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II. A INTEGRAÇÃO NAS CONSTITUIÇÕES DOS ESTADOS MEMBROS DA

5. SEGUNDO ALARGAMENTO: 1981 a 1986

5.3. PORTUGAL

5.3.1. Histórico da Constituição portuguesa

A Constituição portuguesa data de 02 de abril de 1976 e entrou em vigor em 25 de abril do mesmo ano. A Constituição foi concluída após período revolucionário, no qual a Junta de Salvação Nacional e, posteriormente, o Conselho da Revolução, formaram o corpo legislativo supremo. Conforme promessa feita pela Junta quando tomou o poder em 1974, elegeu-se a Assembleia Constituinte no ano seguinte, e um texto foi elaborado a partir dos projetos de partidos representados na Constituinte. A Constituição de 1975 substituiu a Constituição de 1933, que permaneceu em vigor durante a Revolução dos Cravos (ao menos naqueles pontos em harmonia com os decretos da Junta e do Conselho da Revolução).248 A Constituição portuguesa é resultado do período pós-ditatorial em que foi criada, e concede atenção especial aos direitos fundamentais e aos órgãos do Estado e seus poderes, prevendo diversas situações que não são necessariamente abordadas pelas outras Constituições aqui estudadas, até mesmo pela quantidade de artigos que possui (quase trezentos).

2. El referéndum será convocado por el Rey, mediante propuesta del Presidente del Gobierno, previamente autorizada por el Congreso de los Diputados.

3. Una ley orgánica regulará las condiciones y el procedimiento de las distintas modalidades de referéndum previstas en esta Constitución.

246 Artículo 167. 1. Los proyectos de reforma constitucional deberán ser aprobados por una mayoría de tres

quintos de cada una de las Cámaras. Si no hubiera acuerdo entre ambas, se intentará obtenerlo mediante la creación de una Comisión de composición paritaria de Diputados y Senadores, que presentará un texto que será votado por el Congreso y el Senado.

2. De no lograrse la aprobación mediante el procedimiento del apartado anterior, y siempre que el texto hubiere obtenido el voto favorable de la mayoría absoluta del Senado, el Congreso por mayoría de dos tercios podrá aprobar la reforma.

3. Aprobada la reforma por las Cortes Generales, será sometida a referéndum para su ratificación cuando así lo soliciten, dentro de los quince días siguientes a su aprobación, una décima parte de los miembros de cualquiera de las Cámaras. (destacou-se)

247 Ano de adesão: 1986. Sistema político: República.

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A Constituição portuguesa foi emendada sete vezes até o momento. Três das reformas efetuadas conectam-se diretamente com a integração europeia. A segunda reforma constitucional, de 1989, abriu o sistema econômico português para a privatização, o que era necessário para o ingresso de Portugal nas Comunidades Europeias, repeliu o princípio de irreversibilidade das nacionalizações e estabeleceu o mecanismo do referendo, promovendo democracia com caráter participativo. A terceira emenda, de 1992, assegurou a constitucionalidade da ratificação do Tratado de Maastricht, permitindo o estabelecimento de novas políticas comuns (externa e de segurança, os pilares da justiça e a adoção de uma união econômica e monetária). A sétima e última emenda constitucional, de 2005, teve como objetivo possibilitar a realização de referendos sobre tratados relacionados à integração europeia.249

Portugal é Estado unitário, composto pelo Estado português continental e pelas ilhas da Madeira e Açores, ambas ―regiões autônomas‖ conforme a Constituição portuguesa (art. 6º). As regiões autônomas são definidas pelo art. 227º.1 como ―pessoas colectivas territoriais‖. A administração pública portuguesa é descentralizada.

5.3.2. Análise de artigos selecionados

O art. 3º pode ser considerado como o primeiro que aborda a hierarquia dos tratados na Constituição portuguesa, ao afirmar que a validade das leis e outros atos do Estado depende da conformidade em relação à Constituição.250

O art. 5º, ao tratar de território, menciona a questão da soberania. O item 3 destaca que o Estado português não alienará direitos de soberania que exerce sobre seu território. O

249 BACELAR, Jorge B.; IEL Constitutional Law. Constitutional law in Portugal. Kluwer International Law,

p.21.

250 Artigo 3º. (Soberania e legalidade)

1. A soberania una e indivisível, reside no povo, que a exerce segundo as formas previstas na Constituição. 2. O Estado subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade democrática.

3. A validade das leis e dos demais actos do Estado, das regiões autónomas, do poder local e de quaisquer outras entidades públicas depende da sua conformidade com a Constituição.

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fato de Portugal não alienar seus direitos não implica que estes não possam ser transferidos sem contrapartida econômica direta, como ocorre em sua participação na UE.251

O art. 7º trata das relações internacionais do Estado. O item 6 deste artigo menciona o princípio da subsidiariedade. Neste item, destaca-se a intenção do governo de Portugal de participar do processo de integração europeia, pelo qual o Estado concorda em exercer determinadas competências em comum, em cooperação ou por intermédio das instituições europeias.252

No art. 8º, a Constituição portuguesa faz clara distinção entre normas de organizações internacionais que Portugal integra e disposições dos tratados que fazem parte do rol normativo da UE. Estes últimos aplicam-se no âmbito interno conforme as normas estabelecidas pela própria União Europeia.253 Normas provenientes dos órgãos competentes de organizações internacionais que Portugal integre vigoram diretamente no âmbito interno, desde que tal esteja estabelecido no tratado constitutivo (art. 8.3).

O art. 112 fala do status adquirido por atos jurídicos da União Europeia na ordem interna.254 Conforme o item 8 desse artigo, quando da transposição dos atos jurídicos da

251 Artigo 5º. (Território) 1. Portugal abrange o território historicamente definido no continente europeu e os

arquipélagos dos Açores e da Madeira. 2. A lei define a extensão e o limite das águas territoriais, a zona económica exclusiva e os direitos de Portugal aos fundos marinhos contíguos. 3. O Estado não aliena qualquer parte do território português ou dos direitos de soberania que sobre ele exerce, sem prejuízo da rectificação de fronteiras.

252 Artigo 7º. (Relações internacionais) (...) 6. Portugal pode, em condições de reciprocidade, com respeito

pelos princípios fundamentais do Estado de direito democrático e pelo princípio da subsidiariedade e tendo em vista a realização da coesão económica, social e territorial, de um espaço de liberdade, segurança e justiça e a definição e execução de uma política externa, de segurança e de defesa comuns, convencionar o exercício, em comum, em cooperação ou pelas instituições da União, dos poderes necessários à construção e aprofundamento da união europeia. (...)

253 Artigo 8º. (Direito internacional)1. As normas e os princípios de direito internacional geral ou comum

fazem parte integrante do direito português. 2. As normas constantes de convenções internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas vigoram na ordem interna após a sua publicação oficial e enquanto vincularem internacionalmente o Estado Português. 3. As normas emanadas dos órgãos competentes das organizações internacionais de que Portugal seja parte vigoram directamente na ordem interna, desde que tal se encontre estabelecido nos respectivos tratados constitutivos. 4. As disposições dos tratados que regem a União Europeia e as normas emanadas das suas instituições, no exercício das respectivas competências, são aplicáveis na ordem interna, nos termos definidos pelo direito da União, com respeito pelos princípios fundamentais do Estado de direito democrático.

254 Artigo 112º. (Actos normativos)

1. São actos legislativos as leis, os decretos-leis e os decretos legislativos regionais. 2. As leis e os decretos- leis têm igual valor, sem prejuízo da subordinação às correspondentes leis dos decretos-leis publicados no uso de autorização legislativa e dos que desenvolvam as bases gerais dos regimes jurídicos. 3. Têm valor reforçado, além das leis orgânicas, as leis que carecem de aprovação por maioria de dois terços, bem como aquelas que, por força da Constituição, sejam pressuposto normativo necessário de outras leis ou que por

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UE para a ordem jurídica interna, tais atos assumem forma de lei, decreto lei ou decreto legislativo regional. A Constituição não estabelece em detalhes as regras para esse procedimento, porém determina que as regiões autônomas tenham, entre outros poderes, o de participar do processo de construção europeia e de efetuar a transposição dos atos jurídicos da UE nos termos do art. 112.255

O art. 115256, que trata da realização de referendo, aponta em seu item 3 que este seja convocado quando houver questões de ―relevante interesse nacional‖ que devam ser decididas pela Assembléia da República ou pelo governo mediante aprovação de convenção internacional ou ato legislativo. O resultado do referendo é vinculante se o número de votos for superior a 50% dos votantes registrados. O item 4 deste artigo exclui do âmbito do referendo algumas matérias, como emendas à Constituição. Apesar do item 4, o item 5 dispõe que tal previsão não impeça que ocorra referendo nas questões de ―relevante interesse nacional‖ objeto de tratados, remetendo à disposição do art. 161.―i‖ (vide adiante). Ou seja, se, devido a tratado assinado por Portugal, houver necessidade de alteração da Constituição, poderá ser realizado referendo para tanto, justamente em razão

outras devam ser respeitadas. 4. Os decretos legislativos têm âmbito regional e versam sobre matérias enunciadas no estatuto político-administrativo da respectiva região autónoma que não estejam reservadas aos órgãos de soberania, sem prejuízo do disposto nas alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo 227.º. (...) 8. A

transposição de actos jurídicos da União Europeia para a ordem jurídica interna assume a forma de lei, decreto-lei ou, nos termos do disposto no n.º 4, decreto legislativo regional.

255 Artigo 227º (Poderes das regiões autónomas)

1. As regiões autônomas são pessoas colectivas territoriais e têm os seguintes poderes, a definir nos respectivos estatutos: x. Participar no processo de construção europeia, mediante representação nas respectivas instituições regionais e nas delegações envolvidas em processos de decisão da União Europeia, quando estejam em causa matérias que lhes digam respeito, bem como transpor actos jurídicos da União, nos termos do artigo 112.º

256 Artigo 115º. (Referendo) 1. Os cidadãos eleitores recenseados no território nacional podem ser chamados

a pronunciar-se directamente, a título vinculativo, através de referendo, por decisão do Presidente da República, mediante proposta da Assembleia da República ou do Governo, em matérias das respectivas competências, nos casos e nos termos previstos na Constituição e na lei.

2. O referendo pode ainda resultar da iniciativa de cidadãos dirigida à Assembleia da República, que será apresentada e apreciada nos termos e nos prazos fixados por lei. 3. O referendo só pode ter por objecto questões de relevante interesse nacional que devam ser decididas pela Assembleia da República ou pelo Governo através da aprovação de convenção internacional ou de acto legislativo. 4. São excluídas do âmbito do referendo: a) As alterações à Constituição;b) As questões e os actos de conteúdo orçamental, tributário ou financeiro;c) As matérias previstas no artigo 161.º da Constituição, sem prejuízo do disposto no número seguinte;(...)5. O disposto no número anterior não prejudica a submissão a referendo das questões de relevante interesse nacional que devam ser objecto de convenção internacional, nos termos da alínea i) do artigo 161.º da Constituição, excepto quando relativas à paz e à rectificação de fronteiras. (...)11. O referendo só tem efeito vinculativo quando o número de votantes for superior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento.(...) 13. Os referendos podem ter âmbito regional, nos termos previstos no n.º 2 do artigo 232.º.

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da abertura dada por este item. O art. 295 prevê que o disposto no art. 115.3 não prejudica a ocorrência de referendo a respeito da aprovação de tratado cujo objetivo seja ―a construção e o aprofundamento‖ da União Europeia.257

O art. 161, citado acima, trata da competência da Assembléia da República, à qual cabe aprovar tratados (notadamente aqueles de participação de Portugal em organizações internacionais) e pronunciar-se a respeito das matérias não decididas no âmbito da UE que incidam no campo de sua competência legislativa.258

O art. 277259 trata da fiscalização de constitucionalidade (mais especificamente, da inconstitucionalidade por ação). O art. 277.2 determina que um tratado considerado inconstitucional possa ser aplicado na ordem interna portuguesa, desde que seja igualmente aplicado pela outra parte que o assine, exceto se sua inconstitucionalidade for proveniente de violação de disposição fundamental. Essa disposição autoriza a aplicação de tratado internacional mesmo em caso de inconstitucionalidade, provavelmente como um meio de desvio de eventual incompatibilidade entre tratado da UE e o ordenamento interno.

O artigo seguinte trata da fiscalização preventiva da constitucionalidade, que pode ser feita inclusive em relação a tratados.260 Se o Tribunal Constitucional decide pela inconstitucionalidade de tratado, o Presidente e o representante da República são obrigados a usar o poder de veto para que o órgão responsável pela aprovação do tratado possa reformulá-lo ou superar o veto, confirmando a decisão por maioria de dois terços dos

257 Artigo 295º. (Referendo sobre tratado europeu) O disposto no n.º 3 do artigo 115.º não prejudica a

possibilidade de convocação e de efectivação de referendo sobre a aprovação de tratado que vise a construção e aprofundamento da união europeia.

258 Artigo 161º. (Competência política e legislativa)

Compete à Assembleia da República: (...) i) Aprovar os tratados, designadamente os tratados de participação de Portugal em organizações internacionais, os tratados de amizade, de paz, de defesa, de rectificação de fronteiras e os respeitantes a assuntos militares, bem como os acordos internacionais que versem matérias da sua competência reservada ou que o Governo entenda submeter à sua apreciação;(...) n) Pronunciar-se, nos termos da lei, sobre as matérias pendentes de decisão em órgãos no âmbito da União Europeia que incidam na esfera da sua competência legislativa reservada; (...)

259 Artigo 277º. (Inconstitucionalidade por acção) 1. São inconstitucionais as normas que infrinjam o disposto

na Constituição ou os princípios nela consignados. 2. A inconstitucionalidade orgânica ou formal de tratados internacionais regularmente ratificados não impede a aplicação das suas normas na ordem jurídica portuguesa, desde que tais normas sejam aplicadas na ordem jurídica da outra parte, salvo se tal inconstitucionalidade resultar de violação de uma disposição fundamental.

260 Artigo 278º (Fiscalização preventiva da constitucionalidade) 1. O Presidente da República pode requerer

ao Tribunal Constitucional a apreciação preventiva da constitucionalidade de qualquer norma constante de tratado internacional que lhe tenha sido submetido para ratificação, de decreto que lhe tenha sido enviado para promulgação como lei ou como decreto-lei ou de acordo internacional cujo decreto de aprovação lhe tenha sido remetido para assinatura. (...)

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presentes (nesse último caso, o Tribunal Constitucional pode novamente entender que o instrumento seja inconstitucional, e a única opção do governo é reformulá-lo). Se o Tribunal Constitucional declarar que o tratado é inconstitucional, ele apenas poderá ser aprovado por maioria qualificada apontada acima.261

261 Artigo 279º (Efeitos da decisão)

1. Se o Tribunal Constitucional se pronunciar pela inconstitucionalidade de norma constante de qualquer decreto ou acordo internacional, deverá o diploma ser vetado pelo Presidente da República ou pelo Representante da República, conforme os casos, e devolvido ao órgão que o tiver aprovado.

2. No caso previsto no n.º 1, o decreto não poderá ser promulgado ou assinado sem que o órgão que o tiver aprovado expurgue a norma julgada inconstitucional ou, quando for caso disso, o confirme por maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções.

3. Se o diploma vier a ser reformulado, poderá o Presidente da República ou o Representante da República, conforme os casos, requerer a apreciação preventiva da constitucionalidade de qualquer das suas normas. 4. Se o Tribunal Constitucional se pronunciar pela inconstitucionalidade de norma constante de tratado, este só poderá ser ratificado se a Assembleia da República o vier a aprovar por maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções.

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