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Percepção sublim inar

No documento Da Teoria Clássica à Pesquisa Moderna (páginas 103-105)

Você deseja melhorar sua auto-esiima. |>erder peso e ficar sexy ou então ter melhor desempenho esportivo sem gastar tempo e despender nenhum esforço? Deseja aprender tudo isso enquanto dorme? Milhões de dólares são gastos pelos consumidores todos os

«mos n«is famosas fitas do áudio subliminares que prometem influenciar miraculosamente suas motivações inconscientes (enquanto você dorme ou assisto à tele­ visão). Essas técnicas funcionam? Existe a possibilidade de elas terem alguma validade científica?

Essas técnicas de percepção subliminar podem parecer plausíveis e convencer pessoas que conhecem m uito pouco a teoria freudiana. As pessoas, em grande parte, acreditam que as coisas continuam ocorrendo na mente delas sem que haja o conhecimento cons­ ciente, de forma que parece sensato tentar m udar essas forças inconscientes. Essas fitas subliminares seriam a solução para isso?

Gustav Fechner. criador da psicofísica, acreditava que o sistema perceptivo humano era constituído de tal maneira que estímulos muito sutis podiam, na verdade, ser percebi­ dos e processados sem o conhecimento consciente de todos os estímulos até mesmo já ocorridos — isto é, essa percepção s u b lim in a r podia e de fato ocorria. Pesquisas subse­ quentes confirmam que às vezes não temos conhecimento consciente dos estímulos que a despeito disso estão sendo processados por algumas partes do nosso cérebro (Reder & Gordon, 1997). Porém, esse fenômeno é muito diferente do que os vendedores ambulan­ tes de fitas de aprendizagem subliminar gostariam que acreditássemos.

Há duas imperfeições sérias na técnica de aprendizagem subliminar. A primeira e mais problemática é muitas das fitas conterem mensagens que simplesmente não podem ser percebidas pelos humanos. Essas mensagens são m uito sussurrantes ou muito rápi­ das ou então imperceptíveis. Alguns experimentos indicaram que não é possível distin­ guir essas mensagens de ruídos de íundo. Na realidade, algumas dessas fitas dispendiosas contêm apenas ruídos de fundo! Se as mensagens não conseguirem alcançar o cérebro, certamente não conseguirão exercer nenhuma influência sobre nós (M oore fr Merikle,

1991).

A segunda falha da aprendizagem subliminar é a força ou o poder dessa influência. Suponhamos que algumas dessas mensagens sejam de fato ouvidas. Por exemplo, digamos que uma fita de áudio fosse audível c ao longo do dia reproduzisse brandamente o lembre­ te: "Você vai perseverar em seu regime. Você vai perseverar em seu regime*. A maioria das pessoas que fazem dieta para perder peso reahncntc está tentando, antes de mais nada. perseverar em seu intento, mas acha isso m uito difícil de cumprir. Por que uma fita de áudio entediante podei ia conseguir isso, quando várias outras fontes de motivação mais poderosas (como a opinião de um namorado ou namorada) não conseguem? Em resumo, a fita de áudio não funcionará.

Além disso, as pessoas às vezes ficam preocupadas com a possibilidade de os a n un ­ ciantes as estarem influenciando por meio de mensagens subconscientes incorporadas nos filmes, nos programas de T V ou nos discos. Um maquiavélico produtor de cinema poderia convencê-lo a votar no candidato dele a presidente inserindo cm seu filme um fotograma com o candidato sorrindo? Enfatizamos uma vez mais que. se não for percep­ tível, não será eficaz. E. se for perceptível, sua influencia provavelmente será mínima. Ironicamente, as pessoas se preocupam menos com a interdição de anúncios explícitos e intencionais que de fato as estão influenciando! Elas, além disso, preocupam-se menos com filmes ou documentários de T V dramatizados {docudramas) que distorcem a história intencionalmente a fim de m anipular o público. Na verdade, essas são as ameaças mais perigosas.

Observe que as famosas fitas de áudio subliminares vão diferentes de outros tipos de influência sutil. Por exemplo, um anúncio do jeans Calvin Klein enquanto líamos o jornal

da manhã; a TV. na sala ao lado, transmitindo um comercial da Calvin, c um outdoor com um anúncio da Calvin Klein a caminho da escola. Talvez, conscientemente, não prestemos atenção a esses anúncios. Se alguém nos perguntasse se vimos determinado anúncio da Calvin Klein, provavelmente diríamos: 'N ã o que cu me lembre". Mas esses anúncios po­ dem ter de (ato exercido uma influência cumulativa em nós. Observe, contudo, que esse tipo de influência sutil está longe de ser subliminar. ( ) anúncio, o comercial, o outdoor sem dúvida existem para possivelmente chamar nossa atenção.

A percepção subliminar deve ser diferenciada dos fenômenos que chamam a aten­ ção. Já está mais do que comprovado que nossa consciência é influenciada pelas coisas a que dirigimos a atenção tanto interna quanto externamente. Por exemplo, as pessoas que sofrem de distúrbios de ansiedade na maioria das vezes prestam demasiada atenção às sensações corpóreas (como dores ou espasmos), tentando identificar sinais de que es­ tão doentes. Daí, elas sentem uma dor ainda maior. Além disse», essas pessoas ansiosas podem ficar procurando obstinadamente ameaças no ambiente externo. Um estudo so­ bre esse tema empregou uma tarefa de percepção auditiva (dicótica) em que as pessoas usavam fones de ouvido e tinham de repetir (responder) as palavras ouvidas em um dos ouvidos (Mathews & MacLeod, 1986). No outro ouvido, que não estava em observação, os pesquisadores apresentavam palavras ameaçadoras como 'em ergência'. Descobriu-se que as pessoas com transtornos de ansiedade (que não eram pacientes supervisionados regularmente) tiveram problemas com a tarefa prescrita no momento em que as pala­ vras ameaçadoras foram apresentadas, embora não houvessem relatado que as tivessem ouvido. Observe que, cm casos como esse, os estímulos ameaçadores estão fora do dom í­ nio da consciência porque a atenção da pessoa é desviada para outro lugar, mas os estí­ mulos ameaçadores não são inacessíveis à consciência. Ou seja, se os estímulos desvias­ sem a atenção para o outro ouvido, os participantes sem dúvida ouviriam as palavras ameaçadoras.

No documento Da Teoria Clássica à Pesquisa Moderna (páginas 103-105)