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Apêndice 3 – Extensão do modelo atualizado, com a inclusão de indicadores

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.4 Indicadores Educacionais

5.4.2 Indicador de Adequação da Formação Docente (AFD)

De acordo com a Nota Técnica Nº 020/2014 do INEP (BRASIL, 2014f), o indicador de formação docente (IFD) é ―indicador da adequação da formação inicial dos docentes das

escolas de educação básica brasileira, segundo as orientações legais‖ (BRASIL, 2014f, p.

1). Esse indicador procura correlacionar a formação dos docentes que compõem os corpos docentes das escolas públicas (mensuradas a partir dos dados do Censo Escolar) com o marco oficial que determina os parâmetros de formação docente, estabelecido por diversos dispositivos legais. Os principais marcos legais considerados no documento do INEP (BRASIL, 2014f) são:

1. LDBN (BRASIL, 1996): em seus artigos 62 e 63 estabelece que a formação dos professores da educação básica deve ser feita em nível superior, mediante cursos de licenciatura plena, porém admitindo a formação em nível médio na modalidade normal como a mínima admissível para a Educação Infantil e os primeiros 5 anos do ensino fundamental (Ensino Fundamental I), e lega aos institutos superiores de educação a responsabilidade pela oferta de cursos de formação docente (incluindo-

se a formação normal superior) e de formação pedagógica (voltada a pessoas que possuam diploma de curso superior e pretendam se dedicar ao ensino básico – por exemplo, bacharéis e engenheiros).

2. Decreto nº 3.554/2000 (BRASIL, 2000) que em seu artigo 2º. abre a possibilidade a portadores de diploma superior complementarem sua formação, habilitando-se, desta forma, a atuarem no ensino básico; em seu artigo 3º. parágrafo 2º., determina como meio preferencial de formação de docentes da Educação Infantil e Ensino Fundamental I os cursos normais superiores.

3. Decreto nº 3.276/1999 (BRASIL, 1999), que em seu artigo 3º. parágrafo 4º., estabelece de forma mandatória os cursos de licenciatura como meio de formação para docentes em áreas específicas de conhecimento.

4. Resoluções CNE/CP nº 01 (BRASIL, 2002) e 02/2002 (BRASIL, 2002a), que instituem diretrizes curriculares para a formação superior de docentes do ensino básico em nível nacional, bem como a carga horária necessária para a licenciatura plena.

5. Resolução do Conselho Nacional de Educação/CP nº 01/2006 (BRASIL, 2006), que estabelece os parâmetros para a formação dos docentes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I.

6. Parecer do Conselho Nacional de Educação/CEB nº 02/2008 (BRASIL, 2008), que aponta a possibilidade de duas trajetórias para a formação do docente de educação básica: atuação multidisciplinar (proporcionada pela formação em pedagogia – licenciatura plena, normal superior ou especialização apropriada) ou específica (licenciatura plena em áreas específicas do conhecimento).

7. Outras legislações que versam sobre a formação continuada de docentes, como o inciso II do artigo 63 da LDBN (BRASIL, 1996), Resolução do Conselho Nacional de Educação/CP nº02/1997 (BRASIL, 1997), Parecer do Conselho Nacional de Educação/CP nº08/2008 (11) (BRASIL, 2008a), a Resolução do Conselho Nacional de Educação/CP nº01/2009 (BRASIL, 2009c) e o Decreto nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009 (BRASIL, 2009d).

Para efeito da construção de um índice de adequação de formação docente, a interpretação da Nota Técnica Nº 020/2014 sobre os marcos legais mencionados é a de que o AFD deve avaliar ―são as docências oferecidas pela escola e seu corpo docente aos

(...) ação de ensinar-aprender de sujeitos em relação a objetos de aprendizagem, mediada por práticas didáticas, com vista ao desenvolvimento de habilidades e competências. Nesse sentido, como a forma comum de organização dos conteúdos curriculares está associado às disciplinas científicas, então a docência pode ser qualificada a partir da relação entre a disciplina ministrada e a formação de quem a está lecionando. (BRASIL, 2014f, p. 4)

A Nota Técnica Nº 020/2014, reconhecendo a autonomia das redes de ensino e a relativa liberdade que estas possuem para organizar o currículo do Ensino Básico, pautou-se, no âmbito da construção do AFD, nas grandes áreas que compõem, de forma obrigatória, o currículo da sua base nacional: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e o Ensino Religioso.

A metodologia de construção do AFD envolveu a análise dos dados do Censo Escolar, identificando a formação do docente de cada disciplina ministrada segundo os parâmetros legais citados. Segundo o documento técnico do INEP,

A opção metodológica utilizada registra a situação de cada professor em cada disciplina e turma em que atua. Ou seja, a unidade avaliada é a docência daquela disciplina em uma determinada turma ministrada por um docente específico, o que permite a agregação da informação para diferentes conjuntos, com significados distintos. (BRASIL, 2014f, p. 6)

Como resultado, foram identificados cinco perfis de regência das disciplina, que transcrevemos abaixo:

1. Docentes com formação superior de licenciatura na mesma disciplina que lecionam, ou bacharelado na mesma disciplina com curso de complementação pedagógica concluído.

2. Docentes com formação superior de bacharelado na disciplina correspondente, mas sem licenciatura ou complementação pedagógica.

3. Docentes com licenciatura em área diferente daquela que leciona, ou com bacharelado nas disciplinas da base curricular comum e complementação pedagógica concluída em área diferente daquela que leciona.

4. Docentes com outra formação superior não considerada nas categorias anteriores. 5. Docentes que não possuem curso superior completo. (BRASIL, 2014f, p. 5)

Os dados de AFD nas escolas públicas referentes ao ano 2015 mostram que, na maioria das UFs, a maior concentração de docentes das séries iniciais situa-se principalmente no perfil 1; em relação aos docentes das séries finais, a maior concentração refere-se aos perfis 1, 3 e 5, sendo que este último possui maior concentração nas UFs das regiões Norte e Nordeste.

Uma análise preliminar dos indicadores referentes a 2015, ao nível de unidade escolar, mostra que há correlação positiva e estatisticamente significante entre o IDEB das Séries Finais e a proporção de docentes no perfil 1 do AFD nas escolas da maioria das UFs. E, com a notável exceção do Ceará, nos casos onde há correlação significativa entre o IDEB e o perfil 5 (docentes sem curso superior), essa correlação é negativa.

Tabela 12 - Valores do Coeficiente de Correlação de Spearman entre o IDEB 2015 das Séries Finais e as proporções de docentes em cada perfil do

AFD, em nível de unidade escolar

UF Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3 Perfil 4 Perfil 5 AC 0,187* 0,025 -0,017 -0,031 -0,071 AL -0,019 -0,090 0,054 -0,083 0,018 AM 0,449** 0,059 -0,166** -0,091* -0,384** AP -0,022 0,143 0,154 0,031 -0,156 BA 0,056** 0,045* 0,079** -0,037 -0,083** CE -0,066** -0,076** 0,069** -0,125** 0,049* DF -0,118 0,121 0,144 -0,080 -0,061 ES 0,059 -0,027 -0,028 -0,086* -0,001 GO 0,029 -0,041 -0,004 0,077* -0,053 MA 0,398** 0,098** 0,072** 0,103** -0,339** MG 0,070** -0,070** 0,066** -0,043* -0,144** MS 0,259** -0,032 -0,229** -0,076 -0,074 MT 0,148** -0,033 -0,056 -0,043 -0,046 PA 0,083** 0,110** 0,097** -0,124** -0,005 PB 0,023 0,061 -0,003 -0,016 -0,044 PE 0,093** 0,000 0,084** 0,017 -0,172** PI 0,283** 0,064 -0,126** -0,035 -0,168** PR 0,082** 0,000 -0,057* -0,022 -0,177** RJ 0,021 0,006 0,044 -0,127** -0,092** RN 0,023 -0,036 0,022 0,039 -0,070 RO -0,043 0,099 0,023 -0,015 -0,046 RR 0,271* 0,037 -0,224* 0,140 -0,116 RS 0,074** 0,008 -0,045 -0,041 -0,026 SC 0,142** 0,046 -0,049 0,046 -0,164** SE 0,022 0,033 -0,073 0,032 0,059 SP 0,138** -0,078** -0,095** -0,073** -0,063** TO 0,115* 0,018 -0,056 -0,036 -0,044 **. Correlação significativa (1%, bilateral).

*. Correlação significativa (5%, bilateral). Fonte: Elaboração do autor sobre dados do INEP

Para as séries iniciais do Ensino Fundamental, a mesma análise aponta uma correlação estatisticamente significante e positiva do IDEB das escolas com a sua proporção de docentes no perfil 1 e negativa com a sua proporção de docentes no perfil 5, para a maioria das UFs.

Tabela 13 - Valores do Coeficiente de Correlação de Spearman entre o IDEB 2015 das Séries Iniciais e as proporções de docentes em cada perfil

do AFD, em nível de unidade escolar

UF Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3 Perfil 4 Perfil 5 AC 0,283** 0,025 -0,052 0,051 -0,279** AL 0,121** -0,052 0,148** 0,011 -0,134** AM 0,477** 0,062 0,115** -0,105** -0,493** AP 0,237** -0,069 0,129 0,177* -0,262** BA 0,241** 0,041* 0,023 0,092** -0,253** CE 0,067** -0,017 0,024 -0,093** -0,014 DF 0,009 0,035 0,029 0,105 -0,069 ES -0,003 -0,058 0,056 0,016 -0,087* GO 0,011 -0,008 0,105** -0,034 -0,208** (continua)

Tabela 13 - Valores do Coeficiente de Correlação de Spearman entre o IDEB 2015 das Séries Iniciais e as proporções de docentes em cada perfil

do AFD, em nível de unidade escolar (continuação) UF Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3 Perfil 4 Perfil 5 MA 0,307** 0,045 0,119** 0,089** -0,312** MG 0,067** 0,032 0,073** -0,022 -0,157** MS 0,153** 0,090* -0,077 -0,036 -0,156** MT 0,113** 0,011 -0,043 0,053 -0,144** PA 0,376** 0,101** 0,074** 0,123** -0,358** PB 0,092** 0,036 0,008 0,020 -0,102** PE 0,058* -0,013 0,015 0,013 -0,050* PI 0,404** -0,008 -0,122** 0,001 -0,279** PR 0,017 0,044* 0,170** 0,071** -0,194** RJ 0,339** 0,024 0,029 0,144** -0,340** RN 0,160** 0,035 0,160** 0,095** -0,233** RO 0,385** 0,060 -0,144** 0,001 -0,416** RR 0,497** 0,115 -0,115 0,068 -0,509** RS 0,026 -0,013 0,169** 0,037 -0,172** SC 0,074** 0,176** 0,097** 0,093** -0,234** SE 0,222** 0,008 -0,135** 0,015 -0,168** SP 0,029* -0,012 0,008 0,057** -0,017 TO 0,137** 0,088 0,113* -0,013 -0,205** **. Correlação significativa (1%, bilateral).

*. Correlação significativa (5%, bilateral). Fonte: Elaboração do autor sobre dados do INEP

Segundo esse resultado, o IDEB tende a ser mais elevado em escolas que possuem maior concentração de docentes com formação na mesma disciplina que lecionam, seja como licenciatura, seja como bacharelado com complementação pedagógica.