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Segundo Dosi (1988), os avanços tecnológicos geralmente carregam um conjunto de conhecimento público disponível e que pode ser aperfeiçoado. Porém, em atividades de alto conhecimento científico e tecnológico, como por exemplo, princípios físicos ou químicos, compartilha-se a utilização e desenvolvimento de capacidades privadas específicas. Considerando-se as várias definições sobre o progresso técnico e a importância do conhecimento para a concepção da tecnologia, percebe-se uma grande semelhança, em termos de definições e procedimentos, entre ciência e tecnologia.

É neste contexto que se insere o conceito de paradigma tecnológico. Dosi (1988) relata que a expressão paradigmas tecnológicos pode ser definida para representar os programas de pesquisa tecnológica, que baseiam-se em modelos ou padrões de solução de problemas tecnológicos selecionados e, de certa forma, predeterminados. Esses paradigmas seriam originados de princípios científicos e procedimentos tecnológicos igualmente selecionados. Assim, haveria no paradigma tecnológico, como no científico, prescrições habituais sobre quais direções tomar e quais evitar.

Possas et al. (1994) relacionaram esse conceito com atividades agrícolas. Na visão dos autores, a interpretação de trajetórias tecnológicas e a formação do regime tecnológico na agricultura poderiam ocorrer sobre as áreas problemas da produção agrícola. O aparecimento de tais problemas na produção possibilitaria orientar o curso de trajetórias

tecnológicas, em função da intensificação da produção e dos correspondentes ganhos de produtividade.

A Revolução Verde, por exemplo, ocorrida a partir da década de 1950, é definida como um paradigma tecnológico que tinha como problema a ser resolvido o aumento da produtividade das lavouras, pois se tratava de um novo modelo tecnológico de produção agrícola, que implicou na criação e no desenvolvimento de novas atividades de produção de insumos ligados à agricultura. Esse modelo produtivo passou, no entanto, a apresentar limites de crescimento a partir da década de 1980, com a diminuição do ritmo de inovações e o aumento concomitante dos gastos em P&D. Iniciou-se, então, uma discussão sobre a necessidade de um novo modelo tecnológico, ecológica e economicamente sustentável, diferente daquele baseado na utilização intensivo de insumos químicos.

Contribuem para o surgimento de paradigmas tecnológicos fatores como a trajetória tecnológica utilizada pelas empresas e o grau de oportunidade e apropriabilidade das inovações, além dos processos pelos quais indivíduos e empresas aprendem e acumulam experiências para direcionar o progresso tecnológico. Esses processos são normalmente estruturados por meio do aprendizado tecnológico.

Na realidade, a tecnologia é fundamentalmente orientada por conhecimento. Portanto, é necessário fomentar e desenvolver competências empresariais, gerenciais, organizacionais e técnicas, a partir de uma postura de contínua aprendizagem tecnológica, uma vez que o processo de aprendizado é o processo de acúmulo das capacidades tecnológicas e sua interação (CANUTO, 1993).

Quando se busca a capacitação tecnológica, também se pressupõe que uma empresa tenha, ou esteja disposta a construir, uma base sólida de gestão, que lhe permita aprender e responder questões como: Quais são as melhores formas de adquirir e fazer uso do conhecimento? Como se pode apreender e integrar os processos de aprendizagem em uma organização?

A capacitação tecnológica deve se iniciar pelo desenvolvimento de capacidades gerenciais e pela posse de uma estrutura mínima, em termos gerenciais e organizacionais, para que o processo possa ocorrer de forma satisfatória. A existência desta estrutura também fornece à empresa uma base de conhecimentos, da qual é possível obter subsídios para a atividade de gestão do aprendizado tecnológico. Deve-se também compreender que

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os processos desenvolvem-se de forma dinâmica e não-linear, no tempo e no espaço, sendo de fundamental importância respeitar a evolução de um processo de aprendizado (ROCHA, 1996). Isso mostra que a aprendizagem tecnológica não se efetiva no curto prazo, sendo construída à medida que os conhecimentos vão sendo incorporados. Também não é um processo que possua data para ser finalizado, se o objetivo for a manutenção de uma vantagem competitiva e/ou a continuidade da empresa.

A aprendizagem tecnológica está relacionada à capacidade de incorporar novos conhecimentos, que possibilitem o desenvolvimento e/ou absorção de nova tecnologia. Nesse processo, o elemento humano é fator central, sendo necessário aumentar sua qualificação. As qualificações devem ser consideradas para fazer frente às novas necessidades requeridas pela dinâmica da inovação e por modelos de produção, que são cada vez mais flexíveis. De forma geral, passaram a ser exigidas novas competências dos profissionais, percebendo-se a existência de elementos de natureza técnico-científica e de natureza sócio-comportamental. Assim, são exigidas competências relacionadas ao fazer e ao comportamento do profissional.

Na maioria das vezes, estas novas competências são adquiridas por meio da formação escolar, porém, não se pode atribuir somente à escola esta responsabilidade. Salm e Fogaça (1990) relatam que as empresas devem ter papel significativo e assumir uma nova função neste processo, o que implica em dimensionar treinamentos com vistas às necessidades de médio e longo prazo e não criar a expectativa de que o sistema educacional e as agências de formação profissional qualifiquem os trabalhadores com a habilitações específicas necessárias, ou seja, cabe à empresa formar o profissional através de programas contínuos e formalmente estruturados.

Quanto às necessidades de médio prazo, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe CEPAL observou que na América Latina a política tradicional de formação de recursos humanos parece ser de caráter eventual e de curto prazo, no sentido de que as empresas costumam responder às exigências imediatas da tecnologia por meio de cursos específicos de curta duração e alcance limitado, ao invés de antecipar as futuras demandas de qualificação (CEPAL, 1995).

A principal justificativa para tal postura é a incerteza quanto ao retorno do investimento em capital humano, devido ao risco de perdê-lo para os concorrentes. Esta

postura se mostra prejudicial ao processo de capacitação tecnológica e a possibilidade de rápida reação diante da necessidade de mudança e, uma vez que a visão é imediatista, qualquer inovação tecnológica significativa deixará a empresa em uma posição desfavorável.

Somente através da aprendizagem organizada, sistemática e com objetivos definidos pode-se transformar a informação em conhecimento e possibilitar que este seja utilizado como ferramenta de mudanças individuais e sociais. As empresas tanto podem organizar cursos e treinamentos no próprio local de trabalho, como podem associar-se a outras empresas que possuam requisitos de formação de recursos humanos comuns e atuarem em cooperação. Porém, não é suficiente que os trabalhadores sejam qualificados e que aprendam a lidar com a tecnologia. É necessário também que as organizações aprendam e sejam capazes de estabelecer a comunicação com os trabalhadores, para que estes conhecimentos possam se traduzir efetivamente em crescimento e desenvolvimento.

Segundo Kruglianskas (1996), a sobrevivência das empresas significa cada vez mais aprender a aprender, isto é, tornar-se uma empresa inteligente, ágil e adaptativa, capaz de absorver e disseminar conhecimentos, o que acontece por meio de mecanismos específicos de absorção e difusão.