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2 NAZISMO NA ALEMANHA NACIONAL SOCIALISTA

2.2 NAZISMO

2.2.2 Ideologia, poder e propaganda

Os governos totalitários, em voga o governo nazista do Terceiro Reich, não conseguiriam o vasto apoio da população apenas pautados na ideia da existente desmoralização da população em conta das crises econômicas ou em discursos idealistas gritados aos céus em encontros de cunho político. Um dos mais fortes fatores para a distribuição da ideologia nazista no território alemão foi o interesse de seus líderes na propaganda. Adolf Hitler, antes de

ascender ao poder, dedicou grande parte de seu tempo na instrumentalização do papel da propaganda como importante arma política (PEREIRA, 2012, p. 62).

A relação entre regimes fascistas, nazismo, cultura e poder político possuem papel central no que tange a liberdade de expressão e criação oferecidas pelo Estado. A forma com que a arte foi usada dentro dos valores de massa do Nacional Socialismo é fator comprovante da eficiência da propaganda como forma de propagação não só da ideologia política e partidária, mas também de questões raciais, preconceituosas e excludentes.

Dentre os diversos trabalhos acerca do interesse alemão na propaganda de guerra, destaca-se, para comprovação do papel único que os meios midiáticos tiveram na ascensão e aceitação da ideologia nazista, um completo capítulo da autobiografia de Hitler, “Minha Luta”.

Em seu sexto capítulo, intitulado “A Propaganda de Guerra”, Hitler defende o caráter imensurável e formidável que uma propaganda adequadamente construída pode conduzir. Para o líder nazista, o insucesso total da Alemanha estava na falha em espalhar os planos do governo para a população, o que o leva a acreditar na necessidade em utilizar a propaganda exaustivamente para seus interesses e anseios no poder (HITLER, 2016, p. 135).

A propaganda torna-se essencial para os líderes políticos que desejam ver suas ideologias distribuídas de forma mais abrangente possível entre sua população. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, os meios midiáticos de propaganda sofriam grandes alterações e longos saltos tecnológicos, chegando de forma muito mais facilitada em parte dos lares dos países (HOBSBAWM, 2013, p. 191)

Na imagem a seguir, o pôster antissemita de Hans Schweitzer no ano 1943 mostra um dedo apontado para um judeu e afirma: “Ele deve ser o culpado pela guerra! ”. A caricatura típica antissemita nazista representa o judeu com ares de vilania e mesquinharia, geralmente próximos a sacos recheados de ouro ou a algo que remeta à acumulação de riquezas.

Figura 1 - Culpados pela guerra!

Fonte: THE PALESTINE Poster Project Archives, 2016. Disponível em: <http://palestineposterproject.org/ taxonomy/term/274/poster-imaged-full?page=1>. Acesso em: 24 jun. 2016.

A defendida humilhação sofrida pela população alemã foi não somente uma humilhação compartilhada no imediato pós-Guerra, mas um sentimento incentivado e propagado com a ajuda da propaganda. De acordo com Pereira (2012, p. 57),

O Alto Comando do Exército alemão aproveitou as circunstâncias em que fora assinada a paz para criar o mito de que ele não fora derrotado, já que a guerra terminara com os soldados alemães ainda dento do território francês, mas que a Alemanha havia sido “apunhalada pelas costas”, devido às traições de políticos socialistas, comunistas e de apátridas, como os judeus.

O forte interesse de Adolf Hitler em fomentar seu governo e sua ideologia através da propaganda e dos meios midiáticos é expressada quando o líder nazista afirma que “toda a propaganda deve ser popular e estabelecer seu nível espiritual de acordo com a capacidade de compreensão do mais ignorante dentre aqueles a quem ela pretende dirigir” (HITLER, 1983, p. 361-362 apud PEREIRA, 2012, p. 63), deixando claro também seu interesse na propaganda como meio para incentivar a aceitação da população alemã na guerra que acontecia na Europa.

O pôster antissemita em ucraniano a seguir, que estampa a frase “Satã tira sua máscara”, é clara demonstração do ódio nazista aos judeus e a incessante propaganda contra a imagem da comunidade judaica, tanto na Alemanha quanto nos países ocupados.

Figura 2 - O judeu como Satã.

Fonte: GERMAN Propaganda Archive, 2016. Disponível em: <http://www.bytwerk.com/gpa/posters3.htm>. Acesso em 24 jun. 2016.

Em setembro de 1935, durante o Congresso do Partido Nazista em Nuremberg, Alemanha, Joseph Goebbles, então ministro da propaganda e educação pública nazista, discorre sobre o papel judaico dentro da destruição cultural do ocidente, ao declarar:

Enquanto o Nacional Socialismo [nazismo] trouxe uma nova versão e uma nova formulação da cultura européia, o Bolchevismo é a declaração de guerra dos sub- humanos liderados pelos judeus do mundo inteiro contra a própria cultura. Ele não é apenas anti-burguês, ele é anti-cultural. Na verdade, ele significa a destruição absoluta de todos os avanços econômicos, sociais, políticos, culturais e civilizacionais desenvolvidos pelos cidadãos ocidentais, [o bolshevismo veio] para beneficiar um grupo internacional de conspiradores nômades e sem raízes, que encontraram sua representação nos judeus. (United States Holocaust Memorial Museum, 2016)

Na confirmação da preocupação nazista com os meios midiáticos para propagação da ideologia tem-se o jornal nazista diário “Völkisher Beobachter” e o jornal antissemita “Der Stürmer”, além do grande número de obras eleitorais pré-ascensão ao poder, como “Kampf um Berlim” (Luta por Berlim, 1931), “Das neue Italien” (A Nova Itália, 1931), “Hitlerjugend in den Bergen” (A Juventude Hitlerista nas montanhas, 1932), “Triumphfahrt Hitlers durch Deutschland” (Viagem triunfal de Hitler pela Alemanha, 1932), “Volk und Führer” (O povo e o Führer, 1932), “Hitler über Deutchland” (Hitler sobre a Alemanha, 1932), “Reichskanzler Adolf Hitler spricht!” (Fala Adolf Hitler, Chanceler do Reich!, 1933) e Deutschland erwacht! (Desperta, Alemanha!, 1933). Todos estes utilizados, sem restrições do governo Weimar,

durante o processo de eleição na Alemanha, focados, principalmente, na construção da imagem de Hitler e dos princípios e inclinações do movimento nazista (PEREIRA, 2012, p. 75). Com sua ascensão ao poder e o governo já devidamente sob controle, “o exército alemão passou a contar com um cinegrafista em cada uma de suas unidades” (VIRILIO, 2005, p. 142)

Paul Joseph Goebbles, ministro da propaganda nazista e braço direito de Hitler, externou e exemplificou muito bem o fascínio alemão pela sedução que o cinema como propaganda causava. Para Goebbles, “a grandeza única de uma operação militar consiste no que ela tem de monstruoso” (VIRILIO, 2005, p. 26), ou seja, a percepção do poder nazista imposta por uma propaganda tinha papel imensurável nas ações do governo. Ajudando Hitler em sua ascensão no período entre guerras, Goebbles também foi responsável pelo envio de “50 mil discos de propaganda fascista a todos os lares que dispunham de um fonógrafo” (VIRILIO, 2005, p. 56), forçando a ideologia nazista antes mesmo de sua subida ao poder.

Após a conquista do poder, Hitler e o partido Nacional Socialista mantiveram suas crenças quanto o importantíssimo papel da propaganda para justificar os conflitos internos e externos que aguardavam a Alemanha. Mais do que uma preocupação, afirma-se que o partido nazista obtinha certa fixação com a história da arte, controlando, gradativamente, todos os meios midiáticos da Alemanha com a finalidade de “limpar” o trabalho “doentio” de seus inimigos e disseminar suas ideias entre toda a população (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2016). Reitera-se que:

Após a chegada do nazismo ao poder em 1933, Hitler estabeleceu o Ministério do Reich para Esclarecimento Popular e Propaganda, encabeçado por Joseph Goebbels. O objetivo do Ministério era garantir que a mensagem nazista fosse transmitida com sucesso através da arte, da música, do teatro, de filmes, livros, estações de rádio, materiais escolares e imprensa. (United States Holocaust Memorial Museum, 2016) A construção de uma imagem judaica distorcida e preconceituosa faz-se clara em grande maioria dos trabalhos cinematográficos nazistas. A população, através da constante propaganda, era lembrada diariamente de seus inimigos estrangeiros e as lutas que deveriam ser travadas, além das conspirações judaicas contra os valores alemães, legitimando atos de violência contra judeus. Entre exemplos cinematográficos antissemitas, encontram-se os filmes “Jud Süß” (1940), Kolberg (1945) e “Der ewige Jude” (O Eterno Judeu, 1940). Este último, dirigido por Fritz Hippler, contém em seu pôster promocional características claras quanto a índole propagandística do Terceiro Reich. Mais uma vez o judeu é retratado com ares conspiracionistas e traços de vilania, numa caricatura forte e preconceituosa ainda mais impactante quando comparada com a imagem ariana defendida nas propagandas nazistas.

Figura 3 – Pôster do filme “O Judeu Eterno” (1940)

Fonte: VASHEM, Yad, The World Holocaust Remembrance Center, 2016. Disponível em: <http://collections. yadvashem.org/photosarchive/en-us/5854513_28968.html >. Acesso: 24 jun. 2016.

Em contraste com a imagem séria, vilanesca e distorcida dos judeus, as propagandas nazistas também firmavam a imagem de superioridade ariana, retratados como indivíduos felizes, fortes, cercados pela família e dentro dos padrões de beleza. Na próxima imagem, como exemplo, a família tradicionalmente aceita pelo nazismo sorri feliz sob a proteção do símbolo da águia do NSDAP (Partido Nazista).

Figura 4 – A família tradicional nazista

Fonte: NEW Think Tank, 2016. Disponível em: <http://www.newthinktank.com/2011/08/nazi-propaganda-

posters/the-nazi-party-secures-the-national-community/>. Acesso: 28 jun. 2016.