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46 Teorias da personalidade

No documento Da Teoria Clássica à Pesquisa Moderna (páginas 47-49)

O cientista inglês Sir Francis Galton (1822-1911)

concentrou-se na mensurarão das diferenças individuais sob diversas variáveis, usando instrumentos simples.

de observação comportamental. Em seu laboratório antropometrico. Galton reuniu todos os tipos de medida física de pessoas e, em seguida, começou a investigar suas reações em circunstâncias controla­ das (Galton. 1907). Por exemplo, o assobio de Gal­ ton eliciava as reações dos sujeitos da experiência a níveis elevados e os instrumentos mediam seu po­ tencial de compreensão. Ele projrôs o uso de um manómetro escondido embaixo da cadeira na qual as pessoas se sentavam, para medir o grau de “incli­

nação", e usou seu sextante para medir discreta­ mente as dimensões de "generosidade" nas mulheres.

Inteligente como era. Galton também foi sem dúvida influenciado pelas atitudes pre­ valecentes de sua época e de sua classe social; por exemplo, ele falava com certo racismo sobre "o caucasiano mais superior" e o "selvagem mais inferior". No século passado, vários importantes pesquisadores da personalidade foram igualmente vendados pelos preconcei­ tos raciais que penetraram nos respectivos meios intelectuais.

Na moderna investigação sobre a personalidade, a observação comportamental pode ser tão simples quanto enumerar as experiências das pessoas (por exemplo, quantas ve­ zes elas gaguejam, ou se coçam, ou quantos drinques elas tomam). O u. então, pode tor- nar-sc extremamente complexa â medida que os pesquisadores tentarem compreender as interações de um indivíduo com outras pessoas. (O videoteipe pode ser empregado

nesse caso.)

A disponibilidade de bipes eletrônicos permitiu tirar uma amostragem mais conclusi­ va do comportamento. O experimentador determina os intervalos de tempo a serem amostrados e envia uma mensagem eletrônica por meio do bipe. Quando o bipe da pessoa que está participando soa. ela entra em contato com o experimentador, ou faz anotações diárias sobre uma atividade que está ocorrendo naquele momento, ou, talvez, até mesmo processos de reflexão (Stonc, Kcsslcr & llaythomthwaite. 19911. Isso às vezes é chamado de método de avaliação de amostragem de experiências. (É surpreendente a quantidade de estudantes universitários que. inesperada mente, foram pegos tendo devaneios sobre ativi­ dades sexuais.)

O uso da observação comportamental presume que o comportamento presente é um prognosticador confiável e válido do comportamento futuro. Quando uma amostra ade­ quada do comportamento presente é coletada, essa suposição geralmente se comprova verdadeira.

E ntrevistas

Uma forma aparentemente óbvia de obter informações sobre a personalidade de deter­ minada pessoa é conduzir uma entrevista. Uma entrevista clássica na psicologia é a entre­ vista clínica, em que o cliente (paciente) fala sobre partes importantes ou problemáticas de sua vida. Na psicanálise, esse paciente, na maioria das vezes, dcita-sc de fato em u m divã.

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A validade dc uma entrevista de avaliação é difícil de averiguar. Certamente, há vá­ rias razões por que algumas pessoas talvez não queiram ou não possam falar sobre seus pensamentos, sentimentos e motivações mais profundos. Uma forma de apreciar a valida­ de da entrevista clínica é observar os resultados da terapia. Presumivelmente, uma entre­ vista diagnóstica que resulte em um tratamento claramente eficaz tende a estar mais cor­ reta do que um diagnóstico que resulte em um tratamento falho. Muitos outros fatores concorrem |>ara esse resultado. Além disso, as entrevistas, com frequência, revelam-se fer­ ramentas de avaliação valiosas.

Nas décadas dc 40 e 50. Alfred Kinscy (Kinsey, Pomeroy & Martin. 1948) usou entre­ vistas para investigar a sexualidade humana. Estabelecendo um sentimento de confiança entre os entrevistados, Kinscy podia eliciar manifestações que aquelas pessoas jamais se comprometeriam a declarar por escrito. Kinsey também sabia como levantar perguntas relevantes e como estabelecer uma sequência de perguntas coerentemente até obter in ­ formações que causassem alguma impressão. As entrevistas talvez sejam extremamente vagas e subjetivas, mas um entrevistador habilidoso pode revelar infonnações surpreen­ dentes não obteníveis por nenhum outro meio. Por exemplo, vários dos participantes de Kinsey em algum momento acabaram falando sobre suas experiências homossexuais, re­ lações sexuais com animais e relações extraconjugais.

Nos últimos anos, as entrevistas de avaliação acabaram se tornando mais sistemáticas e estruturadas. Em vez de seguir os meandros do entrevistado, o entrevistador segue um plano definido. Nesse sentido, espera-se que tipos semelhantes de informação possam ser eliciados de cada entrevistado e a avaliação possa se tornar mais válida. Uma das entrevis­ tas investigadas e mais bem estruturadas é aquela que costuma avaliar o padrão de com­ portamento Tipo A.

Na década de 50, dois cardiologistas propuseram que determinadas pessoas — carac­ terizadas como tensas e competitivas — são particularmentc propensas a desenvolver doenças coronarianas. Eles chamavam tais pessoas (em sua maioria homens) de "Tipo A*. Hoje já há entrevistas padronizadas que se revelaram muito confiáveis para avaliar a per­ sonalidade Tipo A. A propósito, os mais recentes dados sobre saúde sugerem que as pes­ soas avaliadas como particularmente competitivas e hostis são dc lato mais propensas a desenvolver doenças cardiovasculares, embora as causas relacionadas ainda não sejam co­ nhecidas.

Na entrevista estruturada do Tipo A, o entrevistador laz uma série de perguntas desa­ fiadoras (Chesney & Rosenman, 1985). Várias dessas perguntas dizem respeito a circuns­ tâncias em que há competição com outras pessoas: “O que você faz quando, em uma auto­ estrada, está colado atrás de um motorista lento?' Curiosamente, o Tipo A é diagnosticado com base nas respostas verbais e não-verbais a essas perguntas. Um motorista que respon­ de com irritação e palavras curtas, voz alta e os dentes cerrados — 'E u praguejaria contra essa lesma!' — provavelmente seria considerado um Tipo A . Um dos homens do Tipo A mais característicos que já entrevistamos, ao ser perguntado se jogava para ganhar respon­ deu gritando: 'E u jogo para exterminar!"

Avaliar o padrão Tipo A também traz à tona o problema 'tipo »vrsus traço', um que- bro-cabeça de longa data na teoria da personalidade. A tipologia é um esquema categórico em que as pessoas ou estão em um grupo ou estão em outro. Por exemplo, feminino e masculino são um tipo. Todo m undo, com raras exceções, é uma coisa ou outra. Entretan­ to, o que dizer da masculinidade — ter características psicológicas (como a agressividade), normalmente atribuídas aos homens? Isso não é um tipo, mas um traço, porque as pessoas (tantos os homens quanto as mulheres) podem ser mais ou menos masculinas. As aborda-

gcns sobre traço são m uito mais comuns do que* as abordagens sobre tipo na atual pesquisa sobre a personalidade.

O Tipo A, que surgiu de pesquisas médicas, foi originalmente elaborado tendo em vis­ ta o tipo: você tem ou não essa característica, da mesma forma que você tem ou não tuber­ culose. Alguns defendem que ele. na verdade, deveria continuar sendo um tipo (Strube,

1989) por haver descontinuidades envolvidas. Nos últimos anos, entretanto, o Tipo A tem sido compreendido mais em termos de uma agressiva competitividade e hostilidade — tra­ ço cm que todos podem ser classificados. Observe que nossas técnicas de mensuraçâo têm implicações nas nossas teorias e nossas teorias têm implicações nas nossas técnicas de mensuraçâo.

Em geral, as entrevistas têm a grande desvantagem dc estarem sujeitas à tenden- ciosidade do comportamento do entrevistador. Um entrevistador que espera um cliente (ou um paciente, candidato ou estudante) 'problemático'' pode com frequência induzir o entrevistado a falar livremente sobre o comportamento esperado. Além do mais, da mes­

ma maneira que nos questionários de auto-relato o entrevistador pode muito bem recor­ dar informações que o entrevistado conhece e deseja revelar. Contudo, como foi observa­ do, um bom entrevistador pode averiguar dinamicamente fatos e sentimentos que sào difíceis de identificar dc qualquer outro modo.

No documento Da Teoria Clássica à Pesquisa Moderna (páginas 47-49)