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4.2 O que se entende aqui por ciência?

4.2.4 Léxicos como sistemas representacionais

O que sugiro, num afastamento do uso corriqueiro do termo ‘léxico’ por Kuhn, é referi-lo a um sistema representacional que abarque também, mas não apenas, seus componentes lingüísticos. Como exposto acima, creio que isso seja coerente com o conceito de léxico e, embora não tenha utilidade alguma para o encaminhamento de algumas questões — notadamente a incomensurabilidade —, para o nosso caso isso nos permite coligar nossa ênfase anterior nas condições miméticas a uma imagem de ciência. Com isso, ainda, nossa análise estará em condições para responder não apenas pelos elementos intencionais da função das representações visuais, mas, finalmente, para explicá-la.

A modificação requerida para conceber tal sistema representacional é mínima: onde a ênfase recaía sobre os nós de uma rede de similaridades, os conceitos, ela passa agora a recair sobre as próprias relações de similaridade. Todas as funções atribuídas ao léxico como sistema conceitual podem ser reavaliadas num léxico pensado como sistema representacional. Tal observação repete a de Hoyningen-Huene, elaborada num contexto mais restrito:

As soluções exemplares de problemas não somente aplicam, ou ilustram, algum léxico de conceitos empíricos já dado ou previamente fixado. Ao contrário, alguns dos conceitos do léxico adquirem seus significados particulares apenas com a articulação das soluções de problemas exemplares. As funções do léxico são portanto, indiretamente, também as funções das soluções exemplares de problemas (das quais as generalizações simbólicas devem ser consideradas como momentos). [Hoyningen- Huene 1989/1993, p. 160]

Além disso, muitas das características do léxico permanecem as mesmas, como a diferenciação entre o léxico como um atributo individual e a estrutura do léxico como propriedade comunitária. Em particular, tudo o que se refere ao aprendizado, entendido como a aquisição de relações diretas de similaridade, pode ser mantido.

O que é posto de lado são as conclusões específicas sobre as funções relativas a uma parte desse sistema. Posto de lado, diga-se, por não constituir o tema deste estudo, embora possa ser útil que as mencionemos para estabelecer contrastes. Por exemplo, que as representações lingüísticas operam diminuindo a indefinição e ambigüidade características do aprendizado por ostensão. Elas respondem, por assim dizer, a questão ‘semelhante em relação a quê?’, convertendo, parcialmente, a relação direta de similaridade em algo explicitamente verbal. E, nesse sentido, são indispensáveis na caracterização da atividade científica tão logo admitamos, afinal, que a precisão a caracteriza. Ademais, é como resultado desse processo que são discriminadas as propriedades partilhadas por aqueles que são semelhantes. Nossa ênfase nos aspectos não-lingüísticos, orientada para um esclarecimento do papel das representações visuais na ciência, não requer, portanto, que tais representações lingüísticas sejam reduzidas a entidades não-lingüísticas, mas indica em que sentido elas não podem, isoladamente, arcar com tal caracterização.

Para isso, o que ainda se faz necessário é que, em algum momento, algo opere associando duas situações em uma relação direta de similaridade. Mesmo aqui, as representações lingüísticas podem ter algum papel. Pois pode ser o caso de um exemplar ser introduzido a partir de descrições — como exposto na citação da página 83 — ou, ainda, no caso dos experimentos mentais, onde meios verbais promovem uma alteração nas relações de similaridade. Em ambos os casos, no entanto, tais descrições são ancilares de um vocabulário prévio e, ao fim, o que impede um regresso infinito é um outro tipo de exibição. Novamente, o caso é que em algum momento é necessário mostrar as semelhanças.

É certo que, ao fim, esse processo é o que liga a linguagem à natureza, mas o que cabe aqui ser explorado é que os elementos não-lingüísticos do sistema representacional também são capazes de exibir as relações de similaridade e, diferentemente das representações lingüísticas, independem de qualquer vocabulário prévio. Quando Kuhn

(1974/1977) ilustra o processo de aprendizagem através das relações diretas de similaridade, ele o faz com uma narrativa de um passeio no zoológico com o qual o aprendiz torna-se capaz de identificar certos tipos de aves. Trata-se ali de uma experiência real. O que, por exemplo, a tradição de ilustrações em história natural implementa é a substituição desse tipo de ostensão por uma baseada em representações visuais. Em muitos casos, tal mediação foi necessária para o estabelecimento de um sistema representacional partilhado pela comunidade. Dada a raridade de determinadas ‘experiências reais’43, sua representação visual é o meio efetivo dos processos ostensivos no aprendizado científico.

Até aqui, insisto, mantivemos total coerência com a perspectiva kuhniana. Os dois comentários que finalizam esta seção, no entanto, lidam com um tipo de afastamento que não é meramente terminológico.

Parece uma decorrência da exposição kuhniana que os léxicos, entendidos como módulos mentais, proporcionam as expectativas sobre as quais as pesquisas se debruçam em seu desenvolvimento. É o emprego consciente das relações de similaridade que define o caminho da investigação efetiva. Uma das conseqüências de conceber os léxicos como sistemas representacionais, no entanto, é chamar a atenção para a complexidade das relações envolvidas. O problema que assim se torna manifesto é o da possibilidade de indivíduos estarem em pleno domínio, a todo instante, das inúmeras relações que constituem mesmo o ‘seu’ léxico. Dadas as limitações cognitivas individuais frente à complexidade dos léxicos, podemos supor que parte da ação empreendida pelo indivíduo consiste em utilizar meios destinados a suprir tais limitações. A linguagem, ela própria, pode ser pensada como um meio eficiente para tal propósito. Mas a utilização

43 Tal raridade pode adquirir diferentes feições. No caso da história natural temos constrangimentos geográficos; no caso dos primeiros atlas de anatomia, restrições às dissecações. No entanto, o principal fator talvez seja o associado à raridade do próprio fenômeno a ser representado.

de meios não-lingüísticos pode também constituir uma destas estratégias, sejam eles modelos ou, especificamente, representações visuais.

No primeiro caso temos uma possível aproximação com a função dos modelos mentais, tais como descritos por Giere e Nersessian. Em tal circunstância, o modelo é o foco das atenções sobre as quais opera o raciocínio. É ele o responsável direto pelo estabelecimento das expectativas, não o léxico. O tratamento de Kuhn, arquitetônico por tentar relacionar numa visada todas as possibilidades expressivas abertas em uma perspectiva, pode ser relacionado com o tratamento ‘pé no chão’ que visa oferecer um relato atento a outra de nossas limitações de natureza biológica. Diferentemente do que ocorre em relação a uma visão enunciativa, no entanto, aqui não é necessária uma escolha entre os tratamentos, mas um discernimento de níveis.

O mesmo é válido para as representações visuais, mas, nesse caso, temos de chamar a atenção para o fato de não estarmos mais lidando com algo de natureza mental. Seu caráter externo lhes confere uma publicidade que poderia associá-las à estrutura do léxico, mas não é esse o ponto. O caso é que em relação ao aspecto individual, uma vez que a representação visual passa a fazer parte do sistema representacional de um cientista — isto é, que ela mantenha certas relações de similaridade com outros de seus elementos —, ela já se configura como interpretação. Mesmo assim, não é necessário que concebamos sua utilização, ou sua ‘evocação mental’, em conjunto com a retenção de todas as suas informações. Em geral, precisamos de um mapa mesmo cientes da informação que nele buscamos. Ou, em outras palavras, o reconhecimento de similaridades não precisa ser pensado exclusivamente como originado da evocação de uma representação mental sobreposta à situação em questão, mas de uma comparação entre uma representação externa e tal situação.

Finalmente, este último comentário ressalta a associação entre as relações de similaridade e a comunicação, pensada de uma forma ampla, no interior das

processo de aprendizagem, no qual, dado um sistema representacional característico de uma comunidade, o instrutor o transmite ao aprendiz. Para tanto, elas são essenciais, mas poderíamos, a partir daí, pensar a comunicação entre membros da comunidade como efetuada apenas em termos lingüísticos. Ou seja, uma vez que um cientista tenha desenvolvido um léxico homólogo ao empregado pela comunidade, os fluxos de informação com os demais membros podem ser estabelecidos exclusivamente por meios lingüísticos. A fluência da comunicação no interior da comunidade está, afinal, ancorada em sua estrutura conceitual. No entanto, quando uma nova estrutura conceitual está em jogo, temos novamente o apelo aos modos não-lingüísticos como essenciais para o estabelecimento de algum tipo de comunicação, obliterado pela diferença entre partes da linguagem.

O que proponho, afinal, é que não há razões para pensarmos que os modos não- lingüísticos sejam postos de lado na comunicação apenas porque eles deixem de ser essenciais para a sua fluência. Apesar de, nesses casos, suas funções poderem ser exercidas através de meios lingüísticos, eles continuam capazes de cumpri-las e, a depender do caso, com vantagens em relação a estas. O processo de comunicação no interior das comunidades é aquele onde, basicamente, um autor guia seus pares para o reconhecimento do seu trabalho. Como argumentamos acima, há boas razões para que as representações visuais sejam ferramentas desse trabalho. Uma forte evidência, explorada por Nersessian (2003a) em outro contexto, nos serve aqui para ilustrar esse último ponto: o resultado de uma pesquisa pode ser comunicado, e em geral o é, através dos mesmos procedimentos que foram efetivamente empregados na investigação.

4.3 Ilustrações

4.3.1 Linguagens visuais

A seção explora dois estudos de caso, apresentados por Rudwick (1976) e Keirns (1999), que se valem da noção de uma linguagem visual em artigos que ressaltam a importância de estudos históricos sobre a utilização de representações visuais na ciência. Ambos não definem a expressão. Seus artigos são, no entanto, exemplos de sua aplicação. Não pretendo que seus significados sejam os mesmos, mas, em vez disso, procuro através de uma breve apresentação de seus artigos relacionar tal expressão com o quadro aqui anteriormente apresentado.

A emergência de uma linguagem visual em geologia

Rudwick (1976) explora os caminhos pelos quais o elemento visual do discurso geológico veio a ser estabelecido. Levanta, inicialmente, o alcance dos documentos disponíveis para análise histórica da linguagem visual da geologia e analisa três das diferentes formas de expressão dessa linguagem visual, a saber, mapas geológicos, seções geológicas e paisagens44. Ao sugerir suas possíveis origens e inter-relações, tenta mostrar como foram transformadas, entre 1760 e 1840, em veículos mais especializados para a comunicação de um conteúdo cada vez mais teórico. Sua análise é ao mesmo tempo abrangente e detalhada. Para identificar o foco de nosso interesse, recorro a um diagrama apresentado na conclusão do artigo (Figura 4-1).

44 O autor ainda comenta as restrições técnicas e econômicas que podem ter influenciado seu desenvolvimento. Do ponto de vista histórico, afigura-se como um problema adicional o fato de muito dos documentos relevantes serem avulsos. Além disso, na reconstrução de Rudwick, empenhada em descrever a difusão de gêneros, as limitações relativas à utilização de, por exemplo, gravações em cobre ou litogravuras são fatores causais decisivos. Tal discussão não é realizada neste estudo. Para uma discussão destes aspectos, e do impacto das artes gráficas no estabelecimento de uma comunicação

O eixo vertical corresponde primeiramente a uma ordenação temporal aproximada. Mas tal dimensão está relacionada a outros aspectos dinâmicos discutidos no texto. Primeiro, um progressivo aumento no grau de abstração e formalização das representações analisadas. Segundo, um aumento correspondente da ‘carga teórica’ das ilustrações. Terceiro, o desenvolvimento de uma linguagem visual cada vez mais esotérica, a ser aprendida pelos iniciantes na disciplina que estava em via de consolidação. Por último, indicado à direita do diagrama, o desenvolvimento de sucessivos ‘objetivos cognitivos’. O eixo horizontal classifica as diferentes formas de ilustração discutidas no artigo. Grosso modo, temos, da esquerda para direita, um acréscimo nas dimensões envolvidas nas representações visuais. As colunas apresentam informação sobre um ponto da superfície da crosta terrestre; as seções transversais, sobre uma reta; e os mapas, sobre uma área. Já as paisagens tencionam apresentar informações de um modo tridimensional tal como são comumente observadas.

As considerações de Rudwick sobre a linguagem visual na geologia partem de um quadro mais geral, em história da arte, que Gombrich (1959/1986) denomina de ‘enigma do estilo’. Sua exposição é bastante sucinta:

A relação entre o objeto retratado e sua representação visual nunca é direta por mais ‘realistas’ que sejam as intenções do ilustrador: representações artísticas são sempre uma linguagem visual, que deve ser aprendida e que muda no decorrer do tempo. [Rudwick 1976, p.151]

O mesmo se dá, segundo Rudwick, em relação às representações em geologia. A metáfora da ‘leitura de mapas’ enfatiza que tal tarefa é um tipo de habilidade lingüística que deve ser aprendida. Em outras palavras, um mapa geológico — ou qualquer outro diagrama visual em geologia — é um documento apresentado numa linguagem visual; e como qualquer outra linguagem verbal comum ela incorpora um conjunto complexo de regras tácitas e convenções que devem ser aprendidas na prática. [Rudwick 1976, p.151]

A narrativa de Rudwick para a emergência da linguagem visual para a geologia prossegue de tais considerações para a apresentação da introdução de certas convenções iconográficas e dos momentos nos quais elas passaram a fazer parte de tradições estabelecidas. Descrevo a seguir alguns desses momentos associados principalmente aos mapas geológicos, mas que ilustram de passagem suas relações com as seções.

Os primeiros mapas descritos no artigo adaptaram as convenções cartográficas mais estabelecidas para os propósitos de expor informações geológicas. Em meados do século XVIII, no entanto, tais convenções não permitiam uma apreciação detalhada da topografia representada, embora fossem fiáveis em relação a outros aspectos do terreno, como o curso de rios e a disposição de cidades. A dificuldade em expor informações sobre uma terceira dimensão é refletida nos primeiros mapas geológicos. A principal convenção iconográfica adaptada discutida se refere à distribuição bidimensional de recursos minerais. Vários dos mapas contidos no Atlas et description minéralogique de la

extensivamente ‘símbolos pontuais’ para designar tais recursos. Tal expediente, como convenção cartográfica, era utilizado para representar as cidades segundo sua importância relativa, fortificações militares, etc. Nos mapas do Atlas eles passaram a designar pontos de ‘importância mineralógica’, como minas e pedreiras — distinguidas pelo produto nelas extraído —, aflorações naturais de diferentes rochas e localidades nas quais eram encontrados determinados minerais e fósseis. A figura 4-2 reproduz um destes mapas45, ladeado por uma ‘explicação’ dos pontos utilizados e por um corte transversal do terreno. Em relação a este, ele apenas é utilizado para informar sobre aspectos topográficos. À parte as questões sobre a importância teórica ou prática desses mapas, Rudwick considera que deles resultou “um importante grau de consistência iconológica”.

Na mesma tradição que o Atlas, Rudwick expõe um mapa que, não obstante, apresentava uma inovação. Trata-se da Petrographische Karte — publicada na

45 O Atlas foi publicado de um modo fragmentário. A prancha 56, aqui reproduzida, é datada de 1770.

Mineralogische Geographie der Chursächsischen Lande, de Charpentier, em 1778 — que

se valia de cores para indicar diferentes tipos de rochas que caracterizavam certas áreas, adaptando, neste caso, as convenções cartográficas para representar divisões políticas. Às cores corresponde uma extrapolação da evidência proporcionada pelos afloramentos e outras posições conhecidas na superfície. Estas, por sua vez, continuam a ser designadas por símbolos pontuais e estão associadas às cores através de uma legenda exposta na forma de uma série de caixas coloridas (Figura 4-3). Rudwick considera ambos os mapas de um mesmo tipo por estarem relacionadas a um objetivo de expor a distribuição dos recursos na superfície e por terem os símbolos pontuais como suas principais convenções.

No início do século XIX, tal tradição seria alterada mais profundamente. Tanto na

Carte géognostique — de Cuvier e Brongniart em 1811 —, quanto na Delineation of the Strata of England and Wales — de Smith em 1815 —, as principais informações são

proporcionadas pelo uso das cores e os símbolos pontuais são abandonados. Além disso,

o tipo de informação foi drasticamente alterado, o que corresponde, na classificação de Rudwick, a preocupações com a distribuição espacial das formações rochosas no subsolo e não apenas na superfície. Estamos agora no nível estrutural dos objetivos cognitivos propostos por ele. Segundo Rudwick, a adoção, pelos britânicos, das convenções de Cuvier marca o padrão de comunicação visual que veio a ser adotado na recém estabelecida comunidade de geólogos.

A figura 4-4 reproduz um mapa geológico que mostra a consolidação de tais convenções no interior da Geological Society. Realizado por Webster, e publicado em 1916, ele se refere à Ilha de Wight. Enquanto as áreas são representadas pelas cores hachuradas, os afloramentos — com contornos precisos, à diferença dos símbolos pontuais — o são pela variante sólida da mesma cor. Além disso, e mais importante, as caixas coloridas da legenda aparecem na ordem correspondente dos estratos, o que indica a leitura tridimensional do território considerado. Tal leitura é ainda facilitada pelo uso de uma seção transversal que agora dispõe os estratos.

Padrões, mecanismos e teorias

O artigo de Keirns descreve o trabalho de Bárbara McClintock, prêmio Nobel de medicina em 1983 pela descoberta dos elementos genéticos móveis, com especial atenção para as dificuldades envolvidas no reconhecimento dessas pesquisas por parte de biólogos moleculares. Seus estudos nessa área, associados à citogenética do milho, realizados nas décadas de quarenta e cinqüenta, foram ‘redescobertos’ apenas na década de setenta quando fenômenos semelhantes foram descritos em associação à mutação em bactérias. Diferentemente de Rudwick, seu artigo é pontual.

Keller (1983) caracterizou o problema de McClintock na divulgação de suas pesquisas em termos lingüísticos: a ‘linguagem diferente’ de McClintock bloqueou a comunicação entre ela e sua possível audiência. Keirns caracteriza o problema primeiramente em termos das comunidades científicas e do uso de evidência visual. Segundo a autora, “o embate entre McClintock e os biólogos moleculares proporciona uma janela para as relações entre o desenvolvimento e a perpetuação de modelos conceituais, ilustração científica e epistemologia.” (Keirns 1999, p.167). Segundo a autora, as comunidades têm seus limites em parte definidos pelas suas tradições visuais. As tradições visuais, neste caso, eram radicalmente diferentes quanto à composição de suas representações: enquanto as provenientes da citologia salientam padrões de expressão, as provenientes da biologia molecular expõem mecanismos moleculares.

A expressão de McClintock no tocante às figuras vinha de uma tradição citogenética de expor o mutante sob estudo. Para ela, os padrões visuais encontrados nos grãos de milho eram cruciais em suas análises, na medida em que indicavam padrões de desenvolvimento em organismos — e a maioria das ilustrações de seus artigos os apresentavam —, mas uma diminuta comunidade era capaz de entendê-los. Além disso, a citologia teve seu crescimento atrelado a melhoramentos de microscópios e da técnica da microscopia. A figura 4-5, de 1951, exemplifica o tipo de recurso visual utilizado por

Aqui, os diferentes padrões de pigmentação correspondem à ativação ou não de determinados genes no desenvolvimento dos grãos — que crescem ‘de dentro para fora’, e indicam mutações diferentes. A formação de padrões identificáveis estava associada aos eventos de transposição, neste caso, o ‘movimento’ de um elemento do cromossomo de um sítio do cromossomo a outro.

Já o desenvolvimento da biologia molecular foi acompanhado por uma linguagem visual extremamente estilizada e esquemática, que acabaria por expor as transposições no nível molecular — “uma linguagem que McClintock lia, mas na qual não escrevia”. Apesar de partilharem um mesmo domínio, os níveis de análise e explicação são aqui