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A incorporação provisória do CAQi no texto do novo Plano Nacional de Educação

5. Definindo novos caminhos de financiamento da educação básica

5.1. A construção de um padrão de qualidade como referência

5.1.6. A incorporação provisória do CAQi no texto do novo Plano Nacional de Educação

No dia 20 de dezembro de 2010, quando faltavam onze dias para encerrar a vigência do Plano Nacional da Educação aprovado em 2001, o governo federal enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 8035, que criava o próximo PNE para o decênio 2011-2020.

Não faz parte do escopo desta pesquisa uma apreciação mais profunda sobre o conteúdo da proposta inicial de Plano Nacional de Educação e sobre a tortuosa tramitação do

mesmo. Para o debate aqui travado interessa destacar que o texto original trouxe uma estratégia versando sobre o Custo Aluno-Qualidade. A estratégia 20.5 estabelecia a necessidade de “definir o custo aluno-qualidade da educação básica à luz da ampliação do investimento público em educação”, ou seja, mesmo sem estabelecer prazo, reconhecia no conceito de CAQ a possibilidade de materializar o padrão mínimo de qualidade e que para tanto seriam necessários mais recursos públicos para a educação.

Na sua primeira fase de tramitação na Câmara dos Deputados o PL nº 8035/2010 recebeu 3000 emendas ao seu texto, sendo que destas 118 versavam sobre o custo aluno- qualidade.

Em junho de 2012 foi aprovado na Comissão Especial da Câmara um texto substitutivo e o mesmo, depois de enviado ao Senado, passou a tramitar com a nomenclatura de Projeto de Lei da Câmara nº 103/2012. No referido texto foram incorporadas quatro estratégias acerca do padrão mínimo de qualidade e uma sobre a necessidade de regulamentação do regime de colaboração.

20.6) no prazo de 2 (dois) anos da vigência deste PNE, será implantado o Custo Aluno-Qualidade Inicial - CAQi, referenciado no conjunto de padrões mínimos estabelecidos na legislação educacional e cujo financiamento será calculado com base nos respectivos insumos indispensáveis ao processo de ensino-aprendizagem e será progressivamente reajustado até a implementação plena do Custo Aluno Qualidade - CAQ;

20.7) implementar o Custo Aluno Qualidade - CAQ como parâmetro para o financiamento da educação de todas etapas e modalidades da educação básica, a partir do cálculo e do acompanhamento regular dos indicadores de gastos educacionais com investimentos em qualificação e remuneração do pessoal docente e dos demais profissionais da educação pública, em aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino e em aquisição de material didático- escolar, alimentação e transporte escolar;

20.8) O CAQ será definido no prazo de 3 (três) anos e será continuamente ajustado, com base em metodologia formulada pelo Ministério da Educação - MEC, e acompanhado pelo Fórum Nacional de Educação - FNE, pelo Conselho Nacional de Educação - CNE e pelas Comissões de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados e de Educação, Cultura e Esportes do Senado Federal;

20.9) regulamentar o parágrafo único do art. 23 e o art. 211 da Constituição Federal, no prazo de 2 (dois) anos, por lei complementar, de forma a estabelecer as normas de cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, em matéria educacional, e a articulação do sistema nacional de educação em regime de colaboração, com equilíbrio na repartição das responsabilidades e dos recursos e efetivo cumprimento das funções redistributiva e supletiva da União no combate às desigualdades educacionais regionais, com especial atenção às Regiões Norte e Nordeste do País;

20.10) caberá à União, na forma da lei, a complementação de recursos financeiros a todos os Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que não conseguirem atingir o valor do CAQi e, posteriormente, do CAQ.

De forma sintética, o texto aprovado pela Câmara dos Deputados incorporou o conceito de CAQ e CAQi como parte importante do financiamento da educação básica. Na estratégia 20.6 é dado um prazo de dois anos, após a entrada em vigor do PNE, para a implantação do CAQi, o qual será referenciado no conjunto de padrões mínimos estabelecidos na legislação educacional. Esta estratégia tem forte vinculação com a estratégia 20.10, pois a mesma estabelece que caberá à União, na forma de lei específica, garantir a complementação de recursos financeiros a todos os Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que não conseguirem atingir o valor do CAQi, em um primeiro momento e, do CAQ, em um segundo momento.

As estratégias 20.7 e 20.8 versam sobre os parâmetros, os prazos e os responsáveis pela construção do CAQ. Em um prazo de três anos o seu formato deveria estar definido, sendo que tal esforço de formulação caberia ao Ministério da Educação (MEC), mas deveria ser acompanhado pelo Fórum Nacional de Educação (FNE)30, pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e pelas Comissões de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados e de Educação, Cultura e Esportes do Senado Federal.

Ainda na estratégia 20.7 são enumerados os insumos que deverão ser considerados na construção do referido custo: a) qualificação e remuneração do pessoal docente e dos demais profissionais da educação pública; b) aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino; e c) aquisição de material didático-escolar, alimentação e transporte escolar. Note-se que há nesta redação uma ampliação do escopo anteriormente utilizado pela Campanha, pois são listados os quesitos aquisição e construção de equipamentos, ambos ausentes da primeira definição de CAQ (ver CARREIRA e PINTO, 2007).

Por fim, mesmo que não tratando diretamente do padrão mínimo de qualidade, o PLC nº 103/2012 trouxe a redação da Estratégia 20.9, que representa mais uma tentativa de dar prazos para a regulamentação do parágrafo único do art. 23 e do art. 211 da Constituição Federal. Desta feita é estabelecido um prazo de dois anos e são enunciados alguns pressupostos

30 É composto por 35 entidades representantes da sociedade civil e do poder público. De caráter permanente, O Fórum Nacional de Educação foi instituído pela Portaria MEC n.º 1.407, de 14 de dezembro de 2010 e teve sua composição ampliada pela Portaria nº. 502, de 09 de maio de 2012. O PLC nº 103/2012 pretende incorporar a sua existência no corpo do futuro plano e designar a este colegiado a tarefa de acompanhar a execução do PNE e o cumprimento de suas metas.

importantes, especialmente a necessidade de ser previsto um equilíbrio na repartição das responsabilidades e dos recursos e efetivo cumprimento das funções redistributiva e supletiva da União, tudo isso para tornar efetivo o combate às desigualdades educacionais regionais, com especial atenção às Regiões Norte e Nordeste do País.

Mesmo que a Estratégia 20.9 não cite textualmente o CAQi, é óbvio que sua redação expressa uma expectativa de que a definição e implementação de um padrão mínimo de qualidade, com decisiva participação da União na redistribuição de recursos, favoreça a diminuição das desigualdades territoriais existentes, especialmente diminuindo a distância entre as duas regiões citadas para as demais.

A consolidação do CAQi como instrumento aceito para tornar algo factível o padrão mínimo de qualidade o torna um elemento importante do debate educacional e justifica a sua primazia nas simulações desenvolvidas por esta pesquisa. É necessário mensurar os seus impactos financeiros, suas incidências na diminuição das desigualdades territoriais e a dimensão do esforço que o país precisaria fazer para torna-lo uma realidade.