• Nenhum resultado encontrado

Em Isaías 4.2, o “Renovo de Javé”17 é a dinastia davídica de acordo com sua natureza humana (“o fruto da terra”), bem como sua natureza divina (“de Javé”). Neste caso, o “Renovo” seria term o equivalente para “Ungido” ou “Santo”.

Muitos levantam a objeção de que “Renovo” ainda não era designação fixa para o Messias; ademais, o seu paralelismo com “o fruto da terra” (4.2) favorecia uma referência ao brotar da terra sob a influência benéfica de Javé. O Messias, contudo, conform e demonstram os capítulos seguintes, era o Mediador destes benefícios, e ele mesmo era o maior de todos os benefícios.

Devemos estranhar, portanto, que os profetas posteriores tenham apli­ cado este título à fonte viva e pessoal de todas estas dádivas nos últimos dias? Algumas destas dádivas, já achadas nesta passagem, são: (1) a promessa de que a terra seria frutífera; (2) a certeza de um remanescente de “sobreviventes”; (3) a santidade da parte restante; (4) a limpeza e purificação da sujeira moral do povo; e (5) a glória radiante da presença pessoal de Javé, habitando em Sião com seu povo para sempre. A “nação santa” de Êxodo 19.6 seria, finalmente, comple­ tamente realizada, bem com o a “habitação” permanente de Javé no meio dela. Até a “nuvem de dia” e “chama de fogo à noite” (4.5) seriam renovados. Assim com o estes tinham sido as provas visíveis da presença de Deus no deserto (Êx 14.19 ss.), assim seria uma sombra de dia e iluminação de noite, para proteger a cidade de Deus de toda violência.

Emanuel

O que foi deixado sem definição na passagem do “Renovo do Senhor” agora recebeu formato e definição pessoais nas profecias de Emanuel em Isaías 7— 11. Esta palavra veio no contexto da guerra siro-efraimita em que Peca, rei de Israel, fez uma aliança com Rezim, rei da Síria, para avançar contra Acaz, rei de Judá, visando a instalar o filho de Tabeal como rei no trono de Davi. Esta ameaça contra Jerusalém e Judá foi enfrentada pelo convite dado por Isaías a Acaz no sentido de “crer” em Deus a fim de que o próprio Acaz “tenha crédito”, ou seja, “permaneça” (7.9). Deus, na realidade, comprovaria a validade de sua boa oferta em situação muito improvável, ao dar um sinal (isto é, operar um milagre) que Acaz poderia escolher do Seol ou do céu; teria apenas de pedir, e Deus lhe seria complacente.

Acaz, no entanto, com o verdadeiro descrente, fez uma “piedosa” rejeição da ajuda de Javé com uma referência oblíqua a Deuteronôm io 6.16, de não tentar ao Senhor, seu Deus. A verdade no caso era que pouca coisa esperava da parte de Javé; além disto, é provável que já tivesse procurado, secretamente, o apoio de Tiglate-Pileser, rei da Assíria (2Reis 16.7 ss.). Apesar disto, o Senhor foi adiante e deu um sinal: “A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e ele se chamará Emanuel” (7.14).

17. Ver Walter C. Kaiser Jr., The Messiah in the Old Testament. Grand Rapids: Zondervan, 1995, p. 156-158, e David Baron, Rays ofM essiahs Glory (1886). Reimp. Grand Rapids: Zondervan, 1952, p. 71-128.

Ora, é importante observar várias coisas: (1) a palavra ‘almâh significa “virgem” em todos os casos nos quais se pode determinar o sentido18; (2) tem o artigo definido, “a virgem”; (3) o verbo “chamar” está na segunda pessoa fem i­ nina e não na terceira pessoa feminina; e (4) as palavras deste versículo fizeram uso de fraseologia bíblica mais antiga: no nascim ento de Ismael (Gn 16.11); no nascimento de Isaque (Gn 17.19); e no nascimento de Sansão (Jz 13.5,7). Portanto, o sinal dado a Acaz consistiu em repetir-lhe as frases já familiares empregadas ao prometer o nascim ento de um filho.

Esta passagem, no entanto, tratava do nascimento de três filhos, todos os três sinais em Israel (8.17-18). Cada um dos três foi introduzido e, depois, passou a ser objeto de uma profecia mais pormenorizada, conform e segue:

1. Sear-Jasube — “um resto volverá”, 7.3 -► 10.20,21,22; 11.11,16 2. Emanuel — “Deus conosco”, 7.14 -*■ 8.8,10

3. Maer-Salal-Has-Baz — “apressa-se o despojo, precipita-se a presa”

8.1,3,4 - * 10.2,6

Em cada uma destas passagens, menciona-se um filho que nasce em cumprimento da promessa que fora feita a Davi, a fim de que sua semente fosse eterna [...]. Na segunda metade do seu discurso acerca dos três filhos, Isaías assim reitera a promessa que fora feita a Davi, e nela insiste. Faz dela o alicerce da sua repreensão ao povo pela corrupção deste [...]

Aqueles que o escutavam entendiam que, quando Acaz se recusou a pedir o sinal oferecido, o profeta repetiu-lhe, de forma nova, a promessa de Jeová quanto à semente de Davi, e fez com que isto fosse um sinal de que Jeová não somente cumpriria sua promessa atual como também puniria Acaz por sua falta de fé. Pode-se duvidar se qualquer um deles tivesse em mente a ideia de alguém exatamente como Jesus nasceria de uma virgem, num século futuro; certamente pensavam nalgum nascimento que have­ ria na linhagem perpétua de Davi, tornando especialmente significativa esta verdade: “Deus conosco”.19

Além disto, antes que este filho, o nascim ento mais recente na linhagem de Davi, pudesse distinguir entre o certo e o errado (7.16-17), uma revolução polí­ tica de grandes proporções tiraria do poder tanto Peca quanto Rezim. Deve-se, porém, ter em mente vários outras fatos, logo de imediato, a fim de identificar corretamente este "filho”. Segundo 8.8,10, ele é chamado príncipe da terra (“tua terra, ó Emanuel”), e é considerado o ungido esperado da casa de Davi em 9.6-7 (“O seu domínio aumentará, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino [...] para sempre”). Além disso, Isaías, com o seu contemporâneo

18. Além da ocorrência neste texto, aparece tam bém na narrativa de Rebeca (G n 24.43); da irm ã de Moisés (Êx 2.8); na expressão “o cam inho do hom em com um a virgem” (Pv 30.19); e, no plural, no Salmo 68.25; Cântico dos Cânticos 1.3; 6.8; e nos títulos do Salmo 46 e lC rôn icas 15.20.

Miqueias, a cada ponto pressupõe que um período de julgamento deve preceder a gloriosa era messiânica. Portanto, este sinal e nascimento não podem ser a completação dos “últimos dias”, seja qual for sua natureza exata.

Q uem , pois, era este m enino? Sua dignidade m essiânica exclui totalm ente a ideia de que ele pudesse ter sido o filho de Isaías, nascido dalguma jovem recém -casada com o profeta, após a suposta m orte da mãe de Sear-Jasube. É m uito m enos provável que seja uma referência a alguma virgem em idade de casamento ou a alguma virgem ideal específica, presente na ocasião da proclam ação desta profecia, pois o profeta dissera de m odo claro: “a virgem”. É preferível entender que o m enino fosse um filho do próprio Acaz, cuja mãe, Abi, filha de Zacarias, é m encionada em 2Rs 18.2 — a saber, seu filho Ezequias. Sabe-se muito bem que esta era a interpretação judaica mais antiga, mas tam bém se supõe que Ezequias não pudesse ser o “sinal” profetizado em 7.14, uma vez que, segundo cronologias atuais, ele teria nove anos de idade naquela ocasião (cerca de 734 a.C.). Aquele último argumento deve ser muito bem estudado antes de ser adotado. A cronologia de Israel e Judá tem sido estabelecida com segurança, com apenas uma exceção menor, uma dificul­ dade de dez anos no reinado de Ezequias. Sem debater o ponto nesta ocasião, gostaria de sugerir que som ente Ezequias preenche todos os requisitos do texto de Isaías e, ao m esm o tempo, dem onstra com o este podia ser parte inte­ grante daquela pessoa m essiânica que com pletaria tudo quanto está dito nesta profecia de Emanuel. Som ente nesta “prestação”, a mais recente da promessa abraâm ica-davídica, é que se podia ver que Deus ainda estava com Israel em todo o seu poder e presença.20

Em Isaías 9.6, uma série de epítetos descritivos se atribui a este filho recém - nascido, que seria o ponto final da linhagem de Davi. Ele é “maravilhoso Conselheiro”, “Deus Forte”, “Pai Eterno”21, e “Príncipe da Paz”. Estes quatro nom es representam, respectivam ente, (1) a vitória devida aos seus planos sábios e grande perícia na batalha; (2) o conquistador irresistível que traz de volta um rem anescente (cf. 10.21); (3) o dom ínio paterno do Messias, com seu atributo divino de eternidade; e (4) o eterno reino pacífico do Messias. Não haveria lim ites ao seu governo, nem à paz sob seu regime, porque ele estabeleceria seu reino em ju stiça e retidão para sempre (9.7). O quadro de toda a natureza em descanso e livre de hostilidades (11.6-9) é sem igual entre as descrições da paz observadas durante aquela era. Há, além disto, uma predição explícita da restauração tanto do norte com o do sul para a terra “naquele dia” (11.10-16). E, do ramo do pai de Davi, Jessé, brotaria aquele

20. Walter C. Kaiser Jr„ “The Prom ise o f Isaiah 7:14 and the Single-M eaning Herm eneutic”, Evangelícal Journal 6 (1988): 55-70.

21. Não é “Pai da Presa”, que não se coaduna com o atributo perm anente de “Príncipe da Paz”; pelo contrário, o hebraico *biad significa “Pai da Eternidade”, consoante o significado de ad em Gênesis 49.26; Isaías 57.15 e Habacuque 3.6.

“rebento”, o “renovo” (nêser), sobre quem pairaria o sétuplo dom do Espírito do Senhor enquanto dominava e reinava com retidão e assombro (11.1-5). O quadro inteiro da pessoa e obra futuras do Messias era pintado em term os da prom essa davídica, com o caloroso encorajam ento para Israel.22