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62 Teorias da personalidade

No documento Da Teoria Clássica à Pesquisa Moderna (páginas 63-65)

Hm decorrência do mau uso das avaliações, algumas pessoas afirmaram que os lestes deveriam ser declarados ilegais. Essa é uma reação extremista. Isso equivale a dizer que devemos declarar a ciência ilegal porque os avanços científicos foram responsáveis pela criação de armas terríveis. Ou que devemos declarar a cirurgia ilegal porque muitas pes­ soas morreram na mesa de operação. O problema real é que alguns testes de personalidade são inadequadamente elaborados, inapropriadamente usados e erroneamente emprega­ dos. A solução é assegurar que pessoas Instruídas tenham a experiência necessária para compreender o que é válido e quais são as limitações graves dos testes de personalidade.

Esse não c um problema insignificante. As asserções da comunidade psiquiátrica ten­ dem a ser aceitas pelo público leigo e desinformado. Portanto, os estudiosos da personali­ dade tem a responsabilidade de avaliar continuamente a validade e o caráter conclusivo de suas descobertas e as implicações sociais dela decorrentes.

Resumo e conclusão

Os testes de personalidade envolvem confrontos padronizados que instigam e avaliam diferenças individuais reveladoras nas reações. Os testes objetivos têm respostas corretas que são facilmente medidas e definidas, mas podem não compreender os aspectos mais sutis da personalidade. Os testes subjetivos valem-se de interpretações feitas por observa­ dores ou por aqueles que aplicam os testes, mas podem gerar desacordos no que se refere às interpretações. A melhor avaliação conta com vários instrumentos de medida para pin­ tar o retrato de um indivíduo.

Os testes de personalidade devem ser confiáveis. A confiabilidade refere-se à consistên­ cia das classificações; as pessoas devem receber classificações semelhantes no mesmo teste, em diferentes ocasiões porque se presume que a personalidade é relativamente estável. As boas avaliações levam em conta que os padrões básicos permanecem estáveis, mesmo que respostas cotidianas pareçam mudar. (Entretanto, a personalidade pode mudar a longo pra­ zo ou em resposta a acontecimentos traumáticos.) A confiabilidade de consistência interna examina as subpartes de um teste de personalidade. A confiabilidade teste-reieste compara as classificações em diferentes ocasiões, normalmcntc várias semanas depois.

Será que um teste está medindo o que se propôs a medir? O que ele está medindo? Es­ sas são questões de validade. O asj>ecto mais importante da validade é a validade do constructo. Ela é verificada observando se a avaliação prediz comportamentos e reações im ­ plicados (teoricamente) pelo constructo. Será que o constructo está relacionado com o que se presume deva estar relacionado? Se sim, ele tem validade convergente. Contudo, a ava­ liação deve ser distinguível; isto é. não deve estar relacionada com constnictos teoricamente irrelevantes. Isso se chama validação discriminante. A validade de conteúdo refere-se ao teste estar medindo o domínio que se supõe deva ser medido.

Uma das qualidades desejáveis nos itens do teste é que eles possam diferenciar os que estão sendo submetidos ao teste. Além disso, os itens devem estar intercorrelacionados (isto é, estar relacionados entre si) porque cada item está medindo algum aspecto do constructo geral. Finalmente, os itens devem produzir uma distribuição vantajosa de for­

ma que o teste possa avaliar grande quantidade de indivíduos.

Os conjuntos de respostas são tendências que não estão relacionadas com a caracterís­ tica da personalidade que está sendo avaliada. As pessoas que têm um conjunto de respos­ tas aquicsccntcs tendem mais do que as outras a concordar com qualquer coisa que você pergunte. Um desafio particularmente difícil é colocado por um conjunto de respostas de

desejabilidade social. Ou seja, várias pessoas tendem a querer passar uma imagem favorá­ vel de si mesmas ou tentar agradar o experimentador ou administrador do teste. C o n ­ quanto todos os testes valham-se até certo ponto de um conjunto de suposições e, portan­ to, devam ser considerados tendenciosos, eles nào sào necessariamente ruins ou inválidos. A o contrário, eles devem ser elaborados, usados e interpretados de maneira apropriada para serem validados.

Um dos tipos mais comuns de tendendosidade em lestes é a étnica. Os testes na mai­ oria das vezes nào levam em conta a cultura ou subeultura da pessoa que está sendo testa­ da, e as teorias e medidas desenvolvidas cm uma cultura são aplicadas inapropriadamente em outra cultura. As crianças hispano-americanas em algumas ocasiões foram vistas como não tendo motivação para a realização quando de fato elas foram criadas para ser mais co­ operativas com seus pares. A psicologia da personalidade estuda com muita frequência amostras de conveniência — pacientes, alunos, vizinhos — e com frequência tenta de ma­ neira sistemática averiguar se as conclusões aplicam-se a outras pessoas, em outros lugares e cm épocas diferentes.

A tendendosidade de género é um tipo prevalecente de tendendosidade. Os testes podem demonstrar que há determinados 'problem as' com as mulheres sem voltar a aten­ ção para o ambiente — marido, discriminação profissional ou falta de oportunidades edu­ cacionais equivalentes.

Um dos maiores triunfos da avaliação da personalidade no século passado foi o desen­ volvimento de vários tipos diferentes de testes válidos. Os testes de personalidade mais co­ muns e fáceis de administrar dependem do auto-relato das pessoas que estão sendo testa­ das; dentre eles estão o M M P I, o IVrsonality Research Form, o Millon e o N EO -P I. Uma técnica de auto-relato mais dinâmica que os questionários é o Q-Sort. em que a pessoa classifica um conjunto de cartas nomeando várias características em montes, em dim en­ sões como ‘’características mínimas* e 'características máximas' de si mesma. Uma vanta­ gem peculiar dessa técnica sào os itens (as características) que estão sendo classificados poderem ser mantidos constantes, enquanto o contexto é alterado.

Várias avaliações importantes da personalidade não se valem de auto-relatos. O uso de classificações de outras pessoas mostra que amigos, familiares c mesmo estranhos po­ dem fazer apreciações válidas da personalidade. As avaliações biológicas modernas da per­ sonalidade baseiam-se na suposição de que a resposta está no sistema nervoso. As atuais e excelentes experiências de avaliação nessa área concentram-se no cérebro, medindo o po­ tencial eliciado por eletroencefalogramas (E E G ). e no metabolismo da glicose (por meio da tomografia de emissão de pósitrons. PET). A observação componamental. como enumerar as experiências ou os comportamentos de uma pessoa, é outra técnica que se mostrou va­ liosa. O experimentador que telefona ou envia mensagem por meio de um bipe a uma pessoa, para que ela faça anotações diárias sobre a atividade que está praticando naquele momento ou sobre processos de reflexão, está empregando o método de avaliação de amostragem de experiências.

A entrevista clássica da psicologia é a entrevista clínica, na qual o cliente fala sobre partes importantes ou problemáticas da própria vida. Nos últimos anos, em geral, as entre­ vistas de avaliação tornaram-se mais sistemáticas ou estruturadas. Em vez de acompanhar os meandros do entrevistado, o entrevistador segue um plano definido. No caso da entre­ vista estruturada Tipo A , a avaliação da personalidade baseia-se em parte nas respostas verbais e em parte nas respostas vocais não-verbais, como a sonoridade e a velocidade da fala. Os indícios não-verbais da forma de expressão são na realidade uma maneira interes­ sante e subutilizada de avaliar a personalidade. Por exemplo, a forma de expressão é uma

No documento Da Teoria Clássica à Pesquisa Moderna (páginas 63-65)