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Esta pesquisa foi conduzida por meio de uma etnografia, utilizando como principais instrumentos de coleta de dados a observação participante, entrevistas e questionários. Cada um desses instrumentos foi utilizado em momentos específicos, para responder a questões também específicas, tendo como eixo articulador as perguntas que orientam o objetivo geral desta investigação e o grupo social que compõe os sujeitos de pesquisa.

A pesquisa social tem suas raízes históricas no século XIX e foi desencadeada por fatores como a urbanização, a industrialização, o colonialismo, os movimentos migratórios em massa, os conflitos sociais e todas as consequências advindas dessas mudanças nas sociedades capitalistas modernas (SILVA e PINTO, 1986). É na pesquisa social que residem as bases da investigação qualitativa, também definida como naturalista, pelo fato de ser desenvolvida no ambiente natural onde se desencadeiam os fenômenos observados. Os trabalhos de campo de antropólogos como Franz Boas, Bronislaw Malinowski e Margaret Mead estão no cerne desse paradigma de investigação, cujos estudos eram desenvolvidos por meio da etnografia, método de pesquisa social que busca compreender os significados e valores que guiam os comportamentos de determinada sociedade ou grupo social (HAMMERSLEY e ATKINSON, 1995).

De acordo com Costa (2006, p. 130), “o maior impulso à pesquisa de terreno em sociologia é dado nos Estados Unidos pela Escola de Chicago”, cujas pesquisas combinavam técnicas como a observação direta, entrevistas e análises documentais. Um exemplo clássico desse período é a obra de Willian Foote Whyte, “Street Corner

Society”, de 1943, que se tornou paradigmática nos estudos etnográficos. Para esta

investigação a obra constituiu uma referência metodológica importante. No momento em que me preparava para a ida a campo e tomada pela insegurança que imagino ser regra nos pesquisadores iniciantes, a leitura do “anexo A” de uma publicação recente da

31 obra funcionou como um aporte significativo naquela ocasião. Nesses escritos, o autor revisita Cornerville e brinda o leitor com informações valiosas sobre os antecedentes da pesquisa, a escolha do bairro, os preparativos para o campo, as estratégias de aproximação, as dúvidas, os medos, a relação inicial com a comunidade, as questões que envolvem um jovem pesquisando jovens e as limitações teóricas que precisou enfrentar para desenvolver a pesquisa por meio do método que escolhera, até então utilizado, sobretudo, em estudos com tribos primitivas.6

A pesquisa etnográfica para ser bem sucedida deve ter como premissa, segundo Malinowski (1980), algumas regras de bom senso e princípios científicos definidos em três categorias principais: ter objetivos realmente científicos; desenvolver-se em condições apropriadas de trabalho, em meio aos nativos; e lançar mão de métodos particulares de coleta e manipulação dos dados. O pesquisador deve estabelecer contato estreito e regular com o campo, relações pessoais, lançar-se como um caçador ativo em busca de elementos empíricos que definam o fenômeno investigado, provas que comprovem suas hipóteses, enfim, empenhar-se em levantar dados capazes de “oferecer uma descrição clara e nítida da constituição social e distinguir as leis e regularidades de todos os fenômenos culturais das irrelevâncias.” (MALINOWSKI, 1980, p. 47).

Assim, alguns procedimentos de coleta de dados serão expostos para que se possa evidenciar o percurso metodológico que esta investigação desenvolveu. À medida que tais procedimentos forem sendo apresentados, será feito um esforço na tentativa de evidenciar também os vieses que cada um deles pode carregar, sejam relativos ao próprio instrumento, à pesquisadora, aos sujeitos pesquisados ou mesmo às condições de aplicabilidade de cada um, bem como as estratégias encontradas pala lidar com cada um desses vieses. Dado que esse percurso foi construído por etapas, minha opção didática de organização é apresentá-las assim, na ordem de acontecimentos dos fatos, embora reconheça que tais fatos não aconteceram cronologicamente estanques da forma como esta organização textual pode sugerir.

Ademais, outra opção metodológica foi por expor neste capítulo os caminhos percorridos e os procedimentos utilizados para desenvolver esta pesquisa, muito mais

6 A obra também foi um importante subsídio teórico na etapa de sistematização e análise dos dados e, por

vezes, recorro aos apontamentos etnográficos de Whyte, a fim de captar os critérios de seleção de conteúdo utilizados pelo autor, os recortes teóricos e empíricos, a forma de organização dos dados, enfim, todas as contribuições metodológicas que a obra oferece.

32 do que dissertar sobre as concepções teórico-metodológicas que a orientam, descrevendo o percurso e os percalços que me conduziram durante toda a investigação. Tal escolha se justifica por eu entender, assim como Oliveira (2006), que na escrita do texto etnográfico devem-se explicitar as etapas da escrita bem como as condições de sua produção.

O desafio de escrever um texto etnográfico, do qual os referenciais teóricos também fazem parte do cenário, está evidenciado ao longo da escrita. Entendo o trabalho etnográfico como um trabalho de busca, de observação, de reflexão, de perguntação, de escuta das respostas, de registro sistemático e reflexão constante, e também de construção de mais perguntas (algumas das quais até ficaram sem resposta), de anotação de cada detalhe, de registro escrito e fotográfico e de sistematização dos dados. Enfim, o esforço empreendido neste estudo, como uma aprendiz do exercício do etnográfico que sou e pretendo continuar a ser, foi de praticar etnografia, no sentido apontado por Geertz (2011, p.15), que define essa prática como o ato de “estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário e assim por diante.”

Por fim, ressalto que esta pesquisa é um registro etnográfico que pode ser identificada como uma monografia clássica, de acordo com a definição de Oliveira (2006), visto que, embora se apresente uma contextualização geral do campo de pesquisa e dos sujeitos investigados, não é minha intenção promover uma apreensão holística do grupo pesquisado ou retratar a totalidade de uma cultura, mas apresentar elementos para desvelar um grupo social específico nesse contexto, a juventude, e os processos de elaboração dos seus projetos de vida.