• Nenhum resultado encontrado

Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia: uma nova institucionalidade

3.1 O cenário de realização da pesquisa

3.1.1 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia: uma nova institucionalidade

Segundo a Lei 11.892/08, os Institutos Federais (IF) são instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurriculares e multicampi, especializadas na oferta de formação inicial e continuada ou de qualificação profissional; de educação profissional técnica de nível médio; de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação, tendo como base a conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos com as suas práticas pedagógicas, devendo atuar no ensino, na pesquisa e na extensão. Tais Instituições foram estruturadas a partir do potencial instalado nas escolas da Rede Federal (as escolas agrotécnicas, os CEFET e as escolas técnicas vinculadas às universidades) e de acordo com Silva (2009) “geram e fortalecem condições estruturais necessárias ao desenvolvimento educacional e socioeconômico brasileiro” (SILVA, 2009, p.8).

Segundo Silva (2009), as instituições da Rede Federal tiveram origem em grande parte, nas escolas de aprendizes artífices, instituídas em 1909. Essas escolas tinham como objetivo de “prover as classes proletárias de meios que garantissem a sua sobrevivência, isto é, prover os “desfavorecidos da fortuna” (MEC/SETEC, 2008, p. 10). Assim, os objetivos de tais escolas se associavam a qualificação de mão de obra e ao controle social, ficando claro seu atributo como “instrumento de governo no exercício de política de caráter moral- assistencialista” (MEC/SETEC, 2008, p.13). Em 1930, segundo Silva (2009), essas escolas passaram para a supervisão do Ministério da Educação e Saúde Pública, criado nessa época. Sete anos depois se constituíram como liceus industriais e, posteriormente, em 1942, em escolas industriais e técnicas. Em 1959, transformaram-se em escolas técnicas federais, configuradas como autarquias. Ao longo desse tempo, foram criadas também as Escolas Agrotécnicas Federais, com base em um modelo de escola fazenda, que passaram, a partir de 1967, do Ministério da Fazenda para o Ministério da Educação e Cultura.

A autora afirma ainda que em 1978, três escolas federais, do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná foram transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET) e durante a década de 90, várias outras escolas técnicas e agrotécnicas federais tornaram-se CEFET, formando a base do sistema nacional de educação tecnológica, instituído

62 Essa seção tem como principal fonte de dados documentos institucionais do IFMG tais como o Regimento e o

Estatuto, o PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) 2009-2013, relatórios e documentos cedidos por diferentes setores, como a Pró-reitoria de Ensino, a Pro-reitoria de Pesquisa e a COPEVES (Comissão permanente de vestibular e processos seletivos). Além desses, foram pesquisados também documentos do

Campus Ouro Preto, como: PPI (Projeto Pedagógico Institucional), Relatórios das Diretorias de Ensino e outras

diretorias do Campus. Outra fonte de pesquisa foram os sites do MEC, do IFMG e do Campus Ouro Preto, bem como a legislação e publicações referentes aos Institutos Federais.

em 1994. Durante um período de sete anos, o governo federal proíbe a construção de novas escolas federais, caracterizando um momento em que atos normativos direcionaram essas instituições para a oferta de ensino superior e ensino médio regular, passando a oferta de ensino técnico para responsabilidade de estados e da iniciativa privada. Durante essa fase, foi intenso o embate sobre as orientações das políticas relativas aos objetivos dessas instituições. Em 2004 ocorre a reorientação das políticas federais para a educação profissional e tecnológica, com a retomada da possibilidade de oferta de cursos técnicos integrados ao ensino médio.

Ainda segundo Silva (2009), em 2005, antes da expansão programada, a Rede Federal contava com 144 unidades, contabilizando-se os centros federais de educação tecnológica e suas unidades de ensino descentralizadas, uma universidade tecnológica e seus

campi, escolas agrotécnicas e escolas técnicas vinculadas a universidades federais. Com a

expansão da Rede Federal, previa-se sair desse patamar de 144 escolas para alcançar 366 unidades em 2010, o que colocou em evidência a necessidade de se discutir a forma de organização dessas instituições, bem como seu papel no desenvolvimento social do país. A Lei 11.892, publicada em 29/12/2008, que cria no âmbito do Ministério da Educação um novo modelo de instituição de educação profissional e tecnológica, é resultado desses debates. A imagem abaixo apresenta essa evolução, que decorre de diversas reformas na educação profissional no Brasil, desde a criação das Escolas de Aprendizes Artífices em 1909 até a criação dos Institutos Federais em 2008:

FIGURA 1- Reordenamento da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica Fonte: http://redefederal.mec.gov.br, acesso em 10/09/2010.

Silva (2009) aponta os propósitos dos Institutos Federais de Educação Profissional e Tecnológica:

O foco dos institutos federais é a promoção da justiça social, da equidade, do desenvolvimento sustentável com vistas à inclusão social, bem como a busca de soluções técnicas e geração de novas tecnologias. Estas instituições devem responder, de forma ágil e eficaz, às demandas crescentes por formação profissional, por difusão de conhecimentos científicos e de suporte aos arranjos produtivos locais (SILVA, 2009, p.9).

As instituições que compõem a Rede Federal63 são nomeadas no artigo 1º da Lei 11.892/2008:

Art. 1º Fica instituída, no âmbito do sistema federal de ensino, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, vinculada ao Ministério da Educação e constituída pelas seguintes instituições:

I – Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – Institutos Federais; II – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR;

III – Centros Federais de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET-RJ e de Minas Gerais – CEFET-MG;

IV – Escolas Técnicas Vinculadas às Universidades Federais64.

Parágrafo único. As instituições mencionadas nos incisos I, II e III do caput deste artigo possuem natureza jurídica de autarquia, detentoras de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar.

É importante esclarecer o significado do termo Rede Federal. Na Lei nº. 11.892/2008, o termo rede é compreendido não somente como um agrupamento de instituições, mas como forma e estrutura de organização e funcionamento.

Na acepção da lei, trata-se de uma rede, pois congrega um conjunto de instituições com objetivos similares, que devem interagir de forma colaborativa, construindo a trama de suas ações tendo como fios as demandas de desenvolvimento socioeconômico e inclusão social. Federal por estar presente em todo o território nacional, além de ser mantida e controlada por órgãos da esfera federal. De educação por sua centralidade nos processos formativos. A palavra educação está adjetivada por profissional, científica e tecnológica pela assunção de seu foco em uma profissionalização que se dá ao mesmo tempo pelas dimensões da ciência e da tecnologia, pela indissociabilidade da prática com a teoria. O conjunto de finalidades e características que a lei atribui aos Institutos orienta a interatividade e o relacionamento intra e extra-rede (PACHECO e SILVA, 2009, p.16).

De acordo com o Relatório de avaliação do Plano Plurianual 2008-2011,65 (MEC, 2011), “atualmente são 38 Institutos Federais distribuídos em 354 unidades nos 27 entes federados66, contribuindo para o processo de desenvolvimento de cada região do País”. Essa ação empenhou um montante superior a R$ 351 milhões, em 2010 (MEC, 2011 p. 9). Dados do MEC de 2011 mostram que a expansão em curso apresenta os seguintes números: Em 2002 eram 140 escolas técnicas federais e cerca de 160 mil matrículas, em 2011 a Rede

63

Rede Federal é uma expressão utilizada pelo MEC para referir-se à Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica.

64 A Lei n. 12.677/12 alterou a redação desse Artigo acrescentando o inciso V, que incorpora o Colégio Pedro II

à Rede Federal.

65 Disponível em www.mec.gov.br acesso em 10/08/2011. 66 Ver Mapa da Rede Federal no Anexo A.

Federal já contava com 405 unidades em funcionamento e registrava mais de 420 mil alunos matriculados.

A terceira fase do Plano de Expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, segundo informações do site do MEC, terá 208 novos campi até o final de 2014, passando a 562 unidades, com capacidade para 600 mil matrículas67. Essa expansão, iniciada no governo Lula e em desenvolvimento no atual governo, faz parte de um conjunto de reformas na EPT. Embora seja significativa a relevância do crescimento quantitativo dessa rede de ensino e dos benefícios educacionais e sociais que poderão advir ao país, há controvérsias, questionamentos e críticas sobre as condições concretas em que essa expansão vem sendo realizada e suas implicações na qualidade da educação ministrada nessas instituições. Em um artigo de Melo (2010) são destacadas as opiniões de autores que possuem diferentes posicionamentos sobre essa expansão como, por exemplo, Xavier Neto68 (2008) e Amorim69 (2008). O primeiro autor destaca a forma autoritária que marcou a medida; o seu conteúdo, compreendido como restrição à autonomia dessas instituições; o incentivo quase que exclusivo à pesquisa aplicada, voltada para os interesses mercantis em detrimento das demandas da sociedade. Amorim (2008), por sua vez, analisa a medida como a reapresentação e reafirmação da dualidade estrutural da educação brasileira sob novas bases.

Para Melo (2010), embora controvertida, a atual reconfiguração da Rede Federal é complexa e demanda estudos aprofundados envolvendo não somente as atuais políticas e práticas afetas à EPT, mas também à totalidade das recentes políticas e práticas relativas à educação básica e superior no país.