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Modelo de acesso aberto total (full open access journal)

4 O ACESSO ABERTO À INFORMAÇÃO CIENTÍFICA

4.3 Os modelos de negócios das editoras científicas

4.3.3 Modelo de acesso aberto total (full open access journal)

O modelo de negócio para acesso aberto total (full open access journal) segue os princípios estabelecidos pelos movimentos do acesso aberto79 à literatura científica, que não impõe qualquer restrição de acesso ao leitor e lhe concede amplos poderes de uso e reuso do artigo com fins não comerciais. Neste modelo, tanto os autores como os leitores são isentos dos custos do processo de editoração e armazenamento dos conteúdos em ambientes digitais de acesso aberto. Além disso, os autores retêm os direitos autorais.

Na maioria dos casos, as revistas que adotam esse modelo são revistas novas que emergiram no próprio contexto do movimento de acesso aberto, chamadas por Harnad et. al. (2008) de “revistas ouro”, embora alguns autores as denominam de “revistas platina” (HASCHACK, 2007). Um exemplo desse tipo de revista é a Open Medicine80, criada em abril de 2007 com o apoio da University of British Columbia do Canadá, que integra parte dos editores que formam o Canadian Medical Association Journal. A sustentabilidade desse modelo advém de parcerias, doações pontuais e patrocinadores não comerciais que lhe confere independência editorial para livre discussão e circulação de idéias (MELERO; GARCIA, 2008). De acordo com estes autores, em algumas ocasiões esse modelo é o resultado da aplicação de políticas institucionais para impulsionar a difusão e a visibilidade da produção científica. Muitas vezes essas políticas se materializam na criação de portais, como é o caso do portal alemão German Medical Science81 e do portal japonês J-Stage82, este criado

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HighWire Press <http://highwire.stanford.edu/lists/freeart.dtl>. Acesso em 17 jun.2010.

79 Vale destacar que as revistas de acesso aberto são arbitradas pelos pares (peer review) e os artigos podem ser

acessados online por qualquer usuário e sem custo. Em muitos casos essas revistas podem também ser publicadas no formato impresso (JISC, 2008).

80 Open Medicine. <http://www.openmedicine.ca/> 81 German Medical Science. <http://www.egms.de/en/>.

em 1999 pela Japan Science and Technology Agency e que atualmente integra 447 revistas; e o portal SciElo83 no Brasil, estabelecido com o apoio de várias instituições públicas brasileiras, entre elas, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnologiaentre (CNPq) como seu principal patrocinador.

O acesso aberto para autores e leitores pode ser visto também como uma forma de promoção das revistas durante seus primeiros anos. Uma vez transcorrido um determinado tempo de fidelização de uma determinada clientela é mais fácil a transição a outro modelo que lhe permita captação de recursos econômicos. Para a criação de uma revista ou a transformação de uma revista existente em acesso aberto, existem recomendações e softwares livres de gestão em linha dos conteúdos da revista84 que facilita novas iniciativas ou a transformação de um modelo em outro85 (MELERO; GARCIA, 2008).

Atualmente, a maioria das fontes de recursos que apóia esse modelo provém de financiamentos públicos. Por isso a maioria das editoras envolvidas são aquelas sem fins lucrativos. O argumento de peso para a adoção deste modelo é a visibilidade e o aumento do impacto que os trabalhos proporcionam quando disponíveis gratuitamente na Internet. Uma vez que os trabalhos estejam disponíveis online a audiência aumenta de forma expressiva, formando um ciclo vicioso que reflete na reputação e no prestígio da revista e do pesquisador. Uma audiência ampliada implica em maior número de citação  maior fator de impacto  maior reconhecimento  mais prestígio  maior captação de recursos e, assim por diante fechando o ciclo.

Embora este modelo seja o que mais se identifica com os reais princípios dos movimentos do acesso aberto, apenas 15% das revistas existentes86 o adotam, conforme afirma Harnad et. al. (2008). Esse baixo percentual de revistas “ouro” está relacionado à falsa idéia que as revistas de acesso aberto inibem as assinaturas nas versões impressas, quando na realidade, são estimuladoras conforme se mostra a seguir, e na medida em que essas revistas possuem atualmente, pelo menos, três formas para garantir sua sustentabilidade:

82

J-Stage. <http://www.jstage.jst.go.jp/browse/>.

83

SciELO <http://www.scielo.br>.

84 Como por exemplo DPubs <http://dpubs.org>, Open Journal System <http://www.pkp.ubc.ca>, SOPS

<http://www.scix.net/sops.htm>. Sistema Eletrônico e Editoração de Revistas - SEER (IBICT) <http://seer.ibict.br>.

85

Open Access Journal Business Guides <http://www.soros.org/openaccess/oajguides/index.shtml>.

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1ª - revistas que são financiadas diretamente por uma sociedade, uma fundação ou organização de pesquisa, como parte de sua missão (COCKERILL, 2006)87. Esta forma de sustentabilidade da revista livra o leitor e o autor dos custos de publicação;

2ª – revistas que adotam o modelo híbrido, ou seja, versão impressa e eletrônica, em que as taxas de assinaturas das revistas impressas cobrem os custos das eletrônicas. Nesse caso, as revistas eletrônicas funcionam como uma espécie de marketing das revistas impressas para estimular os leitores a adquirir a versão impressa. Como exemplo pode-se citar as mais de cinqüenta revistas biomédicas da editora indiana Medkow Publications88 e várias outras publicadas de sociedades científicas (MELERO; GARCIA, 2008).

3ª - formação de consórcio internacional89 ou global entre bibliotecas, instituições de pesquisa e agências de financiamento à pesquisa em torno de uma rede internacional única de apoio à publicação em acesso aberto. Nesse sistema, os recursos comprometidos com as assinaturas de revistas nas bibliotecas, assim como aqueles destinados ao apoio à publicação científica nas universidades, centros de pesquisa e agências de fomento à pesquisa são canalizados para essa rede, com representação em todos os países, que assumem o papel de avaliador e de negociador junto aos editores científicos sobre os custos inerentes ao sistema de avaliação por pares e ao processo de editoração. Este sistema alivia a carga de publicação sobre os autores e traz benefícios aos diversos atores envolvidos no processo. Este modelo de publicação foi proposto para a área de Física de Partículas – modelo SCOAP³90 (VIGEN, 2007). Esta forma de prover acesso aberto assemelha-se ao modelo Big Deal, sistema tradicional por assinatura de revistas eletrônicas por meio de consórcio entre bibliotecas, do qual o Portal da Capes faz parte. Entretanto, esse modelo torna acessíveis as informações apenas às instituições consorciadas, além da indução (pacote) de revistas de pouco interesse.

De maneira geral, todo processo, seja na forma impressa ou eletrônica, envolve custos associados à publicação tais como: produção da matriz de uma revista, administração de peer- review (revisão por pares), edição de cópias, produção e gerenciamento de arquivos eletrônicos, hospedagem na web, distribuição, etc. Para King e Tenopir (1998), os custos de publicação estão vinculados a dois componentes: aos custos elevados e fixos associados à produção da matriz (composição) de uma revista e aos custos menores para reprodução ou armazenamento e distribuição dos fascículos. Segundo esses autores, a produção da matriz

87 Editor da BioMed Central (BMC).

88 MedKnow publications.<http://www.medknow.com/>. 89

Ver “International Consortium for the Advancement of Academic Publication (ICAAP)” <http://www.icaap.org/>. Acesso em 11 jun.2010.

geralmente envolve 80% dos custos de uma publicação e os recursos tecnológicos pouco contribuem para a redução desses gastos quando comparados ao do sistema impresso. Os custos associados ao processamento de um artigo científico, incluindo todas as atividades de edição que começam com o recebimento de um manuscrito e terminam com a composição e o molde da matriz (processo de recebimento, identificação de revisores/pareceristas, processo de revisão, edição de texto, preparação gráfica, formatação, edição de cópia, aprovação do autor, redação e preparação de matrizes de imagens) são da ordem de US$ 2 mil por artigo ou US$ 165 por página publicada (KING; TENOPIR, 1998).

O diferencial mais importante nos modelos abertos é que os conteúdos de alta qualidade estão amplamente disponíveis e acessíveis a qualquer potencial leitor na Internet, sem nenhum custo para este. Importante destacar, que a organização desses conteúdos em arquivos interoperáveis com padrões internacionais favorece o controle e a busca no momento da recuperação da informação.