros é o alto grau de diferenciação de competências tecnológicas desenvolvidas pelas empresas, especialmente em tecnologias de produção avançadas e de fontes externas de conhecimento, incluindo uma importante, apesar de indireta, contribuição da pesquisa acadêmica. São exemplos as indústrias de aeronaves e de veículos;

- baseado na engenharia de produto: possuem um nível médio-alto de oportunidade tecnológica, reduzidas barreiras de entrada para a inovação e baixa intensidade de atividades voltadas à inovação. Este regime é diferenciado pela alta diversidade de trajetórias tecnológicas exploradas pelas empresas. A inovação de produto beneficia-se de fontes externas de conhecimento, principalmente de usuários. São exemplos as indústrias de controle de maquinários, de instrumentos mecânicos e elétricos;

- baseado em processos contínuos: inclui uma variedade de atividades de produção, tal como indústria de processos metalúrgicos, metais e de construção de materiais,

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indústria de processos químicos como têxteis e papel, alimentos e tabaco. Normalmente é caracterizado por baixo grau de oportunidade tecnológica, reduzidas barreiras tecnológicas de entrada e menor busca pela inovação. As empresas são heterogêneas tecnologicamente e suas bases de conhecimento são variadas, diferenciando-se nos campos técnicos.

Apesar das diferenciações da tipologia de Marsilli em termos de agregação dos setores em sistemas ou regimes tecnológicos em relação a Pavitt, ambas as classificações possuem muitas semelhanças no padrão de inovação entre os setores. A existência de padrões distintos de inovação, entre os setores produtivos, reflete diretamente na forma com que as empresas desempenharão suas estratégias e construirão sua dinâmica competitiva para inovar no mercado.