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Fritz e Costa (2005) relatam que é necessário apresentar uma visão geral sobre o desenvolvimento da agricultura nacional, para que se possa compreender o processo de evolução da indústria de MIA no Brasil. Os levantamentos indicam um aumento da produtividade da agricultura brasileira e que este se deve a diferentes fatores.

O processo evolutivo da agricultura no Brasil encontra relação com o período mundialmente conhecido como Revolução Verde, um estágio marcado pela intensificação de insumos industriais no campo. O foco desta evolução, em um primeiro momento, foi limitado a produzir MIA para substituir as importações e, conseqüentemente, isto fez com que somente fosse desenvolvida a mecanização voltada para poucas etapas produtivas, como o preparo do solo (NOGUEIRA, 2001).

Esse processo inicia-se na década de 1950, com o aumento da produção agrícola devido principalmente à expansão da área plantada. De acordo com Costa e Filho (1993), posteriormente, em meados das décadas de 50 e 60, essa produção agrícola caracterizou-se por ser predominantemente voltada para o mercado interno de alimentos e exportação de

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commodities como café, cacau, algodão e açúcar. Com o aumento das exportações e demanda internacional por outros produtos, como por exemplo, laranja e soja, houve uma demanda maior por MIA.

Foi também na década de 60 que se instalou no Brasil a primeira indústria de tratores, pois até esse período os agricultores brasileiros utilizavam máquinas importadas de diversos países. Devido a esse aspecto, eram comuns problemas relacionados à falta de assistência técnica e manutenção das mesmas (AMATO NETO, 1984).

Ainda na década de 60, o aumento da produção agrícola deixa de ter seu foco principal no aumento da área plantada, incluindo outros fatores determinantes da produtividade, como a política de preços mínimos, o crédito rural e os programas de assistência técnica.

A indústria de MIA se beneficiou dessas mudanças e intensificou o processo de desenvolvimento. Para Amato Neto (1984) e Nogueira (2001), os principais fatores que impulsionaram o desenvolvimento da indústria de MIA no Brasil na década de 60 foram:

- o desenvolvimento dos setores industrial e de serviços, o que ocasionou a migração das pessoas do campo para a cidade, gerando um aumento da demanda interna por produtos agropecuários. Isso obrigou as propriedades rurais, a partir da década de 60, a tornarem-se mais produtivas para atender a esta demanda;

- a implantação da indústria automobilística em 1950, que proporcionou o desenvolvimento do transporte rodoviário, de outros segmentos industriais fornecedores de insumos e do setor de autopeças, que apresentou inicialmente uma razoável capacidade ociosa, sendo, portanto, capaz de atender outras demandas, como as das indústrias de MIA; - o período de grande desenvolvimento pelo qual o país passou, baseado na entrada de capital estrangeiro, nos investimentos estatais e no capital privado nacional;

- o surgimento de novas idéias para modernização da agricultura relacionadas a utilização de novos métodos e insumos como a utilização de fertilizantes, defensivos agrícolas e sementes selecionadas.

Na década de 70, o Brasil apresentava uma recuperação global de sua economia, vivenciando o período denominado de “Milagre Econômico” e observou-se a estabilização e consolidação das indústrias de MIA em decorrência da expansão agrícola e econômica

observada neste período. A produção do segmento no Brasil teve uma significativa expansão, atingindo o auge em 1976 com 82,6 mil unidades (ANFAVEA, 2009).

Grandes empresas multinacionais como a John Deere, Agco-Massey Ferguson e New Holland-Case, instalaram-se no Brasil e passaram a dominar uma considerável parcela da exportação de MIA (KRAHE, 2006).

A chegada destas empresas alterou o panorama da agricultura brasileira, que passou a seguir a tendência internacional de reduzir o número de máquinas na lavoura e aumentar a potência e o tamanho dos modelos produzidos. Essa década também foi marcada por uma mudança na estratégia de muitas indústrias de MIA que passaram a buscar novos compradores fora do País (AMATO NETO, 1984).

Porém, no ano de 1979, ocorreu uma redução na oferta de crédito rural oferecido até então e que teve como conseqüência o encarecimento de alguns maquinários, como os tratores, resultando numa racionalização no seu uso (FERREIRA FILHO e COSTA, 1999). Isso resultou na falência de muitas indústrias, gerando concordatas e desnacionalizações.

A partir de 1980, o País passou a enfrentar uma crise econômico-financeira que se juntou às alterações no sistema de crédito rural para investimentos tornando o cenário ainda mais difícil. Verificou-se que as empresas que sobreviveram a crise, a superaram devido a uma mudança de objetivos, passando a adotar uma política de diferenciação de produtos e busca de novos mercados, especialmente no exterior (AMATO NETO, 1984).

Desde a instalação da indústria de MIA no Brasil, ficou evidente a dependência dessas indústrias em relação às linhas de crédito e financiamento para aumentar as vendas, como por exemplo, na década de 60, onde o baixo índice de vendas internas evidenciou a dificuldade dos agricultores em adquirir os produtos pagando-os à vista (AMATO NETO, 1984).

Apesar do momento econômico desfavorável, houve um crescimento do segmento, que de 275 empresas em 1970, passou a 600 em 1988 (MESQUITA e SILVEIRA, 1993).

Uma diferença relevante verificada até a década de 80, entre a indústria de tratores e a indústria de MIA, foi que a maioria das MIA produzidas no Brasil eram destinadas ao mercado interno, enquanto os tratores tinham uma parcela razoável de sua produção voltada a exportação.

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De acordo com Romano (2003), a crise econômica financeira na indústria de MIA se estendeu até os primeiros anos da década de 90, que continuou sendo um período de instabilidade para o setor agrícola, pois os subsídios e as regras de financiamento e comercialização de tais produtos ainda continuavam sofrendo mudanças.

Tal fato refletiu de forma negativa sobre a indústria de MIA, verificando-se um decréscimo na produção de 1994 para 1996, com posterior recuperação a partir de 1998, devido ao ciclo positivo das commodities e a disponibilidade de crédito, principalmente por meio do MODERFROTA. É importante também ressaltar que o ciclo de vida útil dos equipamentos, normalmente de 10 a 15 anos, também condiciona o comportamento da produção em termos de demanda e oferta.

Dentre as políticas e programas que mais impulsionaram o desenvolvimento do segmento de MIA entre 1991 e 2004, podem ser destacados os seguintes:

- Programa Finame Agrícola: criado em 1990 com o objetivo de financiar a aquisição de máquinas e equipamentos novos, de fabricação nacional, credenciados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e destinados ao setor agropecuário (BNDES, 2006a);

- Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas, Implementos Associados e Colheitadeiras (MODERFROTA): programa instituído pela Carta Circular BNDES em março de 2000 e que teve por objetivo a modernização da frota de tratores, colhedoras e implementos agrícolas e que também incentivou diretamente o mercado de MIA, uma vez que depois do seu lançamento, verificou-se que nos 5 primeiros meses de 2002 houve um aumento de 36,3% na venda de colhedoras, em comparação ao mesmo período de 2001 (MELLO, 2005);

- APEXMAQ: foi desenvolvido pela Abimaq em conjunto com a Apex em agosto de 2000, e teve por objetivo aumentar o número de empresas exportadoras, diversificar a pauta dos produtos vendidos no exterior, aumentar o volume exportado, abrir novos mercados e consolidar os mercados existentes (ABIMAQ, 2003);

- Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas e Equipamentos (IPDMAQ): criado em 2002 no âmbito da ABIMAQ, teve por objetivo estimular a inovação nas empresas no campo dos produtos, dos serviços, dos processos e da gestão (IPDMAQ, 2006);

- A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE): foi lançada em março de 2004 e buscou a modernização industrial, a inovação e desenvolvimento tecnológico, a inserção externa e a promoção de setores estratégicos, dentre eles o de bens de capital que inclui o segmento de MIA (Alem e Pessoa, 2005);

- MODERMAQ: foi instituído pela Carta Circular BNDES em agosto de 2004. Este programa visou incentivar a troca de máquinas obsoletas por equipamentos mais modernos a fim de tornar os produtos brasileiros mais competitivos. Essa atualização do parque fabril de todo o setor produtivo e desse segmento, se deu por meio de financiamentos na aquisição de máquinas e equipamentos nacionais cadastrados no BNDES, possibilitando que o salto tecnológico das empresas fabricantes de MIA no Brasil fosse significativo (BNDES, 2006b).

No entanto, a partir de 2005 o segmento passou a enfrentar uma nova crise causada tanto por fatores internos ao Brasil, quanto externos. Dentre os fatores externos destaca-se a queda de preços das principais commodities agrícolas causada pela grande oferta de produtos no mercado mundial. Como fatores internos encontram-se a valorização da moeda nacional frente ao dólar e a seca ocorrida nas lavouras da região Sul do Brasil. Em 2007, o quadro de crise do setor começou a se alterar devido a recuperação das safras e dos preços das commodities, em especial a da cana-de-açúcar, soja e milho (ABIMAQ, 2009).

Atualmente, as MIA estão presentes na realização de todas as atividades agropecuárias, desde o preparo do solo até o armazenamento e transporte dos produtos, variando desde ferramentas manuais até produtos com tecnologia de ponta para mecanização e automação, atendendo as necessidades dos pequenos, médios e grandes produtores. Em 2008, o quadro de recuperação se confirmou com a produção total de 85 mil unidades no Brasil (ANFAVEA, 2009).