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MOVIMENTO DE CRESCIMENTO DE IGREJAS: UMA SÍNTESE CRÍTICA

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1 UMA UNIDADE COM RACHADURAS EXPOSTAS

1.5 MOVIMENTO DE CRESCIMENTO DE IGREJAS: UMA SÍNTESE CRÍTICA

O movimento de crescimento de igrejas surge em decorrência de uma insatisfação, por parte de Donald McGravan e outros que o seguiram, com os resultados quantitativos do crescimento do número de igrejas e também de seus adeptos, tanto nos EUA como nas missões realizadas em outros países e no retorno pouco substancial, segundo seus defensores, do investimento financeiro e de pessoal realizado até a metade do Século XX. Assim abaixo expõe Peter Wagner seu descontentamento quanto à realidade da igreja e seu avanço:

“This was the case in Christian missions overseas in the mid-twentieth century. Tremendous resources were spent in mission work, often for very little growth of the church. Where growth was impossible, this outcome was understandable, but sometimes little growth was unnecessary… Determined efforts to understand church growth, to record where it was and was not happening, and to ascertain the causes for growth and decline began overseas. Christians, pastors, and missionaries were coming out of the ripe fields empty-handed”. (McGRAVAN, 1990: 22)

É neste sentido que o movimento de crescimento de igrejas vai desenvolver sua teologia de modo a fazer com que os recursos financeiros e de pessoas sejam utilizados em lugares que estejam produzindo o melhor retorno em termos numérico de conversões e de igrejas. E além disso, produzir metodologias que tornem todo este processo mais eficaz, dentre elas foi destacado o princípio das unidades homogêneas.

A teologia de crescimento da igreja é o movimento teológico com o qual Padilla vai tecer sua maior crítica e que nesta caminhada trará as bases de seu pensamento sobre reino de Deus, igreja e missão integral. Padilla vai expor o quanto esta teologia é influenciada por uma mentalidade moderna, mercadológica e de consumo, o que faz dela um “cristianismo-cultura”, ou

seja, um cristianismo que traduz valores não de Cristo, mas deste mundo como se do reino de Deus fossem.

Como exposto, a teologia do crescimento de igrejas vai igualar a noção de igreja à de reino de Deus, tratando-os como elementos de grau diretamente proporcionais, ou seja, o aumento do número de igrejas leva diretamente ao estabelecimento da paz, justiça e retidão no mundo. E por isso não medirá esforços para que a meta de aumentar igrejas se concretize.

Já Padilla questiona essa proposta, justamente pelo fato de verificar que o crescimento numérico de igrejas e o estabelecimento de megaigrejas, que para ele não pregam o evangelho de Cristo, mas refletem mais os valores e a mensagem da sociedade de consumo. É preciso haver um discernimento quanto à igreja e sua mensagem: o simples fato de crescer, para esse teólogo, não diz nada sobre a condição da igreja e sua mensagem.

A teologia do crescimento de igrejas é uma teologia que prima pelo foco nos resultados e estes resultados são quantitativos sempre, tem em si a primazia pela multiplicação de igrejas e a eficiência, quanto mais pessoas podem se converter e pelo menor custo possível. A relação custo- benefício, em termos numéricos, passa a ser diretiva ao abordar a ação de missões. Se num determinado lugar há uma melhor resposta ao evangelho que em outro, é no primeiro que se deve gastar esforços e dinheiro em detrimento de qualquer outro que seja menos produtivo.

Por meio do cálculo, da técnica e da medição estatística, a teologia do crescimento de igrejas promete discernir onde Deus está agindo, reconhecendo onde há maior eficiência, resultados da ação evangelística, e, ali, pregar o evangelho, o anúncio verbal da salvação de pecados, realizando assim a relevância da fé cristã por meio do aumento do número de igrejas nas sociedades.

O problema da fé cristã passa a ser reduzido a uma questão de tecnologia e recursos, o que leva a concentração nas mãos daqueles que a detém, além disso o conteúdo teológico foi reduzido a uma mensagem genérica, superficial, e por vezes de oferta de benefícios (PADILLA, 2014: 62,74) para os indivíduos, sem que com ela haja uma objetiva expressão de uma reorientação de vida em oposição aos padrões do mundo.

O movimento de crescimento de igrejas, chega até a declarar que a concorrência de igrejas entre denominações mesmo (McGRAVAN, 1990: 4) é algo muito positivo para o

conjunto geral de igrejas, pois aquela que perde membros para outra igreja irá se esforçar mais para obter mais membros ou impedir que outros venham a se deslocar para outras igrejas. Diz McGravan que com isso ganha a Igreja universal que prospera e cita como exemplo o movimento pentecostal. Parece haver uma proximidade muito grande com a fala deste teólogo e as teorias econômicas de mercado sobre a livre-concorrência.

E as perguntas que se fazem, como Padilla exorta, não é mais o que é viver o evangelho hoje em conformidade com o reino de Deus à luz da vida de Cristo, mas sim que método ou recurso pode ser usado para que a igreja cresça e mais pessoas sejam atingidas. Não há mais uma discussão sobre o conteúdo da mensagem e sua relevância (a fidelidade ao evangelho), mas uma discussão sobre a forma. (PADILLA, 2014: 73)

Padilla vê o crescimento de igreja como uma ideologia cristã, cujo pensamento está submetido não à mensagem bíblica, mas ao seu espírito de época, não por que é contra ao aumento quantitativo da igreja, mas porque é contra a manipulação do evangelho por meio de instrumentos e técnicas que têm como objetivo facilitar o aceite da mensagem e que pessoas se tornem cristãs de modo mais fácil. Para ele desde já isso é início para o estabelecimento de uma igreja infiel. (PADILLA, 2014: 73). Uma indicação que o próprio Pacto de Lausanne declarou como um reconhecimento por parte da igreja de seus erros, mas que arrefeceu ao longo dos anos, como apontado no início do capítulo: “Outras vezes, desejosos de assegurar uma resposta ao evangelho, temos acomodado nossa mensagem, temos manipulado o ouvinte por meio de técnicas de pressão e nos temos preocupado demais com estatísticas, ou até mesmo temos sido desonestos no uso que delas fizemos”.

É buscando uma crítica ao que entende ser uma mundanalidade na igreja cristã protestante, principalmente direcionado ao movimento do crescimento de igrejas, que Padilla vai tecer sua teologia, construindo o entendimento do que vem a ser reino de Deus, e seu carácter transcendente e escatológico. Diferenciando-o da igreja, que não abrange a totalidade do que é o reino de Deus, mas dele participa quando é testemunho do evangelho de Cristo, em contraposição ao mundo, realizando a missão integral, ou seja, uma missão que visa ir ao encontro do homem na totalidade de suas necessidades. São os conceitos de reino de Deus e igreja que formaram a base da crítica de Padilla ao movimento de crescimento de igrejas, e que, consequentemente, moldam o que ficou conhecido como missão integral.

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