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Instrumentos utilizados para a realização da avaliação na Educação Infantil

SEÇÃO 1. CONCEPÇÕES DE INFÂNCIA E CRIANÇA E SUAS IMPLICAÇÕES NA

2.3 Instrumentos utilizados para a realização da avaliação na Educação Infantil

Para avaliar tendo em vista o enfoque mediador e formativo, o professor, além de se pautar em sua proposta de trabalho, pesquisar, acompanhar, refletir etc., precisa

também empregar diversos instrumentos, os quais o auxiliarão a promover oportunidades de avanço nas atividades efetivadas com as crianças e para que o resultado da avaliação seja mais eficaz.

Dentre os diversos instrumentos usados para relatar o processo e resultados da avaliação, destacaremos os registros e a observação. Na maioria das vezes, os instrumentos são utilizados concomitantemente, haja vista que, para registrar, é preciso observar atentamente. Os registros, além de serem escritos, podem ocorrer integrados a portfólios, através de fotos, filmagens, desenhos e outros.

Didonet (2014) assinala que as observações e os registros servem para acompanhar e refletir sobre a prática pedagógica e precisam ser contextualizados, considerando as crianças em suas histórias de vida e sua cultura. Também podem ser variados, com o emprego da escrita, fotografias, trabalhos das próprias criança etc.

Os registros (conforme exposto na LDBEN 9394/96 e nas DCNEI, 2010) são elaborados pelo professor sobre cada criança e sobre o grupo. Por meio desse registro, é possível obter informações importantes para a melhoria do planejamento e se apropriar do desenvolvimento da criança.

A observação se constitui igualmente como um instrumento de fundamental importância, pois se reflete em descobertas valiosas e interpretações. “Exige colocar em ação um processo investigativo, pois se trata de um instrumento de pesquisa, não de confirmação de ideias pré-concebidas que serviriam apenas para trazer exemplos do que ele já sabe.” (OLIVEIRA, 2012, p. 365).

Tanto a observação como o registro devem ser realizados tendo em vista a criança como centro da prática avaliativa, de sorte que os resultados serão fontes para a reflexão e para subsidiar a ação educativa desenvolvida com as crianças.

Quando mencionamos registro, estamos nos referindo à possibilidade de o professor fazer uma boa análise de um determinado caso, situação, de modo que possa analisar e refletir sobre tal fato. Quando não se utiliza do registro, “[...] trabalha-se frequentemente com ouvir dizer, com preconceitos, com informações muito incompletas.” (OLIVEIRA, 2012, p. 367). E, além de não possuir informações completas, corre-se o risco de se esquecer de muitas informações que lhe permitem conhecer o que está acontecendo de positivo e negativo.

Nesse sentido, Zilma de Oliveira (2012) afirma que o trabalho feito com base nos registros auxilia os professores a conhecer melhor as práticas educativas, abrindo um caminho de diálogo e de provocações construtivas de um novo saber.

Explica ainda que a primeira forma de registro de pontos observados é a própria memória. Ou seja, da infinidade de cenas que observamos, diariamente, só permanecem na consciência aquelas que ficaram registradas na nossa memória, em função dos nossos conhecimentos anteriores, da nossa história de vida. Assim, somente a memória não é suficiente na realização do registro.

Acrescenta Oliveira:

O registro da memória tem um lastro afetivo muito forte e revela nossas crenças e valores. No entanto, a memória não nos é suficiente, posto que nós só registramos aquilo que podemos reconhecer, que estamos acostumados a enxergar, aquilo a que damos um significado. E como podemos observar o que não conhecemos tão bem? (2012, p. 368).

Para que possamos registrar a partir da observação de fatos que conhecemos tão bem, é necessário que “[...] o registro do que foi observado deve ser feito, de preferência, simultaneamente à observação, informando os nomes, idades, locais, horários, situações observadas e objetos disponíveis.” (OLIVEIRA, 2012, p. 368). Quando registramos, no mesmo momento, é possível atentar aos detalhes, informando o que as crianças fazem, os locais nos quais se encontram, como agem, interagem, entre outros aspectos.

Sabemos que nem sempre é possível que o registro seja realizado no mesmo momento no qual ocorrem as ações das crianças, contudo, quando for possível, o professor deverá dispor de um planejamento para que o mesmo aconteça. “É necessário que o professor registre as observações realizadas durante todo o processo, para ter condições de ir redirecionado seu trabalho no sentido de ajudar os alunos a construírem novos conhecimentos.” (MELCHIOR, 1999, p. 76). Dessa maneira, os registros diários servirão de subsídios para o professor planejar o dia seguinte.

Todo registro é proposto de acordo com os objetivos que se deseja alcançar, assim, ele pode ser feito de diversas maneiras, seja simultaneamente à observação das crianças ou posteriormente. O que não pode ocorrer é que os registros possuam a função simplesmente de cumprir as exigências burocráticas da instituição, e nem que se traduzam em listas classificatórias.

A respeito desses tipos de listas classificatórias que descrevem se a criança atingiu ou não atingiu o objetivo, se comportou ou não comportou, Hoffmann (2014) afirma que apresentam uma desconexão entre o registro e o acompanhamento realizado cotidianamente. Ao listar aspectos subjetivos ou absurdamente complexos,

resulta numa prática desvinculada da realidade que não considera a criança em suas necessidades concretas.

Assim, para a autora, “[...] a avaliação passa a ser compreendida como “uma análise de comportamentos esperados pelo adulto, o ponto referencial da prática educativa passa a ser tal modelo predeterminado, e a criança deixa de ser considerada em sua realidade própria.” (2014, p. 114).

Compactuando com os pensamentos de Didonet (2014), Hoffmann (2014) e Oliveira (2012), Melchior explana que “[...] o professor que não se preocupa em fazer registros dos desempenhos (eu/ou dificuldades) de seus alunos, durante o processo, não terá condições de ser justo na emissão de um resultado para cada aluno.” (1999, p. 20). Para ela, a avaliação torna-se desvinculada do processo, não cumprindo suas funções didático-pedagógicas e de diagnóstico. O professor ainda pode cometer injustiças, atribuindo resultados que não correspondem aos desempenhos dos alunos.

Entendemos, nesse pressuposto, que o ato de registrar, na Educação Infantil, requer cuidados, de modo que devemos estar atentos ao desempenho das crianças, para sermos justos e coerentes com a realidade e não com uma criança idealizada.

Oliveira (2012) nos apresenta alguns tipos de registros que podem apoiar o trabalho do professor com crianças pequenas: ficha de saúde, fichas e notas sobre a adaptação, registros de atividades, diário de campo.

A ficha de saúde, de acordo com a autora, é um dos instrumentos que ajudam o professor a conhecer em profundidade detalhes que são importantes para o acompanhamento de cada criança, tais como seus gostos, suas fragilidades, intolerância a algum alimento, alergia a insetos e outros. Essa ficha é bem objetiva, está presente em todas as instituições e geralmente é feita no ato da matrícula.

A ficha e notas sobre a adaptação são essenciais para ajudar a disciplinar o olhar para o que é realmente importante, nessa transição, e que muitas vezes pode até mesmo passar despercebido. Sabemos que, na Educação Infantil, não há um período único de matrícula, de maneira que a criança pode começar a frequentar a instituição em qualquer mês. É muito importante que o professor realize a acolhida e favoreça o período de adaptação. De acordo com Zilma de Oliveira (2012), esses registros podem mais tarde servir ainda para a organização de um relatório para as famílias, para a pauta da reunião de pais ou mesmo para a confecção do diário.

O registro das atividades pode ser feito “[...] como um relato bastante detalhado do ocorrido ou, em alguns casos, uma transcrição de tudo o que foi dito pelas crianças

em uma roda de conversa.” (OLIVEIRA, 2012, p. 374). O professor poderá, nesse sentido, organizar uma programação de registros do grupo e individual que lhe disciplinará o olhar para a totalidade do desenvolvimento da criança, no ambiente educativo, avaliando as áreas mais bem-sucedidas e o que ainda requer ajustes no planejamento.

Os diários de campo, ainda segundo a autora, relatam o que acontece todos os dias, como sucede o tempo; segundo a perspectiva de seu autor, eles trazem narrativas singulares e pessoais que podem tratar de vários assuntos: algum aspecto específico do trabalho, como o desenvolvimento de um projeto, de um desenho ou a aquisição da escrita pelas crianças. Esse tipo de registro é muito usado, pois são feitos após o trabalho com as crianças e nem sempre são produzidos diariamente.

Outra forma de registro muito empregada é a construção do portfólio, que serve para documentar e avaliar as aprendizagens das crianças. Para Parente (2014), o portfólio tem uma perspectiva construtivista da aprendizagem e da avaliação, integrando as práticas pedagógicas e procedimentos congruentes com essa perspectiva, de modo que as crianças possam expressar suas competências. Ele reúne e organiza diversas informações, tornando possível apreciar o percurso da aprendizagem e desenvolvimento.

Cabe ressaltar que é de suma importância que o portfólio seja elaborado com uma atenta observação, para que as atividades sejam selecionadas tendo-se em vista os esforços e progressos da criança. Na visão de Hernández (2000), o portfólio se apresenta como um continente de diferentes tipos de documentos (anotações pessoais, experiências de aula, trabalhos pontuais, controles de aprendizagem, conexões com outros temas fora da escola, representações visuais etc.), os quais reúnem conhecimentos construídos pelos alunos e estratégias adotadas para aprender.

Concluímos, dessa forma, que, ao elaborar o portfólio, não é possível apenas selecionar e organizar as atividades para serem apresentadas, é também importante destacar as intenções de aprendizagem, realizando a observação crítica e a reflexão sobre o processo vivenciado pelas crianças.

A observação, reflexão e ação, segundo Hoffmann (2015), caracterizam a ação continuada, pois ocorrem em tempos não estanques ou delimitados, podendo se dar de maneira simultânea ou paralela, na dinamicidade que caracteriza o desenvolvimento da criança. Nesse sentido, o olhar avaliativo observa a espontaneidade do momento,

com a sensibilidade do conhecimento necessário para fazer provocações, respeitando o tempo de cada criança e do grupo.

Conforme Zilma de Oliveira (2012), a observação pode ser mediada por uma pauta, sendo dirigida a algumas situações específicas e pressupondo um alto grau de antecipação. Possui algumas características importantes, como foco, objetivo e continuidade.

Ao explicar sobre essas características, a autora evidencia que o foco se refere “[...] a um ponto ou um aspecto específico claramente colocado para aquele que observa. Por exemplo, pode ser uma criança, um grupo de crianças, uma situação no refeitório, um episódio de roda de história etc.” (2012, p. 366). Em relação ao objetivo da observação, o mesmo deve surgir de uma inquietação ou da necessidade de conhecer melhor algum aspecto do desenvolvimento e da aprendizagem da criança, de se aproximar de seus gostos, preferências e outros.

Os objetivos podem ser variados, contudo, assim como em qualquer atividade, devem estar presentes, tendo-se claro o que se deseja alcançar. A continuidade da observação, ainda de acordo com Oliveira (2012) não ocorre de maneira esporádica, nos remete ao acompanhamento curioso e interessado do que se passa na interação das crianças, como seus movimentos corporais, falas, expressões faciais, seu posicionamento isolado ou suas parcerias prediletas. Assim, o ato de observar criticamente deve ser realizado e exercitado continuamente.

Em síntese, faz-se necessário que o professor conheça e disponha de diversos instrumentos para promover a avaliação na Educação Infantil, de maneira que possa assegurar a valorização das atividades e experiências das crianças.

Para aprofundar os conhecimentos sobre a avaliação na Educação Infantil, seus instrumentos e suas respectivas características, faremos a análise de alguns documentos do MEC que se referem à temática, a fim de que possamos conhecer o que temos de “oficial” sobre a avaliação e como a mesma é apresentada.