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2 NAZISMO NA ALEMANHA NACIONAL SOCIALISTA

2.3 O NACIONAL SOCIALISMO DE HITLER

O Nacional Socialismo de Hitler, ou seja, o regime político da Alemanha nazista, pode ser considerado como um dos exemplos de ápice de valorização de cultura nacional e negação de valores alheios à sua cultura, ou seja, o ódio incitado com tudo aquilo que fugia das definições de raça superior de Führer e seus seguidores. Tal regime construíra uma ponte entre valores sociais e políticos com a justificativa intervencionista do Estado para a correta preservação dos valores nacionais, estes sendo raciais ou culturais (EICHLER, 2007, p. 5).

De acordo com Fritzche (2003), grande parte dos burgueses alemães, em conjunto com muitos membros da classe trabalhadora, ansiavam por um movimento político de cunho nacionalista e com visão fixa no futuro da nação. Era de extrema importância para tais apoiadores que o governo fosse socialmente inclusivo, isto é, atendesse prontamente as reinvindicações dos constituintes. O partido que surgiu para atender tais ânsias em sua totalidade foi o Nacional Socialista de Trabalhadores Alemães de Adolf Hitler.

Em seu livro “Minha Luta”, Adolf Hitler cita ideias de sua visão para o futuro partido Nacional Socialista, pautadas em um Estado que trouxesse novamente uma união do povo alemão com a finalidade de segregar racialmente os elementos tidos como superiores e elevá- los de forma firme a uma posição de domínio. Porém, ressalta-se que Adolf Hitler não foi

pioneiro da ideia do Nacional Socialista, tendo Fichte, no contexto de invasão napoleônica, esbravejando quanto à decadência racial de judeus e latinos e a defesa do pensamento de que apenas alemães poderiam formar uma nova História. Ainda quanto aos pioneiros da deturpada ideologia do Nacional Socialismo, cita-se François Gobineau, que defendia a ideia de superioridade ariana e repudiava a mistura racial, já que esta traria a degradação da sociedade mundial (EICHLER, 2007, p. 9-10).

Para entender as ações do partido de Hitler em prática na Alemanha, é de grande importância a análise dos pontos presentes em seu programa de governo. O Partido Nazista (NSDAP) teve seu programa de governo publicado em Munique no dia 24 de fevereiro de 1920 e defendia ser um Partido operário alemão que se encontrava de acordo com as necessidades da época. É também exposta a disposição do partido e de seus líderes em não formular novos objetivos mesmo que alcançados os já descritos (THIERRY, 1980).

Os pontos expostos no programa do partido são dos mais variados, porém destaca-se alguns de maior importância para o tema aqui abordado.

Inicia-se o programa com a noção nacionalista muito presente nas crenças alemãs e afloradas no governo de Hitler, expostas em: “1. Exigimos a reunião de todos os alemães numa grande Alemanha, fundamentados no direito dos povos a dispor de si mesmos. ” (THIERRY, 1980, p. 87). Seu segundo ponto, este exaustivamente abordado pelo governo, exige a “igualdade de direitos entre o povo alemão e as demais nações, e a abolição do tratado de paz de Versalhes” (THIERRY, 1980, p. 87).

Já no ano de 1920, com a exposição do programa, comprova-se o grande interesse do partido na exclusão de judeus, que mais tarde se transformaria em perseguição e genocídio. Já em seu quarto ponto, é dito: “4. Somente os membros do povo podem ser cidadãos do Estado. Só pode ser membro do povo aquele que possui sangue alemão, sem consideração de credo. Nenhum judeu, portanto, pode ser membro do povo” (THIERRY, 1980, p.87), além da ação inicial de apenas expulsão, em principal para os países vizinhos, exposta em “8. Toda imigração suplementar de não-alemães deve ser impedida. Exigimos que todos os não-alemães, entrados na Alemanha desde 2 de agosto de 1914 sejam obrigados a deixar o Reich imediatamente. (THIERRY, 1980, p.88).

A demissão em massa de judeus e sua exclusão total da sociedade alemã já são também expostos no vigésimo terceiro ponto do programa, que afirmará:

23. Exigimos que se lute pela lei contra a mentira política deliberada e a sua divulgação através da imprensa. Para que se torne possível a constituição de uma imprensa alemã, exigimos: a) que todos os redatores e colaboradores de jornais

editados em língua alemã sejam obrigatoriamente membros do povo (Volksgenossen); b) que os jornais não-alemães sejam submetidos à autorização expressa do Estado para poderem circular. Que eles não possam ser impressos em língua alemã; c) que toda participação financeira e toda influência de não-alemães sobre os jornais alemães sejam proibidas por lei, e exigimos que se adote como sanção para toda e qualquer infração o fechamento da empresa jornalística e a expulsão imediata dos não-alemães envolvidos para fora do Reich. Os jornais que colidirem com o interesse geral devem ser interditados. Exigimos que a lei combata as tendências artísticas e literárias que exerçam influência debilitante sobre a vida do nosso povo, e o fechamento dos estabelecimentos que se oponham às exigências acima. (THIERRY, 1980, p. 90) Com a estatização da imprensa, o governo do Terceiro Reich vê-se livre para a propagação da ideologia nazista em todo o território alemão e nos futuros territórios ocupados. Além da demissão de judeus e a exclusão em qualquer meio midiático, o programa aborda também as questões religiosas, mais uma vez privando quaisquer direitos dos cidadãos judaicos:

24. Exigimos liberdade dentro do Estado para todos os credos religiosos, na medida em que não ponham em risco a sua existência e não contrariem o espírito dos costumes e da moral da raça germânica. Quanto ao partido, defende a ideia de um cristianismo positivo, sem, no entanto, vincular-se a um credo determinado. Combate o espírito judeu-materialista em nós e em tomo de nós, e está convencido de que um saneamento duradouro do nosso povo só pode realizar-se internamente com base no seguinte princípio: o interesse coletivo prevalece sobre o interesse individual. (THIERRY, 1980, p. 90)

Concluindo as crenças do Nacional Socialismo, Hitler afirma, em sua autobiografia, que “um novo movimento que almeja o reerguimento de um Estado alemão com soberania própria, terá que dirigir sua campanha unicamente no sentido da conquista das grandes massas” (HITLER, 2016, p. 247), deixando novamente clara a sua forte inclinação para a massificação da ideologia através da propaganda. Quanto à forte exclusão da comunidade judaica, o caráter antissemita de Hitler ainda diz, quanto a formação do nacional socialismo, que “[...]o judeu. Ele que só é grande na destruição da humanidade e da sua cultura, tem a maior admiração pelos seus próprios valores. ” (HITLER, 2016, p. 259), já clarificando os maiores inimigos do movimento, que só conseguiria êxito na salvação da Alemanha com a exclusão total da comunidade judaica. Com o caráter de endeusamento do movimento que tinha por finalidade a salvação da Alemanha através da união da nação, os dirigentes nazistas já faziam claras suas crenças quanto os traços judaicos, que agiam apenas de acordo com seus próprios valores e, portanto, não poderiam unir-se na luta.