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Iniciativas do CNPq para dar visibilidade pública ao conhecimento científico

4 O ACESSO ABERTO À INFORMAÇÃO CIENTÍFICA

5.3 Iniciativas do CNPq para dar visibilidade pública ao conhecimento científico

No Brasil, como na maioria das nações em desenvolvimento, a maior parte dos recursos despendidos em ciência e tecnologia tem origem pública e a atividade científica concentra-se essencialmente nas universidades e institutos de pesquisas mantidos pelo Estado. O Estado brasileiro se faz presente em todas as fases de formação do pesquisador. Como estudante recebe subsídios públicos desde o início de sua vida acadêmica até o mais alto grau de sua carreira científica. Enquanto pesquisador, recebe apoio financeiro para suas pesquisas que, por sua vez utiliza da infra-estrutura pública para o desenvolvimento de pesquisas. Concluídas essas pesquisas recebe subsídios públicos para apresentar seus resultados em congressos nacionais e internacionais. Esses eventos geralmente são subsidiados com recursos públicos, seja nos custos de organização e divulgação, seja na concessão de passagens e diárias nacionais e internacionais.

Uma vez submetidos os originais de pesquisa a uma revista científica, o pesquisador geralmente recorre aos cofres públicos para o pagamento de uma taxa de publicação, dependendo da revista na qual ele deseja publicar. Além dessa taxa, o pesquisador geralmente transfere os direitos autorais à editora, que por sua vez, limita a circulação para um grupo

específico de leitores, seja cobrando novas taxas de acesso ou assinaturas anuais, seja impedindo que cópias desse artigo sejam reproduzidas ou disponibilizadas em canais abertos para disseminação do conhecimento. Considerando que nem todos os pesquisadores detêm recursos para aquisição desses periódicos, novamente o Estado assume sua função de patrocinador do acesso às informações que ele mesmo custeara a produzir. Esse ciclo vem se repetindo por mais de três séculos e meio. Será que é esse o modelo mais adequado? Ver capítulo 3 para mais informações.

O CNPq, como um órgão com corpo jurídico constituído e legitimado pela comunidade científica, supostamente adquire status como regulador e balizador (COSTA, 2006) das atividades de pesquisa no Brasil. Nesse sentido, detém legitimação da própria comunidade para implementar políticas que vão de encontro com a “filosofia” do acesso aberto às informações científicas para a sociedade como um todo.

O Conselho Deliberativo (CD) manifestou, em 2005, seu apoio à publicação de resultados de pesquisas por beneficiários do CNPq em veículos de acesso aberto, enfatizando que “é parte essencial da pesquisa científica ao favorecer a disseminação do conhecimento [...]”. Em consonância com a Declaração de Berlin, o CD recomendou políticas claras em relação às publicações de beneficiários da Agência:

1. Encorajamos os beneficiários de projetos e bolsas do CNPq a publicar o seu trabalho segundo os princípios do modelo de acesso livre e a depositar os seus trabalhos em repositórios eletrônicos de acesso público (A publicação de acesso livre é propriedade dos seus autores e não necessariamente das revistas e órgãos de publicação e deve preencher duas condições: a) os autores e detentores do copyright garantem o direito do acesso livre, irrevogável e perpétuo, sem restrições geográficas, a todos os usuários para copiar, usar, distribuir, transmitir, exibir o trabalho em qualquer meio digital para qualquer objetivo responsável desde que seja reconhecida e atribuída a sua autoria; b) uma versão completa do trabalho, assim como todo material suplementar relacionado, em formato eletrônico padrão, deve ser depositada imediatamente após a publicação inicial em pelo menos um repositório eletrônico. Tal repositório deve ser garantido por uma instituição acadêmica, uma sociedade científica ou similar, uma agência governamental ou outra organização reconhecida e garantir o acesso livre, distribuição irrestrita, interoperabilidade e arquivamento de longa duração); 2. Os recursos financeiros recebidos do CNPq poderão ser utilizados para pagamento de custos de publicação no modelo de acesso livre; 3.O CNPq dará apoio prioritário, no seu programa editorial, a revistas nacionais que adotem o modelo de acesso livre, e 4. Reafirmamos que o mérito intrínseco do trabalho deve ser considerado nas avaliações de desempenho pelos comitês do CNPq147.

147

Ata da 133ª Reunião do Conselho Deliberativo (CD) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 29 de setembro de 2005 <http://intranet.cnpq.br/reunioes/cd-reunioes05/133.htm>. Acesso em: 25 maio 2007.

Essas recomendações, de alguma forma, vêm sendo gradual e parcialmente implementadas pelo CNPq ao longo do tempo por meio das seguintes ações:

 organização de oficinas para elaborar estratégias de disseminação mais eficiente da ciência produzida no âmbito do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais – PPG-7148;

apoio a bibliotecas eletrônicas, como a Scientific Electronic Library Online – SciELO, que tem por objetivo: avaliar, armazenar e disponibilizar a produção científica brasileira em bases de dados de acesso aberto ao público em geral;

 apoio à publicação de periódicos científicos nacionais, estimulando a veiculação por meio de canais de acesso aberto e/ou formato híbrido (impresso e eletrônico)149;

 Projeto Livro Eletrônico – o projeto tem por objetivo “disseminar o conhecimento por meio de publicações eletrônicas, estimular a difusão do conhecimento, dar visibilidade ao conhecimento gerado e ampliar o acesso à informação de qualidade com foco em Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I)150. Além dos aspectos legais relacionados à transferência dos direitos autorais e comerciais para o CNPq, o conteúdo da obra é revisado por uma comissão editorial composta por funcionários do CNPq e por especialistas designados pelo presidente da Agência, podendo ser assessorado por consultores ad hoc. Essas obras são disponibilizadas na Plataforma Lattes do CNPq por tempo indeterminado cujo acesso é aberto a toda sociedade. Embora o projeto tenha sido implantado em 2007, apenas 4 obras foram disponibilizadas até o momento (maio/2009). Infere-se que o reduzido número de obras tem por conseqüência as seguintes causas: falta de conscientização dos autores sobre publicações eletrônicas em ambientes de acesso aberto; preferência dos autores por artigos no lugar de livros; rigidez nos critérios de avaliação e de transferência dos direitos autorais para o CNPq; divulgação ineficiente do projeto na comunidade científica e, inexistência de mecanismos indutores de reconhecimento de mérito dos canais abertos nas avaliações de auxílios e bolsas de produtividade à pesquisa científica, tecnológica e de inovação;

148

Trata-se de uma iniciativa do governo e da sociedade brasileira em parceria com os 7 países mais industrializados, que visa à formulação e à implantação de políticas para a conservação dos recursos naturais e o desenvolvimento sustentável da Amazônia Legal e da Mata Atlântica.

149

CNPq – Edital nº 016/2009. Disponível em: <http://www.cnpq.br/editais/ct/2009/016.htm> . Acesso em: 09 out. 2009.

 Repositório de Publicações Científicas, Tecnológicas e de Inovação – este repositório foi aprovado pelo CNPq em 2007151 com vistas à avaliação e à disponibilidade pública da produção científica de qualidade em ambientes digitais por tempo indeterminado. Embora essa iniciativa seja a que mais se aproxima dos reais objetivos do acesso aberto, até o momento (julho/2009) não foi implementada; e

 Acordos institucionais – integração da base Lattes do CNPq com a SciELO, LILACS, SCOPUS, Crossref e base de dados das universidades, permitindo aos usuários, a partir do currículo do pesquisador, acessar um vasto acervo de informações cientificas relacionadas ao pesquisador152.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), agência vinculada ao Ministério da Educação do Brasil, também tem buscado novos modelos para disponibilizar a informação científica à sociedade. O Portal de Periódicos da Capes oferece acesso a textos selecionados em 22.525 publicações periódicas internacionais e nacionais e às mais renomadas publicações de resumos, cobrindo todas as áreas do conhecimento. Inclui também uma seleção de importantes fontes de informação científica e tecnológica de acesso gratuito na Web153. Embora seja um avanço considerável quanto ao acesso à informação, trata-se apenas de um paliativo para a questão orçamentária das bibliotecas universitárias públicas que, cedo ou tarde, defrontar-se-ão com os mesmos problemas orçamentários vividos pelas bibliotecas, considerando o progressivo aumento de novas publicações periódicas e o volume de recursos investidos anualmente na manutenção do Portal de Periódicos da CAPES (R$ 75.512.935,00, em 2008)154. Além disso, o acesso às informações no Portal só é permitido aos membros das instituições associadas.

O Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)155, instituição federal responsável pelo desenvolvimento e a viabilização da comunicação científica e tecnológica no País, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, tem se esforçado no desenvolvimento de vários mecanismos para organizar e permitir o acesso aberto à informação científica no País. Uma de suas políticas está diretamente relacionada aos

151 Resolução Normativa (RN-037/2007) de 26/11/2007, publicada no DOU em 29/11/2007, Seção: 1 página 34. 152

<http://lattes.cnpq.br/conteudo/acordos.htm>. Acesso em 03 nov. 2010.

153

< http://novo.periodicos.capes.gov.br/index.php?option=com_pcollection&controller=Show&view= pcollectionshow&mn=70> Acesso em: 10 mar. 2010.

154 < http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=61736 >. JC e-mail 3704 de 17 fev.2009. Acesso em: 26

fev.2009).

155 Ver manifesto do IBICT pelo acesso aberto à informação cientifica <http://www.ibict.br/noticia.php?page=

princípios do Open Access (Acesso Aberto) no que diz respeito ao desenvolvimento do Portal OASIS.BR156. Este portal de repositórios permite, por meio de uma única interface, pesquisar simultaneamente vários repositórios eletrônicos que utilizam o protocolo OAI-PMH157. A sua estruturação é composta por duas ferramentas de organização e de recuperação da informação, os chamados provedores de dados e de serviços. Aqueles são responsáveis pelo armazenamento da informação de acordo com um padrão comum de exposição de metadados158, enquanto que os “servidores de acesso” são responsáveis pela coleta desses metadados. O Portal OASIS.BR tem a característica de ser um provedor de acesso, coletando, organizando e disponibilizando a informação, enquanto que as instituições que suprem os repositórios com conteúdos científicos são os provedores de dados.

A partir do desenvolvimento do Portal OASIS.BR e do domínio de tecnologias de informação e comunicação, o IBICT em conjunto com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), agência do Ministério da Ciência e Tecnologia, lançou, em 12/12/2008, um edital de incentivo à criação de revistas eletrônicas e de repositórios institucionais, cujas instituições contempladas contaram com um “kit tecnológico” contendo pacotes de software distribuído pelo IBICT para esse fim. O esforço do IBICT neste sentido é evidente, principalmente na busca da conscientização das instituições de ciência e tecnologia em adotar um sistema eletrônico de editoração de revistas científicas e sua acessibilidade pública por meio da Internet.

Com base no background do IBICT, o projeto de Lei 1120/2007159, que trata da política brasileira de informação em ciência e tecnologia em ambientes de acesso aberto, foi submetido à apreciação do Congresso Nacional.