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diente; antes, era dia de terrível destruição (Am 5.18). Aquele futuro dia do Senhor seria dia de trevas e escuridão (J1 2.30-31) e envolveria as nações que abusaram de Israel (3.1-16).

Duas vezes em Joel, repetiu-se; “O Se n h o r tem feito grandes coisas!” (2.20,21), garantindo a todos que Deus ainda estava no controle da história e dos elementos da natureza. Os gafanhotos foram mensageiros de Deus para um povo surdo, advertindo-lhes que tudo entraria em colapso, e chegara a hora de “rasgar os corações” (2.13), e não simplesmente as vestes.

São múltiplas as alusões neotestamentárias à linguagem de Joel, conforme ilustrado por C. H. Dodd e David A. Hubbard:

1. O som da trombeta anunciando aquele dia (Jl 2.1; cf. IC o 15.52; lT s 4.16; Ap 8.6— 11-19);

2. O emprego da palavra “perto” indicando a im inência daquele dia (Jl 1.15; 2.1; 3.14; cf. M t 24.32; M c 13.29; Tg 5.8);

3. O julgamento dos gentios (Jl 3.1-14; cf. M t 25.31-46);

4. Os sinais de escurecimento do sol e das estrelas (Jl 2.30-31; 3.15; cf. Lc 21.25; Ap 8.12);

5. O abalo do céu e da terra (Jl 3.16; cf. Hb 12.26);

6. A ordem de “lançar a foice, porque a colheita já está madura” (Jl. 3.13; cf. Mc 4.29);

7. A comparação dos gafanhotos a cavalos (Jl 2.4-5; cf. Ap 9.7,9); 8. A profecia da vinda do Espírito Santo (Jl 2.28-32; cf. At 2.14-41);

9. A base fundamental da promessa do evangelho com o convite “todo aquele que invocar o nome do Se n h o rserá salvo” (Jl 2.32; At 2.21,39).12

O dia do Senhor

Uma praga terrível de gafanhotos seguida por uma seca desoladora foram prenúncios do grande e terrível dia do Senhor. Em bora a hora já fosse muito adiantada, ainda haveria oportunidade para o arrependimento. Teria, porém, de ser uma tristeza genuína e do fundo do coração por causa dos pecados, e uma meia-volta na vida (Jl 2.12-13).

Quando o povo respondeu com jejuns, choro e orações (2.15-17), “Então o Se n h o r mostrou zelo para com sua terra e se compadeceu do seu povo”; o

Senhor respondeu a suas orações” (v. 18-19).13 C om o versículo 18, o tom do

12. C. H. Dodd, According to the Scriptures: The Sub-Structure o f New Testament Theology.Londres: James Nisbet, 1952, p. 62-64; David A. Hubbard, Joel and Amos, Tyndale Old Testament Commentary. Downers Grove: InterVarsity Press, 1989, p. 38 [publicado em português com o título Joel e Amós, Série Cultura Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1996].

13. Apesar da inexplicável preferência, em diversas traduções m odernas, pelo tempo futuro nos quatro verbos de 2.18, há pouca dúvida de que esses verbos devam ser traduzidos no tempo passado (com base no uso reiterado e sistemático dos m esm os tipos de construções hebraicas alhures).

livro é invertido. Antes o juízo prevalecera (em 1.1—2.17), agora a bênção e a esperança dominariam o restante do livro. Semelhante mudança somente poderia ser atribuída a dois fatos: (1) o Senhor Deus deles era “misericordioso e compassivo, e tardio em irar-se e grande em amor” (2.13b) e (2) o povo se arrependeu, “rasgando o coração e não as vestes” (v. 13a). Em resposta ao seu arrependimento, Deus prometeu que os abençoaria. Os dons de Deus se divi­ diam em dois grupos: (1) a bênção imediata de uma terra produtiva (v. 19-27) e (2) a promessa de um futuro derramamento do Espírito de Deus sobre toda a carne (2.28-32). A bênção, portanto, faria parte do conteúdo daquele “dia”.

Entrementes, o restante da descrição do dia do Senhor era muito semelhante àquilo que O badias escreveu. E ra “força d estru id ora do T o d o-P od eroso” (1.15-16), “dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e negridão!” (2.2), um dia “mui terrível”; “quem o suportará?” (v. 11).

O dia do Senhor, porém, era, aqui também, mais do que julgamento. Era um tempo de libertação para todos aqueles que invocassem o nom e do Senhor (2.32), acompanhado por sinais cósm icos anunciando a sua chegada (v. 30-31). E, conform e já foi notado, era caracterizado pelo derramamento do Espírito de Deus sobre toda a carne (v. 28-29).

O tempo marcado para o derramamento do Espírito ficou indefinido, “depois disso” (’ah“rê ken). Por certo, o “depois disso” poderia se referir a 2.23b, em que a chuva temporã (a prim eira chuva) e a serôdia (a última chuva) viriam “como outrora” (hãrVsôn); “depois”, um pouco mais tarde, o Espírito seria derramado. Note-se, porém, que 2.29 repetiu a frase inicial de 2.28 (“derramarei o meu Espírito”), com uma pequena mudança: “naqueles dias” (bayyãmím hãhêmmâh).

Portanto, o sentido escatológico que o apóstolo Pedro deu àqueles versículos no dia de Pentecoste se pode achar em 2.29, se não em 2.28. Este derramamento não poderia ter sido no futuro imediato, uma vez que o versículo 26 retrata um período de calma prosperidade que precederia a qualquer crise mundial introduzida no versículo 28.14 Quando Pedro citou esta passagem no dia de Pentecoste, situou aquela bênção “nos últimos dias” (en tais eschatais hemêrais,

At 2.17). Semelhante ponto de vista da duração do período escatológico, com e­ çando com a era cristã e estendendo-se até à segunda vinda, encontra-se em várias passagens do Novo Testamento (p. ex., Hb 1.1-2; lP e 1.20; 2Pe 3.3). Além disto, o mesmo fenômeno de evpntos próximos e distantes, ou cumprimentos múltiplos, todos fazendo parte dármesma e única intenção do autor de transm i­ tir a verdade, apareceu na visão de Obadias do dia do Senhor com sua imediata vitória sobre Edom, e na vitória total do reino de Deus, no futuro distante. Assim, o Pentecoste fazia parte do dia do Senhor. Haveria, porém, ainda outro dia final — se não muitos outros no ínterim — em que Deus derramaria seu Espírito com o a chuva “sobre todas as pessoas [toda carne]” (cf. Jl 2.28).

Qual, pois, seria a extensão desta bênção sobrenatural do Espírito? Usualmente, quando o AT empregava a expressão “toda a carne” (kol bãsãr),

queria dizer a totalidade da raça humana (Gn 6.12-13; SI 45.21, passim ). Neste contexto imediato, a frase “vossos filhos e vossas filhas”, conforme alguns, cate­ goricamente a limitaria a todos os judeus.15 Isto não é totalmente certo. É certo que a diferença de idade (jovens e velhos), de sexo (filhos e filhas) ou de posição (servos e servas) não afetaria a universalidade desse dom do Espírito. Assim, aquilo que Moisés expressou apenas com o um ideal desejável para cada israelita em Números 11.29, agora seria visto com o uma realidade. Naquele dia, Israel não somente serviria ao Senhor como reino de sacerdotes (Êx 19.6), mas como profetas também. Sem dúvida, este benefício seria estendido além dos judeus, assim como, mais tarde, o apóstolo Paulo viu sua aplicação a toda a hum ani­ dade, em Romanos 10.12-13.

Além do derramamento do Espírito de Deus sobre toda a carne, os céus e a terra ficariam convulsionados com sinais poderosos semelhantes àquela grande libertação do Egito, quando Deus enviou as pragas de sangue e de fogo (Êx 7.17; 9.24) e quando apareceu no monte Sinai em colunas de fumaça (19.18). Assim, o mundo atual seria trazido a uma conexão íntima com o julgamento e a salvação da parte de Deus, enquanto ele interferia na história humana. O dia de juízo original de Joel 2.1-17, interrompido temporariamente pelo arrepen­ dimento de Judá, teria de surgir de novo no futuro. Quem, porém, invocasse o nom e do Senhor, durante aqueles dias, seria “salvo” (yim mãlêt, “ser tirado de modo despercebido”). No m onte Sião, capital do reino de Deus, haveria “os que escaparem” (p elêtâh), e “sobreviventes” (serídím, 2.32). Enquanto nações escapa­ vam, no entanto, Javé julgaria e destruiria todas as nações no vale de Josafá (3.2), aparentemente todas as impenitentes.

Neste caso tam bém houvera uma teologia antecedente que alimentava esta doutrina do dia do Senhor (Êx 32.34; D t 31.17-18,29; cf. Gn 49.1; Nm 24.14; Dt 4.30). O que tinha começado em Êxodo 32.34 com o um “dia da minha visitação”, quando “o meu anjo” vingaria seus pecados, agora foi projetado a partir daquele dia na nação Israel para o tempo do fim, envolvendo todas as nações. O “dia da visitação de Javé” estabelecido contra o pecado de seu povo, em julgamento, crescia. Já não era apenas um “dia de visitação”, que poderia ser qualquer tempo de castigo nacional; era “o dia da sua visitação”, um dia que se destacava com o supremo, se comparado a outros dias. Naquele conflito final na terra, o Rei Javé derrotaria de modo decisivo todas as nações reunidas que se levantavam contra os exércitos de Deus. De repente, a foice de julgamento com eçaria a agir, e teria

15. Conform e com entou Allen, Books o f Joel, O badíah, Jonah and Micah, p. 98, n. 10, a tradução de JB e N EB [em inglês] “toda a humanidade” era, portanto, inexata, daí a grande surpresa de um Pentecoste dos gentios em Atos 10.45. Em Ezequiel 39.29, Deus tinha prometido especificamente que “derram aria o seu Espírito sobre a casa de Israel”. As duas expressões, no entanto, não podem ser diferentes sem se excluírem m utuamente? É interessante notar que Paulo aplicou esta passagem à chamada universal do evangelho em Rom anos 10.12-13.

início a ceifa e o pisar do lagar. O céu e a terra tremeriam, e multidões se preci­ pitariam para o campo da batalha no vale da decisão (Jl 3.13-14).

Joel 3.1-21 veio a ser a passagem clássica para o restante do Antigo Testamento, no que diz respeito ao julgamento final de Deus sobre todas as nações. Veio também a ser a declaração clássica do bem-aventurado desfecho do povo de Deus. Este povo possuiria, também, uma terra muitíssimo fértil, enriquecida com fontes de águas correntes, e gotejando com vinho e leite. E, com o clím ax de tudo, Javé pessoalmente habitaria em Sião.

Repetidamente se dizia que este dia do Senhor estava “perto” (qãrôh, Ob 15; Jl 1.15; 2.1; 3.14, e, mais tarde, em Is 13.6; S f 1.7,14; Ez 30.3, passim ). Beecher fez a seguinte advertência:

Esta representação é feita por profetas que viviam separados por muitas