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2 NAZISMO NA ALEMANHA NACIONAL SOCIALISTA

2.4 HOLOCAUSTO

O holocausto, chacina mais amplamente documentada da história, pode ser sintetizado ao dizer que “o significado moderno do Holocausto é o da perseguição e extermínio sistemático, apoiado pelo governo nazista, de cerca de seis milhões de judeus” (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2016), porém ressalta-se que não apenas judeus foram perseguidos e mortos pelos nazistas sob o governo de Hitler. De acordo com o United States Holocaust Memorial Museum (2016):

Durante o Holocausto as autoridades alemãs também destruíram grandes partes de outros grupos considerados "racialmente inferiores": os ciganos, os deficientes físicos e mentais, e eslavos (poloneses, russos e de outros países do leste europeu). Outros grupos eram perseguidos por seu comportamento político, ideológico ou comportamental, tais como os comunistas, os socialistas, as Testemunhas de Jeová e os homossexuais.

Em 1933, ano de ascensão de Hitler ao poder, o número de judeus na Europa passava de nove milhões, sendo a grande maioria encontrada em países que, no futuro próximo, seriam ocupados pelo exército nazista. Durante o ápice da operação conhecida como “Solução Final”, que visava a extinção da comunidade judaica, dois entre cada três judeus europeus haviam sido assassinados (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2016). Adverte-se, portanto, que “desde o momento em que Hitler subiu ao poder, no dia 30 de janeiro de 1933, os judeus da Alemanha se viram na linha de fogo” (ROSEMAN, 2003, p.15).

De acordo com o Memorial and Museum Auschwitz-Birkenau (2016), os campos de concentração nazista são datados em 1933 e neles foram presos indivíduos considerados indesejáveis para o novo plano de limpeza alemão, como por exemplo adversários políticos do regime nazista, criminosos e principalmente os judeus. Com o início da Segunda Guerra Mundial, campos foram construídos também em todo o território conquistado pelo Terceiro Reich. Dentro dos campos de extermínio, a burocratização do sistema segregava os prisioneiros em grupos seletos, de acordo com as crenças de inimizade nazistas.

Já no início do governo de Hitler, o Nacional-Socialista “criou campos de concentração para deter seus oponentes políticos e ideológicos”, também com a finalidade de “concentrar, monitorar, e facilitar a deportação futura da população judaica” (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2016). Já para Arendt (2014, p. 581-582), a importância real dos campos de concentração e extermínio vai além das questões médicas e de guerra, e servem para demonstrar principalmente a crença do totalitarismo onde tudo é possível.

A autora afirma também que os campos têm como finalidade a confirmação da experiência de eliminação, mesmo que em condições controladas pela ciência, como no caso do apoio de médicos na causa nazista. Na imagem a seguir, exemplifica-se a separação feita no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, um dos mais reconhecidos do governo nazista.

Figura 5 – Quadro de segregação dos prisioneiros em Auschwitz, Polônia.

Fonte: MEMORIAL and Museum Auschwitz-Birkenau, 2016. Disponível em: <http://www.auschwitz.org/gfx/ auschwitz/userfiles/auschwitz/historia_terazniejszosc/auschwitz_historia_i_terazniejszosc_wer_portugalska_201 0.pdf>. Acesso: 27 jun. 2016.

No período da Segunda Guerra Mundial a perseguição e assassinato de judeus tomou proporções assustadoras, em especial após a invasão da União Soviética em junho de 1941. Neste período:

As Einsatzgruppen, unidades móveis de extermínio, e posteriormente os batalhões policiais militarizados atravessaram as linhas fronteiriças alemãs para realizar operações de assassinato em massa de judeus, ciganos, e autoridades governamentais do estado soviético e do Partido Comunista. As unidades das SS e da polícia alemã [...] assassinaram mais de um milhão de homens, mulheres e crianças judias [...] Entre 1941 e 1944, as autoridades nazistas alemãs deportaram milhões de judeus da Alemanha, dos territórios ocupados e dos países aliados ao Eixo para guetos e campos de extermínio, muitas vezes chamados de centros de extermínio, onde eram mortos nas instalações de gás criadas para cumprir esta finalidade. (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2016)

De acordo com Roseman (2003, p. 45), a Solução Final nazista pode ser datada de meados de julho de 1941, quando Rudolf Hess, comandante de Auschwitz, e Adolf Eichmann,

tenente da SS, afirmaram, em seus depoimentos pós-Guerra, terem recebido avisos quanto à decisão fundamental de Hitler para a questão judaica. Mesmo com a destruição pós-Guerra de muitos arquivos nazistas, sabe-se da forte mudança no tratamento da questão judaica dentro do período em questão.

Por fim, como decorrido acima, o holocausto judeu durante a Segunda Guerra Mundial ganhou notoriedade por sua barbárie, seu extenso número de vítimas, o interesse em ser resgatado por todos os tipos de mídia já bastante populares no fim da guerra, em especial pelos vencedores, e também por desafiar a compreensão humana quanto à capacidade de tamanha atrocidade e como ela se tornou possível.

O impacto causado pelo holocausto na vida dos indivíduos de todo o globo e também em todos os meios midiáticos trouxe à tona abrangente discussão quanto suas características e quanto toda sua conjuntura. Para Bauman (1998, p. 34), o Holocausto será produto direto da modernidade burocrática do mundo, onde a racionalização é deixada de lado e a burocracia eficaz do sistema cega seus indivíduos, onde o aumento da distância física e/ou psíquica entre o ato e suas consequências produz mais do que a suspensão da inibição pessoal: anula o significado moral do ato. Transformando as vítimas em seres invisíveis, o caminho estava aberto para a chacina.

A divisão na administração do governo nazista demonstra a burocratização do Terceiro Reich, onde os campos de concentração eram administrados pelo Serviço Central de Economia e Administração da SS e a deportação e genocídio ficavam sob responsabilidade do Serviço Central de Segurança do Reich (RSHA) (MEMORIAL AND MUSEUM AUSCHWITZ- BIRKENAU, 2016).

Ainda quanto às causas do Holocausto ligadas à cultura da burocratização, o autor afirma que:

[...] sua importância [holocausto] não é plenamente expressa senão quando percebemos a que ponto o extermínio em massa numa escala sem precedentes dependeu da disponibilidade de especializações bem desenvolvidas e firmemente arraigadas e de hábitos de meticulosa e precisa divisão do trabalho, da manutenção de um fluxo suave de comando e informação ou de uma coordenação impessoal e bem sincronizada de ações autônomas embora complementares: daquelas habilidades e hábitos, em suma, que melhor se desenvolvem e medram na atmosfera do escritório. A luz lançada pelo Holocausto sobre nosso conhecimento da racionalidade burocrática chega a ser estonteante quando percebemos a que ponto a própria ideia Endlösung [solução final] foi um produto da cultura burocrática. (BAUMAN, 1998, p. 34)

Na imagem a seguir, um pesaroso retrato das fatalidades ocorridas nos campos de concentração nazistas. A fotografia representa uma das mais vívidas e famosas personificações

do Holocausto judeu, vastamente compartilhadas após o fim da Segunda Guerra Mundial por todos os cantos do globo. As escovas de cabelo e as escovas de dente a seguir foram encontradas logo após a libertação do campo de Auschwitz, na Polônia, depois do dia 27 de janeiro de 1945.

Figura 6 - Escovas de cabelo e dente das vítimas de Auschwitz. Polônia, 1945.

Fonte: UNITED States Holocaust Memorial Museum, 2016. Disponível: <https://www.ushmm.org/wlc/ptbr/me dia_ph.php?ModuleId=10005145&MediaId=553> Acesso: 27 jun. 2016.

Pode-se dizer que o assassinato em massa de judeus inicia no final de 1939, quando experimentos com gases venenosos são testados em doentes mentais. O método, conhecido como eutanásia, eliminava da comunidade alemães de sangue puro que não possuíam espaço na nova ordem almejada pelo Terceiro Reich por conta de suas impurezas e posições de indignidade frente à vida por suas deficiências físicas ou mentais. Neste processo inicial, foram criadas seis instalações como parte do Programa de Eutanásia, sendo elas: Bernburg, Brandenburg, Grafeneck, Hadamar, Hartheim e Sonnenstein. Nestas instalações, esboços dos campos de extermínio, utilizava-se o monóxido de carbono em forma pura, produzido quimicamente (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2016).

De acordo com Hannah Arendt (2015, p. 22), a “passividade submissa com que os judeus marcharam para a morte” revela outro ponto do extermínio. Para a autora, “há muitas coisas consideravelmente piores do que a morte, e a SS cuidava que nenhuma delas jamais ficasse muito distante da mente e da imaginação de suas vítimas (ARENDT, 2015, p. 23).

Dentro da realidade nazista, a forma com que foi conduzido o holocausto judeu também confirma o caráter invisível das vítimas e burocrático dos assassinos. Até 1941, antes da invasão

nazista à União Soviética, a forma mais comum de assassinato da raça “inferior” era o fuzilamento em massa operados pelas unidades móveis de extermínio. Com os experimentos do Programa de Eutanásia já ativos, inicia-se o experimento com asfixia por gás nas “vans de gás”, caminhões fechados e com o cano de escapamento voltado para o compartimento interior. Tal método, além de econômico, foi também pedido por membros das equipes de fuzilamento, que vastamente reclamavam da angústia mental diante a aproximação das vítimas, uma vez que o método de fuzilamento aproxima o assassino do assassinado e diminuí a distância psíquica da morte (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2016).

Após os experimentos com as “vans de gás” se comprovarem eficientes, econômicos e tirarem grande peso das unidades fuziladoras, em 1941, “a liderança das SS chegou à conclusão de que deportar os judeus para os campos de extermínio (para serem envenenados por gás) era o método mais eficaz para alcançar rapidamente a Solução Final” (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2016). Na imagem a seguir, o interior de uma câmara de gás, presente nos campos de concentração com a finalidade de assassinar, de forma mais rápida e econômica, os inimigos do governo nazista.

Figura 7 – Câmara de gás no campo principal de Auschwitz, em 1945.

Fonte: UNITED States Holocaust Memorial Museum, 2016. Disponível em: <https://www.ushmm.org/wlc/p tbr/media_ph.php?ModuleId=10005220&MediaId=570> Acesso: 27 jun. 2016.

Em busca pelos métodos mais rápidos, eficientes e econômicos de morte em massa, os nazistas, em setembro de 1941 em Auschwitz, na Polônia, realizaram as primeiras experiências com o gás Zyklon B (utilizado para fumigação), causando o envenenamento de 600 prisioneiros de guerra soviéticos e 250 prisioneiros enfermos. A eficácia do Zyklon B em forma de

comprimido, que se transformava em gás letal ao entrar em contato com o ar, fez o mesmo ser acolhido vastamente como instrumento de extermínio nos campos nazistas. Só em Auschwitz, cerca de 6.000 judeus eram mortos diariamente pelo gás, no auge das deportações. Entre as vítimas do holocausto, encontram-se cerca de 1,5 milhões de crianças, sendo um milhão delas judias. O meio milhão restante era formado por ciganos, crianças alemãs com deficiências físicas ou mentais, crianças polonesas e crianças que moravam na parte ocupada pelo exército nazista da União Soviética (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2016).

Em seguida, a fotografia mostra pastilhas de Zyklon B encontradas na liberação do campo de Majdanek, na Polônia, depois de julho de 1944. As pastilhas, como já discorrido, formavam o gás letal responsável pelos monstruosos números de mortes.

Figura 8 – Pastilhas de Zyklon B em Majdanek, Polônia.

Fonte: UNITED States Holocaust Memorial Museum, 2016. Disponível: <https://www.ushmm.org/wlc/ptbr/m edia_ph.php?ModuleId=10005220&MediaId=776> Acesso: 27 jun. 2016.

A brutalidade nazista e a assustadora quantia de vítimas do governo de Adolf Hitler são até hoje assunto vigente em toda a comunidade internacional, seja ela acadêmica ou não. O número de projetos científicos ou de ficção acerca do assunto chama atenção e levanta reflexão ao redor do globo, mesmo nos meios midiáticos como o cinema e a televisão. Os exemplos são dos mais diversos, como o drama americano “O Menino do Pijama Listrado” (The Boy in the Striped Pyjamas, 2008), o documentário britânico “O que nossos pais fizeram: Um legado nazista” (What Our Fathers Did: A Nazi Legacy, 2015) e o drama de guerra polonês “Letnie przesilenie” (2015). Na literatura, ano após ano as prateleiras são recheadas de relatos, ficções e biografias que descrevem as dificuldades dos campos de concentração. Dos mais atuais,

“Irmãs em Auschwitz” (2015), “O Homem que Venceu Auschwitz (2011), “Crer & Destruir – Os intelectuais na máquina de guerra da SS nazista” (2015) e “O Fim do Terceiro Reich – A destruição da Alemanha de Hitler, 1944-1945” (2015) são exemplos claros.

Tenta-se compreender os meios possíveis para a ascensão de um líder totalitário em meio a uma comunidade que o venerava, além de entender como, além das interpretações comuns de bem e mal, uma sociedade pôde cometer tais atrocidades contra um grupo tido como inimigo da nação. Na imagem final a seguir, crianças sobreviventes saem das barracas após a libertação de Auschwitz dia 27 de janeiro de 1945.

Figura 9 – Crianças sobreviventes de Auschwitz, 1945.

Fonte: UNITED States Holocaust Memorial Museum, 2016. Disponível: <https://www.ushmm.org/wlc/ptbr/ media_ph.php?ModuleId=10005142&MediaId=675> Acesso: 27 jun. 2016.

Por fim, é de extrema dificuldade apontar os números exatos de mortos sob o regime do Terceiro Reich durante 1933 e 1945 uma vez que não existem documentos oficiais nazistas dirigidos para a contagem de vítimas. Entre os mortos, o número de judeus pode ir de 5,600,000 a 6,250,000, enquanto os prisioneiros de guerra soviéticos somam 3,000,000, número aproximado de católicos poloneses. Em seguida encontra-se o número de 700,000 sérvios, seguidos pelos nômades (ciganos), que calculam entre 222,000 e 250,000. Entre os cidadãos alemães, 80,000 perderam suas vidas por questões políticas, religiosas ou de resistência ao regime nazista, enquanto 70,000 por deficiência, sendo esta física ou mental. Estima-se também que 12,000 homossexuais perderam suas vidas durante o Terceiro Reich, além das 2,500 testemunhas de Jeová (THE HOLOCAUST CHRONICLES, 2002).