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A IGREJA COMO SINAL DO REINO DE DEUS

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3. A IGREJA NO PENSAMENTO DE RENÉ PADILLA

3.1 A IGREJA COMO SINAL DO REINO DE DEUS

O que vem a ser a igreja, então, para René Padilla? A igreja é o sinal histórico do reino de Deus. Ele encarna a realidade do reino de Deus na história e no mundo sempre em oposição aos padrões que o mundo estabelece, ciente de que a realização plena daquilo que faz será no reino vindouro, e, portanto, tudo o que realiza é na dependência do Espírito de Deus. Ela mesma é o resultado da ação de Deus por meio do Espírito Santo (PADILLA, 2014: 216)

“A igreja não é um clube religioso ultramundano que organiza excursões ao mundo para ganhar adeptos mediante técnicas de persuasão. Ela é o sinal do reino de Deus: vive e proclama o evangelho aqui e agora em meio aos homens, e espera a consumação do propósito de Deus de colocar todas as coisas sob o mando de Cristo. Ela foi liberta do mundo mas está no mundo: foi enviada por Cristo ao mundo como Cristo mesmo foi enviado pelo Pai (Jo 17.11-18)”. (PADILLA, 2014: 66)

Estabelecer a igreja como sinal do reino de Deus é, em primeiro lugar, situar a igreja com a necessidade de que sua tarefa requer uma vida tal qual vivida por Cristo, reino de Deus encarnado, e, portanto, é dar a ela um sentido que lhe exige uma resposta e ao mesmo tempo um compromisso de inconformismo com as dinâmicas do mundo. Isso traz para ela uma exigência de um novo estilo de vida caracterizado pelo amor e oposto a uma vida centralizada em ambições pessoais, indiferente às necessidades do próximo. (PADILLA, 2014: 64)

Além disso, Padilla critica a ideia de que estamos aqui simplesmente para esperar, no sentido de aguardar a vida para além desta realidade, o que ele chamou de “clube religioso ultramundano”, o ajuntamento de pessoas que se acomodam a viver suas vidas cotidianas e a acrescentar mais associados a este grupo como se não tivessem nada a ver com este mundo. “Seu reino não é deste mundo, não porque não tenha nada a ver com o mundo, mas porque não se amolda à política dos homens”. (PADILLA 2012, 63)

Novamente Padilla critica McGravan e, desta vez, o faz no próprio conceito que estabelece acerca do que vem a ser igreja, pois ao declarar que ela é sinal do reino de Deus, dá à igreja um caráter não de fim da fé em si mesmo, mas de meio. Tudo aquilo que a igreja faz e

realiza, deve fazê-lo não de forma a replicar mais igrejas, mas de maneira que mostre o reino de Deus no mundo. Portanto, o reino de Deus é o fim da fé cristã e a igreja sempre procura espelhar- se nele em seus atos. A igreja não deve ser uma organização poderosa, ou que busca poder para si no mundo, mas sim a experimentação da governança de Deus sobre si e sua manifestação no mundo.

“O quadro da igreja no que se deriva do Novo Testamento não é certamente o de uma poderosa organização que obteve êxito em sua conquista do mundo mediante um magistral manuseio de métodos e técnicas humanas. É antes o quadro de uma comunidade que experimenta uma nova realidade sobrenatural – o reino de Deus – comunidade à qual ‘acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos’”. (PADILLA, 2014: 74)

Não é o objetivo da igreja conquistar o mundo, ou, como McGravan apregoa, de cristianizar todas as nações, mas, como se pode observar nas palavras de Padilla acima, o qual recorre à imagem da igreja no Novo Testamento, a igreja deve encarnar historicamente o evangelho no mundo, a igreja é veículo de transformação. Não se deve ter como critério final a multiplicação de seus números, mas a fidelidade ao evangelho, a saber:

“O evangelho é a boa nova de Deus em Cristo Jesus. É boa nova do reino que ele proclama e encarna; da missão de amor de Deus que traz saúde ao mundo exclusivamente por meio da Cruz de Cristo; de sua vitória sobre os poderes de destruição e morte; de seu senhorio sobre todo o universo. É boa nova de uma nova criação, uma nova humanidade, um novo nascimento por meio do Espírito que dá vida. É a boa nova dos dons do reino messiânico contido em Jesus e mediado por seu Espírito; da comunidade carismática que por seu poder encarna seu reino de shalom aqui e agora, ante toda a criação, e torna visível e dá a conhecer suas boas novas. E boa nova de libertação, de restauração, de saúde e de salvação pessoal, social, global e cósmica”. (PADILLA, 2014: 94)

Ser a encarnação do evangelho no mundo, para Padilla, é o sentido último da igreja, ela está sempre em relação ao que Deus se revelou em Cristo, e procura, em todos os sentidos, ser como ele foi na história com seu testemunho. A igreja é o “já” da tensão escatológica do reino de

Deus, e somente na concretude da realização da libertação, da restauração e da reconciliação que ela efetivamente realiza é que a palavra de Deus se faz conhecida, pois “A igreja não é o reino de Deus, mas o resultado concreto do reino. Ela leva as marcas de sua existência histórica, do ‘ainda’ que caracteriza o tempo presente. Mas aqui e agora ela participa do já do reino que Jesus iniciou”. (PADILLA, 2014: 216)

A igreja é fiel a esta palavra, segundo Padilla, como comunidade carismática, que na dependência do mover do Espírito de Deus, se compromete contra os poderes de destruição e morte deste mundo e dá ao evangelho sua dimensão há muito negada pelo cristianismo protestante ortodoxo ocidental, que é a dimensão social.

Para Padilla, concretamente, a igreja tem três grandes desafios missionários a responder: 1. O desafio do discipulado radical, que visa combater a superficialidade de vivência cristã, levando a pessoa e a comunidade a um compromisso de engajamento com o evangelho de Jesus Cristo; 2. O desafio da globalização e da pobreza, abraçando concretamente o desejo de Deus de uma justiça econômica sistêmica e a compaixão e a generosidade com os pobres; 3. O desafio da destruição do ecossistema, comprometendo-se a uma vida ativa no cuidado da criação de Deus. (PADILLA, 2014: 35-42)

Neste sentido, para Padilla, a igreja tem uma gama de ações a se engajar e a realizar no mundo que vai muito além de uma atividade evangelística que tem como propósito estender suas fronteiras cada vez mais no mundo, plantando igrejas e realizando a comunicação oral do evangelho (PADILLA, 2014: 35). Isto, para ele, não encarna a realidade do evangelho no mundo, é preciso encarar os verdadeiros grandes desafios.

Entretanto, diante de problemas tão grandes, o que pode a igreja efetivamente realizar? Padilla recorre ao pensamento de Samuel Escobar e declara que a igreja não foi enviada para resolver todos os problemas, mas para ser fiel a Deus com o que tem, sua maior contribuição ao mundo é ser tudo o que ela deve ser e nomeia três características: 1. uma comunidade de reconciliação, onde as barreiras que separam os homens desaparecem; 2. uma comunidade de autenticidade pessoal, onde cada um é aceito como é e recebe alento para desenvolver-se como ser humano à imagem e semelhança de Deus; 3. uma comunidade de serviço e entrega, onde vive-se para servir e doar-se. (PADILLA, 2014: 83)

3.2. EVANGELISMO E SERVIÇO

A questão do evangelismo e do serviço dentro da igreja é, dentro do ambiente do cristianismo ortodoxo, praticamente a mesma discussão que se tem entre a palavra e ação. Basicamente, o que se discute é o que a igreja deve dar prioridade em sua atuação missionária. Deve a igreja dar prioridade ao evangelismo, ou deve a igreja dar prioridade ao serviço? Essas perguntas já tem o pressuposto da dicotomia de palavra e ação abordadas no capítulo anterior.

Primeiramente, deve-se atentar ao fato de se tratar realmente de uma questão de prioridade de atuação, o que para McGravan é indiscutível: “We believe that God, indeed, has assigned priorities. His will in these matters can be learned from his revelation and is mandatory for Christians” (McGRAVAN, 2012: 21). Para ele, a questão de prioridades na ação missionária é algo mandatório para todos os cristãos, pois o próprio Deus determinou prioridades.

Vale ressaltar que quando se fala de evangelismo está se falando da abordagem oral de fórmulas teológicas que visam à aquiescência do indivíduo à fé cristã por meio de convencimento intelectual da verdade de suas proposições, diferentemente do serviço, que, para o grupo de McGravan, é todo o tipo de ação que visa o bem-estar das pessoas, da sociedade e do mundo.

O interessante é que, para McGravan, a ação principal da igreja é o evangelismo, pois por meio dele garante-se a salvação do indivíduo, produz-se o crescimento da igreja e sua multiplicação. Mas, para ele, a tarefa suprema é a multiplicação de igrejas em sociedades receptivas: “In spite of all, the thesis of this chapter is that – for the welfare of the world, for the good of humanity – according to the Bible, one task is paramount. Today’s supreme task is the effective multiplication of churches in the receptive societies of earth”. (McGRAVAN, 1990: 31)

Quanto ao serviço, este não é visto como uma ação principal da igreja, mas sim, secundária; não é visto ainda como uma ação de missão da igreja, mas como um ministério dela, ou seja, dentro de um departamento em que a ação que está inserida no cotidiano da igreja, como inúmeras outras, mas que não faz parte da razão de ser da igreja, muito menos de sua missão.

Já René Padilla, contrariamente ao que afirma McGravan, não vai determinar que o evangelismo tenha prioridade sobre o serviço. Ele vai declarar que, no contexto de missão, não há prioridades a serem feitas, seja evangelismo, seja serviço. Não há como estabelecer um modelo para todos os casos de atuação da igreja, cada caso em concreto, vai dizer o que deve ser feito,

pois as necessidades são diversas e pontuais e todas elas servem como meio para que o homem tenha contato com o evangelho de Jesus Cristo.

“(...) o evangelho é boa nova acerca do reino, e o reino é o domínio de Deus sobre a totalidade da vida. Cada necessidade humana, portanto, pode ser usada pelo Espírito de Deus como ponto de partida para a manifestação de seu poder real. Por isso, na prática é irrelevante perguntar se a evangelização ou a ação social deve vir primeiro. Em cada situação concreta, as próprias necessidades proveem a definição das prioridades”. (PADILLA, 2014: 222)

Padilla, portanto, parte do pressuposto que a necessidade em concreto de cada situação vivencial é que vai determinar a prioridade de atuação da igreja. Sua concepção caminha no sentido da teologia que formula, a saber, a teologia da missão integral. Padilla entende que a totalidade das necessidades do homem, sejam elas: físicas, materiais, emocionais, psicológicas, sociais ou espirituais, não importa, todas devem ser amparadas no anúncio do evangelho. Cada necessidade será um ponto de partida para a manifestação do poder de Deus transformador.

O que se percebe é que, ao dizer que não há prioridade formal na missão da igreja, Padilla estabelece uma posição de enfrentamento contra McGravan, incluindo o serviço como parte fundamental da missão da igreja, mas ao mesmo tempo ele mantém a dicotomia exposta por McGravan quanto ao evangelismo e o serviço, um é anúncio e o outro, tarefa ética, respectivamente.

Apesar de criticar fortemente a redução do evangelho ao anúncio oral de formulações teológicas na prática da missão igreja, ao abordar a questão de prioridades entre evangelismo e serviço, Padilla mantém a diferenciação de McGravan. Em outras palavras, realizar serviço não é evangelizar, não é anunciar o reino de Deus, o que vai de encontro com o que ele a todo momento apregoa. Seria uma contradição?

Tal não parece ser o fato, Padilla apenas se utiliza das concepções de seus opositores para indicar a realidade de não haver prioridade na missão da igreja, mas, para ele, o serviço é fundamental no anúncio do evangelho, pois, efetivamente, traduz uma ação de mudança ao

homem concreto. Padilla é categórico na sua oposição à redução do evangelho em uma comunicação oral de doutrina. Isso é uma recorrência em seus textos.

Entretanto, parece que, por vezes, há sim resquícios de sua tradição protestante no seu discurso, o que é inevitável, mas para o teor da crítica que Padilla alça o seu pensamento, mostra que existe uma necessidade de uma nova abordagem de determinados conceitos, como o conceito de palavra, e seu enfrentamento à luz de como se originou na Reforma e a maneira como a realidade hoje demanda uma contextualização do evangelho a partir da situação histórica concreta.

Padilla alerta que a contextualização do evangelho não pode ser levada a cabo independentemente da contextualização da igreja na história, e isto se dá à medida que a “Palavra” encarne na igreja, ou seja, que a igreja assuma os valores do reino e tenha-os como princípios norteadores de sua vida, e assim o evangelho tome forma na cultura. “A encarnação é uma negação de toda tentativa de chegar a Deus por meio do misticismo, do ascetismo ou da especulação racionalista: conhecemos a Deus por meio da Palavra que toma forma concreta em nossa própria cultura”. (PADILLA, 2014: 124)

Em relação, portanto, à questão do estabelecimento de prioridades por parte da igreja na realização de sua missão, entre evangelismo e serviço, destaca-se a posição de Padilla de que não há prioridade formal a ser estabelecida, ela será casuística, dadas as condições concretas das necessidades que se colocam diante da realização da missão da igreja, a qual encarna o evangelho em dada situação histórica concreta.

3.3. A IGREJA E O ESPÍRITO

A igreja não é como qualquer outra instituição ou organização, segundo René Padilla, há algo nela que a diferencia das demais, e isto é o Espírito Santo. Desde Pentecostes, a continuidade da realidade do reino de Deus na história é por meio do dom do Espírito Santo no mundo. Por meio dele a igreja consegue ser sinal do reino de Deus. (PADILLA, 2014: 215)

Para René Padilla, a relação de Deus e da igreja não é exaurida na figura de Jesus Cristo como Senhor do universo. Jesus Cristo fez o reino de Deus irromper na história, ele é a

identidade sobre a qual o reino de Deus se faz conhecido. É sob o poder do Espírito Santo que o testemunho que a igreja transmite ao mundo de forma concreta na história gera a experimentação do reino de Deus. (PADILLA, 2014: 216) A igreja tem como seu instrumentalizador o Espírito Santo. Essa realidade espiritual da igreja é a sua origem e também quem a impulsiona em sua missão.

Se o reino de Deus irrompeu na história em Cristo Jesus, é o Espirito Santo que continua atuando como ‘agente da escatologia em processo de realização’ (PADILLA, 2014: 215). Não só há o auxílio do Espirito Santo na atuação da igreja, mas é ele que vai possibilitar a própria existência da igreja, como declara Padilla: “A igreja é o resultado da ação de Deus por meio do Espírito (...) o Espírito dá à igreja dons (charismata) que tornam possível sua existência como comunidade missionária”. (PADILLA, 2014: 216)

É a atuação do Espírito Santo que, como Padilla afirma na sua definição sobre o evangelho, (PADILLA, 2014: 94) dá vida a essa comunidade carismática e que gesta a nova humanidade para a qual a igreja foi chamada a ser, e que também medeia os dons do reino messiânico de Jesus Cristo, e que ainda dá a capacidade a essa comunidade de encarnar o reino de paz (shalom) na história. Sem o Espírito Santo a igreja é esvaziada de sua real capacidade de realização da sua missão.

O poder que o Espírito Santo concede à igreja, como afirma Padilla, não é um poder para que simplesmente a igreja pregue a palavra e convença o homem, mas é um poder para realização de ‘sinais e maravilhas’, para perseverar ‘na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações’, para gerar união e ter as coisas em comum, ou seja, desde Pentecostes, o Espírito dá o poder para que se viva um novo estilo de vida, uma nova economia.

Cabe ainda, quanto ao aspecto da relação entre o Espírito Santo e igreja, reafirmar o aspecto que René Padilla traça sobre a existência da igreja e sua dependência do Espírito. Para ele, a igreja é um organismo no qual o Espírito gera a união dos membros do corpo, mas não só isso, se a igreja corresponde ao ‘corpo’, o Espírito Santo corresponde ao ‘espírito’ e a este um corpo corresponde um Espírito, (PADILLA, 2014: 216) e cita Efésios 4.3-4 para embasar sua argumentação. Esta relação, segundo ele, é fundamental para entender a relação entre reino de Deus e igreja.

Diferentemente de como concebe McGravan, Padilla vê a igreja não como o ente realizador de uma ação que tem por finalidade o retorno em seu próprio aumento numérico, mas como um meio da própria ação do Espírito Santo que gera vida nela mesma e opera a vida da nova era iniciada por Jesus Cristo. Nesse mesmo sentido, José Comblin diz: “Não é sobre a Igreja que devemos nos apoiar, mas sim sobre o que constitui o apoio da própria Igreja, única fonte de sua força, o Espírito de Deus. A Igreja não é a referência última, mas sim, o Espírito ao qual ela é incessantemente chamada a se converter” (COMBLIN, 1982: 17).

Aqui ressalta-se dois pontos importantes do pensamento de Comblin e que estão muito alinhados com a lógica do pensamento de Padilla. O primeiro é que se deve apoiar não na igreja, mas na fonte de sua força, o Espírito de Deus, sem o Espírito não há igreja, mas uma organização. Não são os números, a técnica, o método, a tecnologia, os instrumentos, o argumento que promove o reino de Deus, mas a força do Espírito de Deus. Além disso, no fim de sua afirmação, Comblin chama a atenção de que a igreja é incessantemente chamada a se converter, ou seja, ela não é uma realidade impassível de erro, muito pelo contrário, seu chamado à conversão é incessante.

Esse aspecto da falibilidade da igreja é outro argumento que René Padilla adota contra McGravan, já que para o último a realidade de Deus e da igreja são como uma mesma coisa e por isso que multiplicar igrejas é a tarefa suprema, pois na sua lógica multiplica-se a realidade de Deus no mundo. Enquanto que, para Padilla, a igreja é uma antecipação do reino, única e exclusivamente quando vive os valores do reino e somente pela força do Espírito Santo de Deus que tal ação é possível, e, portanto, a dependência dele é condição sine qua non para sua legítima existência: “A igreja depende do Espírito para sua própria existência. Suas palavras e ações são meramente o meio para a manifestação presente do reino de Deus, e não podem ser explicadas plenamente com palavras e ações humanas”. (PADILLA, 2014: 216)

Por isso, Padilla vai atacar uma fé centralizada na técnica, a tecnologia é algo relacionado ao fazer humano e não ao reino de Deus propriamente dito, que tem a ver com experiência de vida e transformação, só pode transmitir a mensagem do reino de Deus, quem a experimentou pela ação do poder do Espírito Santo, se isto não ocorre a mensagem vira uma ideologia ou um programa. (PADILLA, 2014: 216)

Segundo Padilla, nenhum método tem o poder de conter o Espírito Santo de Deus, este é dinâmico, visto que dinâmico é o poder que opera a realização do reino. (PADILLA, 2014: 215) O reino de Deus é uma providência da multiforme sabedoria de Deus, não há ação, homem ou cultura que possa dizer que possui 100% dele, pois ele abarca todas as culturas e para todas as culturas se manifesta. Na verdade, para Padilla, “cada cultura torna possível um enfoque do evangelho que traz à luz certas arestas que em outras culturas podem ter permanecido menos visíveis ou menos ocultos” (PADILLA, 2014: 123)

3.4. O CRISTIANISMO-CULTURA EM RENÉ PADILLA

A igreja não é uma realidade completamente isenta de erros, por estar no mundo e por ser composta por homens que vivem num determinado tempo e lugar, sob os valores de uma determinada cultura e de um determinado sistema econômico-social, a igreja pode, por vezes, se ver assumindo valores que não são próprios dela, mas sim, do mundo em que está inserida, mas ao qual não pertence. Incorre, então, a igreja no problema do cristianismo-cultura, segundo Padilla, que é “a identificação do cristianismo com uma cultura ou expressão cultural determinada”. (PADILLA, 2014: 56).

Para que se melhor entenda o que Padilla afirma ser cristianismo-cultura, o próprio autor cita alguns exemplos como: 1. a conquista ibérica das Américas no século 16, que foi não somente uma conquista militar, de Estado, mas também religiosa, na implantação de uma “cultura cristã” na subjugação dos povos que ali viviam, pois procurou-se implantar não só uma cultura ibérica, mas também uma “cultura cristã”; 2. a conjugação no século 19 do colonialismo europeu e a expansão missionária cristã na Ásia e África, o que levou o cristianismo a ser

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