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MAIS PRÊMIOS A CONCURSO

No documento BRÁS CIRO GALLOTTA SÃO PAULO APRENDE A RIR (páginas 123-140)

- Ao venturoso mortal que descobrir a predileção e notar o entusiasmo popular pela atual guerra do Brasil contra o Paraguai: um par de olhos de Lince.

- A quem descobrir o elo que prende as três potências aliadas contra o governo do Paraguai: uma mitra, fabricada na Confederação Argentina.

- A quem descobrir por que meio se introduziu no matadouro público um boi que fora dele falecera de morte natural, sem embargo do que foi esfolado e vendido ao povo: um diploma de vereador limado. 9

Nos últimos dois exemplares, descreve “tipos paulistanos”, o “bicho crônico”:

Pertence à classe dos bípedes; gravata de fofo, lencinho de cambraia a despontar-lhe do bolso frontal do elegante paletó, calça balão, botinas Milliés apertadas como uma luva, perfumado como a rolha de um frasco de frangi pani, - ei-lo que cumpre o fadário, na stoica indiferença dos livros e do estudo. 10

Pelas descrições sugere o típico boêmio estudantil, alheio aos estudos (...) O cadáver era um outro “tipo paulistano” que a revista o definia como:

(...) pesadelo terrível do mísero estudante: é a sombra implacável de Banco, que o acompanha dia e noite, que assenta-lhe a mesa e que não o abandona si quer à cabeceira do leito. Morcego de asas escuras e hediondas, ele suga-lhe todo o sangue enquanto afaga-o com refalsado sorriso e, com algumas palavras técnicas de seu ofício. O cadáver é uma espécie de pólipo social, no dizer

9

Diabo Coxo, S2, nº 06, 1865, p. 06-07.

10

ojeriza): multiplicam-se espantosamente, enquanto que os devedores diminuem-se, minguam-se e desaparecem. 11

É bem provável que se referiam às pessoas que emprestavam dinheiro aos estudantes, também conhecidas como vinagres.

No Diabo Coxo, a narrativa humorística começa a tomar uma forma especifica que poderíamos denominar um jornal domingueiro, de humor e ilustrado, que foi incorporando as múltiplas manifestações desta escrita dispersa pelas páginas dos jornais. Agora no Cabrião, ampliam-se a produção e a sistematização de textos humorísticos em que é possível identificar sinais de percepção e incorporação das primeiras novidades tecnológicas, como o trem e o telégrafo que, apesar de incipientes, se faz notar na produção de textos mais curtos, objetivos e ligeiros.

Entretanto, aliado a isto deve-se levar em conta, também, que por ser um periódico de caricaturas e, por sua vez, lida com o imediatismo, a rapidez, o flagrante, os instantâneos de pessoas e fatos do momento impõem uma escrita em sintonia com a linguagem visual: a caricatura.

Dos diversos tipos de textos produzidos pelo Cabrião, podemos destacar os “editoriais”, que geralmente teciam comentários sobre assuntos de destaque da semana,

São Paulo 02 de dezembro de 1866.

Estamos na época do encerramento geral de todas as cousas. A estrada de ferro está fechada, si et inquantum, ao trânsito público: e é mais fácil um jesuíta entrar no céu depois de morto, ou um camelo passar pelo fundo de uma agulha, do que qualquer cristão ir a Santos em quatro horas, como era usança e cousa facílima, há meses atrás. Também cerrou suas portas o Barracão

11

Dramático de São José, porque a respectiva companhia, caprichoso bando de andorinhas, entendeu (e com muita razão) que devia bater a linda plumagem e ir fazer verão em e um clima menos frio, menos inóspito, e mais apatacado que o nosso. 12

“A gazetilha” era uma seqüência de notícias rápidas e comentadas, cobrando medidas como a diminuição das “patrulhas”,

Patrulhas – Em nome do bem público pede-se, a quem competir,

a diminuição do número de patrulhas noturnas. Nossos assinantes já nem podem andar comodamente à noite, em razão da enfiada de soldados que patrulham as ruas da cidade, obstruindo a passagem das calçadas aos paizanos, e acotovelando-os a cada passo. Neste andar, em pouco tempo o número das patrulhas será superior ao número dos malfeitores, e bem se vê que isto é mau em todos os sentidos. A segurança em demasia incomoda. 13

Ou criticando a forma que a Revista Comercial se referia ao Cabrião,

Reclamação - O redator da Revista Comercial, dando notícia do

aparecimento do Cabrião, qualifica-o de jornalzinho, assim, à maneira de um gigante que mal enxerga o pigmeu que lhe passa por baixo das pernas. É boa! Quem souber do caso há de acreditar que a Revista é maior que o Time, ou que o Cabrião é pequenino como um rótulo de garrafa. Não senhor; a César, o que é de César. Confronte o estimável colega da Revista os dois jornaezinhos, faça um judicioso cotejo entre ambos, e verá que a respeito de tamanho, um não poderá rir-se do outro. 14

12 Cabrião, nº 10, 02/12/1866, p. 74. 13 Cabrião, nº 03, 1866, p. 18. 14 Cabrião, nº 04, 22/10/1866, p. 26.

maneira geral, mas no Cabrião incorpora elementos como a ironia, a sátira, o duplo sentido, as inversões de sentido, como a dos:

Mandamentos do homem de Tretas – 1º Amar o dinheiro sobre

todas as coisas e o próximo como a nós mesmos. 2º Não empregar o seu valor em vão. 3º Guardá-lo nos domingos e festas de guarda. 4º Negá-lo ao pai e à mãe. 5º Não matar pobres. 6º Afetar castidade. 7º Não furtar pouco. 8º Não levantar falsos testemunhos sem lucro. 9º Não desejar o interesse do próximo. 10º Não pensar que há coisas alheias. Estes mandamentos encerram em dois: Amar o dinheiro sobre todas as coisas e o do próximo como a nós mesmos15.

Além de alfinetadas, comunicados, enfim, informações rápidas, quase sempre referentes ao quotidiano urbano, deve-se ressaltar que este formato de linguagem está em sintonia com as transformações da cidade e da imprensa, na busca de novas formas de se comunicar com seus leitores.

As cartas dos leitores, direcionadas aos redatores da revista, são também formas de linguagem presentes na imprensa nesse momento. O Diário de São Paulo (1865), por exemplo, assim como outros grandes jornais, abriam espaço os leitores que geralmente tratavam de assuntos relacionados à cidade. O Cabrião, como periódico humorístico, também introduz esta prática.

Não se sabe ao certo se realmente o leitor escrevia e enviava à redação suas cartas ou se eram os próprios jornalistas que as escreviam, assinadas por nomes fictícios, como Joãozinho Feio, B. No Cabrião, era uma técnica de linguagem utilizada para analisar, ironizar fatos do momento, simular diálogos com o leitor. Ou seja, em sua composição, ela é fictícia, pois sugere um mecanismo criado pelo redator para se proteger. Por outro lado, em termos de

15

conteúdo, os temas abordados, geralmente, estavam vinculados aos fatos do momento ou às outras questões, como as que aparecem nesta carta:

Carta ao Cabrião

Áreas 10 de novembro 1866

(...) Os cascas gritam a bom gritar contra as autoridades liberais, que se lembram de cumprir as ordens do governo, procurando enviar soldados para guerra. Realmente é um crime de leso- patriotismo, querer por força auxiliar o governo, no empenho de salvar a dignidade nacional ultrajada pelo ditador do Paraguai! Acham que o melhor é deixar tudo correr pela água a baixo. Qual Sr. Cabrião esta gente não toma mais caminho. Mande-me si é exato que o Diário [refere-se ao Diário de São Paulo, publicação dos conservadores] está prestes a esticar a canela, porque a ser assim, quero prevenir os amigos para chorarmos a sua morte e mandarmos celebrar pelo nosso vigário, uma missa de Réquiem, para o descanso eterno desse amigo fiel do cascudíssimo.

Roque16

No mesmo exemplar, em uma outra carta de um leitor, o suposto leitor faz críticas à maçonaria por não ajudá-lo a conseguir um emprego, preferindo, assim, se acomodar com a ajuda dos frades:

O pedido

Srs. Redatores:

Declaro que não faço mais parte da maçonaria. Apresentaram-me ontem o recibo e declarei isto mesmo. Tenho sido sempre burlado nos meus intentos de alcançar ali um empreguinho, e, pois entendo que devo especular por outro lado. Já fiz ciente à loja, que, como católico, que sou, não devo pertencer mais a tais sociedades. Não acha que tenho muita razão? Talvez falem a respeito disto; mas não me incomodo. Já me encostei aos frades

16

e depois o céu quando for tempo. Ande eu quente e ria-se a gente.

Seu assinante. Joãozinho Feio

Na verdade, o que está em discussão nesta carta são as richas entre maçonaria, conhecida pelo seu empreguismo, e a igreja, famosa pelo seu assistencialismo. Duas forças poderosas e bastante presentes no Império e particularmente em São Paulo. Agostini, anteriormente, já havia retratado a presença da mesma na direção de um colégio, em caricatura no Diabo Coxo (figura 4.2).

Os folhetins, como forma de linguagem, cada vez mais ocupavam as páginas dos grandes e pequenos jornais da Corte e de São Paulo. O Diabo Coxo já havia experimentado este gênero, ainda que timidamente nos cincos primeiros exemplares da primeira fase, sob o título de Romance de um Estudante17, sem autoria, ambientado, ao que tudo indica, na cidade de São Paulo, tendo como protagonista um estudante. Combinação perfeita e condizente ao Burgo de estudantes.

17

Figura 4.2 – A presença dos maçons na cidade, DC, S1, n. 02, 1864.

No Cabrião, os folhetins ou histórias seriadas estão mais presentes e aparecem em dois momentos. Primeiro na História do Cabrião, nos cinco episódios, publicados quando se relata a trajetória de vida de Ângelo Agostini, contada por ele mesmo18.

Nesta narrativa, assumindo o gênero folhetim, parodiando o estilo em voga, desenvolvido na França por expoentes como Sue e Dumas, Agostini assume um relato da vida do Cabrião, com sugestivas relações com sua biografia. Interessante apontar que muitas das informações sobre o passado familiar e a trajetória da Europa para América do personagem parecem explicar algumas posições de Agostini. No relato, a emergência de um personagem filho de um padre jesuíta e uma freira, propõe relações com seu anti-jesuitismo. Nele também aparecem os primeiros contatos com o crayon: “É curioso o modo porque fiz-me um homem aproveitável, empregando-me em uma oficina de pintura em Paris (...)”.19 Assim como a opção pela América: “A experiência convenceu-me. Deliberei deixar Paris e lancei os olhos para o Novo Mundo. América era então a monomania [novamania] de quase todos os parisienses. Era para mim ainda mais alguma coisa: meu sonho de artista e meu futuro.” 20

É importante frisar que, mesmo sendo uma autobiografia seriada, desconhecida por muitos estudiosos, leva a crer que não passava de um gênero de linguagem a qual Agostini abraçou e encontrou para expressar suas idéias.

Num segundo momento aproveitando-se do seu anti-jesuitismo latente, publica uma outra história seriada – Instruções Secretas da Companhia de

18

Não se sabe ao certo até que ponto se este relato seria verídico ou um mero artifício de linguagem do Cabrião para cativar os leitores.

19

Cabrião, n. 03, 1866, p. 22-23.

20

companhia de Jesus em 17 capítulos relacionados à organização da ordem religiosa, ao ingresso, à formação dos padres, à relação dos mesmos com as autoridades públicas, à condução da fé, entre outros assuntos. A princípio pensava-se que fosse mais uma criação de Agostini e seus redatores. Mas, realmente existem.22

Qual o motivo da publicação de um periódico anti-jesuítico? A razão pode ser justamente o seu anti-jesuitismo, pois, ao publicar estas instruções, Agostini tentava demonstrar a força e o poder político dos mesmos na sociedade brasileira e, particularmente, em São Paulo. Por isso, diversas vezes publicou caricaturas e textos humorísticos acerca dos mesmos. Por trás da evangelização, estaria toda uma proposta de dominação, que Agostini tenta desvendar para os seus leitores.

Ocasionalmente, o Cabrião preenchia suas colunas com “anúncios” cujo conteúdo e a forma de linguagem assemelhavam-se a dos periódicos já mencionados como O Pensador, 1839, e o Diabo Coxo, 1864-1865. Ou seja, transformar um determinado produto, destinado à venda ou a procura, em objeto das piadas, que produziam o riso.

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No gabinete musical da Rua Direita, vende-se café em pó a 320 rs. A libra. As pessoas que bebem este café sentem logo uma doce melodia nas tripas.

21

As instruções secretas da Companhia de Jesus foram publicadas no Cabrião, 1867, n. 15-32, p. 114-249.

22

Foram identificadas duas obras recentes sobre as instruções dos jesuítas. São elas: FRANCO, José Eduardo. VOGEL, Christine. Monita secreta: instruções secretas dos jesuítas. Lisboa: editora Roma, 2002; SOUVESTRE, Charles. Instruções secretas dos jesuítas. São Paulo: Ed. Madras, 2005.

A pessoa que perdeu uma dentadura postiça, pode procurá-la em casa de Pipelet, que a receberá dando os sinais. 23

Os espetáculos teatrais também compunham alguns anúncios de O CABRIÃO e confundia-se de fato com ironias da revista, como podemos observar neste anúncio abaixo:

Espetáculos públicos Teatro São José (ainda que chova)

Domingo 02 de dezembro de 1866

Vai hoje a cena o drama fantástico em 5 atos, original do Sr. Bernardo Macedo:

Às portas fechadas Ou

Edifício às escuras

O drama é curiosíssimo. É representado à surdina, de modo a ser ouvido unicamente pelos anjos e pelos que estiverem na graça do senhor. Os espectadores assistirão ao espetáculo na cama, para sua maior comodidade. (...)24

As críticas irônicas ao Teatro São José sempre foram muito presentes tanto no Diabo Coxo como no Cabrião. Era um dos poucos que existia na cidade e fazia parte da vida cultural da mesma.

Assim, tanto O Diabo Coxo como o Cabrião eram considerados os jornais mais caros do Império, pois publicados em São Paulo, custavam 500 Réis, enquanto os outros jornais custavam em média entre 40 a 335 reis25. Percebe-se que, pelo sucesso que obteve, pela sua irreverência e pela caricatura, aos poucos ele conquistou o público leitor e, ao mesmo tempo, 23 Cabrião, n. 09, 25/11/1866, p. 71. 24 Cabrião, n. 10, 02/12/1866, p. 79. 25

Província. As notícias do Império, as cenas da Guerra do Paraguai, as politicagens, as personalidades públicas da Corte e da Província tornaram-se mais visíveis e foram alvo de freqüentes críticas.

O Diabo Coxo e o Cabrião marcaram o início de uma nova fase da imprensa humorística em São Paulo, a que denominamos de segunda fase, de 1864 até 1876, mais ou menos com a introdução da caricatura litográfica e da abordagem de temas discutidos, muito diferente do período que antecedeu.

Passado nove anos aproximadamente desde o fim da publicação de o Cabrião, foram poucos os periódicos humorísticos ilustrados publicados na cidade São Paulo. Pelas pesquisas realizadas foi possível identificar três títulos: O Fotografo(1875), O Coaracy (1875-1876) e O Polichinelo (1876).

O Fotografo (1875), era um jornal satírico e ilustrado cujo proprietário e editor era o conhecido litógrafo da época, Jules de Martin26. Conforme informações de Freitas, o primeiro número teria saído em 06.09.187527. Mas não foi possível encontrar nenhum exemplar.

Surge, então, neste mesmo ano O Coaracy, 1875-1876, editado por Antonio Elias da Silva e ilustrado pelo litógrafo Eduardo Langlois. Tinha como redatores: Américo Brasiliense, Américo de Campos, Diogo de Mendonça e

26

Jules Victor André Martin, nasceu em Montiers, França em 26/02/1832 e faleceu em São Paulo a 18/09/1906. Era cartofrafo, desenhista, litógrafo e construtor. proprietário da imperial Litografia, localizada na Rua São Bento. Acrescentar mais informações. Dentre as inúmeras atividades que exerceu, montou em 1870 a primeira ofician litofráfica da província, que por ter sido visitada pelo Imperador D. Pedro II passou a denominá-la de “Imperial Litografia”. Em 1872 abriu seu escritório no Largo do Rosário, onde recebia encomendas de impresso litográfico e mantinha depósito dos produtos da olaria do Bom Retiro. Posteriormente transferiu seu escritório para Rua Soa Bento, 37. Cf.: AMARAL, Antônio Barreto. Dicionário de história de

São Paulo. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 1908, p. 299-300.

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Luiz Gama28. Embora Freitas o classifique como um “jornal humorístico e ilustrado”, na verdade, pelo que foi constatado, não foi bem assim. Nos 75 exemplares publicados entre 25/04/1875 a 04/11/1876, apenas uma parte, a partir do N. 37, 01/01/1876 que ele se apresenta com o subtítulo “jornal humorístico” e só posteriormente, a partir de do N. 50, 02/04/1876 que ele agrega o termo “ilustrado” ao subtítulo e assim permanece até o N. 58, 28.05.1876.29

Nestes quase um ano de existência O Coaracy, utilizou diversas formas de narrativas. Algumas já bem utilizadas pela imprensa de uma maneira geral, como crônicas e folhetins relacionados à política local e à cidade, assim como o noticiário com comentários críticos e irônicos.

A narrativa humorística ocupava espaço nas inúmeras seções que, algumas vezes, trocavam de títulos, mas o conteúdo era o mesmo. Explorava-se um gênero de correspondência mesclado à rapidez e à economia de palavras da linguagem telegráfica, com uma boa dose humor, criando telegramas fictícios, como seção “coluna telegramas”

Rio, 27 de maio. As 10hs da manhã

Do M. do Império – ao porteiro do Palácio

Mande quanto antes desinfetar a casa, afim de ficar em condições de receber o novo inquilino, que é homem sisudo, e tem certos escrúpulos de entrar nela no estado em que a conservou, e deixou quem pouco saiu.

28

FREITAS, Afonso, Imprensa periódica de São Paulo, op. cit.p. 544.

29

O jornal se justifica perante o leitor que “convencidos de que não podíamos corresponder as nossas aspirações e ao desejo de nossos leitores com a parte ilustrada do jornal, deixa o

Às 11 hs Do M. do Império – ao porteiro do Palácio

Acho conveniente, depois da desinfecção, mandar Benzer a casa – pelos Valadão e Seipão.Não menos de 17 espíritos malignos que ali habitaram: felizmente depois da retirada d ‘ El Gran Senhor aqueles moradores espalhavam –se pela cidade.

Rio de Janeiro, 27 de maio

Às 04 horas da tarde Do M. do Império – ao porteiro do Palácio

Aprovo sua lembrança.30

A narrativa telegráfica vai se incorpora cada vez mais no jornal, agregando características de anúncios e propagandas como na seção “aviso” com frases solta, curtas, rápidas num tom de alfinetadas sobre a política, os políticos do momento e sobre o cotidiano da cidade.

– Perdeu-se no caminho da secretária do império na Corte à Presidência do Sr. Dr. Sebastião José Pereira nesta cidade, o título de Presidente da Província, remetido pelo correio a esse senhor: gratifica-se bem a quem de notícias certas.

– Espetáculos grátis – há todas as noites de ensaios; com enchentes regulares.

– Nas noites de espetáculos grátis haverá na caixa do teatro saborosíssimas moquecas de pecadinhos.

– Ama de leite – precisa-se para amamentar o Sr... do Diário de 03 do corrente.

– Qual é o pinto, que não pia, e o homem que sempre pia? O Sr. Pinto Homem, Tenente Coronel dos Bugres.31

30

Na seção ”Perguntas e respostas”, O Coaracy, de forma lúdica, convida o leitor a participar de um jogo de adivinhação do qual satiriza personalidades políticas em suas respectivas ocupações na sociedade com perguntas do tipo:

Qual é o negociante mais peixe desta cidade? – É o Rodovalho.

Qual é o mais hábil domador de feras?

– É o Brigadeiro dos índios, porque sabe jungir um carneiro a um ledo (sic), e fazê-los viver em fraterna cordialidade.

Qual a autoridade policial desta cidade menos respeitada pelos ladrões?

– O delegado que é sempre Furtado.

Qual é o Barão mais candaloso (sic) que tem a província? – É o de Três-Rios, que tem mais volume que o Atibaia.32

Este jogo de adivinhação em outros momentos incorpora e adapta a narrativa de anúncios que começam a aparecer com maior freqüente nas páginas dos jornais como os serviços de adivinhação da cartomante Mme Genny. O Coaracy, por sua vez, não perde a oportunidade, comunica a seus leitores que já existem dez pessoas (políticos e seus adversários) na fila de interessados em consultá–la.

Aproveitam à ocasião Atenção

Últimas advinhações Mme Genny Cartomante

O Coaracy está informando que não pequeno número de pessoas pretende ouvi-la sobre questões de alta monta. Referimos algumas consultas, que vão ser feitas.

31

O Coaracy, nº 07, 06/06/1875, p.03

32

O Sr. P. do Valle pedirá a Mme Genny que adivinhe o porquê o Sr. Sebastião fez viagem para o norte da Província.

segunda

Os que tem papéis na Instrução Pública interrogaram o porque o Sr Xico Aurélio retarda despachos e decisões de tudo, que depende do Inspetor daquela repartição.

Terceira

Os que estão amolados com a discussão dentária consultaram quando deixaram o Samuel e o Thomaz de escreve sobre o éter pulverizado, e se aplicado este aos dois polemistas se efetuará uma anestesia que ponha fim à discussão.

No documento BRÁS CIRO GALLOTTA SÃO PAULO APRENDE A RIR (páginas 123-140)