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2 NAZISMO NA ALEMANHA NACIONAL SOCIALISTA

2.1 PENSAMENTO DE HITLER

Entendendo as inclinações alemãs no pós-Primeira Guerra Mundial, torna-se de vital importância uma breve análise dentro dos pontos mais defendidos por Adolf Hitler e o porquê tais pontos conseguiram tanta relevância e renome dentro da sociedade alemã.

Ao analisar o pensamento do líder nazista, antes mesmo de sua ascensão ao poder na Alemanha de 1933, ressalta-se que “desde o início de sua carreira política, em meados do segundo semestre de 1919, o agitador sempre deixou claro que, após a tomada do poder, faria o possível para livrar-se das amarras do Tratado de Versalhes” (VOLKER, 2015, p. 416), já trazendo para o centro de seus discursos as incansáveis críticas ao Tratado. Comprova-se também o Tratado de Versalhes como um dos maiores interesses de Hitler quando, já em meados do segundo semestre de 1941, o líder ainda utilizaria a questão como argumento em

7 (1) By a date which must not be later than March 31, 1920, the German Army must not comprise more than seven

divisions of infantry and three divisions of cavalry. After that date the total number of effectives in the Army of the States constituting Germany must not exceed one hundred thousand men, including officers and establishments of depots. The Army shall be devoted exclusively to the maintenance of order within the territory and to the control of the frontiers.

um de seus discursos, ao esbravejar que “é raro alguém declarar e registrar o que quer como eu tenho feito [...] e eu volto a registrar: abolição de Versalhes” (DOMARUS, 1965, p. 1659 apud VOLKER, 2015, p. 416).

Hitler e sua ideologia extrema serão fortes impulsionadores da eclosão da Segunda Guerra Mundial, tornando fundamental a exploração de sua autobiografia para assimilar fatores motivadores do conflito e, singularmente, os reflexos de suas ideias preconceituosas dentro do Estado alemão, em uma ideologia que se tornou, por fim, massificada e largamente apoiada. Para uma análise satisfatória quanto a doutrinação e valores deturpados de Hitler, em especial durante sua ascensão na Alemanha em 1933, será utilizado o polêmico e autobiográfico livro “Minha Luta”, escrito em 1925. A autobiografia, ressalta-se, foi redigida por Adolf Hitler após sua prisão em fevereiro de 1924, que irá alça-lo como herói durante todo o processo de julgamento e terminará após 24 dias com a soltura do acusado (PEREIRA, 2012, p. 42).

Também referente à busca pelo poder de Hitler, ressalta-se que a questão não pode, em quaisquer circunstâncias, ser levada na simplificação do termo e também das crenças de todo o nazismo. Adolf Hitler não pode ser resumido a megalomaníaco, propagandista ou manipulador, apesar de ser considerado todos estes termos. A importância de Hitler e seu poder de persuasão são sentidos em suas inabaláveis convicções quanto às questões de injustiça e de raças e, principalmente, suas próprias crenças e certezas quanto às melhores – e únicas – formas de resolver as questões que assolavam o povo alemão (KERSHAW, 2009).

Apesar de tratar-se de um livro preenchido com afirmações que podem levantar interminável discussão e análise, a presente pesquisa se pauta em passagens relacionadas a pontos já levantados para a ligação entre a derrota alemã na Primeira Guerra, em especial a ideia de humilhação amplamente defendida na população alemã, e o holocausto de judeus durante a Segunda Guerra, uma vez que “a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial foi, indubitavelmente, o fator decisivo para o surgimento do nazismo na Alemanha” (PEREIRA, 2012, P. 55).

Para Kershaw (2009), a insaciável sede pelo poder monopolizado do líder do Terceiro Reich, Adolf Hitler, possuía um caráter evolutivo constante, o que seria exposto diretamente nas questões de conquista territorial vastamente defendidas durante seu governo e também expostas em sua polêmica autobiografia.

A ideologia expansionista do nazismo como forma de governo e de Hitler como líder e herói da nação (sic) já é percebida em suas primeiras páginas, quando o autor afirma que “a Áustria alemã deve voltar a fazer parte da grande Pátria germânica [...] Povos em cujas veias corre o mesmo sangue devem pertencer ao mesmo Estado” (HITLER, 2016, p. 5). Entende-se,

também, que a veia revanchista e de aliança entre a “raça superior” imposta por Hitler tem como via de ação a retomada de territórios que em algum momento da história já haviam pertencido ao Estado alemão.

Outro ponto levantado como primordial para a revolta alemã, aspecto este representado no trabalho de Hitler, é a diminuição do número militar alemão imposta pelo Tratado de Versalhes. Para Hitler (2016, p. 208), o exército deve ser considerado o fator mais eficiente da nação e as forças armadas devem voltar a aplicar o papel de escola do povo. A calúnia sofrida pelo povo alemão é uma verdade incontestável para o autor e o ódio dos inimigos era pautado no temor que o exército alemão causava no cenário internacional diante toda sua superioridade. Ainda, para Hitler (2016, p. 208), “não fosse essa força ameaçadora, a Intenção de Versalhes se teria realizado muito antes”, e “o que o povo alemão deve ao exército pode-se resumir nesta palavra: tudo. ”

Além do sentimento negativo dirigido ao Tratado de Versalhes, que irá por sua vez demonstrar a fúria e repulsa do povo alemão, atrelados ao sentimento de humilhação e perda, Hitler também adiciona ao seu texto e pensamento fortes posicionamentos contrários à certas partes da comunidade, assim como países e religiões.

Exclui-se a crença de que a origem antissemita de Hitler é atrelada a questões religiosas quando se observa o Führer alemão afirmar em sua biografia que, antes de subir ao poder, “só via no judeu o lado religioso. Por isso, por uma questão de tolerância, considerava injusta sua condenação por motivos religiosos” (HITLER, 2016, P. 46). O autor ainda se posiciona contra a imprensa antissemítica de Viena, afirmando que era mais “produto de mesquinha inveja do que o resultado de uma questão de princípios” (HITLER, 2016, p. 46).

Porém, com o passar do tempo, as inclinações do ódio de Hitler rendem-se, principalmente, ao Partido Social Cristão. As reflexões do Führer alemão são transmutadas aos poucos, através de argumentações que o faziam refletir quanto à causa antissemita, vista até então por ele como radicais. Com uma ida à Viena, Hitler afirma que se tornou grande entusiasta do Partido Social Cristão e seu fundador, Dr. Karl Lueger. Ao repensar sua trajetória, Adolf Hitler testemunha que suas convicções contrárias ao antissemitismo caíram por terra e agora se vê como grande apoiador do movimento social-cristão. (HITLER, 2016, P. 48)

Ao reafirmar a abertura de sua mente e de suas ideias quanto ao mundo, Adolf Hitler se posta contrário aos panfletos antissemitas já espalhados por Viena, já que as informações encontradas nos mesmos eram “apoiadas em argumentos superficiais e anticientíficos, que a ninguém convenciam” (HITLER, 2016, P. 48). O interesse no convencimento das questões

antissemitas, já abordados pelo autor anteriormente, são confirmados durante toda a sua autobiografia.

A preocupação em manter uma apresentação antissemita inicialmente recheada de reflexões, dúvidas e temor à injustiça (sic) é logo deixada por Hitler e, logo, o autor discorre dos mais profundos preconceitos e ódio na questão judaica. Reafirmando que “não se tratava de uma questão religiosa, mas de raça” (HITLER, 2016, P. 49), o parâmetro de análise do futuro líder totalitário alemão se direciona às defendidas diferenças de raças e acentua a generalização da comunidade judaica em seu alicerce. As ofensas deferidas vão dos mais ilógicos pontos, como a afirmação de que judeus “não eram amantes de banhos e podia-se assegurar pela simples aparência” (HITLER, 2016, P. 49). Para Hitler (2016, p. 49), a imundície física, somada as nódoas morais, causariam a repulsa completa na comunidade alemã.

Conclui-se o pensamento de Hitler contrário à comunidade judaica na origem racial, utilizada durante todo seu governo nos mais diversos meios de propaganda. A repudia de Hitler à questão judaica, confirmada e clarificada em seu futuro governo, também se alinha com as passagens em sua autobiografia, que já condenava a atitude dita acovardada do judeu como um todo. Para o Führer alemão, os judeus eram “líderes da social-democracia”, comumente ligados à “prostituição e sobretudo com o tráfico branco” (HITLER, 2016, P. 51) e eram constantemente responsabilizados pela transformação que a sociedade da época enfrentava.

Resume-se o ódio de Hitler por judeus quando o mesmo afirma:

O judaísmo provocou em mim forte repulsa quando consegui conhecer suas atividades, na imprensa, na arte, na literatura e no teatro. [...] Protestos moles já não podiam bastar. [...] Estava-se em face de uma peste espiritual, pior do que a devastadora epidemia de 1348, conhecida pelo nome de Morte Negra. E essa praga estava sendo inoculada na nação. (HITLER, 2016, P. 50)

Já em outra passagem, o autor indaga, em mais um surto de preconceito e ódio:

Poderia haver uma sujidade, uma impudência de qualquer natureza na vida cultural da nação em que, pelo menos um judeu não estivesse envolvido? Quem, cautelosamente, abrisse o tumor haveria de encontrar, protegido contra as surpresas da luz, algum judeuzinho. Isso é tão fatal como a existência de vermes nos corpos putrefatos. (Hitler, 2016, p. 49)

A conspiração judaica para fins de dominação mundial, acreditada por Hitler e seus seguidores, pautava pontos como a edição de jornais influentes sendo feita por judeus que tentavam, de forma “superficial” e “banal”, exaltar civilizações como a francesa e depreciavam a imagem dos alemães. Também era acreditado por Hitler a dominação judaica na arte, literatura

e teatro em peças “imorais” e “repelentes” (HITLER, 2016, P. 50-51). Para Adolf Hitler, a questão judaica encontrava suas bases em uma vontade combinada e acertada entre todos os judeus com fins de desmoralizar os alemães, assumir o poder de todos os meios influentes da comunidade e exaltar sua própria cultura em frente à deterioração das outras.