• Nenhum resultado encontrado

Impactos em Fortaleza do evento-teste segundo o discurso oficial A Copa das Confederações que, em Fortaleza, ocorreu nos dias 19,

REGIÃO TOTAL PARTICULARES FEDERAIS ESTADUAIS MUNICIPAIS

4.5. Impactos em Fortaleza do evento-teste segundo o discurso oficial A Copa das Confederações que, em Fortaleza, ocorreu nos dias 19,

e 27 de junho de 2013, entrou para a história da cidade como um dos episódios mais controversos da trajetória esportiva da capital cearense. Se de um lado, imagens do Castelão lotado em todas as partidas e da torcida cantando o hino nacional brasileiro correram o mundo, por outro, a repressão foi também uma marca, já que se deu de forma violenta em uma manifestação, que, segundo a Polícia Rodoviária Federal, chegou a reunir cerca de 50 mil pessoas em 19 de junho, no dia do jogo da seleção brasileira contra o time do México.

O evento serviu, portanto, também como vitrine para expressão de insatisfações populares em nível nacional e local e, por isto, é importante entender duas perspectivas: a do evento em si e a das manifestações em

94 Sigla em inglês para Very Very Important People (pessoas realmente muito importantes),

uma categoria acima dos VIP´s (very important people, ou pessoas muito importantes), que são atribuídos a celebridades ou pessoas com acesso irrestrito aos grandes eventos ou espaços exclusivos dos círculos sociais.

Fortaleza, para compreender a disputa simbólica pela significação do evento na cidade.

Como foi visto no terceiro capítulo, a Copa das Confederações foi a primeira grande "vitrine" que o Estado iria ter no campo dos megaeventos esportivos para o mundo, cuja cobertura midiática iria proporcionar uma visibilidade favorável à promoção turística do Estado e, particularmente, de Fortaleza. O evento seria, sobretudo, uma amostra do que uma Copa do Mundo pode oferecer para a cidade, despertando o "clima de festa" característico (IPECE, 2013).

Neste sentido, os esforços do Estado se deram para, além de conquistar junto à FIFA o direito de sediar jogos da Copa do Mundo, também conseguir sediar jogos da Copa das Confederações, como forma de incrementar a exposição internacional diferenciada buscada com as competições da entidade, escolha esta conquistada em 2011. As benesses econômicas e a divulgação da imagem do Estado e da Capital advindas desta competição adicional seriam as bases que justificariam tal empreitada, segundo o Instituto.

Como se viu, de maneira geral, a competição realizada no país se caracterizou como uma das mais lucrativas para a FIFA, fazendo com que no ano de 2013 a entidade somasse a cifra recorde de US$ 3 bilhões de faturamento95. Para os jogos da competição em Fortaleza foram vendidos 165.150 ingressos (TABELA 13), o que inseriu a cidade como a segunda colocada neste quesito. Ficou atrás somente do Rio de Janeiro, palco da final e da festa de encerramento do evento, que obteve a marca de 218.460 ingressos vendidos. Destes ingressos vendidos, a parcela do público pagante na capital cearense composta por estrangeiros foi de 4,4% ou 7,2 mil o que, segundo o IPECE, colocou Fortaleza no posto de cidade que, proporcionalmente, mais recebeu visitantes de fora do país durante a competição (TABELA 14). Apesar deste quantitativo de estrangeiros ser muito inferior ao de ingressos vendidos aos fortalezenses, os quais representaram 64,2% do total, neste quesito, Fortaleza teria superado inclusive o Rio de Janeiro, cidade que, usualmente, já recebe grande parcela do turismo internacional no Brasil. No que tange aos

95 Disponível em: http://maquinadoesporte.uol.com.br/artigo/fifa-anuncia-maior-faturamento-de-

turistas nacionais, a cidade repetiu o posto de sede mais visitada, proporcionalmente, tendo a presença de 31,4 % ou 51.797 mil visitantes brasileiros na capital durante a Copa das Confederações.

Tabela 13 - Venda de ingressos por cidade sede durante a Copa das Confederações 2013

Sedes Ingressos Vendidos Quantidade de Participação (%)

Rio de Janeiro 218.460 27,15 Fortaleza 165.150 20,52 Belo Horizonte 13.360 16,2 Salvador 119.025 14,79 Recife 104.241 12,95 Brasília 67.423 8,38 Total 687.659 100

Fonte: COL/FIFA, SETUR. Elaboração IPECE (2013)

Tabela 14 - Ingressos vendidos por público local, brasileiro e estrangeiro em cada cidade sede durante a Copa das Confederações 2013

Sedes

Quantidade de Ingressos Vendidos

Locais Brasileiros Estrangeiros Quantidade % Quantidade % Quantidade % Rio de Janeiro 142.654 65,3 97.941 31,1 7.865 3,6 Fortaleza 142.654 64,2 51.797 31,4 7.255 4,4 Belo Horizonte 142.654 80,3 21.640 16,6 4.041 3,1 Salvador 142.654 74,2 28.923 24,3 1.785 1,5 Recife 142.654 84,5 13.968 13,4 2.189 2,1 Brasília 142.654 80,7 12.608 18,7 405 0,6 Total 855.924 100 226.877 100 23.540 100

Fonte: COL/FIFA, SETUR. Elaboração IPECE (2013)

De maneira geral, a Copa das Confederações é responsável, segundo o IPECE (2013) por trazer para o fluxo turístico no Estado um incremento de 13,7% em relação a junho de 2012. Em relação ao gasto médio de turistas, houve um crescimento de 4,5%, segundo a Secretaria de Turismo do Ceará (passando de R$ 1650 per capita para R$ 1725 no período). Para o secretário da pasta, Bismarck Maia, a Copa das Confederações serviu para:

mostrar capacidade do Ceará de sediar grandes eventos internacionais e o grande número de formadores de opinião que recebemos. [Para ele] o grande número de jornalistas, não apenas dos países que jogaram em Fortaleza, mas os do mundo inteiro, deram ao Ceará uma visibilidade internacional

nunca alcançada antes. (Disponível em:

http://www.secopa.ce.gov.br/index.php/sala-imprensa/44043- mes-de-junho-trouxe-cerca-de-225-mil-turistas-para-o-ceara. Acesso em 24/05/2014)

Este discurso de incremento no fluxo e na imagem turística no Ceará através da Copa das Confederações é defendido ainda pelo governo estadual por um impacto econômico de cerca de R$ 101,5 milhões que o evento teria sido responsável (IPECE, 2013), seja com a geração de impostos decorrentes dos gastos dos turistas no período da competição, seja pela geração de empregos, que devido ao torneio teria chegado a 11.126 postos de trabalho. No entanto, segundo o Instituto, todos estes recursos adicionais somados à economia cearense durante o período teriam gerado o equivalente a 25% dos investimentos do Estado na reforma do Castelão, somente uma das obras previstas na matriz de responsabilidade da Copa. O que deixa para os resultados oriundos do Mundial propriamente dito a questão se, de fato, foi positiva a relação entre investimentos e ganhos econômicos na preparação do estado para a competição.

Além da questão econômica, a realização da Copa das Confederações serviu de teste e revelou problemas estruturais no tocante à realização de um evento deste porte. Entre alguns aspectos de destaque tem-se problemas no setor de telecomunicações, com falhas na recepção do sinal de internet e telefonia no estádio e na logística de chegada dos torcedores ao Castelão. Esta se mostrou problemática no evento, tanto devido à falta de transporte público integrado ao cotidiano da cidade, como devido à realização de manifestações nos dias de jogos da competição. Houve ainda, nos primeiros jogos da competição no Estado, a incapacidade das lanchonetes da Arena Castelão em atender a demanda dos torcedores. Note-se o que afirma o Secretário da Copa:

[...] primeiro tivemos problemas com internet, com os telefones móveis que não cabe a nós, governo, prover, essa cobertura. Essa cobertura cabe as entidades privadas que são detentoras do direito de comercializar banda larga e também o acesso via telefonia móvel e que deixou a desejar [...] (Ferrúcio Feitosa, entrevista em 11/11/14).

.

A outra questão também foi as próprias lanchonetes que também ficaram a cargo da FIFA. Ela que negociou com parceiros pra fazer toda a parte da logística, de venda de alimentos na Arena Castelão. Nós entramos com a infraestrutura, todo o equipamento, a infraestrutura nós entregamos, mas quem disponibilizou lá os alimentos e quem

colocou o pessoal pra trabalhar foi a FIFA. Então, identificamos que tivemos alguns problemas principalmente nos primeiros jogos, isso depois melhorou, nos outros jogos, até da Copa das Confederações e aí nós fizemos essa queixa para melhorar também na Copa do Mundo (Ferrúcio Feitosa, entrevista em 11/11/14).

.

E o serviço de transporte de chegada e saída dos torcedores na Copa das Confederações, nos primeiros jogos, nós tivemos algumas dificuldades, até mesmo por conta de algumas manifestações que tiveram e aí também foi algo que a gente se preparou e vencemos isso na Copa do Mundo (Ferrúcio Feitosa, entrevista em 11/11/14).

Aqui vale destacar que tipo de imagens este discurso oficial evoca, principalmente, a minimização dos problemas ocorridos e a afirmação de uma eficiência quanto à resolução dos entraves percebidos durante a Copa das Confederações, tendo em vista a Copa do Mundo. Contudo, a insatisfação popular que se manifestou na onda de protestos, e que marcou tal competição no Estado, lançou uma outra imagem não desejada pelo Comitê Organizador Local do evento e pela FIFA, que é a face do estado repressor.

Além do discurso oficial e das fontes secundárias, vale aqui descrever em primeira pessoa as imagens que foram captadas da experiência de inserção em um megaevento do porte de uma Copa do Mundo ou uma Copa das Confederações no Ceará. Através de uma observação sistemática, o presente estudo buscou identificar tais imagens da experiência do Ceará na Copa, seja a partir da inserção como torcedor em dois jogos na Copa das Confederações (Brasil versus México e Espanha versus Itália) e três jogos na Copa do Mundo (Uruguai versus Costa Rica; Grécia Versus Costa do Marfim e Alemanha versus Gana); seja como torcedor nos FIFA Fan Fests e treinos da seleção brasileira em Fortaleza.