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Introdução: uma breve reflexão acerca da análise de con juntura internacional

Para qualquer estudo acerca das Relações Internacionais, a con- juntura é incontestavelmente importante. As relações internacio- nais envolvem o nível macroscópico das relações sociais humanas e compreender sua complexidade implica em compreender uma quantidade de variáveis muito maior do que outros fenômenos

* Alfredo Juan Guevara Martinez é mestre em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), e doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP). Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Estudos de Estados Unidos (INCT-Ineu), do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp (IEEI-Unesp) e bolsista da Comissão de Auxílio à Pessoal de Ensino Superior (Capes). Carolina Silva Pedroso é mestre e doutoranda em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP). Pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Estudos de Estados Unidos (INCT-Ineu), do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp (IEEI-Unesp) e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

humanos de menor escala. Não buscar entender como se formam os contextos significa obter um entendimento limitado, quando não impreciso, acerca dos fenômenos que abarcam toda a área das Relações Internacionais. Em última instância, as interações entre os países são resultado de como sua política doméstica se orga- niza, comporta e afeta suas relações com os demais, e ao mesmo tempo como essas estruturas domésticas são afetadas pelos fenô- menos da esfera internacional.

O resultado disso é que as Relações Internacionais se formam em uma complicada rede de fenômenos. Isto é, fenômenos nas esferas doméstica e internacional, mas que não se restringem às suas esferas e que terminam por se influenciar uns aos outros de forma simultânea. O desafio que isso acarreta para o pesquisador da área é que a conjuntura envolverá contextos cuja amplitude requer um cuidado minucioso à tarefa de recorte dos objetos, visto a diversi- dade de variáveis que podem ser importantes para um único obje- to. Como em toda ciência, um dos maiores “inimigos” do resulta- do científico final são as variáveis omissas: aspectos e fenômenos importantes que têm poder explicativo para o objeto observado, mas que, por alguma razão, terminaram por escapar do escopo do pesquisador, levando a resultados incompletos ou equivocados.

Em uma ciência composta por elementos subjetivos e difí- ceis de mensurar e replicar por meio de experimentos contro- lados em laboratório, conseguir organizar todas as variáveis importantes para criar uma análise relevante se torna uma tarefa árdua para o cientista social. Para aqueles que estudam Relações Internacionais, o esforço dessa tarefa é multiplicado em escala global. Os estudos da área requerem amplo domínio sobre diver- sos aspectos que compõem o contexto do objeto observado: polí- tica, cultura, economia, geografia, história, entre tantos outros. Não é suficiente o conhecimento especializado, é necessária uma visão mais ampla daquilo que se observa.

Não à toa, existem tantas correntes teóricas diferentes nas Relações Internacionais, que muitas vezes possuem relações muito mais de oposição, em vez de complementação. O mesmo fenôme- no observado através de duas lentes diferentes termina por apresen-

tar dois resultados distintos para o leitor. Ainda que isso seja parte natural de qualquer Ciência Social, não se pode descartar o valor de se empreender esforços para tentar aproximar diferentes aborda- gens e unificar o conhecimento. Nesse sentido, se dá a importância de um mapeamento amplo de conjuntura. Por mais que a busca da Verdade possa ser considerada um princípio norteador “ideal e utó- pico”, sem esse guia não haveria propósito no caráter cumulativo e transformador do conhecimento científico. Quanto mais elemen- tos e fenômenos da realidade possam ser observados, maior será o conhecimento gerado a partir dessas informações, ainda que por diferentes vertentes.

Este estudo se debruça na tentativa de oferecer uma perspectiva de mapeamento amplo de conjuntura internacional. Para esse obje- tivo, primeiro será elaborado um modelo teórico de mapeamento de conjuntura e, posteriormente, será aplicado na conjuntura sul- -americana de enfraquecimento de governos de esquerda, tendo como estudo de caso a Venezuela durante a presidência de Nicolás Maduro. Assim, o modelo proposto não tem como objetivo ofe- recer uma abordagem teórica explicativa dos diferentes fenômenos que podem ser observados por ele, mas facilitar a aplicação da aná- lise para os pesquisadores, uma vez que os mesmos tenham mapea- do de forma eficaz a conjuntura dos objetos observados.

A ideia é construir um modelo que facilite para o pesquisador a visualização das diferentes variáveis importantes que estão afetando seu objeto, para que assim o observador possa aplicar sua análise com maior segurança. Nesse sentido, se trata de um modelo de recorte do objeto, uma vez que ao visualizar toda a conjuntura, o observa- dor consiga detectar em quais variáveis se aprofundar e quais aspec- tos podem ser deixados de fora da análise. A importância do recorte das variáveis fica mais evidente no trabalho de Putnam (1996) acer- ca das instituições na Itália, no qual o autor chega a um resultado considerando as instituições como variáveis independentes, mas ao considerá-las variáveis dependentes, ele obtém respostas diferentes e mais completas sobre o mesmo tema. Visualizar de forma ampla a conjuntura permite entender melhor a disposição das variáveis importantes e, desse modo, analisar melhor como elas se comportam em relação umas às outras e em relação à estrutura.

Para atingir o objetivo proposto, o texto está dividido em duas partes principais, sendo elas, respectivamente, a apresentação do modelo e a sua aplicação. Dessa forma, a primeira seção está des- tinada a explicar a teoria das Múltiplas Arenas de George Tsebelis (1998), relacionando-a com outros conceitos importantes da teoria da escolha racional, a fim de mostrar como esse recorte metodo- lógico pode ser utilizado nas Relações Internacionais, a partir da delimitação de atores, interesses e preferências. Na segunda, esse modelo será aplicado ao contexto sul-americano de declínio dos governos considerados de esquerda, tendo como estudo de caso a Venezuela de Nicolás Maduro. Finalmente, nas considerações finais, será feito um balanço da aplicabilidade desse modelo ao caso escolhido, apontando seus pontos fortes e debilidades, para que possa ser constantemente aperfeiçoado.

As Múltiplas Arenas (Nested Games) e a racionalidade: