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O TAT Quando Sigmund Freud e seus colegas psica­

No documento Da Teoria Clássica à Pesquisa Moderna (páginas 55-57)

nalistas descobriram o inconsciente, enfrentaram um problemático desafio em suas pesquisas. As motivações inconscientes, por definição, não são acessíveis aos processos de reflexão conscientes. Elas estão escondidas. Portanto, é claro que não podemos esperar que uma pessoa esteja apta a nos falar diretamente sobre essas motivações incons­ cientes. Como veremos no Capitulo 5. Freud va­ leu-se em grande parte de investigações sobre a li­ vre associação durante entrevistas terapêuticas e em análises de sonhos. Entretanto, seus discípulos buscaram outros métodos.

Os testes projetivos permitem que uma pes­ soa ‘ projete* suas motivações internas no teste do avaliador. Esses testes, portanto, coletam in­ formações elucidativas sobre pensamentos e sen­ timentos que não estão ao alcance da consciência do examinando. Um dos testes projetivos mais comumente usados é o de percepção temática (Thematic Apperception Test, TAT), desenvolvido por Henry Murray. O avaliador ou clínico instrui o participante a compor uma história sobre uma figura que será mostrada, incluindo um prognós­ tico do que ocorrerá em seguida na história. De­ pois disso, o avaliador apresenta a primeira figu­ ra (por exemplo, a figura de uma jovem agarrada aos ombros dc um jovem», que pode revelar vari­ adas associações psicológicas que correspondem à vida do examinando. 0 TAT, portanto, busca observar como uma pessoa dispõe um estímulo indefinido. Ele é amplamente usado por clínicos de orientação psicodlnâmica como principal fer­ ramenta em questões relativas ã personalidade e motivação interior.

Infelizniente. o TAT há muito tem sido cerca­ do por controvérsias, c essas contendas continu­ am. Há pouco tempo, o psicólogo Scott Lilienfeld e seus colegas reviram cuidadosamente a evidên­ cia dessa pesquisa e levantaram sérias dúvidas sobre a validade do TAT e de testes correlator particularmente no que se refere à maneira como são usados (Lilienfeld, Wood & Garb. 2000). Um

dos problemas é que no TAT estão sendo usados vários sistemas de classificação padronizados e muitos clínicos simplesmente preferem valer-se de suas próprias impressões clínicas. Um segundo problema tem a ver com as discrepâncias entre resultados do TAT e escalas de auto-relato; a dis­ crepância é um problema de validade ou é um resultado esperado da discrepância entre motiva­ ções conscientes e inconscientes? De modo geral, as contendas científicas giram em torno de ques­ tões sobre confiabilidade e validade — ou seja. a classificação de uma pessoa é aproximadamente a mesma quando é testada uma outra vez. em outra ocasião, por examinador diferente? E a classificação da pessoa é associada e confirmada por outros indicadores que predizem determina­ dos resultados? Ainda não há respostas absolutas a essas indagações.

O ponto crucial da controvérsia, na maioria das vezes, reduz-se ao propósito do TAT (Dawes. 1998: Woíke, 2001). Se um cliente em psicotera- pia estiver experimentando um tipo de ansiedade crônica, e se o TAT puder oferecer ao clínico e ao cliente informações elucidativas sobre experiên­ cias ou conflitos que podem estar causando essa ansiedade, o teste terá valor, mesmo se porventu­ ra contiver algum erro. Entretanto, se o propósito for avaliar a adequação de uma pessoa para ser professora ou para testemunhar ent um tribunal contra alguém que foi acusado de abusar de uma criança, qualquer erro que decorra da pouca confiabilidade e validade do teste teria consequên­ cias muito sérias. Além disso, se testes projetivos como o TAT forem administrados a uma grande quantidade de pessoas saudáveis como forma de proceder a um tipo de triagem e forem interpreta­ dos |Kir clínicos que costumam tratar pessoas com problemas mentais, a falta de validade segura pode dar lugar à tendência de 'superpatologizar'. isto é. considerar pessoas saudáveis como pertur­ badas.

Para aqueles que estudam a personalidade, es­ sas questões são também importantes no âmbito

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Capitula 2

m

Cama a personalidade é estudada e avaliada?

prático, na medida cm que é possível deparar com uma controvérsia sobre a avaliação no local de trabalho, no tribunal ou no consultório médico. Com alguma compreensão sobre como as avalia­ ções da personalidade são elaboradas, sobre seus limites e potencialidades, sobre os propósitos pe­ los quais elas são mais bem utilizadas e sobre as teorias em que se baseiam, você poderá fazer uma apreciação mais inteligente sobre se a avaliação é apropriada e perfeita para o contexto específico cm que ela está sendo usada.

L E I T U R A A D I C I O N A L

D awes. R. M . 'S ta n d a rd s lo r Psycothcrapy*. In It. S. F rie d m a n (c d .). Encyclopedia of Mental Health. San Diego. C A : A c a d e m ic Press. 1998. vo l. i . pp. 5 8 9 -5 9 7 .

U lle n fc ld , S. O ., W o o d . J . M . h G a rb . H . N . T h e Scientific Status of Projective Te c h n iq u e s '.

Psychological Science in the Public Interest. /:2 7 -6 6 ,

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W o ike . B . 'W o r k in g w ith Free Response Data: Let's N ot G iv e U p H o p e '. Psychological Inquiry. 12:1 5 7 -1 59, 2001.

Para compreender melhor um indivíduo, precisamos conhecer o ambiente cultural e a identidade cultural da pessoa em questão. Isso é partieularmente verdadeiro se a cultura dessa pessoa não é a que está em voga. Muitas teniativas disparatadas foram empreendi­ das para avaliar a personalidade dos afro-americanos, sem que houvesse algum esforço para compreender a cultura afro-americana. Por exemplo, os Panteras Negras, que surgi­ ram do movimento pelos direilos civis da década de 60, na maioria das vezes foram vistos pela cultura dominante como rebeldes problemáticos c agressivos, embora raras vezes fos­ sem violentos e estivessem intimamente envolvidos cm programas sociais que beneficia­ vam suas comunidades. Da mesma maneira, nos Estados Unidos, os gays (homossexuais e lésbicas) são cada vez mais influenciados pela cultura gay. em particular em grandes cida­ des como San Francisco, Los Angeles e Nova York. O padrão de comportamento incomum (não em voga) de um gay pode erroneamente ser atribuído à sua personalidade, se sua cul­ tura não tiver sido levada em conta.

Essas disposições demográficas c culturais não são psicológicas. Portanto, não se en­ caixam tranquilamente na maioria das teorias sobre a personalidade. Entretanto, os psicó­ logos da personalidade frequentemente negligenciam essas influências sociais. Por exem­ plo, o fato de ter havido tantos comunistas na Rússia na década de 20. tantos hippies na Califórnia na década de 60 e tantos divórcios nos Estados Unidos na década de 70 é mais bem explicado em termos de fatores sociais do que por meio de opiniões segundo as quais esses indivíduos tinham uma personalidade comunista,

ou uma personalidade rebelde, ou ainda uma persona­ lidade propensa ao divórcio.

A cantora e estrela de cinema Jennifer lopez descende de uma família porto-riquenha do Bronx. Além de ser um sucesso como

a mais bem paga atriz latina de todos os tempos. Jennifer já manteve álbuns e compactos nas paradas de sucessos. Sua detenção e prisão após uma pancadaria em uma casa noturna e sua perseguição em alta velocidade peta policia parecem destoar de sua imagem. Será que poderiamos compreender as

contradições na vida de Jennifer Lopez dispondo as

características exclusivas de sua personalidade no contexto do ambiente cultural dos rappers e de Hollywood?

No documento Da Teoria Clássica à Pesquisa Moderna (páginas 55-57)