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1 1 – IMPRENSA LITERÁRIA ENTRA EM CENA

O emprego de termos como “científico” e “literário” começam a aparecer na imprensa na década de 30 e se tornam mais freqüentes ao longo do século XIX. Dependendo do contexto em que eram utilizados e das nuanças semânticas, o termo “científico” abarcaria “disciplinas como a matemática, a física, a biologia, a mineralogia, e também a história , a filosofia ou a política” e o termo “literário” referia-se à oratória, à narrativa de ficção e à poesia em geral”. 22

Contudo, embora os acadêmicos fizessem questão de diferenciar os gêneros de publicação, acrescentando ainda as estritamente políticas, de

21

SODRÉ, Nelson Werneck, cita um dado de Moreira de Azevedo que aponta o ano 1832-1833

como o maior grau de exaltação e do número de periódicos na Corte. “Saíram dos prelos, 35 periódicos, dos quais 14 sustentavam o Governo e 21 faziam-lhe guerra aberta, sem medidas, nem tréguas; foi em 1832 que feriam, em 05 de novembro, com um tiro de pistola, a Evaristo Ferreira da Veiga, o redator da Aurora Fluminense”, p. 125; Vide também IPANEMA, Cybele. IPANEMA, Marcelo. Imprensa na regência, observações estatísticas e de opinião pública. Revista do Instituto

Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, v. 307, p. 91-95, abr.jun. 1975; IPANEMA,

Marcelo. A imprensa no segundo reinado. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, v.314, p. 226-258, jan.abr. 1977.

22

GARMES, Hélder. Os ensaios literários (1847-1850) e o periodismo acadêmico em São Paulo de

1833 a 1860. 1993. 328 f. Dissertação de mestrado em Literatura Brasileira. Departamento de

“variedades”, “curiosidade”, “recreio”, “artística” ou mesmo de “humor”, “satírica”23, eram termos, segundo Garmes, “raramente empregados no âmbito acadêmico” . 24

Saliente-se que, num primeiro momento, a diferenciação entre os jornais políticos, literários e científicos poderia estar associada a subterfúgios dos acadêmicos, para criar espaços onde se discutiriam assuntos “sérios”, que os projetaria socialmente, politicamente e profissionalmente, e espaço “não sério”, para entreter aquela vida transitória dos estudantes, efêmera e monótona na cidade São Paulo. A vida do estudante, jornalista e político Pedro Taques de Almeida Alvim,25 é um bom exemplo desta prática.

Portanto, toda esta terminologia deve ser compreendida num sentido mais amplo, dentro do contexto utilizado, atribuindo-lhe outros contornos e significados. Os mesmos autores podem explorar facetas diferentes da narrativa pública.

O período entre 1831-1840 foi considerado de calmaria estudantil, pois houve uma diminuição de alunos matriculados no curso de Direito. Distantes dos conflitos políticos da Regência, os estudantes se voltaram para a literatura romântica e a para a criação de centros e associações culturais e para a produção de periódicos. 26

23

Os termos humor e sátira como subtítulos de periódicos, pelo que foi trabalhado até o momento, só serão empregados a partir de O Coaracy e o Polichinelo, 1876. Nem o Diabo Coxo, que tinha

como subtítulo “jornal domingueiro” e muito menos o Cabrião utilizava estas terminologias no

cabeçalho.

24

GARMES, Hélder, op. cit., p. 4.

25

Pedro Taques de Almeida Alvim. Nasceu em Campinas, em 10 de setembro de 1824 e faleceu em São Paulo em 1º de fevereiro de 1870. Entrou para a Academia de Direito de São Paulo em 1849, estudando com José Martiniano de Alencar, Álvaro de Azevedo e José Bonifácio, o moço. Formou-se em 1853, fundando com Diogo José Vieira de Matos o periódico literário Íris. Dirigiu o

Clarin Saquarema, jornal humorístico que defendia os interesses do partido Conservador.

Ingressou em 1854 na redação do Correio Paulistano. Em 1858, foi redator iconoclástico do O

Azorrague. Fundou e dirigiu em 1865 o Diário de S. Paulo. Escreveu “Cartas de Segismundo”,

onde comentava os acontecimentos cotidianos, sendo publicadas no Diário de S. Paulo. Colaborou também para União dos Círculos (1856), O Talião (1858), O Mosquito (1860), O Ipiranga e no

Jornal do Comercio do Rio de Janeiro, sendo correspondente em São Paulo. Foi delegado de

polícia, promotor público e deputado provincial. MELO, Luis Correia. Dicionário de autores

paulistas. São Paulo: Comissão do IV Centenário da cidade de São Paulo, 1954, pp. 41-42. 26

ROCHA, Maria Aparecida dos Santos. Os rapazes do triângulo: a participação política do

Em 1830, aparece o primeiro jornal acadêmico, o Amigo das Letras, que abordava temas literários. Mas Hélder Garmes afirma que era uma publicação de intenção política e moralizadora. Os textos literários não passavam “de traduções francesas, inglesas e alemãs, além de algumas páginas sobre ficção e teatro”.27 Freitas refere-se a este jornal como “estranho a qualquer um dos grupos partidários das idéias que, então, mais do que em qualquer outra época, fracionava a política nacional, e representava o início do jornalismo acadêmico que extraordinária influência passou a exercer no meio intelectual paulistano.”28

Em 1833, foi publicada a Revista da Sociedade Filomática com colaboradores como Francisco Bernadirno Ribeiro e Justiniano José da Rocha, vinculados a uma associação com o mesmo nome, “a primeira sociedade científica e literária existente em São Paulo“.29 Garner destaca as influências da tradição iluminista dos filomáticos, que tentam resgatar o espírito associativo das antigas academias e forjam um modelo associativo de produção intelectual e literário, a qual servirá de base para o surgimento de outras associações do gênero.

Contudo, nos anos 40 e 50 presenciamos uma efervescência na imprensa literária. Agora, os jornais e associações culturais não são mais ocasionais e, cada vez mais, estão presentes.

Nos anos de 1840, apareceram apenas dois títulos de periódicos literários, acadêmicos. O primeiro foi O Americano (1844), definido como um “jornal político, literário e noticioso”, tendo como redator o então diretor da Faculdade de Direito, Joaquim Ignácio Ramalho, Barão de Ramalho, João da Silva Carrão e Antonio

BAHIA, Renato. O estudante na história nacional. São Paulo: Livraria Progresso Editora 1954, p. 89; POERNER, Artur José. O poder jovem. História da participação política dos estudantes

brasileiros. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979, p.58-59. 27

GARMER, Hélder, op. cit., p. 07

28

FREITAS, Affonso A de, A Imprensa periódica de São Paulo..., op. cit., p. 336.

29

Manuel de Campos Mello. Pouco se sabe sobre este material e seu conteúdo, pois, não encontramos nenhum exemplar para consultar. 30

O segundo e mais importante Ensaios Literários (1847-1850) de circulação mensal, abordando em suas páginas assuntos relacionados a “história, jurisprudência, filosofia, religião, relatos de viagem, críticas literária, poemas, narrativas, crônicas e charadas”, tendo como colaboradores importantes figuras do Romantismo brasileiro: José de Alencar, Álvares de Azevedo, Bernardo Guimarães, José Bonifácio de Andrada e Silva, entre outros. Esta revista estava vinculada a uma associação: “Instituto literário Acadêmico, criado por iniciativa dos primeiranistas da turma de 1846”.31

Contudo, havia muitos colaboradores dos Ensaios Literários, entre eles Álvares de Azevedo, que tinha recém-ingressado na Academia, que também participou da Associação Ensaio Filosófico Paulistano, em 1850, último ano dos Ensaios Literários, o que permite supor, segundo Garmes, que os demais integrantes do Instituto Literário Acadêmico também passaram para a nova associação.32

Para se ter uma idéia da dimensão e importância desse gênero jornalístico, que emerge do meio estudantil, observem o quadro abaixo com o número de associações e periódicos literários, filosóficos e científicos correspondentes.

30

FREITAS, Affonso A de. A Imprensa periódica de São Paulo.... op. cit., p. 409; GARMES, Hélder, op. cit., p. 16.

31

GARMES, Hélder, op. cit., p. 17.

32

ASSOCIAÇÃO DATA FUNDAÇÃO PERIÓDICO DATA