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Às Necessidades Físicas:

- as figuras parentais tomam cuidado para que o ambiente físico seja seguro; - a casa e a cama da criança é limpa;

- a criança é cuidada quando está doente ou se machucou;

- há oferta de alimentação adequada e nutritiva com quantidade suficiente de líquido; - há uma rotina regular com hora do banho, de dormir, de comer, etc.

Às Necessidades Educativas:

-as figuras parentais sabem sempre onde a criança se encontra;

- as figuras parentais utilizam-se de métodos positivos que encorajam o progresso da criança;

- as figuras parentais oferecem oportunidades para a criança se desenvolver dentro ou fora de casa;

- há o interesse pelo adulto na escolarização e progresso da criança (estes participam de reuniões e atividades escolares;

- os cuidadores encorajam à criança a ir à escola; contam histórias, conversam e fazem atividades junto com a criança; cuidam dos cadernos, livros e materiais escolares da criança;

-comportamentos violentos da criança não são encorajados; etc.

Às Necessidades Psicológicas:

- os adultos com os quais as crianças têm uma relação estável e durável; - apresentam disponibilidade emocional e coerência no plano da educação;

- as figuras tomam cuidado para que as crianças não sejam testemunhas de comportamentos estranhos ou de comportamentos que suscitem o medo;

- a criança não é deixada sozinha se ela não o deseja; criança é sempre consolada quando tem medo ou está aflita;

- as figuras parentais demonstram que gostam da criança;

- as figuras parentais respondem à criança de maneira regular e previsível; - figuras parentais não expõem a criança à crítica, hostilidade, rejeição, etc.

No que se refere à terceira categoria descritiva, que diz respeito à Presença de risco e/ou conseqüências manifestas no desenvolvimento das crianças estudadas, utilizaram-se como parâmetro básico os resultados das avaliações realizadas com os instrumentos - CBCL e o TRF - para a presença de problemas comportamentais, bem como dados de observação e de entrevistas, relativos ao seu funcionamento social, nas interações com outras crianças e com adultos, em diferentes circunstâncias, bem como de seu rendimento escolar (referente às aquisições esperadas em leitura e escrita, especialmente).

Vale frisar que o conceito de risco, ou probabilidade de ocorrência de consequências negativas no desenvolvimento, no futuro, é um parâmetro extremamente difícil de ser definido (Dubowitz,1999) uma vez que se refere a uma possibilidade remota de uma consequência terrível ou apenas de uma consequência mais branda. Uma das formas de se contornar esse problema é fazer uso de pesquisas e de conhecimentos científicos, como também basear-se no próprio julgamento comunitário sob o risco para um determinado comportamento (Lacharité et al., 2006). No presente estudo, o “risco” foi considerado existente, se na avaliação ou julgamento feito pelo entorno social, sobre uma situação, assim o indicava, tendo por base, também, se havia ou não um histórico de situações semelhantes, vividas pela criança, associadas a perigo e/ou desproteção,bem como base na avaliação clínica

da própria pesquisadora, a partir de conhecimentos científicos sobre desenvolvimento infantil e situações de risco, como recomendam autores especializados na área(Dubowitz, 2007).

No que se refere ao conceito de “desenvolvimento”, afirma-se que o termo abrange a evolução e ampliação ótima das potencialidades de cada criança, considerada individualmente. Ele engloba a manutenção e a preservação de sua integridade física e sua segurança (Lacharité et al., 2006).

No que tange à verificação da presença das duas perturbações relacionadas à produção da negligência, também foram estabelecidas duas grandes categorias, correspondentes a cada perturbação da negligência:

(1) Interação Cuidadores/Responsáveis-Criança que foi aferida a partir da observação da frequência e qualidade desta dentro das famílias, como também a partir dos resultados das avaliações do HOME e ISP.

(2) Relação Família e Entorno Social cujos indicadores foram frequência e qualidade de relações sociais das famílias (tamanho da rede social, contato com membros da família extensa e vizinhança, presença ou ausência de conflitos, apoio percebido, etc) que foram extraídos tanto dos dados de observação e instrumentos utilizados (QAS, por exemplo).

2.6. Aspectos Éticos

Para o cumprimento das normas éticas relacionadas à pesquisa envolvendo seres humanos, o projeto foi encaminhado para a apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP, tendo sido aprovado nos termos do Protocolo nº 355/2007.

O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido proposto foi apresentado a cada família convidada a participar da pesquisa, explicitando os objetivos e os procedimentos, de modo a garantir o respeito e a liberdade dos participantes.

Para além desses aspectos formais, destaca-se aqui, o fato de que o contato com famílias em que a problemática dos maus-tratos está presente, e a inserção em seus contextos de vida, para a realização de investigações, impõem inúmeros e inusitados desafios de natureza ética, nem sempre previstos nas legislações pertinentes. Frente a isso, sublinha-se que se buscou trabalhar, o tempo todo, à luz da concepção de que toda e qualquer interferência teria consequências nas dinâmicas familiares e que, por essa razão, a legitimidade das ações do pesquisador devia ser alcançada no interior das próprias famílias,

inclusive para que não houvesse imposição de um sistema de valor sobre outro, de modo a respeitar o background sócio-cultural dos envolvidos. Ademais, considerando o bem-estar infantil como o mais caro valor, anteviu-se a necessidade de nuançar as concepções de sigilo e de privacidade dos envolvidos, na medida em que a possibilidade de ter que compartilhar informações com profissionais da rede de serviços do município, considerando necessidades e riscos vividos pelas crianças, era muito grande. Isso implicou um contínuo e incansável processo de compartilhamento das questões/indagações e percepções com a própria família, buscando, assim, evitar gerar mais sofrimento e problemas para os envolvidos.

3. RESULTADOS

A análise dos dados de cada “caso”/família e do conjunto, por comparação, possibilitou o estabelecimento de três grupos, segundo os critérios estabelecidos na definição de negligência adotada no presente estudo (ou seja, as proposições teóricas). Um primeiro grupo emergiu formado pelas famílias cujas informações coletadas ao longo do acompanhamento preencheram a todos critérios pré-estabelecidos e que, por essa razão, foi nomeado “Negligência Confirmada”. Um segundo grupo foi constituído pelas famílias cujas informações indicaram o não-cumprimento dos critérios relativos à manifestação da negligência, mas que os cumpriam no plano dos mecanismos de produção da problemática, sinalizando, então, que a instalação da negligência estaria em curso. Esse grupo foi nomeado como “Em Risco de Negligência”. Um terceiro e último grupo foi formado, reunindo as famílias cujas informações não cumpriam concomitantemente a todos os critérios estabelecidos. Esse grupo foi chamado de “Negligência Não Confirmada”.

Na presente seção, apresentar-se-ão os resultados de cada grupo.