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Espera-se que neste capítulo inicial, no qual foi revisada a literatura sobre a polícia, sobretudo em termos de seus objetivos e desafios na atualidade, tenha-se evidenciado a necessidade e a importância que tem a informação, sobretudo a chamada informação em movimento, para a organização e o trabalho policiais. Numa tentativa de síntese, pode-se depreender da literatura consultada que estão em jogo na atividade policial diferentes tipos de informação, podendo cumprir diferentes funções: (a) informações que a polícia produz sobre seu próprio trabalho e a partir dele, se traduzindo no SIEG (Sistema de Informação Estatística Georreferenciadas), ou dados estatísticos oficiais, que podem ajudá-la, dependendo da maneira como são interpretadas/utilizadas, a trabalhar mais na base da inteligência e do conhecimento do que na base da força; (b) informações sobre o contexto dos eventos criminosos e sobre os temores e necessidades da população em termos de ordem e segurança pública, que pode levá- la a aproximar-se da comunidade, num processo de co-produção da segurança pública.

É importante observar que existem ainda as informações (perdidas) que não aparecem nesses sistemas estatísticos, representadas por eventos não denunciados e chamadas ou solicitações não atendidas pelo sistema da PM e que, portanto, não geraram um boletim de ocorrência (BO), além daquelas ocorrências nas quais, como foi visto, por diferentes motivos, o policial deixa de fazer o registro formal.

Fica evidenciado que a polícia tem como grande desafio trabalhar com base na inteligência, na informação e no conhecimento e que, para isso, faz-se necessário redefinir seus objetivos e aproximar-se da comunidade. Viu-se que o principal problema, conseqüência negativa dos modelos tradicionais de policiamento, amplamente adotados no Brasil e no mundo, é o afastamento entre a polícia e a comunidade, fato que é visto por diversos autores como um importante estímulo para o aumento de crimes nas ruas. A análise da crise das organizações policiais modernas junta o descrédito e o distanciamento da população como os principais responsáveis pelas mazelas (corrupção e abuso de autoridade, principalmente) e

pela ineficiência policial, as quais para serem superadas pressupõem um efetivo controle externo e uma limitação de poderes. Isto, no entanto, suscita enormes resistências na cultura policial.

A pouca clareza com relação ao papel da organização policial, ocasiona o tratamento negligente de um conjunto de informações importantes, justamente aquelas que só podem ser obtidas e produzidas por um certo tipo de contato e relação com a população, que ultrapassaria os contatos ligados ao mero atendimento de chamadas individuais e ocorrências relacionadas ao código penal. Essas informações, advindas de uma abertura da polícia à comunidade e à um controle externo mais efetivo, estimulariam novos tipos de conhecimento, ligados à manutenção da ordem pública, à compreensão de elementos contextuais que antecedem ou acompanham os eventos criminosos e aos fatos geradores de insegurança.

O policiamento comunitário, visto como uma alternativa interessante para a crise de credibilidade e para a ineficiência policial, implica uma aproximação da organização, através de seus agentes, com a população, para a co-produção da ordem pública.

Capítulo 2

A informação como construção social

Este capítulo visa desenvolver uma reflexão que possibilite o encontro de um modo de abordar a questão da informação na segurança pública a partir das questões levantadas no primeiro capítulo. Apresenta algumas das principais idéias e conceitos referentes à informação como objeto de estudo da CI. A ordem da apresentação está baseada nos três paradigmas epistemológicos propostos por Capurro (2003), para quem a CI nasceu da biblioteconomia e da documentação, em meados do século XX, com o paradigma “físico”, questionado em seguida por um enfoque “cognitivo” que, por fim, é re-questionado por um paradigma “pragmático social”.

Para o autor, duas seriam as raízes da CI: a biblioteconomia e a computação digital. Enquanto a primeira remete-nos às origens da sociedade humana, à tradição, à permanência, numa rede de relações humanas baseada na linguagem, num âmbito hermenêutico aberto, a segunda, mais recente, possui um forte caráter tecnológico e está relacionada ao impacto da computação sobre os processos informacionais.

Em termos epistemológicos, a discussão nuclear é que esses modelos físicos excluem o sujeito cognoscente e referem-se a um receptor de mensagens quase sempre passivo. Em CI, essa limitação evidencia-se, sobretudo, nas práticas de recuperação de informação (RI) e em seus esquemas e modelos de representação do conhecimento. Aos poucos, surgem tentativas de inclusão das dimensões semânticas e pragmáticas, não contempladas anteriormente, já fazendo referência ao processo interpretativo do sujeito cognoscente ou, mais concretamente, do usuário. Além disso, são esses mesmos limites, na medida em que tratam a informação

como “coisa”, independentemente de um sujeito cognoscente, que vão estimular o surgimento de um paradigma oposto.

Brookes, precursor do “paradigma cognitivo”, baseando-se na epistemologia de Popper e seus três mundos - físico, da consciência e dos registros intelectuais - toma esse último como uma espécie de rede que existe somente nos espaços cognitivos ou mentais e chama-os de “informação objetiva”. A partir daí, Belkin desenvolve a “teoria dos estados cognitivos anômalos”, na qual considera que a busca de informação tem origem numa necessidade ou situação problemática. Ingwersen desenvolve a “teoria dos modelos mentais” e Vakkari, por sua vez, estabelece relações entre os estados anômalos e as estratégias de busca de informação.

Capurro (2003) vê Ingwersen e Vakkari numa posição intermediária entre Brookes e o “paradigma social”, que tem como referências Shera, Frohmann, Brier, Hjorland e o próprio Capurro. Para Frohmann, o paradigma cognitivista é essencialmente reducionista, idealista e associal.

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