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Modelo de acesso aberto via auto-arquivamento (self-archiving)

4 O ACESSO ABERTO À INFORMAÇÃO CIENTÍFICA

4.3 Os modelos de negócios das editoras científicas

4.3.4 Modelo de acesso aberto via auto-arquivamento (self-archiving)

O modelo acesso aberto via auto-arquivamento foi considerado nesta pesquisa em correspondência à “via verde” (green road) sugerida por Stevan Harnad, no qual os autores dos trabalhos científicos solicitam autorização (sinal verde) aos editores para auto-arquivar cópia de seus trabalhos em ambientes de acesso aberto na Internet, principalmente em repositórios digitais com padrão Open Access Initiative - Protocol for Metadata Harvesting (OAI-PMH)91. Uma lista de revistas com várias formas de permissão para o auto- arquivamento pode ser encontrada na página da SHERPA/RoMEO92.

Embora a maioria dos editores dos sistemas tradicionais por assinatura já permita o auto-arquivamento por parte do autor, apenas 15% destes o tem feito atualmente. Isso se deve a várias razões, dentre as quais Harnad et.al (2008) destacam: o receio quanto ao copyright; a revisão pelos pares e os esforços que os autores imaginam ter com o processo de auto- arquivamento. Adicionalmente, o baixo índice de auto-arquivamento advem também da falta de conscientização dos autores sobre os mecanismos de auto-arquivamento e das vantagens derivadas desse processo, como aponta Swan (2008)93. Esta autora argumenta que os

91

Trata-se de um sistema integrado de rastreamento de publicações metadados em repositórios digitais de acesso aberto.

92 SHERPA/RoMEO <http://www.sherpa.ac.uk/romeo/>. Acesso em 29 jun 2009.

financiadores de pesquisa e instituições baseadas em pesquisa têm função crucial em informar seus pesquisadores e ajudá-los a entender a importância de disponibilizar seus trabalhos em ambientes de acesso aberto e orientá-los a sobrepor as barreiras que interferem nesse processo, principalmente aquelas relacionadas à transferência dos direitos de copyright ao editor, que restringe a liberdade dos autores quanto à sua obra.

Para os dirigentes da Science Commons94, as políticas dos editores geralmente permitem o arquivamento de cópias dos artigos na Internet, porém os termos dessas políticas variam amplamente com respeito ao tempo de liberação, formatos de arquivos e locação de arquivos. Algumas revistas obscurecem suas políticas ou não as publicam para todos. Os pesquisadores ficam relutantes para o auto-arquivamento com receio da represália por parte dos editores das revistas em que publicam e, com isso, temem o risco de perder seus status na carreira científica.

Após análise do comportamento de vários pesquisadores no auto-arquivamento de resultados de pesquisa em três repositórios institucionais com políticas distintas, Sale (2006) concluiu que a política de depósito voluntário é ineficiente para alcançar a mudança de comportamento dos autores. A mudança de comportamento dos autores depende de uma política mandatória, seja governamental, institucional ou de agência de financiamento à pesquisa. Uma vez estabelecida uma política mandatória, o padrão de comportamento muda drasticamente e o depósito ocorre em torno da data de publicação, até mesmo antes quando este já foi aceito para publicação em canais competentes.

Duas pesquisas internacionais, de caráter interdisciplinar, conduzidas pelo Joint Information Systems Committee (JISC)95, mostram que 95% dos autores estariam propensos a cumprirem mandatos de auto-arquivamento. Entretanto, a ausência de incentivo aliado à falta de conscientização dos pesquisadores sobre os benefícios do acesso aberto, fazem com que poucos autores tenham buscado esses caminhos para a disseminação ampla dos resultados de suas pesquisas. Além disso, sugere-se que a política mandatória de auto-arquivamento de cópia de artigos em repositório institucional estimule e ofereça segurança aos pesquisadores para negociar os direitos autorais no momento da publicação de seus artigos.

Considerando que as agências de fomento à pesquisa exercem influência no comportamento dos cientistas, por balizar, monitorar e avaliar a produção do conhecimento científico de seus pesquisadores (COSTA, 2006 p. 47), essas agências devem implementar

94

Ver <http://sciencecommons.org/projects/publishing/background-briefing/>. Acesso em 19 maio 2009.

95 JISC é um comitê encarregado de coordenar temas relacionados à pesquisa e à educação superior no Reino

políticas de indução para orientar e estimular seus pesquisadores a adotarem as novas práticas de publicação e disseminação dos resultados de suas pesquisas em ambientes eletrônicos apropriados de acesso aberto universalmente.

De acordo com os Registros de Políticas de Arquivamento de Material em Repositório de Acesso Aberto (ROARMAP)96, sigla em inglês, existiam em novembro de 2010, 105 mandatos institucionais, 29 departamentais e 46 de agências de financiamento à pesquisa em todo globo.

No Brasil, o Projeto de Lei 1120/2007 que visa instituir uma política nacional de informação em ciência e tecnologia foi arquivado em janeiro de 2011 em função da nova legislatura. Petição pública vem requerendo o desarquivamento para dar continuidade ao seu trâmite no Congresso Nacional.

Com relação aos mandatos registrados no ROARMAP, a maioria das instituições de financiamento à pesquisa requer de seus pesquisadores a publicação dos resultados de suas pesquisas em ambientes eletrônicos de acesso aberto, no máximo, até 6 meses da data da publicação oficial, quando envolver embargo por parte das editoras das revistas em que publicam. Os pesquisadores são aconselhados e encorajados a considerar os benefícios do acesso aberto para seus trabalhos e a negociar os direitos autorais com seus editores para que isso aconteça e/ou escolher revistas de acesso aberto para publicação dos resultados de suas pesquisas. Quando isso não acontece, os pesquisadores são obrigados a justificar no relatório final de seu projeto de pesquisa as razões que os levaram a não obter êxito nessas negociações. Os pesquisadores são também aconselhados ao auto-arquivamento de suas outras publicações junto com os dados que resultaram nessas pesquisas. Algumas instituições de financiamento criaram seus próprios repositórios para abrigar os resultados das pesquisas que financiam e permitem o uso do grant de pesquisa para cobrir custos de publicação em acesso aberto, enquanto outras encorajam o auto-arquivamento em acesso aberto da versão PDF do autor, incluindo as mudanças introduzidas no processo peer-review e os metadados da publicação oficial, seja no próprio repositório da instituição ou nos portais das editoras correspondentes, quando estas exigirem esse comportamento.

Instituições de financiamento à pesquisa, públicas ou privdas, como o Wellcome Trust, no Reino Unido, e o National Institute for Health (NIH), nos Estados Unidos, exigem o depósito imediato dos resultados das pesquisas que financiam no PubMed Central, repositório

96 Registry of Open Access Repository Material Archiving Policies (ROARMAP) Disponível em:

do NIH, e posterior liberação para acesso aberto. O Joint Information Systems Committee (JISC), também no Reino Unido, encoraja seus pesquisadores a buscar outras revistas se o editor da revista em que normalmente publicam não seguir a “via verde” (green road) do Projeto RoMEO, ou seja, não adotar o modelo acesso aberto para disponibilizar seus conteúdos.

De acordo com os registros na base Eprints97, 523 editores comerciais já permitem o auto-arquivamento (self-archiving) como mostra o Gráfico 6, o que equivale dizer que quase 10 mil revistas arbitradas por pares, controladas por editoras comerciais, já declararam, explicitamente, a permissão para o auto-arquivamento de artigos publicados em suas revistas. Levando-se em consideração a proporção de revistas por editores, observa-se que as pequenas editoras são mais resistentes a esse tipo de permissão, uma vez que apenas 329 editores que permitem o auto-arquivamento, controlam 9.668 dos títulos, ou seja, uma proporção de 29 revistas por editora. Essa proporção cai para 2,7 de títulos por editora no conjunto de editores que ainda não permitem o auto-arquivamento.

Gráfico 7- Número de revistas que permitem auto-arquivamento

Fonte: base Eprints< http://romeo.eprints.org/stats.php>. Acesso em: 06 jul 2009.

A editora Springer Science+Business Media permite o auto-arquivamento sob determinadas condições98, explicitadas como:

97 Eprints <http://romeo.eprints.org/stats.php> . Acesso 29 jun 2009. 98

Para mais informações consulte o seguinte endereço eletrônico: <http://www.springer.com /cda/content/document/cda_downloaddocument/M9551R_NIH_OpenAccess_Flyer.pdf?SGWID=0-0-45- 549098-0>. Acesso em 19 jun 2009. 194 61 268 522 3228 6440

não permite nenhum permite pre-print permite post-print

Um autor pode auto-arquivar sua versão do artigo na sua própria website ou em repositório institucional designado por seus financiadores por solicitação ou como obrigação legal, desde que não a torne disponível publicamente até 12 meses da publicação oficial. Não pode usar a versão PDF do editor a qual está publicada na www.springerlink.com com o propósito de auto-arquivar ou depositar. Além disso, o autor pode apenas depositar sua versão desde que o reconhecimento seja dado à fonte original da publicação e um link seja direcionado para o artigo publicado na website da Springer. O link deverá ser acompanhado do seguinte texto: “A publicação original está disponível em springerlink.com.”99

O auto-arquivamento (self-archiving) está se tornando mais comum e é um movimento internacional na comunicação científica. Alguns financiadores de grant para pesquisa estão constituindo seus próprios repositórios de acesso aberto para requerer de seus pesquisadores o depósito de uma cópia de qualquer publicação resultante das pesquisas que eles financiam (ex. UK PubMed Central100 e UK Research Councils101, no Reino Unido). As políticas de acesso aberto dos financiadores de pesquisa estão disponíveis através do Securing a Hybrid Environment for Research Preservation and Access (SHERPA)102. Um grande número de universidades tem também introduzido políticas deste tipo e uma lista de instituição está disponível no Registry of Open Access Repository Material Archiving Policies (ROARMAP) e no site do Eprints.org (JISC, 2008)103.

Os modelos de negócios para arquivos eletrônicos provavelmente serão promissores para equilibrar os interesses de diferentes partes. Entretanto, deve ser destacado que as instituições públicas são as únicas organizações que estão aptas a garantir a preservação por longo prazo da publicação científica (tal como a de patrimônio cultural) e sua acessibilidade para futuras gerações (DEWATRIPONT, et. al, 2006).