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A narrativa historiográfica das Relações Internacionais, há muito, tem sido roteirizada quase que majoritariamente, e de forma vinculativa, ao reiterado convencionalismo dos grandes debates entre os principais paradigmas vigentes em determinados momentos históricos. Tais debates são simbólicos para que pudessemos adentrar ao objeto-alvo perseguido neste artigo, ou seja, a fórmu- la comunicativa utilizada pela área em discussão para estabelecer suas fron- teiras, demarcar sua identidade e firmar novas interpretações e perspectivas.

Como pudemos ver já nos primeiros traçados, a questão da comunicação nas Relações Internacionais tem sido estudada nos mais recentes trabalhos sob o prisma da chamada comunicação de massa. Assim, estudam-se os discursos proferidos por um determinado líder internacional; estuda-se o papel que de- terminado meio de comunicação tem para a formulação dos debates da área; analisa-se o perfil ideológico ao qual determinado jornal/revista está alinhada. Contudo, pouco se diz sobre o diálogo existente dentro da própria área.

Lançadas as luzes sobre a historiografia das Relações Internacionais, obser- vamos uma narrativa convencional tecida de forma cuidadosa sobre grandes debates que marcaram o campo de estudo; histórias de grandes feitos teóricos repetidos reiteradas vezes nas centenas de cursos acadêmicos espalhados pelo

país e pelo mundo. Revestidos da crítica que enseja o tema e através do sim- bolismo dos debates buscamos custurar algums breves reflexões.

Aliando-se ao posicionamento crítico, empreendido por Wæver (1996) e a re- jeição postulada por Nogueira & Messari (2005), tendemos à superação do conven- cionalismo mitológico paradigmático da Relações Internacionais. Desse modo, a exegese do termo comunicação que foi aqui proposta está intimamente relaciona- da às disputas hegemônicas dentre um determinado cânone. Simplificadamente, sempre que nos referimos à Comunicação e Relações Internacionais entendemos tratar-se, sinonimicamente, de disputas hegemônicas. Tem-se, portanto, segundo nosso juízo, a primeira forma de comunicação nas RIs.

A segunda forma está lastreada na superação dos debates e na reconfigu- ração da disciplina a partir da década de 1970, com novas oxigenações do campo de estudo e a reabertura das discussões frente à viragem linguístico- -epistemológica, a emergência da Teoria Crítica proveniente da Escola de Frankfurt e o próprio recrudescimento das vertentes críticas (feminismos, pós-colonialismos, pós-modernismos, pós-estruturalismos e pós-fundacio- nalismos), em face da contestação ao propagandismo hegemônico espelhan- do contendas políticas extra cânone.

Por ser uma área de estudo bastante nova, as Relações Internacionais possuem diversas questões em aberto e muitos dos questionamentos empre- endidos anteriormente possuíam respostas consensualmente aceitas. Com a viragem do campo de estudo, atribuída ao convencional Terceiro Debate, discussões de caráter epistemológico passaram a compor a agenda de dis- cussões de forma mais recorrente, sobretudo em razão da oposição entre positivistas e pós-positivistas. Não resta dúvidas, portanto, o caráter rotular que esses “debates” possuem, já que, no limite, sua fórmula comunicativa representa a posição de um determinado cânone hegemônico, confrontado, a partir de então, por temáticas marginais e teorias contra-hegemônicas.

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COMUNICAÇÃO, GÊNERO DISCURSIVO E