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Esta derrota frente à seleção uruguaia por dois gols a um causou comoção nacional por ter sido a seleção brasileira derrotada em casa, na primeira competição deste porte realizada em

CAPÍTULO 1 OS MEGAEVENTOS ESPORTIVOS E A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DAS CIDADES

27 Esta derrota frente à seleção uruguaia por dois gols a um causou comoção nacional por ter sido a seleção brasileira derrotada em casa, na primeira competição deste porte realizada em

conquistada em 1970 pelo Brasil, consolidando mundialmente o prestígio do futebol brasileiro. Este feito fez com que na Copa seguinte, a de 1974 realizada na Alemanha, obrigasse a FIFA a criar um novo troféu, a Taça FIFA, prêmio que até hoje é disputado nas Copas do Mundo, as quais desde 2004 obedecem a um sistema de rodízio de continentes quanto à sua realização, e durante quatro anos é guardada pelo campeão do torneio.

Esta competição mundial de seleções perdurou como a única em nível global até 1997, quando foi estruturada a Copa das Confederações, que tem como objetivo reunir em um campeonato as seleções campeãs continentais, o campeão da Copa do Mundo e o país-sede. O Brasil foi campeão cinco vezes da Copa do Mundo (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002) e quatro da Copa das Confederações (1997, 2005, 2009 e 2013), se tornando o maior vencedor em ambos os torneios até os dias de hoje. Os quadros 1 e 2 apresentam os campeonatos mundiais de seleções nacionais de futebol realizados com seus respectivos campeões.

Quadro 1 - Copas do Mundo realizadas e seus campeões

Ano de realização País-sede Campeão 1930 Uruguai Uruguai 1934 Itália Itália 1938 França Itália 1950 Brasil Uruguai 1954 Suíça Alemanha 1958 Suécia Brasil 1962 Chile Brasil 1966 Inglaterra Inglaterra 1970 México Brasil

1974 Alemanha Ocidental Alemanha

1978 Argentina Argentina

1982 Espanha Itália

1986 México Argentina

1990 Itália Alemanha

1994 Estados Unidos Brasil

1998 França França

2002 Japão-Coréia Brasil

2006 Alemanha Itália

2010 África do Sul Espanha

2014 Brasil Alemanha

Fonte: Adaptado de Wikipedia. com. Acesso em 01/06/2014

participaram desta partida, como é o caso do goleiro Barbosa, passaram até o fim de suas vidas estigmatizados por terem cedido tal derrota para o Uruguai, após estar vencendo o jogo por um a zero no primeiro tempo, sendo este episódio lembrado pelos uruguaios como o "Maracanazo". Aspectos como o silêncio sepulcral no estádio com o apito final da partida são lembrados até hoje em passeios guiados no estádio do Maracanã.

Quadro 2 - Copas das Confederações realizadas e seus campeões

Ano de realização

País-sede Campeão 1997 Arábia Saudita Brasil

1999 México México

2001 Coréia/Japão França

2003 França França

2005 Alemanha Brasil

2009 África do Sul Brasil

2013 Brasil Brasil

Fonte: Wikipedia. com. Acesso em 01/06/2014

Em número de telespectadores o Mundial de Futebol atingiu a marca de 3,8 bilhões28 de pessoas que acompanharam os jogos da Copa de 2014. Nas redes sociais ou páginas da internet, a estimativa da FIFA, segundo o jornal O Globo (2015), é que 280 milhões de pessoas acompanharam as partidas pela rede mundial de computadores. Essa imensa audiência faz da Copa do Mundo o principal e mais lucrativo produto da FIFA, que é, antes de tudo, uma entidade privada.

Esta, segundo Jennigs (2011), passou de um caráter mais esportivo e amador para uma perspectiva profissional de exploração dos dividendos econômicos do seu principal evento, a Copa do Mundo, principalmente, a partir dos anos 1970, com a administração do brasileiro João Havelange. Este adotou a prática de venda dos direitos de transmissão de jogos do evento atrelada aos anúncios de seus patrocinadores exclusivos como uma das principais fontes de receita da entidade, receituário este seguido a risca pelo seu sucessor Joseph Blatter.

Segundo dados da rede BBC Brasil (2011)29, somente a Copa de 2010 realizada na África do Sul teve um faturamento de US$ 1,3 bilhão, recurso equivalente a 87% da manutenção da entidade no período de 2006 e 2010 e similar ao Produto Interno Bruto (PIB) de alguns pequenos países. Para a Copa de 2014, somando-se direitos de imagem e de comercialização de produtos, a FIFA faturou ao todo cerca de R$ 16 bilhões30 e a entidade teve em 2013 (ano

28 Disponível em: http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2015/12/fifa-

divulga-numeros-de-audiencia-da-copa-de-2014-mais-de-1-bi-na-final.html. Acesso em 12/09/16. 29 Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/06/110601_fifa_faturamento_dg.shtml. Acesso em 10/12/12. 30 http://blogs.ne10.uol.com.br/torcedor/2015/03/19/fifa-faturou-a-bagatela-de-r-16-bilhoes-com- a-copa-no-brasil/. Acesso em 21/09/2015

da Copa das Confederações realizada no Brasil) um faturamento de R$ 1,83 bilhão. Soma-se a esta enorme movimentação de recursos às isenções fiscais que os governos dos países-sede oferecem. No caso brasileiro, o lucro líquido da FIFA com o evento obteve a isenção de cerca de R$ 523 milhões, além das isenções tributárias das empresas que tocaram as obras do evento (programa RECOPA), no valor de R$ 631,7 milhões, o que chega, segundo o Ministério dos Esportes (2014) a R$ 1.154,6 bi - Quadro 3, somando-se ainda renúncias creditícias de mais de R$ 552 milhões.

Quadro 3 - Renúncias Tributárias, financeiras e creditícias do Governo Federal com a Copa 2014

Fonte: Ministério dos Esportes (2014)

Apesar dos custos para os países e cidades que a sediam, a Copa do Mundo se consolida, com a edição de 2010, na África do Sul, a de 2014, no Brasil, como espaço privilegiado de divulgação de imagens e identidade cultural de cidades destes países emergentes, os quais se situam na periferia do capitalismo global. Como se viu, este evento possui como atrativos: 1) ser o evento com maior audiência no globo; 2) em cada país que se realiza abranger, não somente uma cidade, como na maior parte das Olimpíadas, mas de 8 a 12 cidades; e 3) ser o evento máximo do esporte mais praticado do mundo.

Toda esta movimentação de recursos traz de forma recorrente a questão da ação pública quanto ao incentivo e subsídio à iniciativa privada no intuito da busca pela construção da imagem de uma cidade em nível global. A

pergunta é: até onde se caracteriza o subsídio ou, de fato, uma nebulosa relação que confunde o privado com o bem público?

1.7. Copas no contexto de países em desenvolvimento: A Copa da África do Sul 2010 e analogias com o caso brasileiro

Como parâmetro para se entender o que são os efeitos da realização de uma Copa do Mundo em países em desenvolvimento como o Brasil é interessante se tomar a realização da Copa de 2010 na África do Sul. Sendo um dos BRICS - a sigla com as iniciais dos países que o mundo econômico adotou como sinônimo de mercados promissores e em desenvolvimento, quais sejam Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - a experiência sul-africana apresenta paralelos com o que ocorreu no caso brasileiro.

Desde a queda do apartheid em 1994 e ascensão em 1995 de Nelson Mandela como presidente da república, o país encontrou na realização de megaeventos uma estratégia para a união do país e a consequente minimização dos efeitos do sistema de apartamento social entre brancos e negros vivido até então. Esta busca é mostrada no filme Invictus (2009)31 que retrata como a vitória em casa da seleção sul-africana de rúgbi no campeonato mundial do esporte contribuiu para uma maior integração social no país.

No esteio desta prática - que entre outras ações teve a inscrição da Cidade do Cabo como candidata a sediar as olimpíadas - no dia 27 de outubro de 2004, o governo da África do Sul insere o país como candidato a receber a Copa de 2010, juntamente com as candidaturas de Marrocos, Egito e a inscrição conjunta de Líbia/Tunísia e tem, em 15 de maio de 2004, sua vitória declarada no congresso da FIFA em Zurique - Suíça. Pela política de rodízio de continentes para a Copa do Mundo, iniciada naquele contexto, o mundial seria na África.

No entanto, a exemplo do que se verá no caso brasileiro, a desconfiança quanto à capacidade de realização de um evento deste porte já se mostrava logo após a vitória sul-africana em 2004. Como afirmam Horne e Manzenreiter (2006):

31 Dirigido por Clint Eastwood, estrelado por Matt Damon e Morgan Freeman e distribuído pela