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2 TI – Tecnologia da informação

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1.2 Inovação Aberta versus Inovação Fechada

Existem duas maneiras fundamentais de empresas implementarem processos de desenvolvimento de inovação, chamadas genericamente de

inovação fechada e inovação aberta. Esta diferenciação é relevante pois

o modelo visa dar suporte a inovação aberta se assim o grupo de empresas desejar.

No paradigma de inovação fechada as empresas utilizam exclusivamente seus recursos em todas as fases nos modelos de inovação adotados, ou seja, a empresa é responsável por todos os processos desde a criação da ideia, passando pelo desenvolvimento do produto, até o desenvolvimento comercial. Como a pesquisa e criação de ideias dependem muito do capital intelectual que a empresa consegue reter, é essencial que a empresa tenha uma política bem clara de recrutamento e retenção de talentos, e que consiga atrair os melhores talentos do mercado, além da necessidade de investir nos departamentos de P&D4

para se tornar competitiva frente às empresas concorrentes. Segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2008), todo esse esforço de P&D e política de retenção de talentos se traduziria em maior número de inovações que, por sua vez, se reverteriam em prêmios de preço (preço mais alto de seus produtos) obtidos pelo pioneirismo na introdução da inovação no mercado. Outro fator importante da inovação fechada é a proteção da propriedade intelectual para impedir que os concorrentes se apropriem de seu esforço de inovação.

O modelo de inovação fechada começou a perder força enquanto único paradigma quando parte do capital intelectual das empresas migraram para ou criaram novas companhias. Além disso, a globalização dos mercados trouxe novos atores, concorrência mais acirrada e a distribuição do capital intelectual. Isso dificultou as empresas de conseguirem reter os principais talentos e de obter o prêmio de preço pela proteção das inovações (CARVALHO, 2009). Nesse novo ambiente de inovação a proteção da propriedade intelectual é um fator necessário, mas não suficiente para garantir o sucesso.

A inovação aberta surge neste contexto. Nesse modelo deve-se procurar parcerias estratégicas para explorar a inovação de terceiros ou mesmo compor inovações conjuntas, desde que esses arranjos sejam

lucrativos para ambos. Carvalho, Reis e Cavalcante (2011) ressaltam a importância de manter a atenção no fato de que na inovação aberta não se deve visualizar somente o mercado atual, mas a busca de novos mercados e de nichos ainda não atendidos. Isso porque, por mais que uma determinada empresa não tenha capacidade de desenvolver uma ideia sozinha para um mercado em particular, a rede de inovação talvez seja capaz de desenvolvê-la utilizando a composição de ativos e conhecimento do conjunto de empresas. Neste ponto, a inovação aberta e as redes de inovação possuem o grande diferencial de poder compartilhar o capital intelectual das empresas.

Chesbrough (2012) salienta que esse aspecto permite se incorporar a habilidade de desenvolver inovações que no modelo fechado estariam desprezadas, chamadas de “falso negativo”, projetos que parecem inadequados para a empresa, mas que podem ser aproveitados pela rede de inovação. Chesbrough e Teece (1996) comentam que a inovação aberta permite combinar diversas ideias, que aparentemente não são aderentes ao mercado atual, às tecnologias externas, mas são valiosas demais para serem descartadas e podem alavancar seu potencial em novos mercados.

A figura 3 ilustra o modelo de inovação aberta, demonstrando que ideias podem ser geradas no próprio ambiente interno da empresa, mas também geradas fora do seu processo de inovação; ainda, como ideias geradas internamente podem transpassar o ambiente interno da empresa e migrar para parceiros na rede de inovação.

Figura 3 - Modelo de inovação aberta

O quadro 1 destaca as diferenças básicas entre a inovação aberta e a inovação fechada.

É importante ressaltar que isso não quer dizer que a inovação aberta é “melhor” do que a fechada. Cada tipo tem seus propósitos, vantagens e riscos. Por outro lado, a inovação aberta traz uma nova dinâmica nos negócios, apresentando outras possibilidades de arranjos e colaboração para as empresas envolvidas. O fato é que as fronteiras entre inovação aberta e fechada são ligeiramente difusas, sendo possível localizar uma organização em um contínuo, cujos extremos são empresas com inovação completamente fechada e empresas com inovação completamente aberta (CHESBROUGH, 2012). Chesbrough (2012) também comenta que a transição para a inovação aberta não tem ocorrido em todos os setores industriais, pois se trata de um fenômeno localizado inicialmente na indústria de entretenimento e de informática. Outros setores industriais ainda estão em transição de um modelo fechado para o aberto, tais como o de copiadoras, semicondutores, equipamentos de telecomunicação, fármacos e biotecnologia, nas quais a inovação migrou dos laboratórios internos de P&D para múltiplas fontes, como, por exemplo, consórcios de pesquisa com universidades, institutos de pesquisa e outras organizações. Portanto, não se trata de dizer qual tipo de inovação é o “certo”, mas sim qual é o mais adequado para as estratégias das empresas.

Quadro 1 - Princípios da inovação fechada e inovação aberta INOVAÇÃO FECHADA INOVAÇÃO ABERTA Melhores talentos no campo de

atuação da empresa devem ser retidos e mantidos na empresa.

Nem todos os talentos têm que trabalhar na empresa, podendo-se encontra-los e mantê-los fora da empresa.

Para lucrar com P&D deve-se conceber, desenvolver e comercializar.

P&D externo pode criar valor significativo. P&D interno é necessário para reivindicar alguma parcela desse valor gerado. Se descobrir uma inovação, conseguirá

introduzi-la no mercado primeiramente.

Não há necessidade de originar a pesquisa a fim de lucrar com ela.

Se a empresa é a primeira a comercializar uma inovação, a empresa tem vantagem competitiva nesse mercado.

Construir um modelo de negócio melhor é mais vantajoso do que se introduzir no mercado primeiramente.

Se a empresa criar mais /melhores ideias do que seus competidores, a empresa vence no mercado.

Se a empresa fizer melhor uso de ideias externas e internas, a empresa vence no mercado.

A empresa deve controlar a propriedade intelectual de modo que seus concorrentes não lucrem com suas ideias.

A empresa deve lucrar com o uso de sua propriedade intelectual; porém, a empresa deve comprar a propriedade intelectual de outros sempre que gerar vantagem para seu negócio. Fonte: adaptado de Carvalho, Reis e Cavalcante (2011).