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SEÇÃO 1. CONCEPÇÕES DE INFÂNCIA E CRIANÇA E SUAS IMPLICAÇÕES NA

1.3 Panorama da Educação Infantil no Brasil na atualidade

A Educação Infantil é direito da criança desde seu nascimento, sendo reconhecida como dever do Estado, ofertada pelos sistemas de ensino em regime de colaboração, e seus estabelecimentos são de competência dos municípios.

A creche faz parte da Educação Infantil e tem o papel de iniciar essa educação integral, da mesma forma que a pré-escola tem de continuá-la, com a finalidade de propiciar o desenvolvimento integral da criança até os cinco anos de idade, nos aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade, conforme expresso no artigo 29 da LDBEN 94/96.

As crianças devem ser atendidas nas creches ou instituições equivalentes, na primeira fase de desenvolvimento, ou seja, de 0 aos 3 anos, enquanto a pré-escola deve atender a crianças de 4 e 5 anos. Com essa forma de organização e com o reconhecimento de que a Educação Infantil é parte integrante da Educação Básica, passamos a observar uma mudança de concepção acerca das creches. Assim,

desaparece a ideia de creche como ação de assistência social e esta passa a também fazer parte de um percurso educativo, articulado com os outros níveis de ensino formal.

Em termos de legislação, citaremos novamente a última alteração da LDBEN 93/94/96, por meio da Lei nº 12.796, que dispõe sobre a formação da Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade. Assim, os pais e responsáveis são obrigados a matricular as crianças que tiverem 4 anos completos até 31 de março do ano da matrícula (Resolução CEB nº 6/2010); caso os responsáveis não cumpram a efetivação da matrícula, poderão ser multados.

Cabe ressaltar que, embora a lei exija que a criança frequente a pré-escola, ela não modifica o caráter da Educação Infantil, sendo inconcebível que haja uma antecipação dos conteúdos provenientes do Ensino Fundamental. A finalidade da Educação Infantil deve ser respeitada, tendo-se em vista o desenvolvimento integral da criança, promovendo a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais.

A carga horária anual deve ser de 800 horas, distribuídas por, no mínimo, 200 dias letivos, ao passo que o controle de presença na pré-escola deve ser, no mínimo, de 60%. As crianças de 0 a 3 anos continuam na creche, sendo a matrícula facultativa.

Nos últimos anos, a Educação Infantil passou por diversas transformações que, embora ainda não sejam o ideal, podem ser consideradas como avanços. Entre esses atenuantes avanços, destacaremos alguns como de fundamental importância. São eles: uma nova concepção de criança, tomada como sujeito de direitos; a Educação Infantil reconhecida como Educação Básica; a formação dos profissionais que atuam diretamente com crianças; o reconhecimento da importância pedagógica centrada nas experiências da criança, não dissociando o cuidar e o educar; e a obrigatoriedade da avaliação sem caráter de promoção ou retenção.

De acordo com o MEC (2006), todas as instituições de Educação Infantil localizadas em um município, quer públicas, quer privadas, compõem, juntamente com as instituições de Ensino Fundamental e Médio, mantidas pelo poder público, e os órgãos de educação o sistema de ensino correspondente (municipal ou estadual).

As instituições públicas são gratuitas, laicas e apolíticas, ou seja, não professam credo religioso e político-partidário e são destinadas às crianças brasileiras e estrangeiras, sem distinção de gênero, cor, etnia, proveniência social, credo político ou religioso, com ou sem necessidades especiais.

Com respeito ao seu horário de funcionamento, os Parâmetros Nacionais de

Qualidade para a Educação Infantil (2006) dispõem que as instituições de Educação

Infantil funcionam durante o dia, em período parcial ou integral, sem exceder o tempo que a criança passa com a família.

O período integral implica o recebimento das crianças por até no máximo dez horas por dia e o período parcial corresponde ao recebimento das crianças por, no mínimo, quatro horas por dia. Quanto aos horários, a entrada e saída das crianças devem ser flexíveis, a fim de atender às necessidades de organização das famílias, podendo, portanto, exceder as orientações da gestão. As instituições de Educação Infantil têm formas específicas de organização da proposta pedagógica, do tempo, dos espaços, dos materiais, conforme o período de atendimento.

Nesse mesmo enfoque, Nunes, Corsino e Didonet (2011) destacam que a Educação Infantil é ofertada em instituições próprias, creches, pré-escolas, escolas, centros ou núcleos de Educação Infantil, independentemente da denominação ou do nome de fantasia que adotem, em jornada de horário integral e/ou parcial. As práticas pedagógicas cotidianas, intencionalmente planejadas e sistematizadas, devem estar previstas em um projeto pedagógico, construído com a participação da comunidade escolar e extraescolar, e desenvolvido por professores habilitados e submetidos a múltiplos mecanismos de acompanhamento e controle social.

Os autores enfatizam que muitos municípios utilizam o espaço físico de escolas de Ensino Fundamental para ampliar turmas de pré-escolas (crianças de 4 a 5 anos), entretanto, é importante ressaltar que essa alternativa exige que a proposta pedagógica vigente contemple as especificidades da faixa etária e que o espaço físico esteja adequado para o desenvolvimento do trabalho pedagógico da Educação Infantil.

Na maioria das vezes, não é isso que ocorre: é muito comum observarmos crianças da pré-escola inseridas no universo do Ensino Fundamental, sem que haja um espaço específico e apropriado para seu desenvolvimento. Temos ainda uma realidade múltipla e estruturalmente desigual, em vários aspectos.

O avanço nas concepções não superou ainda a discrepância de oportunidades educacionais territorialmente demarcadas entre centro e periferia, cidade e campo, capital e interior, entre bairros do mesmo município, entre municípios, entre Estados e entre regiões do país (BRASIL, 2007b).

Barreto (1998) afirma que as instituições de Educação Infantil, no Brasil, devido à forma como se expandiram, sem os investimentos técnicos e financeiros necessários, apresentam, ainda, padrões bastante aquém dos desejados.

[...] a insuficiência e inadequação de espaços físicos, equipamentos e materiais pedagógicos; a não incorporação da dimensão educativa nos objetivos da creche; a separação entre as funções de cuidar e educar, a inexistência de currículos ou propostas pedagógicas são alguns problemas a enfrentar. (BARRETO, 1998, p. 25).

Confirmando a falta de investimento, Rosemberg (2007) discorre que, durante décadas, o modelo adotado de expansão da Educação Infantil brasileira foi realizado com pequeno investimento de recursos públicos, usando espaços improvisados e inadequados. Há muitas crianças de 0 a 3 anos que ficam em casa por falta de vagas nas instituições, enquanto muitas frequentam instituições nas condições precárias de saneamento básico. Isso tem contribuído para a manutenção dessa perversidade do sistema.

Dessa maneira, é possível reconhecer que temos uma ampla diversidade de situações dentro do universo da Educação Infantil. As instituições são desiguais, como também o nível de qualidade, os materiais e a formação docente. Várias creches comunitárias possuem espaços improvisados e inadequados, funcionam como podem, de forma irregular e com pouco recurso.

Apesar da expansão da Educação Infantil e do direito à Educação, ainda temos em nosso cenário inúmeras crianças desprovidas do direito de frequentar essa modalidade. Campos (2006), nesse sentido, denuncia que, em nosso país, nem sempre a realidade corresponde ao que determina a lei. Na Educação Infantil, a realidade andou mais depressa do que as definições legais, no sentido de que o atendimento em creches e pré-escolas cresceu significativamente, antes mesmo de a legislação educacional preocupar-se com elas.

Dados do IBGE nos mostram que há uma acentuada desigualdade no acesso da Educação Infantil, no Brasil, considerando o nível de renda. O Instituto comparou os dados de 2012 referentes à frequência escolar de dois grupos de crianças na faixa etária de 0 a 3 anos e 4 a 5 anos. Constatou-se que, no grupo no qual estão inclusos os 20% mais ricos da população, somente 7,5% das crianças de 4 e 5 anos estão fora da pré- escola; contudo, no grupo em que estavam os 20% mais pobres, o percentual era quatro vezes maior, chegando a 29% o número de crianças que não frequentavam a pré- escola.

Em relação à frequência das crianças de 0 a 3 anos, no grupo dos 20% mais pobres, 21,9% frequentam a creche e, no grupo dos 20% mais ricos, o número de frequência era 2,9 maior, chegando a 63%.

Esses dados nos fazem refletir sobre um árduo caminho que a Educação ainda deve trilhar, para que seu acesso seja garantido. Ainda hoje, o acesso à educação se restringe àqueles que possuem mais condições econômicas. Como garantir a qualidade na Educação Infantil, se até mesmo o direito de frequentá-la é negado?

Frente a esses problemas, temos respostas dos municípios e do governo como um todo, no sentido de que não há como expandir as creches e pré-escolas, por falta de investimento. Assim, compactuamos com o pensamento de Kramer (1988), ao ressaltar que a falta de recursos financeiros para garantir a universalização da Educação Infantil não pode servir de álibi para negar a sua qualidade. É emergencial que as políticas e a legislação educacional voltadas para a criança tenham como pressuposto básico que ela é cidadã e, como tal, tem direito à educação, de maneira que possa frequentar uma instituição de qualidade.

Nas palavras de Lopes (2014):

O que se espera de uma instituição da primeira infância é que ela possa acolher para educar e cuidar, compartilhando com as famílias o processo de formação e constituição da criança pequena em sua integridade; que a escola tenha uma função política de contribuir para que meninos e meninas usufruam direitos sociais, políticos e exerçam seu direito de participação; bem como exerça a função pedagógica de ser um lugar privilegiado de convivência e ampliação de saberes e conhecimentos de diferentes naturezas entre crianças e adultos que lá estão. (p. 47).

Acreditamos que a Instituição de Educação Infantil, além de todos os atributos já mencionados, deva se constituir em um ambiente de aprendizagem e socialização, para favorecer o desenvolvimento integral da criança, de sorte que a mesma se sinta acolhida e feliz.

Nesse enfoque, trataremos a seguir de como ocorre a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças, bem como a importância de ambos, no processo educacional.