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Encerrando esses primeiros movimentos o vice-rei, em sua primeira prestação de contas enviada ao reino, no mês de setembro, tratou de reafirmar que já estava cumprindo as determinações recebidas, inclusive a de prestar o devido apoio a dom Botelho, que

é o mesmo Senhor [rei] servido ordenar-me dê ao Rdo. Arcebispo desta Diocese,

Subdelegado do Eminentíssimo Cardeal Saldanha, todo o favor, e auxílio civil e military [...] [E afirmou que] era por bem servido o mesmo Senhor declarar-me que nesta Relação se não deve tomar conhecimento algum de quaisquer recursos que se interponham do dito subdelegado, porque todo se reserva a [Sua Majestade] para sua Real pessoa ‘divolutivamente’ [sic] e sem suspensão dos procedimentos do mesmo subdelegado [...]150.

O conselheiro Coutinho, que estivera presente em todas as reuniões, também enviou, na mesma data, o seu relatório referente às realizações e acrescentou algumas considerações pessoais interessantes. Revelou que ficou impressionado com a demonstração de resignação e obediência por parte dos jesuítas, dizendo “que não é fácil encontrar-se exterioridade mais mansa do que neles se tem observado”151. Ele também fez observações sobre as aldeias, com

base em informações que circulavam na cidade, “notícias de que são limitadas, existência de

149 AHU_CU. Cx. 20, doc. 3676-3679 [Castro e Almeida. CD. 03, p. 18, sp. 01, doc. 0099]. OFÍCIO do Vice-rei

para Sebastião José de Carvalho, Bahia, 19 de setembro de 1758.

150 AHU_CU. Cx 19, doc. 3580 [Castro e Almeida, CD. 02, 17, 02, Doc. 0346]. OFÍCIO do Vice-rei para

Thomé da Corte real acerca do auxílio civil e militar que deveria prestar ao Arcebispo. Bahia, 14 de maio de 1758.

151 AHU_CU. Cx 20, doc. 3673 [Castro e Almeida, CD. 03, 18, 02, Doc. 0089]. CARTA particular do

Conselheiro Antônio Coutinho para Thomé da Corte Real em que lhe participa a sua chegada [...] e informações sobre os trabalhos. Bahia, 19 de setembro de 1758.

poucos índios, e pobres, como preguiçosos”152. Comentou, ainda com base nas informações,

que os missionários jesuítas mantinham os aldeamentos e os índios com os próprios rendimentos dos negócios da Companhia, e seria difícil encontrar clérigos interessados em assumir as vigararias. O conselheiro concluiu a missiva expressando que não desanimaria ante as dificuldades e informações superficiais sobre os índios e as aldeias.

O conselheiro José Mascarenhas, em seu relatório, reportou as atividades que desenvolveram nos primeiros dias de trabalho. Comunicou já haverem estabelecido os dois tribunais, expedidos os editais para o provimento das vigararias e escolhido “pessoas, que vão tirar individual informação de cada uma das Aldeias para se procederem ao estabelecimento das vilas”153. Declarou que as reformas estavam em andamento, sem grandes impasses e

acreditava que, pelo estágio das ações realizadas, deveriam concluir suas atividades com brevidade. Demonstrou sua ansiedade em seguir para o Rio de Janeiro, porém, não, sem antes cumprir o que fora encarregado de realizar na Bahia.

Mascarenhas escreveu outra carta endereçada a Sebastião José de Carvalho154

expressando suas considerações sobre as autoridades da Bahia, no geral, bastante positivas. Quanto ao vice-rei disse que era esperto, tinha boa capacidade de raciocínio, prática e experiência; o arcebispo foi descrito como douto e bem intencionado, porém, pela idade avançada seria de “pouca aplicação”; o vigário-geral, com quem conversava mais, lhe pareceu ser um “homem capaz e de probidade, ele é quem trabalha”155, por ser o arcebispo um idoso.

Relatou que em uma das conversas, o vigário-geral contou-lhe que, ao intimar os jesuítas, havia sugerido a eles que poderiam requerer “qualquer coisa à S. Exª., e tudo que lhes parecesse justo seria atendido”156. O provincial, no entanto, respondeu “com a costumada

manha” de que nada iriam requerer, e que desejavam obedecer com a maior humildade ao que forem intimados e a vontade do rei.

Comentou ainda sobre as notícias que envolviam os índios. O que circulava na cidade era de que os índios eram “pobrinhos, e totalmente inertes, que não tem a cultura, nem a

152 Ibidem, doc. 3673.

153 AHU_CU. Cx 20, doc. 3685 [Castro e Almeida, CD. 03,18, 01, doc. 0115]. OFICIO do conselheiro

Mascarenhas para Thomé da Corte Real em que participa a sua chegada a Bahia, 1758.

154 AHU_CU. Cx 20, doc. 3686-87 [Castro e Almeida, CD. 03, 18, 01, doc. 0119:0121]. CARTA particular do

Conselheiro José Mascarenhas (para Sebastião José de Carvalho), em que lhe dá certas informações. Bahia, 20 de setembro de 1758. (Tem anexo o Ofício, doc. 3685). KANTOR, 2004, p. 116.

155 Ibidem, doc. 3686-87. 156 Ibidem, doc. 3686-87.

agilidade dos do Maranhão”157. O arcebispo havia comentado com ele que seria muito difícil

encontrar clérigos dispostos a irem para as aldeias, fosse devido a sua pobreza ou por serem distantes e solitárias. No entanto, Mascarenhas acreditava que tais informações deveriam ser verificadas, pois esses fatos poderiam “ter a sua origem na refinada política dos interessados”158. Então, vangloriou-se de sua proposta, aprovada no Tribunal, de enviarem informantes para obterem a “verdadeira realidade”. Aventou ainda a possibilidade de, caso se confirmassem as notícias sobre a precariedade das aldeias, admitir alguns moradores mais próximos para “misturar” com os índios que deveriam civilizar.

Seu último comentário desvendava um pouco os bastidores das reformas. Ao referir-se à Carta Régia expedida ao vice-rei, em maio, com a ordem de se estabelecerem as vilas igualmente ao praticado no Maranhão. Confessou, no entanto, que “nem algum de nós, nem o vice-rei, tem o menor extrato do que ali [no Maranhão] se praticou”159, ou seja, a comissão

enviada pelo reino não tinha informações suficientes sobre as reformas que deveriam implantar e demonstraram total desconhecimento sobre o Diretório dos Índios.

2.4 TRABALHOS DESENVOLVIDOS NA ESFERA ECLESIÁSTICA PELO TRIBUNAL

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