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Inciso V – Recusa ou omissão de fornecimento de documento.

CAPÍTULO III PREVISÃO LEGAL E SISTEMA PENAL DE PROTEÇÃO À ORDEM JURÍDICA TRIBUTÁRIA.

3. Ordem tributária e proteção penal.

3.1 Tipos penais tributários.

3.1.2 Modalidades específicas de condutas

3.1.2.5 Inciso V – Recusa ou omissão de fornecimento de documento.

O inciso V, do artigo 1º da Lei nº 8.137/90 prevê mais três modalidades de supressão ou redução tributos e que estão dentre as mais habituais entre os comerciantes brasileiros.

As condutas caracterizam-se em “negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa à venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação.”

Pela leitura do dispositivo supra, percebe-se que os núcleos verbais do tipo penal, são de negar, que é uma conduta comissiva, ou deixar de fornecer, que seria uma conduta omissiva, bem como fornecer documento em desacordo com a legislação, que seria uma conduta comissiva.

Negar “é não admitir a existência de, não conceder, recusar. Consiste na manifestação clara de dissentimento em relação a determinada obrigação, é uma afirmação com sentido negativo.”193 Trata-se da conduta do comerciante, v.g., que se recusa a fornecer o ticket ou cupom fiscal ao cliente que realiza uma compra em seu estabelecimento comercial.

Aspecto importante desta conduta, é que, para ela se caracterizar, é necessário que a recusa em fornecer o documento fiscal seja expressa após a sua solicitação.

Já a conduta de deixar de fornecer, “equivale a não entregar, abster-se de dar alguma coisa a alguém, ao contrário da modalidade anterior, evidencia uma conduta

193

omissiva.”194 É caso, por exemplo, do agente que, após a realização da venda, e

aproveitando-se da inércia do comprador, não emite a nota fiscal.

Um aspecto controvertido que engloba esta duas condutas típicas, é a prisão em flagrante do agente que se recusa expressamente a fornecer nota fiscal ou daquele se omite a fornecê-la, na medida em que, rotineiramente nos deparamos com tais comportamentos nos estabelecimentos comerciais.

Claudio Costa afirma que se o agente “emite a nota, mas não a entrega ao consumidor ou se não a emite, mas lança a venda da mercadoria ou serviço em sua escrituração contábil e recolhe os tributos respectivos, não há crime, pois contabilmente o imposto foi lançado, o que exclui o dolo (...). Esse raciocínio também se aplica, in totum, à conduta do contribuinte que se nega a fornecer a nota fiscal. Se se nega a fornecer o documento, mas escritura a venda e recolhe os impostos incidentes sobre a operação mercantil, ainda que passível de sanções de ordem administrativa, não há crime por ausência do dolo de supressão ou redução de tributo e por ausência da realização desse resultado.”195

O entendimento em questão está baseado no fato de que não houve lesão ao Erário Público, tendo em vista que o seu objetivo final foi alcançado, qual seja, o efetivo recolhimento do tributo gerado pela transação comercial.

Para Alécio Adão Lovatto, “o legislador, em razão do teor do inciso II, poderia ter dispensado a existência do inciso V. Poderia ele ter criado um crime formal, separado do artigo 1º, caracterizado pela conduta descrita no inciso.196

194 PRADO. Luiz Regis, Direito Penal Econômico, p. 278. 195 COSTA. Claudio, op. cit., p. 91.

196

Esta ideia permitiria a prisão em flagrante do agente que se recusa a fornecer a nota ou documento fiscal, pois os crimes formais restam consumados no momento da sua prática.

Outro aspecto que corrobora a desnecessidade de prisão em flagrante nas hipóteses previstas no inciso V, está no fato de que se trata de crime material, ou seja, para que ocorra a sua consumação, é necessária “a efetiva supressão ou redução do tributo (...) o que se dá no momento da expiração do prazo para o seu recolhimento, sem que o mesmo tenha se efetivado”197(grifo nosso), sendo que não haveria crime no momento em que o agente deixasse de fornecer a nota fiscal ou documento equivalente, pois a consumação do delito somente ocorreria quando expirasse o prazo para o recolhimento do tributo, o que logicamente, não seria no ato da prática das condutas previstas no inciso V, do artigo 1º.

Assim, diante todo o exposto, conclui-se que a prisão em flagrante decorrente da não emissão de nota fiscal, seja ela em virtude da recusa expressa ou da omissão em fornecê-la, é totalmente descabida e prematura na medida em que o crime ainda não ocorreu.

Por último, há ainda a conduta de fornecer em desacordo com a legislação, onde “opera-se a entrega, contudo, ela está em discordância com o previsto legalmente.”198 Isso pode ocorrer quando o documento fiscal é emitido fora dos padrões determinados na legislação tributária,.por exemplo, quando há a entrega de uma nota fiscal ao cliente, sem que a mercadoria adquirida por este lhe seja efetivamente entregue.

É importante ressaltar novamente, que a obrigação de recolher o tributo surge somente com a ocorrência do fato gerador, ou seja, com a efetiva da mercadoria, o que concretiza a operação de venda desta. Logo, se o bem ainda não foi entregue ao destinatário, a respectiva nota fiscal deve permanecer no estabelecimento

197 DELMANTO, Leis Penais Especiais Comentadas, p. 245. 198

comercial, e posteriormente, acompanhar o produto quando for entregue ao seu comprador.

Em sentido inverso, não há que se falar em crime, quando a operação mercantil ou a prestação de serviço é cancelada, pois a lei fala em “venda de mercadoria ou prestação de serviço, “efetivamente realizada.”

No mais, destaca-se novamente a necessidade de ocorrência da efetiva supressão ou redução de tributo, para que as condutas previstas no inciso V sejam consideradas delitos tributários.

Além disso, o presente dispositivo, assim como no inciso II, traz a hipótese de norma penal em branco, “uma vez que a subsunção típica depende do recurso às normas tributárias, em que estão consignadas as situações em que são obrigatórias a emissão ou fornecimento da nota e quais documentos a ela equivalentes.”199