• Nenhum resultado encontrado

II. A INTEGRAÇÃO NAS CONSTITUIÇÕES DOS ESTADOS MEMBROS DA

3. OS MEMBROS FUNDADORES: 1957

3.6. PAÍSES BAIXOS (HOLANDA)

3.6.1. Histórico da Constituição holandesa

A Constituição da Holanda foi adotada em 1815 e alterada diversas vezes durante a história, porém a estrutura original permanece.156 Em 1848 a Holanda passou de monarquia com características despóticas para monarquia constitucional. A Constituição (Grondwet) determina que o governo, e não o monarca, é responsável pela política governamental. A Holanda é uma democracia parlamentar administrada pelo governo sob a supervisão do Parlamento. O governo consiste nos ministros sob a liderança do Primeiro Ministro, enquanto o Parlamento é composto por duas casas.157

A supremacia do direito internacional escrito é garantida pela Constituição desde a revisão constitucional de 1953.158 A revisão de 1953 trouxe o reconhecimento expresso da relevância de alianças internacionais. O TJCE estabeleceu, em decisão de 1964, alguns limites na soberania holandesa.159 A participação da Holanda na UE implica a prevalência do direito europeu sobre o direito holandês, até mesmo sobre a Constituição.160

A Constituição holandesa optou por manter o controle de constitucionalidade de Tratados na esfera do Parlamento, proibindo a revisão de Tratados por cortes nacionais.161 Conforme a Decisão Harmonization Law, NJ 469, HR 14 de abril de 1989, a Corte Suprema interpretou o art. 120 da Constituição apontando que os atos do Parlamento não poderiam ser declarados inconstitucionais pelas cortes nacionais, e que tampouco poderiam ser contrapostos ao ―Charter for the Kingdom of the Netherlands‖ ou princípios legais

155 Sistema político: Monarquia Constitucional.

156 Além da Constituição, o sistema constitucional holandês é composto também pelo ―Charter for the

Kingdom of the Netherlands‖, de 1954, que regulamenta a relação entre a Holanda, as Antilhas Holandesas e Aruba, e pode ser visto como uma Constituição para a federação formada por estes países que compõem o Reinado. KORTMANN, Constantijn; BOVEN´EERT, Paul. Kluwer International. IEL Constitutional Law.

Constitution of the Netherlands. Kluwer International Law, p.30/38.

157 Informação obtida em: http://www.minbzk.nl/english/subjects/constitution-and. Acesso: 22.11.2009 158 PRAKKE, Lucas; KORTMANN, Constantijn. Constitutional Law of 15 EU Member States, p.596.

KORTMANN, Constantijn; BOVEN´EERT, Paul. Kluwer International. IEL Constitutional Law.

Constitution of the Netherlands. Kluwer International Law, p.29. Vide art. 94 da Constituição. 159 Decisão de 15 de julho de 1964, ECR 1964, p.1204.

160 KORTMANN, Constantijn; BOVEN´EERT, Paul. IEL Constitutional Law. Constitution of the Netherlands. Kluwer International Law, p.29.

72

gerais. As cortes nacionais, contudo, têm a prerrogativa de interpretar as regras nacionais em relação às regras de direito europeu que, em virtude da característica de supranacionalidade, integram o ordenamento jurídico nacional (vide art. 94).162

3.6.2. Análise de artigos selecionados

O art. 91163 afirma que o Reinado não será vinculado a tratados sem a aprovação prévia do Parlamento (―States General‖). A aprovação de tratado pode ser expressa ou tácita, esta última sendo a regra geral. Considera-se aprovado tacitamente o tratado que não receba, dentro de trinta dias, manifestação de uma das casas do Parlamento (ou em nome de uma das casas, ou por um quinto dos membros de cada uma das casas) para sua aprovação expressa. Aprovação expressa dá-se por lei.164 Qualquer tratado que entre em conflito (ou leve a conflitos) com a Constituição deverá ser aprovado expressamente, por dois terços de cada uma das casas do Parlamento (o quorum para emenda constitucional também é de dois terços, conforme o art. 137.4).165

Assim como outras Constituições analisadas, a holandesa abre a possibilidade de transferência de poderes legislativo, executivo e judiciário a ―instituições internacionais‖, por intermédio de tratado, desde que respeitadas as provisões do art. 91.3.166 As disposições de tratados e resoluções de instituições internacionais vinculantes a todas as pessoas, devido ao seu conteúdo, tornar-se-ão vinculantes após sua publicação,167 e essa

162 KORTMANN, Constantijn; BOVEN´EERT, Paul. IEL Constitutional Law. Constitution of the Netherlands. Kluwer International Law, p.126.

163 Article 91: 1. The Kingdom shall not be bound by treaties, nor shall such treaties be denounced without

the prior approval of the States General. The cases in which approval is not required shall be specified by Act of Parliament. 2. The manner in which approval shall be granted shall be laid down by Act of Parliament, which may provide for the possibility of tacit approval.

3. Any provisions of a treaty that conflict with the Constitution or which lead to conflicts with it may be approved by the Houses of the States General only if at least two-thirds of the votes cast are in favour.

164 PRAKKE, Lucas; KORTMANN, Constantijn. Constitutional Law of 15 EU Member States, p.627. 165 KORTMANN, Constantijn; BOVEN´EERT, Paul. IEL Constitutional Law. Constitution of the

Netherlands. Kluwer International Law, p.164.

166 Article 92: Legislative, executive and judicial powers may be conferred on international institutions by or

pursuant to a treaty, subject, where necessary, to the provisions of Article 91 paragraph 3.

167 Article 93: Provisions of treaties and of resolutions by international institutions which may be binding on

73

disposição é aplicável também às decisões destas organizações internacionais.168 O artigo não define o que seriam provisões ―vinculantes a todas as pessoas‖, e na Holanda essa interpretação é feita pelas cortes nacionais, caso a caso, com base na interpretação do tratado em pauta. A dúvida se determinada provisão de tratado é vinculante a todos não afeta o direito que o cidadão possui de invocar tal provisão perante uma corte.169 O art. 94 tem sido aplicado por cortes holandesas principalmente em matérias relacionadas aos direitos humanos. A Suprema Corte holandesa restringiu o direito de revisão desta provisão, definindo que as cortes nacionais não podem revisar leis domésticas em contraponto com tratados ou disposições não escritas de direito internacional.170 A Suprema Corte holandesa entendeu, ainda, que a aplicação de lei internacional não escrita para suprir alguma lacuna legal, conforme referência expressa na lei, é permitida.

O artigo seguinte aponta que regras determinadas por lei vigente na Holanda não serão aplicáveis se tal implicar conflito com disposições de tratados ou resoluções de instituições internacionais vinculantes a todas as pessoas.171

Apesar de não regulamentado pela Constituição, é necessário destacar a possibilidade de realização de referendo na Holanda, que pode ter caráter consultivo ou vinculante, dependendo da opção adotada por membros do Parlamento. O referendo que recusou, em 2005, o Tratado Constitucional na Holanda teve caráter vinculante, o que acarretou a necessidade de se elaborar novo tratado no âmbito europeu, o Tratado de Lisboa.172

168 PRAKKE, Lucas; KORTMANN, Constantijn. Constitutional Law of 15 EU Member States, p.627. 169 KORTMANN, Constantijn; BOVEN´EERT, Paul. IEL Constitutional Law. Constitution of the

Netherlands. Kluwer International Law, p.165. 170 Decisão Nyugat, de 06 de março de 1959, NJ 1962, 2.

171 Article 94: Statutory regulations in force within the Kingdom shall not be applicable if such application is

in conflict with provisions of treaties or of resolutions by international institutions that are binding on all persons.

172 Para análise da regulação do referendo na Holanda, consultar BESSELINK, L.F.M. ―Constitutional

74