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Implementação do Programa Polis

No documento O impacte do programa polis (páginas 154-160)

Capítulo 6|Caso de Estudo Agualva-Cacém

5. Apresentação do Programa Polis do Cacém

5.1. Implementação do Programa Polis

Até Maio de 2006, o Polis pretende revolucionar a cidade de Agualva-Cacém. Neste caso a linhas essenciais para esta intervenção, baseiam-se em requalificar a centralidade urbana, valorizando a linha de água como elemento estruturante da cidade e a criação de novas acessibilidades.

Antigamente, o Largo da República e a Escola Ferreira Dias era designado por Rossio, mantendo o traçado pitoresco dos arruamentos e um conjunto edifícios com grande interesse para a identidade local. Outros aspectos que seriam importante preservar eram as típicas mercearias, lojas familiares, barbearias, as pequenas hortas nos logradouros. Apesar do reconhecimento do conjunto e da classificação no Plano Director Municipal, o Polis Cacém propõe a demolição de quase todos os edifícios da Rua Dr. António José de Almeida e a Rua Sacadora Cabral. A justificação para esta proposta radical pretende aumentar a fluidez do tráfego que atravessa o bairro. Contudo, o próprio plano aproveita para propor a substituição dos antigos edifícios por novos blocos de habitação, e assim construir 38 fogos. O alargamento deste eixo rodoviário contraria a lógica da requalificação de um núcleo histórico, uma vez que irá comprometer as características deste bairro tradicional. O Polis prevê no Largo Central a demolição de todos os edifícios, incluindo o Palácio e o seu respectivo jardim e a perda da escala humana, com a construção de uma grande centro comercial e de um conjunto de torres junto a estação. A nível da acessibilidade prevê o aumento da pressão rodoviária e da poluição no centro da cidade, através da criação de vias de atravessamento e também a localização de uma rotunda sobre a Ribeira, desrespeitando o elemento natural e ocupando uma parte da área do futuro Parque Ribeirinho.

Na zona ribeirinha entre a estação ferroviária e a ribeira, destaca-se negativamente na paisagem urbana, a torre de habitação da Praceta João de Deus. Segundo a proposta, estas torres de habitação seriam para ser demolidas, mas devido aos altos custo da indeminização acabam por não ser demolidos. Para além do risco da existência destes edifícios numa zona inundável, condiciona fortemente o futuro do Parque Ribeirinho.

Um dos objectivos anunciados pelo Polis é melhorar a qualidade ambiental do centro da cidade. Segundo a programação da construção das vias de circulares nascente e ponte a Agualva- Cacém, permitido o acesso ao IC19 e o futuro IC16 feito por fora da cidade, esperava-se que o Programa Polis propusesse um conjunto de medidas com o intuito de “libertar” o tráfego automóvel de atravessamento e devolver a cidade aos peões. A proposta rodoviária do Polis reforça o acesso ao IC19 através do centro da cidade, criando um nó rodoviário a escassos metros do nó já existente no Alto da Bela Vista. Uma intervenção sustentável no sistema rodoviário do Cacém implica uma

coordenação de um conjunto de ações, dentro e fora da área do Polis, apoiadas num estudo à escala da cidade. Devido à falta de uma visão do Município para a cidade, prevaleceu uma solução rodoviária à medida do plano de pormenor.

“ a Baixa de Agualva-Cacém exige uma intervenção humana, participada, em diálogo permanente com aqueles que lá vivem ou trabalham ou que simplesmente, ali se habituaram a tomar café. (…) Todos querem ver a revolução dos acessos , a nova estação, o novo eléctrico rápido, os espaços reservados a jardins. Querem tudo isto, desde que o façamos com respeito pelo passado e pelo presente da Baixa do Cacém” (Olho Vivo: 16)

Apesar das fortes implicações sociais do Polis Cacém, envolvendo diversas demolições e o realojamento de pessoas, a participação dos cidadãos ficou-se pelas intenções. O Plano de Pormenor da Área Central do Cacém foi desenvolvido sem auscultação prévia da população, e a prometida Comissão Local de Acompanhamento (associação locais e outras entidades representativas), que deveria ter acompanhado todas as fases do Plano, apenas foi concebida pela Sociedade Gestora do Polis em Abril de 2001, na fase final de aprovação do Plano.

Em Setembro o vice-presidente e representante da câmara Cacém-Polis, Marco Almeida, reconheceu que o Programa Polis deveria existir, mas era necessário que fosse revisto (Jornal Sintra Digital,2001). Após, a sua reanálise financeira, o plano foi aprovado em Outubro, sem qualquer alteração prevista.

A implementação do Programa Polis na área do Cacém surge como um exemplo de requalificação da área central do Cacém , tendo sido projectado e construído entre 1998 e 2011, sob a responsabilidade do arquitecto Manuel Salgado (Jornal Sintra Digital,2001). O caso do Cacém foi uma das primeiras cidades a beneficiar do Programa Polis, o plano de pormenor da área central do Cacém reveste-se de uma natureza e de uma especificidade que o tornam num caso exemplar. Os primeiros estudos propostos surgem nos finais dos anos 90 em que pretendia estabelecer princípios de atuação destacando a requalificação aprofundada da área central do Cacém. No estudo base de 1999, são definidas as ideias principais e a matriz base que guiará o plano de pormenor, realizado ao abrigo do Programa Polis, o que permitiu acelerar e tornar mais consistente, abrangente e ambiciosa a estratégia de intervenção delineada nos estudos anteriores.

A ideia central do plano centra-se na articulação a partir do espaço público de cinco micro- centralidades que serão reabilitadas, tendo como intenção uma ligação qualificadora entre sectores urbanos, através desta ideia é permitido definir uma matriz refundadora dos sistema de espaços públicos criando uma nova realidade urbana de Agualva-Cacém.

Esta ideia é reforçada pela recuperação da Ribeira das Jardas transformada num canal verde (Parque linear), que estabelece a ligação da cidade no sentido norte, que se cruza com outro eixo essencial, a Rua D. Maria II.

A matriz presente traduz-se de uma forma bastante directa e coerente, na hierarquia que o próprio sistema viário recuperado propõe, ou seja, distinguindo as vias de ligação, vias locais e as vias principais.

Através desta estratégia de recomposição urbana proposta pelo Plano de Pormenor e assegurada pelo projecto de espaço público, a rua é vista como um elemento estruturado e articulador de toda a intervenção. Estabelecendo a continuidade e resolvendo as rupturas e

impasses, a rua surge como o elemento transformador e ordenado essencial para o tecido urbano pré- existente, com grande responsabilidade em restituir a hierarquia, legibilidade, significado e identidade à área de intervenção.

Com este procedimento metodológico, é possível definir os elementos caracterizadores do espaço público, desde a arborização, a (re)definição do perfil das ruas requalificadas ou propostas, a pavimentação, o que pode permitir introduzir uma nova ordem espacial, fundamental na restruturação do conjunto urbano e dos sistemas de espaços abertos. Com este objectivo definiu-se um conjunto de regras, que se subdividem-se em três categorias fundamentais de ruas, pré-definidas no Plano de Pormenor. Os princípios orientadores presentes não são entendidos apenas pela sua dimensão funcional, utilizam-se como um modo de expressar uma ordem formal, capaz de organizar espaços, estabelecer uma continuidade, dar uma identidade ao próprio local e também uma identidade e escala ao espaço urbano. Por vezes a intervenção nos espaços públicos assume um caráter quase anónimo, preocupando-se com a fluidez e a capacidade articulada ao sistema de espaço público, face às inúmeras situações de descontinuidade ou o próprio impasse nos percursos viários e pedonais. Assim surgem as ligações pedonais alternativas (rampas, escadas, alargamentos ou praceias) que proporcionam um conforto e uma adequação à escala humana e também contém uma capacidade de articulação entre os espaços públicos. Algumas destas situações são usadas para permitir atravessamentos de miolos de quarteirão, criando pontos de concentração de atividades ou

Figura 41| Objectivo Estratégico Do Plano ( Fonte: Http://

Menosemais.Com/Portfolio/Polis-Cacem/, Acedido A 20 De Abril)

excepções que acabam por servir como referências no sistema de espaço público requalificado.

Tal como referido anteriormente, a intervenção sistemática sobre a rua salienta a sua vocação de componente de exceção e articulação no sistema de espaço público, no qual assegura as ligações de qualidade entre as cinco micro- centralidades.

A proposta de intervenção contida no P l a n o d e p o r m e n o r c o n t e m p l av a a recuperação deste espaço residual num espaço urbano central. Não se tratava apenas de criar um ponto de referência permeável e acessível a partir de um percurso pedonal contínuo, mas também de um espaço articulador e criador de continuidade ao longo e entre as duas margens da Ribeira das Jardas, criando várias condições que permitissem a aproximação e a articulação entre os núcleos de Agualva e Cacém.

É importante salientar que este projecto veio dar um novo rumo a freguesia, trazendo grandes benefícios no que diz

respeito às cheias e na reposição da biodiversidade da flora.

Uma das grandes preocupações, a nível de desenho, foi a circulação pedonal e ciclável do parque que são paralelas à ribeira. Estes percursos têm de largura cerca de 2,4 metros, o que permite uma deslocação pedonal e de bicicletas em simultâneo ao longo de todo o parque.

A 26 de Maio foi inaugurado o circuito Life traill, no parque linear Ribeira das Jardas. Este circuito é composto por dez estações concebidas para melhorar o equilíbrio, a resistência e a força da população adulta e sénior. A life trail destina-se à população, tendo uma preocupação especial pelos idosos da cidade, com o intuito de estimular a pratica de exercício fisico e promover a saúde e bem-estar.

Figura 42|Requalificação do Espaço Público ( Fonte: Http://

Menosemais.Com/Portfolio/Polis-Cacem/, Acedido A 20 De Abril)

Figura 43| Parque Linear Urbano de Agualva-Cacém ( Fonte: Autora, 2016)

O novo projecto da estação de Agualva-Cacém surge devido à necessidade de quadruplicação de vias, devido ao aumento da população, num troço de 4,5 quilómetros entre Monte Abraão e Agualva-Cacém. Este projecto foi elaborado pela REFER Engineering, Sa, mas tendo como responsável o Programa Polis. Com esta nova estação será possível aceder a partir de diferentes níveis, sem ser obrigatório a entrada pelo largo da Estação, neste caso também será possível o acesso a partir da Rua Elias Garcia e da Avenida dos Bons Amigos. Ainda existe uma interface de transportes públicos, que se localiza no nível mais inferior da estação, que têm entrada a partir da Rua Afonso Albuquerque e pela Rua Henrique Amaro. Neste projecto ainda abrangia a requalificação do Largo da Estação, embora este largo agora tenha o carácter totalmente diferente, isto é, neste momento esta zona faz a extensão da Rua Afonso Albuquerque que irá dar a Massamá, mas ainda existe um parque de estacionamento para auxiliar a nova estação.

Esta intervenção inclui a construção de duas passagens de nível, sendo uma rodoviária e outra pedonal, uma nova interface destinada aos transportes públicos (nova praça de táxis e um terminal de autocarros), um silo automóvel e uma reorganização das ruas de acesso à estação (Rua Elias Garcia, Rua Afonso de Albuquerque e o Largo da Estação).

Figura 44| Nova Estação Agualva,Cacém ( Fonte: SERRA, 2016)

O projecto referente ao túnel de Agualva-Cacém, constituía uma passagem inferior, em que estabelece a ligação entre a Rua Dr. António José de Almeida à Avenida dos Missionários através de uma rotunda. Esta obra foi promovida pela REFER segundo um protocolo de colaboração técnica e

financeira, tendo como respectiva empreitada a Obrecol - Obras e Construções, Sa, com base em projecto e execução disponível pela autarquia.

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