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Implicações para a terapia

No documento Da Teoria Clássica à Pesquisa Moderna (páginas 151-153)

Assim como na terapia psicanalítica, compreender as motivações internas é a so­ lução. Contudo, pelo fato de o ego scr central, a preocupação com a motivação inconsciente é menor. Logo, por exemplo, você poderia frequentar um terapeuta para compreender por que se gaba tanto para os amigos, ou por que sente medo de se aproximar de uma namorada com base em um medo anterior de abandono, de insegurança e de desconfiança e em sentimentos de inferioridade. Você pode acabar descobrindo que padrões imperfeitos no relacionamento com seus pares têm origem em padrões inadequados de relacionamento com seus pais ou irmãos, ou com seus primeiros professores.

Capitulo 4 m As perspectivas neo-analíticas da personalidade: identidade

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como um processo mais racional e cognitivo do que um processo enraizado em conflitos emocionais mais profundos (Markus h Ruvolo, 1989). O psicólogo To ry Higgins escreve so­ bre o self real (o autoconceito atual), o íc//ideal (esperanças, anseios ou aspirações) e o self necessário (as convicções de alguém sobre seus deveres). As consequências de possíveis discrepâncias entre o self real e o self ideal são desilusões e insatisfação. As discrepâncias entre o self real e o self necessário de uma pessoa desencadeiam culpa e ansiedade pelo pos­ sível descumprimenio de responsabilidades por parte dessa pessoa (Higgins, 1999). Para Higgins, a emoção e a motivação provêm dessas discrepâncias. Ou seja, se você estiver buscando recompensas cada vez maiores, pode ser tornar depressivo, ao passo que se esti­ ver se preocupando com responsabilidades cada vez maiores, você vai se tornar ansioso e neurótico. Essas miniteorias, entretanto, não buscam a profundidade psicológica das teo­ rias neo-analíticas.

Roy Baumeister é outro pesquisador contemporâneo que está tentando explicar mais cabalmentc o que nós queremos dizer com self Porém, ele acredita que grande parte das preocupações humanas com a questão de "encontrar-se" é de fato uma busca disfarçada por uma vida que faça mais sentido. Todos nós temos necessidade de pertencer — um de­ sejo de afeição interpessoal (Baumeister & Leary, 1995). Ele ressalta que a vida está em constante mudança (nossas comunidades, nossas metas, nossos empregos, nossos amigos), embora o significado que gostaríamos de atribuir à vida seja constante (nossos valores). Portanto, para Baumeister, o self (o significado) pode ser mais bem definido por nossa ca­ pacidade ( I ) de encontrar um propósito, (2) de fazer diferença, (3 ) de justificar atitudes e (4) de sentir auio-esiima. Essa visão de identidade é mais filosófica em sua essência do que a de alguns outros teóricos modernos por nós já mencionados. Contudo, essa visão com­ partilha com eles os conceitos de criação de identidade e a importância funcional do ego. Esses teóricos modernos, sem nenhuma exceção, sustentam que os indivíduos continuam a amadurecer psicologicamente após a infância e que considerar as metas das pessoas e as estratégias por elas usadas para alcançá-las oferece insights valiosos sobre sua identidade. (Veja o quadro Avaliando as Perspectivas.)

Resumo e conclusão

Embora Sigmund Fremi tenha posicionado o ego entre os conflitos que opõem o id ao superego, ele era mais fascinado pelos impulsos e conflitos e menos preocupado com o ego. Vários dos sucessores de Freud dedicaram-se à causa do ego. na medida em que reco­ nheceram que ele era força importante e independente na psique e não apenas reação ao id. O conceito de self consciente — quem nós pensamos que somos — continua sendo um componente fundamental das concepções modernas da personalidade.

Cari Jun g estava interessado nos aspectos universais e profundos da personalidade e ampliou as idéias sobre o inconsciente para abranger imagens emocionalmente carrega­ das, e quase instintivas, que parecem características de todas as gerações. Interessava-se particularmente pelas crenças que todos nós partilhamos c a maneira como nossas simila­ ridades se desenvolvem. Foi responsável pela elaboração dos conceitos de inconsciente co­ letivo e arquétipo; c, embora essas idéias não sejam aceitas por teóricos contemporâneos da personalidade, em seu sentido elementar e literal, a criatividade brilhante de Jung nes­ se campo abriu portas para teóricos subsequentes e essa porção de sua teoria pode, no de­ vido tempo, de alguma forma ser aceita. Outra contribuição junguiana — o conceito de

complexo (pensamentos e sentimentos emocionalmcntc carregados em uma determinada questão) — foi bem aceita pela comunidade psicológica. Na realidade, esse termo encon­ trou seu lugar em nossa linguagem cotidiana. Concluindo, para Jung a personalidade compreende forças competitivas opostas que estão cm luta entre si para atingir o equilí­ brio, o que pode ser mais bem exemplificado pelas dimensões extroversão e introversão — tendência a se concentrar no externo e tendência a se concentrar no interno. Esses termos são também amplamente usados no presente, embora em geral eles sejam concebidos como pólos opostos da mesma dimensão.

Alfred Adlcr voltou a sua atenção para o mundo social e seu impacto sobre o ego ou a formação da identidade. Devemos a ele nossos atuais conceitos sobre o complexo de inferio­ ridade (sentimentos exagerados de incompetência pessoal) e o de superioridade correspon­ dente (sentimentos de grandeza de proteção do ego). A psicologia individual de Adler con­ centra-se na singularidade de um indivíduo e na importância por ele sentida. Adler acreditava que vários problemas de personalidade podiam ser evitados usando conhecimen­ tos detalhados sobre os indivíduos para construir ambientes sociais mais saudáveis. Adler desenvolveu também uma tipologia da personalidade baseando-se largamente nos conceitos gregos antigos sobre os humores corporais, mas talvez seja mais conhecido por sua firme convicção na natureza humana positiva e orientada para metas.

Karen Horney mudou a maneira como a teoria psicanalítica via as mulheres, pondo de lado as opiniões freudianas sobre inveja do pênis e substituindo-as por teorias baseadas cm observações próprias sobre os motivos pelos quais as mulheres, na maioria das vezes, de fato sentiam-se inferiores aos homens. Horney enfatizou que as influências sociais so­ bre as mulheres — sua relativa falta de oportunidade — são determinantes desses senti­ mentos de inferioridade. Ela também mudou o determinismo biológico freudiano por meio de seu conceito sobre ansiedade básica (o sentimento de abandono e insegurança da criança). Horney, portanto, mudou a direção do pensamento psicanalítico de sua visão predominantemente determinista para uma interpretação mais inclusiva e interativa.

Erik Erikson demonstrou que importantes estágios de desenvolvimento marcam o curso do indivíduo por toda a vida. Os primeiros estágios da sua teoria de desenvolvimen­ to da personalidade parecem semelhantes à interpretação neo-analítica dos estágios psicosscxuais propostos por Frcud, mas Erikson não parou por aí. Em vez de considerar a fase adulta princípalmente como reação a experiências da infância, ele a considerava um processo de desenvolvimento contínuo, com seus próprios problemas e conflitos. Fm cada estágio, determinada crise do ego tem de ser resolvida, e a resolução bem-sucedida de cada uma permite o desenvolvimento saudável nos estágios posteriores, por toda a vida.

Abordagens modernas da personalidade, que investigam a identidade, não estão tão aptas a oferecer generalizações de grande alcance sobre amplas categorias de pessoas. Exa- tamente como os teóricos neo-analíticos reviram a teoria freudiana para levar cm conta os feitos da sociedade, da cultura, das diferenças de gênero e do desenvolvimento ao longo do período de vida. os teóricos modernos da identidade lançam o olhar mais adiante, isto é, sobre as exigências pessoais c situarionais exclusivas que cada indivíduo enfrenta na luta contínua por manter uma percepção do self — de quem somos. Os teóricos modernos da identidade na maioria das vezes adotam uma abordagem funcional sobre a personalidade, ou seja. eles observam comportamentos e metas instigados para compreender o self que se encontra subjacente. Alguns pesquisadores acreditam que as metas cotidianas exercem o maior impacto sobre a personalidade, enquanto outros acreditam que são nossas metas mais auspiciosas e abstratas as mais significativas. Alguns evidenciam mais a forma como

No documento Da Teoria Clássica à Pesquisa Moderna (páginas 151-153)